terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O Aventureiro Sagrado

Tristan Solomon nasceu em Valkaria, a capital-imperial do Reinado. Cosmopolita, a cidade abriga toda sorte de pessoas, inclusive órfãos. Este é o caso de Tristan e sua irmã mais velha, Serena Solomon. Desde que se entende por gente, Tristan foi criado por sua irmã e um bando de órfãos que viviam numa casa abandonada num bairro periférico. Como a mais velha dos órfãos, Serena era quem também ficava responsável pela "vigilância" e "proteção" dos jovens, despistando a milícia e homens que quisessem adotar um garoto. Todos eram crianças e prezavam bastante por sua liberdade e viviam de pequenos furtos nas feiras para ter o que comer e vestir.
Apesar de ser um dos mais novos, Tristan era o segundo em comando dos pirralhos e jamais apelava para sua irmã quando alguma situação fugia do seu controle. Sempre orgulhoso, queria mostrar que era independente e capaz de tomar todas as decisões. Não tendo conhecido seus pais, ele via sua irmã como a única coisa que restou do que considerava família. Porém, os anos vivendo com outros órfãos fez com que o sentimento de camaradagem e amizade desenvolvesse um novo significado para família. Tristan entendia por família aqueles que eram companheiros, que ajudavam uns aos outros e principalmente, não mandavam sobre ninguém. Todos prezavam bastante sua liberdade.
Os anos se passaram e numa noite de verão de algum ano Serena demorou a voltar para casa. Preocupados, os órfãos, liderados por Tristan, se dividiram em duplas para procurar sua chefa que havia dito que visitaria uma taverna para conseguir um pouco de comida. Vasculharam o bairro e voltaram exaustos sem nenhum sucesso. Exceto Tristan, que havia mandando todos de volta para a casa para descansarem. O garoto procurava sua irmã desesperadamente, incansavelmente até que conseguiu descobrir que ela havia sido vista com dois goblins na proximidade da Favela dos Goblins.
Pela madrugada, o jovem Tristan com então treze anos invadiu o território sujo e mesquinho dos goblins. Cidadãos de segunda categoria, os goblins viviam na imundice sem se preocupar com ela. Eram tidos como covardes por aceitarem qualquer condição de vida desde que sobrevivessem. Não havia o conceito de dignidade para eles. Tristan lutou contra o sono para conseguir ser apanhado por uma rede e cair num buraco. Ficou inconsciente por um tempo indeterminado.
Acordado, percebeu que estava preso num buraco. Havia uma parca luminosidade provinda de uma vela perto de sua cela improvisada. Havia um goblin gorducho que observava o garoto. O goblin dizia, tropeçando nas palavras, que estava com sua irmã tida como prisioneira e que só a libertaria quando ele pagasse.
Desesperado, ele não sabia como poderia arrumar tibares. Apenas roubando, é claro. Ele foi liberto para invadir uma casa de uma família de artesãos e roubar-lhes as poucas jóias. Não satisfeito, o goblin gorducho o induziu a roubar outras pessoas específicas, tudo para, ele dizia, libertar sua irmã um dia.
As semanas foram se passando e ele ficou preocupado com seus amigos órfãos e pensou em fugir. Mas a lembrança de sua irmã o motivava a esquecer seus amigos. Ela era, afinal, tudo o que importava para ele. Era como uma mãe que ele nunca teve. Até que um dia ele viu sua irmã – que estava com dezenove anos na época – espancando um goblin magricela em um beco. Aturdido, Tristan apareceu indagando em como ela conseguira escapar. Ela mostrou estranhamento e explicou que estava a procura dele fazia dias, desde o fatídico dia em que Tristan havia sido capturado na Favela dos Goblins.
Irritado por ter sido enganado esse tempo todo, contou a história para a irmã e ela decidiu ajudá-lo a planejar uma vingança. Tristan voltou para seu cativeiro com alguns tibares de ouro e esperou o goblin gorducho aparecer para receber. Quando apareceu, vários garotos surgiram de seus esconderijos improvisados e o espancaram com paus e pedras. Até que ele ficasse bastante ferido. Tristan mandou que parassem porque achava errado matá-lo. Foram embora em seguida.
Outras aventuras marcaram a juventude inocente de Tristan até que um dia sua irmã fora pega roubando. Dois milicianos tentaram aprisioná-la, mas ela era forte e bastante ágil. Quebrou a perna de um e afastou o outro com um pedaço de madeira. Tristan e outros órfãos viram a cena e fizeram menção de ajudá-la, prontamente negada por ela. Serena então fugiu para direção oposta. Tristan tentou persegui-la, mas só conseguiu chegar até uma esquina a tempo de vê-la sendo capturada pela milícia.
Desolado, ele foi à prisão no dia seguinte a fim de visitá-la. Alguns órfãos foram com ele, afinal Serena era uma líder que todos gostavam, cuidava de todos. Entretanto, sem motivo explicado, Serena nunca chegou à prisão. Um miliciano – o da perna quebrada – contou aos garotos que ela havia consigo fugir na noite em que ficara presa numa cela. Não havia sinais de arrombamento ou qualquer coisa suspeita. Os garotos ficaram intrigados, principalmente Tristan, pois ela não deu nenhum sinal de vida, não retornara para a casa abandonada. Antes que o miliciano começasse a perguntar sobre quem eram e onde moravam, os garotos fugiram com extrema bagunça.
Os dias se passaram e todos buscavam incessantemente por Serena. Porém, com o passar das semanas, a busca com afinco diminuiu. Exceto para Tristan, é claro. Quando os primeiros meses passaram, poucos órfãos restavam na casa. Muitos foram embora para tentar outro tipo de vida, outros foram pegos pela milícia e mandados para orfanatos de Lena e Marah. Outros órfãos simplesmente não queriam se arriscar por alguém que sumira por completo. Eles estavam sozinhos nessa busca e ninguém podia ajudar – ou assim eles pensavam, no alto de sua adolescência.
Ao final de um ano, Tristan havia se transformado no líder natural dos garotos. Era bastante forte e carismático, convencia mesmo que através do constrangimento a buscarem por sua irmã. Até que um dia ele viu a chegada dos Patrulheiros da Deusa à cidade de Valkaria.
Os Patrulheiros eram uma ordem de cavaleiros, paladinos e clérigos de Valkaria que vigiavam as fronteiras de Deheon. Ele procurou saber como era um patrulheiro e acabou por conhecer um paladino de Valkaria. Ele explicou sobre a missão sagrada de ser aventureiro, de viajar pelo Reinado em busca de fortalecer a fé da deusa da humanidade, a busca pela liberdade das pessoas, a busca pelo aperfeiçoamento dos humanos. Tristan encontrou uma resposta e fez um plano.
No dia seguinte, estava ele dentro de um templo de Valkaria. Apresentou-se ao paladino que conhecera no dia anterior e queria se tornar também num aventureiro sagrado. Tristan, então, foi indicado aos clérigos para que pudessem analisar o rapaz para ver se havia vocação. Ele foi recusado três vezes, por pura burocracia que não tinha olhos de boa vontade para um órfão sem casa, sem família, sem título.
O garoto, entretanto, era muito insistente. Dormia na porta do templo para tentar de novo ser aceito. Algumas semanas se passaram e ele encontrou sua oportunidade quando Vectora passou por Valkaria. A concentração de pessoas se fez no centro, um pouco distante do templo e os poucos sacerdotes que viviam no templo tiveram poucas desculpas para atendê-lo. Finalmente ele pôde fazer seu teste de vocação.
Apenas para ser reprovado em seguida.
Tristan era agitado, e tinha um coração muito livre para que a deusa abençoasse seu coração com os poderes paladinescos. Era indisciplinado e não conseguia manter uma linha de raciocínio metódica. E certamente ele não tinha vocação para o clericato uma vez que não gostava muito de estudar. Por seu ímpeto caótico, ele não poderia ser um paladino. Desolado, Tristan via seu plano falhar miseravelmente. Ele pretendia, se tornando um paladino, se tornar num aventureiro protegido pelos deuses para poder procurar sua irmã. Em sua cabeça, ele achava que ela havia fugido de Valkaria para não ficar presa e tentaria sua vida como aventureira. Pensava ele que ela não o levou junto porque não confiava em suas habilidades. Achava que ele não duraria em aventuras. Tristan queria provar o contrário, que era capaz de ser aventureiro também. E nada melhor do que ser um paladino da deusa dos aventureiros.
Triste, porém, ele não tinha vocação. Ele teria virado um bandoleiro ou mercenário vulgar se Vectora não trouxesse Hal Jargen, um veterano paladino de Valkaria. Membro da ordem onde Tristan queria entrar, ele percebeu o jovem adolescente dormindo como um mendigo nas portas do templo. Ambos tiveram uma conversa curta, mas o suficiente para que a historia de Tristan tocasse o coração do velho aventureiro. Ele mesmo não sentia que possuía vocação para ser paladino, mas o que importava era sua vontade de se aventurar e, notando o bom coração de Tristan, Hal via um bom potencial para a carreira. Ele usou de sua influencia junto aos sacerdotes e arranjou um jeito dele mesmo testar a vocação de Tristan.
Nesse teste, Hal acabou ensinando o que era ser aventureiro. Ele deveria combater o mal seguindo seu coração, lutando contra a tirania e proteger a liberdade das pessoas. Tristan se identificou imediatamente. Finalmente ele foi aceito e começou seu treinamento que, por ele ter uma alma caótica, era mais difícil que aos outros jovens disciplindos.
Quase sete anos se passaram até a sagração de Tristan. Com vinte anos, o jovem mudou muito durante seu treinamento com Hal Jargen. Aos poucos ele foi conquistado pela idolatria a Valkaria e se tornou um paladino por motivos nobres de luta contra o mal e proteção à liberdade refutando seus motivos iniciais de arrumar uma desculpa para procurar sua irmã.
Logo em que sagrado paladino, Tristan descobriu que sua deusa havia sido liberta. Muitas dúvidas religiosas foram sanadas. Valkaria limitava os poderes de seus servos por que teve seus poderes reduzidos como punição a uma revolta de deuses em que havia participado há incontáveis eras. Mas agora um grupo de aventureiros épicos conhecidos como Os Libertadores havia libertado a deusa de seu claustro. Uma ordem fora fundada: os Cavaleiros Libertadores, dedicada aos servos da deusa da humanidade que quisessem viajar pelo Reinado para levar a fé da deusa, agora sem limitação de poderes por região.
Tristan viu uma boa oportunidade de começar sua carreira e ingressou nas fileiras da Ordem e conheceu Dagonat e Sabrina Silvermoon, paladino e clériga de Valkaria. Irmãos de origem nobre que entraram no templo por tradição familiar.
Ao longo de seu treinamento enquanto escudeiro Tristan conheceu Nina Rosemberg, uma ajudante de taverneiro numa taverna que Tristan sempre visitava quando ganhava folga de seus treinamentos. Ambos tiveram um relacionamento longo juntos, mas teve um fim quando a jovem descobriu um amor secreto de Tristan pela clériga de Valkaria, Sabrina Silvermoon, assim que ele ingressou na Ordem dos Cavaleiros Libertadores.
De fato, Tristan era um rapaz galante e de muitas conquistas amorosas, mas nunca se sentiu realmente preso a ninguém. Seu coração nunca teve uma dona em definitivo. Até receber uma rejeição por parte de uma mulher: Sabrina. Seus cabelos longos, lisos e castanhos eram bonitos, mas normais. Seus olhos eram azuis e bonitos também, mas normais. Não havia uma peculiaridade física especial em Sabrina, mas por ironia do destino ou por pura irreverência, ele se percebeu apaixonado pela mulher nobre e arrogante que lhe dava respostas ríspidas, mas educadas, quando tentava cortejá-la. Dagonat, irmão de grande estatura e grandes músculos, parecia não se importar e se divertir com as tentativas de Tristan. Ambos competiam bastante para ver quem era mais forte durante os testes para a admissão na Ordem. Apesar de tudo, os três se tornaram amigos.
Sendo aceito na Ordem, Tristan sentiu-se preparado para se aventurar. A lembrança do rosto de sua irmã já era bastante falha. Ele desejava, no fundo, um dia poder esbarrar-se com ela. Apenas rezava para que não como adversária.

3 comentários:

Marins disse...

grande pra caralho mas bom!

R-E-N-A-T-O disse...

Grande pra caralho mas bom! [2]

Capuccino disse...

Grande pra caralho mas bom! [3]