quinta-feira, 29 de abril de 2010

A Cordilheira de Kanter


Acampados ainda na caverna que encontraram na praia, os aventureiros faziam sua ronda costumeira. Até que Davie Crown descobriu um goblin, provavelmente batedor, os espionando. Aquele batalhão estava tão perto?
O ladino petryniano avisou aos companheiros e todos se apressaram em tentar pegar o goblin para que ele não avisasse a localização da Confraria. Vanthuir mostrou satisfação em poder contar com sua habilidade de caçador de goblins. Súbito, outros goblins apareceram, armados com bestas, posicionados escondidos nas pedras da encosta da praia. Após uma rápida luta e um considerável atraso, Vanthuir partiu para sua caçada ao batedor.
Apesar de não encontrar seu adversário, ele avistou o acampamento do batalhão, perto da praia. Ele teve a ideia de atacá-los enquanto estavam desprevinidos. Farid apontou a mudança de comportamento do bárbaro das Uivantes, mas este refutou que tenha mudado seu raciocínio:
- Estavamos em desvantagem, não conseguiriamos sobreviver. Agora eles estão despreparados.
A Confraria da Aventura apareceu e começaram os combates. Jean-Luc e Farid foram os que tiveram mais dificuldades, sendo alvos dos soldados goblins, liderados pelos três capitães hobgoblins. O grupo conseguiu vencer a todos depois de uma longa batalha que se estendeu com bastante movimentação tática e magias de todos os lados. Todos saíram satisfeitos com o desfecho, sentiram-se mais orgulhosos e mais capazes. Inspirados pela vitória, continuaram seu trajeto rumo ao objetivo: as montanhas do sudeste. Jean-Luc chegou a pensar na possibilidade de voltar para Molok para averiguar a saúde dos camponeses e também para saber mais detalhes da região em que eles iriam investir, mas guardou pra si o pensamento. O grupo viajou por longos dez dias, completando quase dois meses longe de Valkaria.

***

Durante um dos acampamentos do grupo pelas terras ermas de Tyrondir, eles foram visitados por uma bela elfa de cabelos dourados e olhos azuis. Seu nome era Alevandra e ela procurava por Elros Anárion, o elfo clérigo de Glórienn que costumava seguir o grupo. Entretanto, suas atitudes levaram o grupo a desconfiar de suas intenções. Era sempre misteriosa e calma. Possuia dons mágicos que só ajudavam em manter o clima de suspense. Ela queria saber do paradeiro de Elros e demonstrou saber que ele já não viajava com a Confraria. Quando descobriu que os aventureiros não sabiam da localização do sacerdote, foi embora sem dar explicações de nada...

***

O cheiro de podridão começou a empestear o caminho que seguiam. Aos poucos, uma neblina leve começou a rodeá-los. O cheiro de morte se concretizou em uma pilha de cadáveres humanos um um grande monte no meio do caminho da Confraria da Aventura. Jean-Luc lacrimejou os olhos diante de visão tão cruel. Davie ficou sem palavras tamanha brutalidade e ficou pensando que era sortudo por não morar em Khalifor, a cidade-fortaleza que foi destruída. Farid pensou nas famílias, milhares de pessoas mortas como animais sem importância. Pensou na injustiça daquela cena. Vanthuir foi o único que não se compadeceu. Seu coração duro e visão simples da vida conseguia enxergar similaridade dos atos deles mesmos que caçavam seus adversários e os matavam com os atos da Aliança Negra. Conversaram sobre isso enquanto se distanciavam o máximo possível, sem perder de vista o caminho. O contorno de Khalifor deveria ser bastante cuidadoso, pois se fossem pegos, dificilmente sairiam com vida.

***

Dois dias depois de marcha com paradas cirúrgicas de oito horas de descanso não foram suficientes para que a imagem da crueldade goblinoide se apagasse das mentes dos aventureiros. Porém, encontraram uma grande floresta no caminho. Sem hesitar, atravessaram o caminho florido e cheio de vida animal para tentar ocupar suas mentes.
No dia seguinte, pela manhã, a floresta ainda não dava sinais de fim. Quando encontraram uma enorme clareira que poderia caber uma vila humana sem problemas. A clarera abrigava muitas estátuas de cavalos e outros animais. O grupo começou a se dividir, investigando cada estátua que possuia um poema e runas indecifráveis. Davie Crown ficou bastante entusiasmado querendo descobrir para que serviam. Farid entendeu que elas eram embuidas de poder mágico arcano e ficou bastante curioso. Quando decifrou a palavra de ativação de uma estátua de uma águia, o grupo foi abordado por um gnoll.
Por suas palavras e por sua postura, demonstrava que não era um gnoll comum. Apenas Vanthuir o considerou lixo, mas não tinha postura de combatê-lo porque talvez não valesse a pena preocupar-se com adversário tão fraco. O gnoll parecia nervoso e dizia para o grupo sair daquela floresta que lhe pertencia. Ou todos iriam pagar com suas vidas. Farid disse que sairia, mas falou a palavra de ativação na malandragem. E desapareceu num passo de mágica. Todos ficaram perplexos com aquilo. Davie Crown, Jean-Luc e Vanthuir se entreolharam incrédulos e tentavam discutir o que fariam. Davie não aguentou e correu para a estátua da águia. E desapareceu ao pronunciar a palavra de ativação. Jean-Luc disse ao gnoll que eles iriam embora seguindo aquele caminho, com seus amigos. O gnoll já havia conjurado uma espada de madeira, enorme, com grandes espinhos. Ele pensava em aniquilar o resto do grupo e disse que não sabia para onde eles haviam sido levados. Ou se estavam vivos.
Jean-Luc desapareceu em seguida. Antes que Vanthuir fosse também, ameaçou:
- Um dia eu voltarei.

***

Montanhas mais altas que a vida cercavam o ambiente totalmente desolado de vida. O céu estava escuro, envolto em núvens negras ameaçadoras que ditavam constantemente um clima pesado no ar. Os quatro aventureiros se entreolharam. Alguns irritados com a atitude de Farid, outros vendo com a atitude dele uma boa ação de fugir de morte certa nas mãos daquele gnoll de poderes estranhos.
Eles puderam observar um grupo de grifos voando sobre eles, indo em direção a uma montanha próxima. A Confraria da Aventura temia estar em um local muito distante de seu objetivo. Temiam ter posto a perder toda a missão. E também temiam por suas vidas, pois não sabiam que seres poderosos habitavam aquele lugar desolado, inóspito, hostil.
Farid pensou estar nas Montanhas Sanguinárias, uma grande cadeia montanhosa e muito perigosa que ficava próximo de sua cidade natal, Thiumphus. Porém, o encontro com um grupo de goblinóides fez essa dúvida praticamente sumir. Provavelmente estavam na cadeia montanhosa onde a fortaleza Khundrukar estava escondida. Pois eles viam o grupo da Aliança Negra, em uma formação bizarra como se fossem aventureiros. Havia um guerreiro, um ranger, um mago e um clérigo de Ragnar da raça dos hobgoblins e um bárbaro ogro. Eram poderosos e, assim que se perceberam, os dois grupos começaram as lutas.
Após uma batalha muito difícil, a qual Vanthuir - a força e resistência do grupo - fora derrubado duas vezes e Farid esteve perto de morrer, a Confraria saiu vitoriosa. Tentaram usar o ranger arqueiro para conseguir informações, mas decidiram que não valeria a pena. Vanthuir esmagou sua cabeça.

***

Mesmo andando sem rumo ou direção definida, o grupo achou o que parecia ser uma entrada secreta dentro de uma caverna, quando decidiram parar para descansar. Davie Crown fez as honras e descobriu uma escadaria secreta. O grupo seguiu pela passagem e caíram numa grande caverna oculta nas entranhas de uma grande montanha.
Lá estavam presentes dois seres, homens-lagartos. Eles liberaram um urso marrom que quase matou Jean-Luc, mas não foi páreo para a grande rajada de fogo de Farid e a maça de guerra de Vanthuir. Agora, a Confraria estava praticamente sem recursos, sem poções de cura para prosseguir. O que fariam?

quinta-feira, 22 de abril de 2010

A Confraria da Aventura: O Exército da Crueldade


Festa.
Jean-Luc du'Champs estava em sua mansão, o Solar du'Champs com vários convidados. Conhecido e adorado pela maioria deles, ele aproveitou seu último dia de folga antes de começar a seguir seu dever como mosqueteiro. Enquanto isso, Davie Crown, que havia convencido Farid a sair pela noite de Valkaria em busca de diversão e mulheres, terminaram a noitada sentados num banco de uma praça bebendo vinho, amargurando uma noite sem lua.
Vanthuir havia adquirido um gosto especial por duas coisas em cidades: tavernas e prostíbulos. Sempre pensava em satisfazer seu estômago infinito ao chegar numa cidade. E quando os companheiros demonstravam vontade de ficar mais dias numa cidade, ele procurava o prostíbulo e lá passava o tempo de sua folga. Estava começando a apreciar os prazeres das facilidades.
Quando uma de suas prostitutas gritou em desespero. O bárbaro das Uivantes, antes aliviado de suas tensões diárias, franziu o cenho.
- Não mexa em minhas coisas, sua puta! - um tabefe foi o suficiente para um roxo. Ela saiu escorando pelas paredes, gritando sobre aberrações.
O bárbaro loiro se aproximou de sua mochila e viu seu ovo aveludado. E notou algo diferente. Um olho havia brotado. Um olho humano que seguia os olhos de Vanthuir. Cabrero, guardou em sua algibeira e resolveu guardar pra si, esperando um momento oportuno para revelar aos companheiros.
No dia seguinte, a Confraria se reuniu no Solar du'Champs. Sentiram a falta de Elros Anárion, o clérigo de Glórienn, a deusa dos elfos. Ele alegava que havia partido no mesmo dia em que chegara com a Confraria. Uma missão divina em honra à Glórienn. Jean-Luc mostrou ao grupo a carta da Ordem dos Mosqueteiros e lhes pediu ajuda. Lider natural da Confraria - ou pelo menos, ele assim agia - guiou o grupo numa longa viagem até Cosamhir, a capital de Tyrondir, o reino do sul.

***

- Eu acho suicídio.
Com essa frase, Vanthuir Skullbringer, outrora um bárbaro sedento por desafios e poder, se tornava cada vez mais em um homem civilizado, acostumado às facilidades da cidade. Aprender a ler e a escrever e as técnicas mais refinadas de lutar lhe foram bastante úteis, mas a vida fácil que as peças de ouro proporcionava o seduziu. Sentia que sua vida valia mais do que um combate, uma batalha. De repente, tinha mais a perder do que estava acostumado quando era um guerreiro de sua tribo nas Montanhas Uivantes.
- Então, podemos mudar nosso nome para Confraria dos Cautelosos.
Davie Crown despejava seu sarcasmo como era seu costume fazer. Dessa vez, carregado de amargura e descontentamento, sentia a chance de invadir uma masmorra perigosa, enfretar um dos maiores desafios do mundo conhecido estava lhe escapando pelos dedos. Quando teria essa oportunidade de novo?
- Eu concordo com Davie. Devemos partir, aceitar a missão. Os deuses estão conosco, não viram Davie Crown ressussitar? Valkaria abençoa seus aventureiros!
Farid teve de discordar da frase de Jean-Luc. Achava que os deuses não abençoavam assim, facilmente a qualquer um. Naquele momento, ele se sentia qualquer um e um tanto cansado da paisagem árida de magia que o Reinado lhe forçou a conviver. Porém, com garantia de precauções mágicas com as compras de poções de cura e de pergaminhos de transformação e invisibilidade, a Confraria da Aventura aceitou a missão. Se auto-convenceu de que era possível, embora muito difícil o sucesso. Jean-Luc, o mosqueteiro, ficou imaginando o que Elros pensaria nessa situação. Farid se preocupava com a falta que os poderes divinos de Elros faria. Aparentemente Vanthuir e Davie não se recordavam ou não ligavam para o antigo companheiro.
A missão era bastante perigosa. Segundo o anão Wasurerimm, ele era descendente de um clã de anões que existiu em Lamnor. Este clã, liderado por seu ancestral direto, Durgeddin, havia construido uma fortaleza impenetrável nas montanhas que dividem Tyrondir de Lamnor. Entretanto, com as constantes ameaças dos orcs das montanhas e da Aliança Negra, este clã e a fortaleza fora destruída. O anão - ex-joalheiro e atualmente vidreiro - quer recuperar o tesouro, as jóias perdidas. Como pagamento, havia sugerido 500 tibares de ouro, mais o preço de mercado das joias. As lâminas mágicas, usadas para as lutas contra as tribos orcs, seriam parte da recompensa à Confraria da Aventura.
Depois de alguma relutância por parte de Vanthuir e Farid, o grupo se preparou e viajou para sul.

***

Molok era uma vila fantasma. Ruas vazias, praças sem viva alma. Seu Osmar, o fazendeiro mais rico, foi escolhido como prefeito para guiar a população para o abrigo escondido debaixo da terra, durante as invasões dos exércitos da Aliança Negra.
O traço da crueldade e monstruosidade do exército de Thwor Ironfist era bastante marcante naquela região. Podendo ter destruído e devastado Molok do mapa há muito tempo, como fez com Khalifor, a Aliança Negra preferia empregar meios sádicos. Matava o gado, destruia plantações. Matava um ou outro homem saudável. Decapitava quem tentava fugir em busca de ajuda. Isolados, restava às pessoas uma morte horrenda e dolorosa.
Por isso seu Osmar sentiu que Khalmyr finalmente observava aquela região quando a Confraria da Aventura chegou. Contando a situação daquele lugar, Farid, Jean-Luc e até Davie Crown - acostumado a pensar apenas em si mesmo - sentiram profunda amargura. Vanthuir não se compadeceu, como era seu costume. Mas ele estava cansado de se irritar por nunca ser escutado. Resolveu apenas ouvir mais.
Então, ouviram batidas de tambor. Era a aproximação de um exército. Jean-Luc subiu na mais alta casa e avistou muitos combatentes goblins com bandeiras de guerra, se aproximando pela pequena floresta atrás da vila. Uma flecha o atingiu em cheio na barriga. Poderia ter morrido, mas ele aguentou com firmeza e pulou de lá, forjando uma queda. Avisou a todos que eram de 20 a 30 soldados. Enquanto isso, a população da vila se movia rapidamente com o desespero controlado para o abrigo. Davie os ajudou e usou de suas perícias furtivas para esconder melhor o abrigo. Farid olhou para Vanthuir. O guerreiro das Uivantes suspirou e apontou para os cavalos. Era a primeira vez que aquilo acontecia. Uma fuga.
Davie, Jean Luc e Farid subiram em dois cavalos e desamarraram da carroça. Vanthuir se moveu com muita rapidez aprendida em seus anos como errante nas Uivantes e se afastou. Viu muitos goblins. Mais do que Jean-Luc havia previsto.
E correu.
Antes que os outros pudessem correr, foram alvejados. Os cavalos acabaram morrendo. Sobrou as botas para serem gastas. Farid usou de sua magia para voar. A Confraria em fuga.
Fugiram durante a tarde inteira. Vanthuir chegou às montanhas primeiro e preparou fogo para ser mais facilmente encontrado por seus companheiros. Imaginou que o exército não chegaria ali tão cedo. Farid e Jean-Luc chegaram em seguida. Por último, Davie, mais morto que vivo, chegou. Todos estavam absolutamente exaustos. Farid, que usava sua magia para voar, estava bastante aflito e pensava nas pessoas que deixaram para trás. Será que foi mesmo a melhor saída?
Atravessaram as montanhas e encontraram praia. Mar, oceano. Agora restava seguir pelo litoral em direção sudeste, em busca das montanhas onde a fortaleza Khundrukar estava escondida...

terça-feira, 20 de abril de 2010

O Deserto e a Perdição


Por muito tempo, Abidala Abidu(Abdala Abdu??) se sentiu infeliz. Tendo que seguir o desígnio de seus pais, cumprir seu papel de primogênito, viver a vida de um mercador. Ao seguir em suas viagens, seu aprendizado, se sentia muito mais à vontade quando livre para conhecer os lugares do que nos momentos em que presenciava e algumas vezes efetivava as transações comerciais. Costumava fugir vez em quando das cidades para caminhar, pensar, sentir...
Foi em uma dessas viagens com seu tio que o mesmo lhe falou de ter ouvido falar que o povo da região estava tendo problemas com seguidores de tenebra, e que coisas macabras aconteciam debaixo dos olhos do Grande Sol. O convite à aventura, e sob promessa de que seu tio esperaria seu retorno glorioso, Abidala(??) resolve partir em busca da graça de Azgher!
Dias se passam até que Abidala admita estar perdido. As dunas pareciam cruelmente repetitivas e a areia sob seus pés começava a se tornar maldita, exigindo o seu destino.
Mas parece que justamente o destino o salvou. Ao acordar se encontrava em um pequeno oásis, se sentiu cuidado, ao mesmo tempo que vigiado por duas águias do deserto e não se sentiu confortável ou apto a fazer nada até que a imagem de um homem se aproximou. Hazimah era seu nome, ranger devoto de Azgher e Allihana, lhe contou como o encontrara e como suas águias haviam o levado até seu corpo. Ambos deram graças aos deuses e logo se entenderam.
Com o passar dos dias, viajando juntos, Abidala contou sua história e logo viu o interesse nos olhos de Hazimah que de pronto aceitou a caçada. Dias se passam até encontrarem formações rochosas curiosas, que resolveram utilizar como abrigo. Nessa noite Abidala têm um sonho com um grande leão que lhe transmite uma mensagem da própria Deusa, ele está sobre o culto de Tenebra, e tanto Allihana quanto Azgher lhe dão essa missão, pois ela sente que seu coração é puro e de boas intenções com a grande mãe. Em sonho Abidala aceita sua benção, no real ele é abençoado.
Com o amanhecer, Abidala se lembra da ordem de ativação das pedras e conta o que houve a Hazimah. Abidala sente que seus olhos brilham quando ele diz: Maketoube! Eu sabia!
Sem entender muito, Abidala aciona as pedras e sua jornada começa.
Sangue, escuridão, morte, sacrifício. No salão final dos cultistas, ocorre um combate onde Hazimah se sacrifica pela vida de Abidala que derrota o último dos mantos negros. Uma carta e um mapa apontam seu próximo destino: Valkaria, e o corpo de um amigo fortalece sua fé.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A Forja das Lâminas


Antes da formação da Aliança Negra, antes da destruição dos reinos humanos em Lamnor, havia um reino anão há muito esquecido no subterrâneo de Arton-sul.
Entretanto, com a formação do Reinado e a consequente conquista de Lamnor, Doherimm perdeu seu contato com seus primos distantes. O modo de vida anão era um convite à reclusão e, em seu costume, era encarado com normalidade o fim das relações entre os povos. Por isso, os anões do norte não investiram em grandes jornadas para saber de seus parentes do sul.
O que poucos sabiam era que o antigo reino anão foi destruido por incontáveis ordas de orcs que chacinaram a maioria dos anões do sul. Mesmo antes da Aliança Negra.
Entretanto, em Tyrondir, há um anão que conhece seu passado. Wasurerimm, ex-joalheiro e conhecido como o melhor mestre vidreiro do reino, possui ascendentes deste povo. E hoje, ele busca por um grupo de aventureiros dispostos a encontrar as jóias do tesouro de seu antepassado Durgeddin.
Há cerca de um século, o ferreiro anão Durgeddin ergueu uma fortaleza secreta nas cavernas encravadas na Montanha do Griffon, que faz parte da Cordilheira de Kanter. Trabalhando sem parar em suas câmaras sob a montanha, o clã de Durgeddin e também de Wasurerimm forjou armas encantadas para serem utilizadas em sua vingança contra os orcs que os expulsaram de seu antigo lar. O ferreiro e seus seguidores morreram há muito tempo, mas a fortaleza não está vazia. Além da Aliança Negra que tomou Khalifor há quase dois anos, há perigos mortíferos aguardando nas cavernas sob a Montanha do Griffon, assim como as jóias e o arsenal secreto de Durgeddin, que contém armamentos inigualáveis.

Poderá a Confraria da Aventura dar conta dessa aventura?

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Rebeldia em Bielefeld



Marius Kensworth, segundo filho de Sir Robert Kensworth, foi uma criança rebelde. Desde seu nascimento sua vida foi praticamente a sombra de seu irmão, ou pelo menos esses eram os planos de seu pai. Conhecido cavaleiro da luz e paladino de khalmyr, seu pai sempre esperou o mesmo destino para seus filhos. O primogênito, Brian Kensworth, já iniciava suas aulas na religião de khalmyr, quando Marius começou a demonstrar sua verdadeira inclinação.

Sempre desafiando seu pai e seu irmão, Marius fugia às suas lições para brincar na rua, se metia em todo tipo de encrencas, seja enganando seus pais e sendo descoberto em seguida, ou conseguindo escapar e se machucando nos terrenos de alguma mansão abandonada. Sua energia e esperteza pareciam não ter limites quando havia alguma missão imaginária a realizar ou peripécias e contos épicos a se criar. E foi assim que cresceu, uma criança rebelde e esperta, mas a custo do desgosto de sua família. Sua mãe, ex-camponesa de Deheon, ao contrário de seu pai não enxergava tanto problema nas brincadeiras de Marius, chegava até a se divertir algumas vezes, mas nunca o defendeu abertamente ficando muitas vezes do lado do marido.

Certa noite durante a pior fase de Marius, quando adentrava a adolecência, apareceu à porta de seu terreno um clérigo de Valkaria em viagem pedindo abrigo. Jantaram todos juntos, e ao final da noite Pai e visitante foram conversar durante o sono das crianças. O clérigo, Valdis, percebeu logo a incompatibilidade entre pai e filho, e começaram a conversar a respeito disso, até que ambos perceberam a que a conversa começava a se destinar.

"Meu filho não tem aceitado até hoje nenhum tipo de ensinamento religioso, talvez minha insistência já tenha acabado com qualquer esperança de torná-lo clérigo de khalmyr ou cavaleiro da luz. Mas vejo nele muito potencial, é muito inteligente e bondoso, e percebo agora que talvez Valkaria possa ser a única opção que possa atraí-lo de alguma forma a fazer o bem. Se conseguir convencê-lo, ele poderá seguir viagem para o clericato em Deheon."

"Não se preocupe Sir, pelo que me contas de seu filho e pelo que vi hoje, acredito que me bastará alguns dias até que mostre para ele como direcionar essa energia, através da Deusa, para o bem de Arton!"

E foi assim que três dias depois Valdis e Marius partiam em viagem para Deheon, ambos com um sorriso estampado de satisfação.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Hector, o paladino de Tanna-Toh



Hector nasceu em Valkaria e conhece muito bem a cidade. A mistura de culturas e raças o fez fluente em diversas línguas desde jovem. Nascido sem pai, Hector foi criado por sua mãe desde o nascimento. Lilian trabalhava em um boticário e assim ganhava a vida. Quando Hector nasceu sua vida ficou mais difícil, pois havia uma nova boca para alimentar, porém nada faltou a Hector. A educação lhe foi dada na igreja de Tanna-toh onde sua mente afiada sempre foi muito valorizada pelas professoras.


Hector progredia facilmente nos estudos se aprofundando facilmente em todos os assuntos abordados na escola, levando inveja a alguns colegas que tinham dificuldade de aprendizado. Esses colegas muitas vezes caçoavam da mente afiada de Hector, porém apesar de ser muito inteligente, Hector também era bom de briga. Sempre conseguia defender-se das agressões, não fugia por nada de uma peleja.


Ao alcançar a idade adulta Hector foi convidado a progredir na igreja de Tanna-toh como clérigo, porém seu gosto por batalhas o fez ir por outro caminho, o dos raros paladinos da Deusa do Conhecimento.


No dia da sua consagração como paladino, Lilian lhe entregou o seu bem mais precioso: a chave. Ela tinha sido entregue a sua mãe por uma senhora envolta em robes anos antes e tinha sido sua promessa protegê-la, agora já idosa, achou por bem passar-lhe o bem a diante. Hector começou a investigar sobre a origem da chave, mas não obteve resposta.


Lilian não imaginava as conseqüências que seu ato de generosidade causaria.


Brian, um dos mais antigos desafetos de Hector, viu durante a cerimônia Lilian entregar a chave a seu filho e um plano terrível brotou em sua mente. Durante a noite, invadiu o pequeno apartamento no subsolo do boticário onde Lilian morava e seqüestrou-a. Hector nada pode fazer para impedir, pois morava no templo naquela época.


Alguns dias depois ao ir visitar sua mãe, Hector descobriu o plano de Brian. Um bilhete com as instruções de onde, quando e o preço do resgate: a chave. Hector correu para o templo de Tanna-toh e pediu ajuda de dois amigos clérigos e correu para o ponto de encontro com Brian. Lá chegando, Brian pediu a chave e Hector ia entregar, mas os clérigos da deusa tentaram impedir que ele entregasse a relíquia a mãos erradas. Isso custou a vida de Lilian. Brian vendo que não receberia a chave assassinou Lilian com a adaga envenenada que a ameaçava. A dor foi profunda. Perder a mãe marcou Hector para sempre.


Descobrir a destinação, a origem, quem era a senhora que entregou a chave a sua mãe tornou-se prioridade na vida de Hector. Encontrar Brian e entregá-lo a justiça também é outra meta tão importante quanto.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Anesstinaheir Aith'Liantia - "A'nyr"


Antes - Lennórien, Lamnor

Calor, inquietação, ansiedade.
A muito Lan'Baelsolali não tinha uma noite tranquila de descanso. As trevas vinham atormentá-lo, pensamentos sombrios sobre o fim de tudo. Sobre o fim de uma cidade, o fim de uma cultura, o fim de uma era. E ele sempre despertava dessa maneira, cansado, triste, aborrecido. Amaldiçoava seu pai todos os dias por isso.

Seu pai, patriarca da casa Aith'Liantia, lhe dera um nome peculiar na ocasião de seu nascimento.
Lan'Baelsolali. Filho do guardião da história sombria.
Um nome agourento, triste, que em nada condizia com a atmosfera da casa, da cidade, da raça. Porém, era esse seu nome e era esse seu fardo, pro resto dos tempos. Em seu leito de morte seu pai o confidenciara a profecia que dera origem ao seu nome e na ocasião, Lan'Bael não dera a devida importância. Nem ele nem os outros líderes das outras casas.

"Louco. Pragmático. Senil."

Eles vociferaram. Contudo, Lan'Bael não tinha mais certeza da falta de sanidade do velho. Noite após noite ele era assombrado pelos mesmos pensamentos, pelas mesmas conjecturas e suposições, e isso o destruía por dentro.
Sentado, sob lençóis da mais pura seda, ele pôs-se a observar sua companheira. Sua esposa para a eternidade. Seus cabelos róseos, revoltos até mesmo nessa hora serena, espalhavam-se sobre os travesseiros. Sua expressão serena, seus traços angulosos e boca desenhada. Poderia passar o resto dos seus dias apenas contemplando aquele ser.
Lannarualas. Filha da estrela selvagem.
Eram diferentes em quase tudo. Ele era porto ela era tempestade. Ele era rocha ela era vendaval. Ele era equilíbrio ela era revolução. E eles eram completamente apaixonados um pelo outro. Se completavam e se opunham, sempre na mais perfeita simetria.
Talvez fosse hora de ouvir suas idéias loucas e partir de uma vez. Lennórien era sua casa, seu lar, mas ele não sentia mais seguro, acolhido. Fitou um pequeno catre além de seu leito e sorriu inconscientemente ao pousar os olhos naquela coisinha de cabelos prateados sob os lençóis. De fato era hora de partir.
Por si mesmo e pela sua família.
____________________________________________

A viagem de navio durara três meses.
Três longos meses tendo apenas mercadores e bucaneiros por companhia. Mesmo quando seu humor derretia sob o calor úmido do oceano, Lanna nunca deixava-se abater. Ela adorava a idéia do desconhecido a cada dia. Novas terras, novas pessoas, novas culturas. Um mundo novo a explorar. Sem o onipresente cerco, sem as amarras das tradições, sem as imposições da corte. Só ela, ele, sua filha e a vastidão do reinado.
Ela teria escolhido um destino muito mais excitante. Petrynia ou talvez Deheon, mas Lan'Bael insistira em erguer uma vida serena, longe das intempéries dos aventureiros ou cidades grandes.

"Quero criar nossos filhos e vê-los envelhecer. Mesmo que isso enevoe minha mente e ponha ferrugem em suas juntas. Eles merecem crescer longe de conflito."


E mesmo ali ela aceitara sua decisão, ele estava certo e ela estava grávida.
____________________________________________

"Ele é estranho. Tem olhos engraçados."

Assim foi a definição de Estilynari sobre seu irmãozinho.
Cobertos de sorrisos, Lan'Bael e Lanna acataram o gracejo da pequena Lyn. Seus longos cabelos prateados só eram ofucados por seu temperamento eletrizante. Fitando-a, Lan'Bael concordara em silêncio com seu pai: "Os nomes têm poder."
Ela crescia exatamente reflexo de seu nome.
Estilynari. Elfa do raio prateado.
Forte, veloz, inquieta, destrutiva, linda. Era sua primogênita e até onde ele sabia, primogênita dessa geração dos Aith'Liantia. Ela teria a força pra comandar sua casa, quando o atual patriarca se for.
Seu irmão mais velho, On'Emartra. Ele mantinha hoje a Casa dos Mestres da Magia expoente na corte de Lennórien. Protegia sua honra na grande árvore. Exatamente como seu nome.

"Anesstinaheir. Esse será seu nome. Criança élfica de olhar mágico afiado. Cresça e seja, meu filho."

____________________________________________

"Rirba!"

Ele esperou e um instante depois o cadeado pulou na mesa de madeira. Estava aberto.
Anesstinaheir estava exultante. Esse era o truque que teimava em escapar-lhe da cabeça, por mais que praticasse horas a fio. Dominado esse, era hora de subir de círculo, ampliar o aprendizado. Estava ansioso pra mostrar ao seu pai seu recente avanço.
Correu de volta pra casa, saltitante do alto de seus doze anos. Quer dizer, sua aparência e maturidade equivaliam aos doze anos humanos mas sua idade real já ultrapassara os vinte e cinco invernos.

A pequena colônia em que vivia era quase um santuário perdido. Encarapitada na encosta de uma pequena montanha a dois dias da capital de Collen, uma verdejante mata abrigava um pedacinho de Lennórien no reinado. Dez famílias viviam numa paz quase permanente, com quase nehuma interação com o restante do mundo. Casas amalgamadas com árvores, cristais de iluminação pelas ruas e casas, hortas e jardins viçosos, calçamento colorido. Tudo que era necessário ao alcance das mãos.

Pelo menos era isso que o jovem Anesstinaheir esperava encontrar ao dobrar a montanha e o cenário que o recebeu não poderia estar mais longe disso.

Fogo, fumaça, sangue e gargalhadas.

Dezenas de humanos e orcs passeavam pela vila crestada, pateando numa cultura muito mais antiga que sua existência.

Choro, lamento, angústia.

Vários segundos foram necessários pra arrancar Anesstinaheir do choque crescente em sua mente. Enquanto uma parte de sua cabeça vociferava pra ele correr em direção a sua casa, outra sibilava a certeza do óbito de todos. Por sorte os gritos superaram o veneno e ele correu. Correu pelos meandros e atalhos que só os infantes conhecem, chegando em seu lar em minutos.

Morte, pesar, pavor.

Tudo o assaltara ao mesmo tempo. Sua casa, queimada. Seus pais, mortos. Ele esquartejado, ela estuprada. O pequeno Vainavellynsha não estava entre eles. Onde estaria?

Angústia, terror, covardia.

Encarapitado sobre uma das árvores do caminho ele esperou e viu. Atados pelos pescoços por correntes, crianças, jovens e mulheres seguiam numa letargia torpe, cobertos de lágrimas e sangue, seu e de outrem. Seu jovem irmão caminhava com eles nessa marcha infernal.

"Não vá, busque ajuda. Se atirar contra eles vai resultar na sua morte. Em que isso ajuda?"
"Vingue seus pais. Destrua seus inimigos. Estilynari faria isso. Sua mãe faria isso. Vingue-os."

Inconsientemente pegou-se sussurrando: "Me ajuda Lyn. Cadê você?"
Quase de súbito um dos homens virara em sua direção, apontando uma besta pesada.

"Desça peste, desça ou eu atiro."


E ele fugiu, para a escuridão.
____________________________________________

Agora. Fronteira de Ahlen, Reinado

"Adeus lugar maldito."

Anesstinaheir vociferara sem pudor, sentado ao lado do condutor de sua carroça.

- O que houve meu jovem? Sua estada em Ahlen não foi o que esperava? - perguntara o homem, com uma curiosidade genuína.

- Maldito seja esse solo e tudo que nele cresce e isso é tudo que penso desse lugar e desse povo. - respondeu o jovem Anesstinaheir - E aliás, me chame de A'nyr.

A'nyr aparentava pouco mais de quinze anos. Cabelos cor de fogo, olhos díspares e muito vivos, compleição esguia e língua afiada. Levava consigo um saco de viagem com parcos pertences e um bandolim, além de um bordão de madeira nodosa. Sua capa marrom esfarrapada cobria uma roupa de viajante surrada e completava o visual.

- És filho dessa terra homem?

- Não, sou filho de Valkaria, nascido sob o joelho direito da deusa. Já conhece a capital?

Valkaria. Capital do mundo. Lar da maior escola de magia que se têm notícia. Lá era seu destino. Por ela sobrevivera todo esse tempo em Ahlen. Por ela roubara e por ela matara, anos a fio. Finalmente encontraria seu destino e conseguiria a força necessária para destruir os monstros do passado.

- Não, mas falam-me muito bem dela. É verdade que lá é a sede da Academia Arcana?

- Sim, e não somente apenas isso...

O homem tagarelaria horas a fio por dias sem fim, e isso era bom. Isso criava um laço passível de ser explorado. Dividiria comida e abrigo. Intercederia por ele e lutaria com ele, caso fosse necessário.

"Humanos. Que Leen os leve a todos."

A cabeça de A'nyr só pensava em Valkaria e no poder que aguardava sob seus braços.

Contos Artonianos #10


Os Vingadores de Arton

Togo Cachopardo, o halfling, acordou no primeiro cacarejo de seu galo. Olhou a janela e saltou da cama como de costume. Espreguiçou como de costume e vestiu sua roupa de trabalho, uma camisa amarelada com um colete e suspensórios. Rotineiramente, bebeu seu leite matinal e observou novamente a janela. Arton experimentava mais uma alvorada naquele momento, deixando mais claro o manto estrelado que Tenebra derramava sobre o mundo. Era mais um dia amanhecendo. O halfling pegou sua bolsa com as Gazetas do Reinado e começou seu trabalho de distribuí-las.

Ele já estava cansado de ser entregador de jornais da cidade de Valkaria. Ele era pequeno e a cidade era muito grande. Ele não se sentia confortável de ir a bairros como os dos minotauros ou dos tamuranianos, pois nunca era bem visto e era mau tratado. Ele gostava das histórias, gostava de cantar, gostaria de ser um artista, mas nunca teve muita sorte no ramo. Tentara sua primeira apresentação na Taverna do Pombo Perneta da Praça, mas fora logo passado para trás por uma dupla de meio-gênios e seus truques mágicos que eram melhores atrativos que uma simples canção.

Então ele decidiu aprender magia. Com suas canções, compôs alguns truques que poderiam ajudá-lo a criar um clima que pudesse envolver a platéia em suas músicas tristes e frias como uma manhã de inverno ou em suas músicas alegres e agitadas como uma tarde de verão. Tentou na Taverna do Último Suspiro, mas a melancolia do elfo ali presente era mais envolvente que seus truques.

Togo começou a passar fome. Vindo da distante terra dos halflings, Hongari, ele não estava acostumado a ficar tantos dias sem comer menos do que três vezes por dia. Vindo com uma caravana com seu tio que precisava comprar novos fornos na capital do Reinado, Togo comia bem todos os dias da viagem e os bondosos paladinos de Khalmyr de Bielefeld os escoltavam com muita competência, evitando bandidos de estrada.

Sua carreira de cantor havia ido por água abaixo cedo demais. Sentiu-se arrependido por não ter voltado com seu tio para sua casa. Até que fora expulso da estalagem onde morava por não ter mais tibares no bolso. Passou fome alguns dias, vivendo de pão velho e leite que os templos de Marah e Lena ofereciam aos pobres e sem teto. Foi quando ele conheceu a Gazeta do Reinado.

Um pergaminho que custava muito caro e era pouco acessível aos camponeses e plebeus, mas continham informações muito diversas que geralmente interessavam mais a aventureiros. Era chamado de jornal. Percebeu que o emprego de entregador de jornais era suficiente para que ele dormisse num pequeno quarto em alguma estalagem no bairro dos halflings. Ainda visto como um primo pobre pelos demais, ele começou a juntar uma boa quantidade de dinheiro e comprou um galo para que pudesse acordar mais cedo e entregar os jornais aos assinantes mais ricos que pagavam mensalmente.

Essa manhã poderia ser mais uma como outra qualquer. Em breve ele completaria um ano morando na capital do Reinado e estava sempre postergando sua “grande chance” de se tornar em um cantor de renome. Foi quando passou pelo bairro dos anões e ouviu gritaria em um casebre abandonado. Tomado pela curiosidade excessiva, ele se aproximou da porta lentamente e percebeu que ela estava aberta. Entretanto, a escuridão do casebre aguçava sua curiosidade. Decidiu adentrar um pouco mais até que se percebeu totalmente incapaz de enxergar. Achou que melhor que deveria voltar.

Então ele sentiu que pisou em alguém.

Assustado, deixou cair sua bolsa e percebeu que havia esbarrado em um corpo de um anão. Ele arregalou os olhos e começou a pensar na encrenca que havia se metido. Se o vissem ali, certamente iria pra cadeia e jamais poderia se tornar num artista como ele desejava. Olhou para os lados freneticamente, murmurando palavras incoerentes. Pensou que o anão pudesse estar vivo e conferiu. Estava morto.

Sem peso na consciência por abandonar alguém a beira da morte, Togo virou seus pés e começou a ir embora. Quando ouviu sons mais fortes de metal se arrastando.

“O que vamos fazer?” era uma voz tremida que exalava covardia.

“Precisamos ir à igreja de Khalmyr” era uma voz melodiosa, feminina, sutil. Quase que uma canção.

“Não teremos tempo. Provavelmente existem mais cultistas no final daquela escada e” a voz de um rapaz foi interrompida por sua visão. Os três companheiros, iluminados pelo arco de Ferannia, carregavam o anão Delrin do jeito que podiam e acabaram vendo um halfling.

- Quem é você?

Korn, áspero, sacou sua adaga e o ameaçou com o cenho franzido.

- Perdoem-me, não sou ninguém!

Togo ergueu suas mãos para o alto e cambaleou para trás, assustado. Arthur resmungou para Korn guardar a arma.

- Escute halfling, nós precisamos de ajuda. Somos aventureiros e estamos lidando com cultistas de Tenebra, a deusa das trevas. Meu amigo anão aqui é um clérigo de Khalmyr e está morrendo. Preciso de ajuda! Você precisa buscar ajuda para nós!

O halfling aspirante à artista estava com olhos arregalados e gaguejou palavras. Ferannia fez mais um apelo com seus olhos tristes e Togo sentiu-se comovido. Arthur gritou para que fosse mais rápido.

- Eu posso ajudar de uma forma.

Togo havia lembrado de uma canção que ouvia de sua mãe quando era criança e que era cantada quando ele se machucava. Limpou a garganta e soltou uma voz bastante limpa e sonora.

“A cura logo vem.
Não há como impedir
Os rios do espírito estão passando por aqui
A nuvem da unção.
Repousa sobre nós
É hoje o dia de romper com o mal
Não há como impedir

Hoje é dia de romper com a dor.
E eu recebo a unção de Marah”

Uma luz branca brilhou envolta de Delrin, que estava sendo segurado por Arthur e Ferannia. Ambos olharam incrédulos para o que acabaram de ver. As escoriações de Delrin sumiram e ele abriu os olhos desperto. Agarrou o colarinho da armadura de Arthur e aproximou seu rosto ao dele.

- O que está acontecendo? Onde está aquela besta?

- Acalme-se, Delrin! Nós o derrotamos e você foi ferido, mas...

Ele olhou para o halfling. Togo agora sorria, pois sentiu que fez sucesso e foi útil. Salvou a vida de um clérigo de Khalmyr, seria abençoado pelos deuses. Aproximou-se dos companheiros e ergueu sua mão ao anão.

- Eu sou Togo Cachopardo, filho de Holgo Cachopardo, da Vila Nessie em Hongari, o Reino dos Halflings. A quem tive a honra de salvar?

- Meu nome é Delrin Turgar, clérigo de Khalmyr. Obrigado.

Ele se levantou com ajuda de Arthur e Ferannia. Eles estavam confusos agora. Korn estava emburrado, observando o halfling que era um pouco menor que ele próprio.

- Como veio parar aqui? Como podemos confiar nesse tampinha?

- Ele salvou a vida de Delrin, eu sou grato a ele. Chamo-me Arthur Woodcastle Terceiro, sou guerreiro e sou nascido em Valkaria. É um prazer. Mas como você curou meu amigo?

- Ele é um bardo. Usou sua voz, seu dom artístico para manipular energias místicas. A força de sua música curou Delrin. Eu sou Ferannia Holimion, senhor Cachopardo.

Ferannia sorriu para Togo que retribuiu encantado pela beleza da elfa. O halfling pegou a mão de Ferannia e deu um beijo, mostrando requinte. Korn insistiu em sua pergunta direta de como viera parar ali.

- Eu sou entregador de Gazetas do Reinado. Mas é um emprego temporário, sabe? Eu vim de Hongari para ser um cantor, um artista, mas acabei que não tive muita sorte em Valkaria. Quem sabe numa cidade menor? Oh, sim, eu passava por aqui perto quando ouvi os barulhos e resolvi dar uma olhada. Sabe como é, nunca se sabe quando alguém precisa de ajuda.

Korn mostrou a língua, insatisfeito e contrariado com as falas rápidas de Togo. Delrin se recompôs e ignorou a presença do halfling lembrando a todos que a missão não estava completa. Precisavam descer as escadas atrás da estátua de Tenebra. Arthur concordou e agradeceu novamente à Togo. Indagou se ele estava interessado em acompanhá-los.

- Não, não sou aventureiro, só iria atrapalhar. Eu preciso é ir embora e terminar meu trabalho ou não terei o que comer.

- Você poderia compor uma história sobre nossas ações hoje, senhor Cachopardo.

Ferannia parecia contente com a idéia de ter um bardo por perto. Os olhos de Togo brilharam em satisfação. Então, ele mudou de idéia. Arthur ficou sério em seguida, erguendo sua espada apontando a direção que deveriam seguir. A essa altura, o arco de Ferannia havia apagado e, já demonstrando serviço, Togo fez uma rima que iluminou novamente a arma. Os cinco avançaram pela passagem secreta que Korn havia descoberto, depois chegaram à sala onde enfrentaram os cultistas e o meio-orc. Togo passou por eles e percebeu que Gazat estava vivo.

- Este meio-orc precisa de uma canção da cura. – disse Togo, animado.

- Espere! Ele irá nos matar! Não é pra curar os inimigos! – gritou Korn.

- Inimigos ou amigos, todos merecem outra chance. Eu posso ajudá-lo, mas não quero criar um impasse entre vocês. Só acho errado deixar alguém pra morrer...

(CONTINUA)

domingo, 11 de abril de 2010

Revolução


Venho por meio desta, instaurar uma república socialista por meio das forças legais que me concebem o poder das massas.

Vieram me falar sobre uma possível passagem do Bastão de Mestre de Crônicas Artonianas para Marinho. No inicio, eu achei legalzinho a ideia, pois seria interessante eu jogar ao lado de personagens tão ricos em história e background como Kuala, Ilendar, sir Lothar e Tildror. Porém, todavia, entretanto, eu desisti da idéia. Crônicas Artonianas foi meu xodó que deu certo, depois de Tormenta Épico com Vecna, Christopher e Rhull. Quando pensei melhor, achei que eu deveria retomar Crônicas Artonianas e fazer com que ela seja uma campanha durável até o infinitum! Até os níveis épicos, se possível! Digow e Cadu que manifestaram desejo de entrar, serão bem vindos.

Quando à Últimos Dias, conversei com Caputo e temos duas idéias diferentes: ele acha que devemos exterminar a existencia de Últimos Dias e que Marins pegue o mote da campanha que, no final, enfrentemos Contra Arsenal. Eu acho que Marinho deve pegar o Bastão de Mestre de Últimos Dias e eu entro com um personagem diferente no lugar do mosqueteiro dele. A vantagem da ideia de Caputo é que Marinho poderá escolher tudo de novo, criar uma trama complexa do zero, usando a criatividade dele. A desvantagem é o saco cheio que o pessoal deve tá de fazer personagens novos e ver seus antigos nunca evoluindo muito. A vantagem da minha ideia é que Marinho terá um grupo já pronto e poderá criar aventuras ligadas a uma campanha dele porque eu mesmo não fiz grandes ligações entre as aventuras que já mestrei. A desvantagem é que Marinho será severamente limitado com os perfis dos personagens já existentes e suas tramas individuais (ovo de veludo de Vanthuir, moeda de "sorte" de Davie Crown e etc).

Descartem o último post. Escrevam o que acham, vermes! Dia 20 (ou 21 de manhã) to chegando!

Feriado de Tiradentes


Olá, meus estimagos amigos forgottenianos.
Enquanto vocês jogam nesse momento o Oblivion de Caputta, tenho notícias a todos.
Nesse feriado de Tiradentes eu voltarei do sul para jogar com vocês. Como não quero atrapalhar nenhuma campanha entrando e saindo, prefiro mestrar Últimos Dias (desde que não falte nenhum jogador). Tendo em vista também, é claro, a "urgência" que temos de passar de nível para o confronto derradeiro com Mestre Arsenal.

Viajo dia 20 (de ônibus) ou 21 (de avião) e fico até domingo de noite. Portanto, se der, prefiro que joguemos no feriado de Tiradentes mermo (dia 21).

O que vcs acham? Fui.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O início do Império - Parte Final.




N'kalit havia lhes dado a mensagem...

E todos entenderam muito bem. O silêncio do local oprimia todos os ouvidos, e determinava as respirações, os pensamentos e o ritmo do coração. Determinava que cada músculo relaxasse, que cada alma meditasse. Extinguia a adrenalina, e dava a emoção da incerteza.


Qual seria o próximo passo?


Respiração...


O Lorde de Carsten estava em pé, no meio da câmara. O bruxulear das tochas revelevam os atos de Aggripa em sua armadura adamantina, que brilhava com o sangue. Gradualmente, ele podia sentir o cheiro de medo sair do local, deslizando pelas arestas das portas.


Mas o cheiro profano de morte... Este impregnaria o local por muito tempo. O Escravizador de Almas, seu martelo, pingava com o sangue de vários senadores. Miolos escorregavam pela esfera de metal indo de encontro ao sangue, o que emitiu o único som do lugar.

Gotas.

Em sua mão esquerda estava a cabeça de um senador, mais especificamente do presidente daquela sessão. Ele segurava a cabeça ainda no corpo pelos chifres. O olhar do senador representava seus ultimos momentos de vida, a conclusão de toda uma história - Dor, sofrimento.

N'kalit ainda terminava de esquartejar um corpo, ainda em sua fúria bestial, fúria esta que deu início ao massacre. Desde o início, seu objetivo era provocar a morte de Tapista como Tapista.

Das poças de sangue, do cheiro de morte e do silêncio sepulcral do lugar o Império de Tauron nasceria. Seus pais foram crúeis, e as crias futuras deste Império mais ainda.

Aurakas permaneceu sentado em seu lugar durante todo o tempo. Assistiu de camarote a morte de muitos dos que lutaram por ele. Sem remorso, sem piedade.

Um sacrifício necessário.

Toda guarda pretoriana estava lá. Todos manchados com o sangue de sua pátria, como parteiras ficam após o parto. Todos esperando as ordens do Imperador, o Sumo-Sacerdote de Tauron.

Aquele era apenas o primeiro passo...

Tão logo Khalmyr caisse, tão logo Tauron poderia alcançar a força máxima, irrefreável, eterna.
Aurakas levantou-se. Olhou para Aggripa e para os Senhores ali presentes, analisando seus espíritos e sua coragem; verificando a força de seus espíritos.

"Reunam as hostes. Que Hershey seja a primeira a cair."
Todos sairam...

Tão logo Khalmyr caisse...

Tauron poderia alcança-la.

Alcançar a Supressão.
______________________________________________________________
OBS: Devido a urgencia, tive que mandar este post hoje, justo hoje que aldi mandou o Numero 9 de sua história.

Não esqueçam de ler este tmb, logo abaixo XD

Contos Artonianos #9

- Por Valkaria! Rápido com isso, Korn!
Arthur e Delrin usavam de força para atrasar as paredes que se fechavam sobre eles. Korn, atrapalhado com suas pinças e chaves-mestras, tentava desesperadamente abrir a fechadura da porta à sua frente e rezar para que ela abrisse para fora. Ferannia estava sobre o goblin, tentando decifrar a escrita em volta da porta, antes que a parede ocultasse as letras. O barulho de parede se arrastando criava um clima de urgência a todos e desespero. Eles sentiam que as coisas estavam por um fio. Mais um pouco e as desconfianças entre eles poderiam ser fatores decisivos em sua derrocada.
- É uma língua muito difícil, antiga. Mas os sinais eu reconheço como “afaste-se” e “perigo”. Tem alguns símbolos que são religiosos! – Ferannia virou o rosto imediatamente para Delrin clamando por sua ajuda com os olhos desesperados.
- Com mil demônios! Khalmyr me perdoe, mas que diabos de situação! Como poderei sair daqui para decifrar estes sinais e deixar o jovem Arthur sozinho?
- Delrin, eu consigo! Vá!
- Não seja tolo, Arthur! Nós dois não conseguimos mantê-las paradas, imagine você sozinho. Vamos acabar morrendo todos.
Korn movia suas peças de ladino na fechadura e sentia o suor escorrer abundante de sua testa. A discussão dos outros o deixaram mais nervoso ainda. Ele tinha esperanças de que os salvando daquilo, pudesse se gabar e fazer com que todos ficassem devendo a ele. Mas aquele pensamento já o abandonara faz tempo. Ele descobriu, então, uma armadilha. Uma agulha picou seu dedo e uma gota de sangue brotou.
- Fui envenenado! Eu vou morrer! Vamos todos morrer!
Ferannia olhou para Korn e abaixou-se para segurá-lo antes que ele tombasse. Uma lágrima começou a brotar e um olhar de resignação sem esperança mirava o pequeno goblin. Estava tudo perdido.
- Ferannia! Diga como se parecem os símbolos religiosos! Delrin poderá identificá-los se você descrever como são. – os gritos de Arthur pareciam uma luz de esperança para eles. Ferannia virou o rosto em direção à parede, segurando a lágrima.
- Os símbolos parecem língua anã, mas tem variações com estrelas de cinco pontas, alguns símbolos simétricos que se assemelham a um sol quadrado que tornam símbolos que parecem humanóides em seres menores. Tem um sol quadrado que diminui ao lado de símbolos humanóides que crescem. Não entendo nada sobre isso!
- Claro que não poderá entender, mas não tema. Eu já sei o que é.
Delrin soltou a parede, subitamente e correu em direção à porta. Arthur usou toda sua força para estacar seus pés no chão, mas conseguiu apenas dores nos ombros e nas costas. Ferannia puxou Korn e saiu da frente da investida do anão. Ele tocou na porta com as duas mãos espalmadas.
- Khalmyr me perdoe pela blasfêmia.
“A Mãe Noite não é compreendida. Ela oferece ao mundo frescor contra as chamas de Azgher, e abrigo contra sua luz cegante. Ela transforma os seres para que sejam capazes de viver nas trevas – assim, quando Azgher não brilhar mais, os povos de Arton poderão sobreviver.”
Era a crença dos devotos de Tenebra escrita em linguagem anã antiga, da época em que Tenebra era o maior culto dos anões de Doherimm. Delrin lembrou de seu irmão com pesar e abaixou a cabeça. As paredes pararam de se fechar, estavam quase se encostando aos ombros do largo anão. Arthur caiu sentado, bufando e suando litros. Ferannia esboçou um sorriso de agradecimento à Delrin. Korn, que até então estava com cara de doente, ergueu-se do colo da elfa e deu tapinhas animados no ombro de Delrin como se nada tivesse acontecido com ele.
- Sempre acreditei em você, amigão. Sua habilidade com línguas religiosas até me curou.
Delrin, entretanto, não respondeu.
- Você deveria ser mais corajoso, Korn. Você estava com tanto medo que preferia morrer envenenado a ser esmagado. Da próxima vez os símbolos podem ser indecifráveis para Delrin ou Ferannia e nós vamos realmente morrer.
Arthur falou severamente com Korn, atento aos perigos daquela situação. Confortou Ferannia com um sorriso correspondido e foi até Delrin que ainda estava com a cabeça baixa.
- Delrin, você fez o que pôde para nos salvar. Era preferível falar essa ladainha a morrer. Não perca seu ânimo.
- Existem certas coisas que não espero que vocês humanos em suas curtas vidas possam entender de nós, anões. Obrigado pelas palavras. Meu machado está sedento de sangue de criminosos. Vamos continuar.
Korn girou a maçaneta que já não possuía a agulha envenenada, uma vez já ativada. Eles estavam agora diante de uma sala retangular. A luz do arco de Ferannia iluminava pouco os cantos, mas dava para ver a estatua da deusa das trevas em sua forma sensual como se dançasse de frente a eles. Ao lado dela havia um portal que seguia com escadas para baixo. Eles se entreolharam, cansados.
Subitamente, ouviram barulho de correria vindo das escadas. Arthur segurou firme o cabo de sua espada e as tiras de couro que prendiam o escudo no outro braço. Delrin fazia questão de segurar seu machado anão com as duas mãos, franzindo a testa. Ferannia sacou uma flecha e preparou para atacar. Como era uma arma de tiro, pretendia disparar primeiro, antes que houvesse o contato corpo-a-corpo de seus aliados e inimigos. Korn ficou atrás deles, no meio da porta recém aberta com muito sacrifício. Ele pensou ali mesmo em deixa-los para trás, trancar a porta e fugir. Nenhum inimigo que houvesse sobrevivido tinha visto seu rosto. Ninguém iria atrás dele. Ele poderia voltar à favela e viver como sempre viveu.
Os passos de correria cessaram. Agora, eram passos de quem andava. As sombras causadas pela luz do arco élfico revelaram uma silhueta de alguém muito grande, mais de dois metros de altura. Ombros largos, cabelos espetados. Revelando-se à Arthur e Ferannia (já que Delrin e Korn enxergavam no escuro, já haviam visto o rosto de quem chegava), era um meio-orc com um sorriso sádico no rosto.
- Quem de vocês é o mais forte? O anão ou o humano?
Gazat sentiu que ainda controlava certos aspectos de sua vontade. Sua besta inferior mantinha os instintos selvagens e sanguinários. Seus olhos amarelados fitavam cada um dos quatro intrusos. Via um goblin, obviamente fraco. Uma elfa com um arco brilhante que exalava fraqueza. Porém havia o humano que era tão jovem que não possuía pêlos no rosto e o anão que parecia ser muito velho. Ambos portavam armas de respeito, isso o confundia.
Delrin e Arthur se entreolharam. Outros quatros humanóides encapuzados adentraram a sala. Provavelmente eram lobisomens idênticos aos que Delrin e Korn enfrentaram no bairro dos anões, há algumas horas.
- Na dúvida, vou matar os dois. Ao resto, não se intrometam na minha luta.
Gazat sacou seu enorme machado das costas. As duas lâminas estavam manchadas de sangue enegrecido. Ele correu em direção aos dois aventureiros. Ferannia parecia paralisada de medo. Korn chegou a tocar a maçaneta da porta. Um impulso a mais e ele trairia a todos e fugiria.
Arthur e Delrin brandiram suas espadas e gritaram como guerreiros. As lâminas do machado de Delrin e da espada de Arthur cruzaram com um dos lados do grande machado de Gazat. Dois cultistas já saltaram pelos flancos do anão e do guerreiro e cercaram Ferannia. Um deles agarrou-lhe o braço arranhando sua pele. Eles puxaram a elfa dali abrindo espaço para os outros dois avançarem sobre Korn. O goblin desviou da tentativa de agarrar de um dos cultistas, então o outro desferiu uma estocada com a espada curta, arrancando um filete de sangue em seu pequeno e esquelético braço.
- Delrin, cuide dos cultistas. Eu cuidarei do meio-orc!
Arthur deu um passo a frente, forçando Gazat dar um passo atrás. Delrin viu-se livre e voltou seu machado com toda força sobre o cultista que agarrara o braço de Ferannia. O golpe fora bem dado e cortou a mão da criatura, revelando o braço peludo de lobisomem. O clérigo de Khalmyr ainda defendeu-se com sua poderosa armadura de uma estocada do outro adversário. Ferannia se afastou tateando a parede até esbarrar com a outra parede, ficando num canto extremo. Korn se afastou mais ainda, recuando até o corredor e pegando sua adaga. Arremessou ainda gemendo de dor e nervosismo. Acertou a coxa direita de seu agressor. O outro avançou sobre ele tentando fura-lo, mas sem sucesso. O goblin era bastante ágil e magro, o que dificultava quem o acertasse.
Gazat sorriu para Arthur e o jovem guerreiro pôde sentir o hálito horrível do meio-orc. Com seu machado, ele golpeou novamente e, novamente, Arthur defendeu-se usando o escudo e a espada como bloqueadores. Apesar da defesa, Arthur sentiu uma enorme pressão para baixo e seus joelhos ameaçaram fraquejar. Era o peso da armadura somado ao peso do machado e da força do meio-orc que era muito forte.
Entre rangido de dentes e grunhidos de força, Arthur moveu-se para o lado oposto de Ferannia atraindo atenção a ele e arrumando mais espaço para lutar. Desferiu um golpe lento, mas com toda sua força. Gazat moveu-se para o lado, esquivando do golpe. Seu sorriso era cínico e enervava Arthur que tentava se concentrar, preocupado com os outros.
O lobisomem sem sua mão recorreu à garra da outra para tentar arranhar o anão. Porém, Delrin possuía suas defesas e desviou do golpe com sua armadura de talas de metal. Ferannia recuperou-se do choque inicial e atirou com seu arco nas costas do adversário de Delrin que estava prestes a perfurá-lo pelas costas. O anão virou o rosto para a elfa e a agradeceu rapidamente. Aproveitou e girou o corpo com seu machado fazendo um golpe de balanço, decapitando o lobisomem aleijado. Viu Korn em apuros e se aproximou dos dois cultistas que o molestavam.
Um lobisomem voltou-se para Delrin e conseguiu encontrar uma brecha na armadura pesada. Furou-lhe sem dó, arrancando uma gorda quantidade de sangue que pintou o chão sob o anão de vermelho. Ele urrou de dor, o que deixou Korn mais assustado ainda. Deixou Arthur mais preocupado. Deixou Ferannia chorosa. Korn pegou sua besta, afastando-se mais ainda e deu um tiro de virote, acertando aquele que já tinha sua coxa perfurada por sua adaga. Ele, entretanto, não desistiu de sua perseguição e caminhava sobre Korn.
Alheio ao que acontecia, Gazat desferiu um golpe percorrendo um arco na perfeita horizontal. A lâmina do machado deceparia o jovem Arthur, se ela não tivesse parado antes de terminar sua trajetória.
- Preste atenção no que está fazendo, humano. Ou você será uma presa fácil. E entediante.
Arthur não acreditou no que ouviu e desferiu mais golpes com sua espada, dessa vez causando um talho no flanco esquerdo de Gazat. O meio-orc sorriu, como quem se deliciava com a dor.
- Isso mesmo, isso mesmo.
O próximo golpe de Gazat foi devastador. Arthur usou seu braço esquerdo com o pequeno escudo para se defender, mas a madeira não foi suficientemente forte para agüentar o golpe. Partiu em mil pedaços, arremessando Arthur ao chão com o braço esquerdo dolorido.
A essa altura, Ferannia havia já acertado mais um tiro com sua flecha e matado um lobisomem. Delrin derrubou seu agressor e sentiu-se tonto pela perda de sangue. Korn desviou novamente de mais um golpe e, como não tinha espaço para se afastar, tirou a adaga da coxa do lobisomem e furou sua barriga. Um riacho de sangue quase o acertou. Korn olhava para seu próprio ferimento e percebeu que não era muito sério. Delrin, por outro lado, estava encostado na parede, recuperando fôlego e pensando em ajudar Arthur com seu difícil adversário.
- As coisas estão feias.
- Khalmyr não nos abandonará, nossa causa é justa. Khalmyr! Khalmyr!
Delrin reergue-se e correu na direção de Gazat, mas errou seu golpe. Arthur tentou aplicar mais um golpe poderoso, mas acertou o chão dessa vez. Gazat girou seu machado e acertou a parede. Por pouco não decepava um braço do jovem guerreiro. Ferannia mirou outra flecha em Gazat e cravou-lhe nas costas.
- Vocês não são de nada.
Gazat começou a rir com a picada que sentiu no ombro. Era Korn já preparando outro virote.
- Goblinzinho irritante.
Arthur aproveitou o momento e fez um talho profundo no peito de Gazat. Sangue escorreu farto.
- É o máximo que pode fazer, guerreiro?
Delrin orou para Khalmyr que curasse um pouco de seu ferimento e se manteve de pé mais um pouco, inibindo a tontura pela perda de sangue.
Gazat aproveitou o ensejo e bateu com violência no anão com o cabo do machado. Delrin voou longe, quase atravessando o salão inteiro. Arthur gritou para Korn cuidar de Delrin. Ele mesmo saltou sobre Gazat com muita raiva e cravou sua espada na barriga. O meio-orc era apenas sorrisos. Mas dessa vez, golfou sangue e dobrou os joelhos. Tombou provocando um grande barulho.
- Não morra agora, amigão. Precisamos de você. – Korn tentava manter Delrin de olhos abertos. Mas nesse momento, o clérigo de Khalmyr estava com a mente bem distante dali.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Contos Artonianos #8

A Masmorra no Bairro dos Anões, parte II

- Acho mais sábio de sua parte pegar um destes escudos, jovem Arthur.

- Mas Delrin, estes escudos têm o símbolo de Tenebra. Não quero ficar conhecido como um mercenário que fica pegando objeto dos inimigos derrotados.

- Sua sobrevivência é o mais importante agora, Arthur. Você foi bastante castigado pelas lâminas dos inimigos. Vou lhe conceder um milagre da cura e depois terei de esperar o próximo amanhecer para orar à Khalmyr e renovar minha fé. Você precisa se proteger melhor e sobreviver para que consiga pelo menos contar suas histórias para os bardos.

Arthur consentiu e pegou um escudo do chão, de um dos esqueletos. Estava riscado e muito velho. Pegou o que a estrela negra de Tenebra estava mais apagada pelo tempo. Delrin derramou o milagre da cura sobre Arthur e suas dores aliviaram. Os quatro se reuniram no centro do salão e Arthur resolveu decidir ir pela porta secreta que Korn havia descoberto e de onde saíram os esqueletos. Dessa vez, ninguém fez objeção. Ferannia percebia que a decisão do guerreiro humano devia-se mais pelo sentimento de culpa pelo risco de morte que Korn sofreu do que por um raciocínio lógico. Ela não ficou muito satisfeita com isso, mas não se manifestou.

Após a porta secreta, havia um corredor estreito que forçava o grupo a andar em fila um atrás do outro. Arthur foi à frente, seguido por Korn quase que entre suas pernas, observando cada canto do corredor em busca de algum perigo que pudesse surpreendê-los. Ferannia vinha em seguida com seu arco devidamente iluminado por magia, com uma flecha preparada. Por último, Delrin observando a retaguarda com seu escudo protegendo suas costas e o machado com suas duas mãos.

Vários restos de ossos jogados pelo chão tornavam o ambiente um tanto sinistro para eles, sugerindo que o perigo poderia surgir a qualquer momento. Até que no final do corredor, encontraram símbolos desenhados circulando uma porta de madeira com uma maçaneta. Korn tomou à frente do grupo.

Delrin se aproximava lentamente, um pouco incomodado com a forte luz que o arco de Ferannia emanava e resolveu parar para descansar há uns metros dela. Encostou seus ombros na parede e sentiu que um bloco de pedra cedeu. Praguejou e olhou para todos como quem se desculpava.

A porta por onde os aventureiros haviam entrado se fechou com um grande barulho. Eles ouviram apreensivos uns barulhos de rodas mecânicas em trabalho. Korn parou de observar a fechadura por um instante, tremendo suas pernas de medo. Ferannia olhava para todos os lados assustada como uma felina. Arthur sentiu que as coisas iam ficar muito ruins.

E ficaram.

***

Rengav Evol rosnava ordens para os cultistas que sobraram para se prepararem para o combate. Eles pegavam escudos de madeira, lanças e espadas curtas. O lobisomem meio vampiro sabia que aqueles cultistas não tinham tanta força em suas garras e teriam que usar o subterfúgio das armas. Ele sabia que logo os intrometidos aventureiros logo estariam ali para tentar acabar com seus planos. Jasmira, dando-se por satisfeita, decidiu ir embora. Deu ordens para Gazat obedecer aos comandos de Falrin e Rengav.

Falrin observava com asco ao meio-orc e não gostou da adição do bárbaro sob aquelas circunstâncias. O anão trajava roupas negras de cultista, sob um peitoral de aço e ombreiras largas. Tinha um escudo às costas e uma maça estrela embainhada na cintura. Sua barba ruiva era um pouco mais clara que de Delrin. Ele falou com Jasmira se era mesmo o melhor ela ir embora deixando as coisas sob o comando de Rengav Evol que acabara de chegar e não tivera tempo de provar seu valor.

- O que foi feito, está feito, anão. A Sociedade crescerá com o mais forte aliado para liderar os lobisomens.

- Ele possui a marca do vampirismo também, senhora Jasmira.

- Por isso ele será um grande líder dos nossos soldados, caro Falrin Turgar Segundo.

O anão entendeu os planos de Jasmira. Ela queria que, logo após o sucesso maior nos planos da Sociedade, os vampiros tomassem a liderança. Cada raça sob o manto escuro da deusa das trevas fosse comandada por um membro que tivesse a benção dos pálidos vampiros. E não gostou da idéia, mas manteve-se calado por hora.

Jasmira desapareceu como uma brisa, lentamente, como se nunca estivesse ali. Falrin e Rengav se encararam um pouco logo após.

- O rei dos lobisomens quer que você jure lealdade como um importante aliado, anão.

- Não até que você, “rei dos lobisomens”, demonstre seu valor e lealdade perante a mãe das trevas. – Falrin franziu as sobrancelhas mirando os olhos de Rengav.

- Mostrarei meu valor eliminando um a um dos que macularam nosso esconderijo.

- Esta não seria uma demonstração de lealdade e sim de sede de matança. São intrometidos, são seres da superfície, merecem a morte por profanarem nosso esconderijo. Mas suas mortes não servirão de nada. Traga-os para que eu os sacrifique. Assim poderei confiar em sua mente mais do que em seus músculos peludos.

- Acho que nem todos são necessários para um sacrifício. Trarei um deles vivo. O resto, eu matarei. – Rosnou alto com satisfação.

- Então deixe que o meio-orc o faça. De repente, ele acaba morrendo também e nos livramos desse peso inconveniente. Assegure, depois, que ele não mate a todos e traga alguém vivo. Dê preferência a possíveis elfos vingativos.

Rengav pareceu satisfeito com aquelas palavras e Falrin pareceu satisfeito por ter controlado a situação em seu favor. Gazat, entretanto, pareceu não gostar de sua situação de fantoche. Mas não possuía vontade necessária para se livrar daquilo. Ainda.


segunda-feira, 5 de abril de 2010

Aurora Carmesim #1 - Travessia, parte 8

Coração das trevas, Lugar-nenhum

O grupo ainda jazia imóvel, atordoado com toda a cena.
Um dragão ancestral. Um salão inimaginável. Centenas de criaturas das mais variadas raças.
Os cinco estariam perdidos caso este encontro se provasse uma armadilha. Simplesmente não poderiam combater todas as criaturas do recinto de uma só vez. E se fossem tão capazes quanto o tal mensageiro, Cledoveo?
E claro, havia um dragão maior do que tudo que já haviam vislumbrado parado ali, no meio do salão, os encarando. Se ele os quisesse mortos nada os livraria das garras frias da morte.
Com essa certeza pairando sobre seus corações, Thomas rompeu o silêncio abruptamente:

- Muito bem Xiucoathl, por que nos trouxe a esse lugar? O que deseja conosco?
____________________________________________

O cérebro de Victor trabalhava a uma velocidade inacreditável. Desde que cruzara o portal, ele havia focado toda sua capacidade mental em descobrir os porquês daquilo tudo. E já havia feito progressos consideráveis. Claro que ele precisava deles vivos e bem, caso contrário mandaria esse pequeno exército exterminá-los onde e quando fosse mais conveniente. Ele parece ser uma criatura poderosa capaz de quase tudo, mas deve existir algo ou alguma coisa que ele não possa realizar.
Ou enfrentar.
É possível para ele realizar de fato qualquer coisa tamanho seu séquito de subalternos. Então era para um enfrentamento que ele precisava deles. Mas combater o quê? Em troca de quê? Até por que, existiam pouquíssimas coisas que eles cobiçavam sem poder efetivamente possuir. A não ser...

- Tenho uma proposta para vocês senhores, - respondeu o anfitrião azul - por isso os trouxe à minha presença. E como parte dessa proposta ofereço a vocês algo de igual valor ao feito que desejo realizado. Você responde por todos, Thomas?
____________________________________________

Halfdan ouvia apenas parcialmente tudo que estava sendo dito. Orara em silêncio a Khalmyr em busca de discernimento e já executava seu próximo movimento.
"Khalmyr, abençoe meus olhos com a capacidade de enxengar além das máscaras da mentira e da dissimulação." Sentiu as mãos do seu deus pousarem sobre seus ombros e sua voz traduzir-se em imagens. E então, viu.
____________________________________________

- Sim, eu falo.

Com um gesto, o imenso dragão convocou um dos incontáveis pergaminhos que jaziam em algumas das prateleiras ao redor da sala. Ele flutuou sobre sua palma aberta, oscilando impacientemente.

- Vocês sabem o que é isso senhores? - ante o olhar inquieto do grupo, ele continuou - Claro, além do óbvio fato de ser um pergaminho imenso. Aqui existe informação cavalheiros. Poder. Coisas, fatos e descrições registradas com extrema acurácia, relativas a um período que hoje não existe. Nem mesmo para os deuses.

No mesmo instante Thomas viajou em direção a seu passado. Estivera muitas vezes no plano de sua deusa, Tannah-Toh. Nesse plano existe um museu contendo toda história de Arton. Nesse museu existe uma sala e nessa sala a realidade é branca, alva como uma folha de papel.

O período da Guerra do Três.

Então ele teria registros desse período? Seria possível? Caso isso fosse verdade, essa informação valeria qualquer coisa. Qualquer coisa.
____________________________________________

Xiucoathl deleitava-se com sua pequena vitória.
Sim, já os havia vencido no momento em que deixaram o paladino da mãe da palavra falar por todos. Ele já lidara com toda sorte de grupelhos, ajuntamentos, companheiros. Enxergava a evolução das carreiras e profissões através dos milênios, sempre acompanhadas de novas diretrizes e dogmas de acordo com a raça e sociedade reinante. Mas havia um coisa que nunca mudara em todos esses inúmeros anos.
Paladinos.
Campeões divinos da moralidade e decência. Sempre buscando a justiça cega, vendo o mundo em preto-e-branco apesar de suas infinitas variações de cinza. O aspecto e vontade divinos encarnados. Deuses são eternos e por esse motivo nunca mudam. Nunca evoluem. Patético.
Aprendendo suas nuances e caminhos, é possível forjar um engodo para cada um deles. Para cada peixe, uma isca. Conhecimento, poder, violência, morte, traição, cada um estava preso a seu próprio pecado, enclausurado dentro de seu aspecto, atado por sua própria existência.

- Pois isso pode ser seu, caso aceitem minha proposta. - antes que pudessesm interrompê-lo, Xiucoathl reiniciara - A centenas de anos, antes dos humanos emigrarem de Lamnor em busca de sua deusa morta, houve uma tribo bárbara que vivia a norte de Yuden, nas montanhas. Eram humanos, postos ali com um propósito escuso. Servirem de experiência e diversão para um deus. Esquecidos por sua mãe, que olhava para o sul, esses mortais viveram durante gerações, combatendo todo tipo de ameça que era jogada contra eles por seu pai. Bestas de Megalokk. Dragões de Kallyadranoch. Demônios de Ragnar. Monstros de Tenebra. E com a persistência que lhes é habitual, esses humanos sobreviveram. Subjugaram e derrotaram. Evoluíram. Até o ponto chave de seu propósito inicial, um campeão nascera. Naturalmente poderoso, fruto de centenas de anos de lutas e sangue. Mardoc era seu nome e matar era seu dom.

Perscrutando as faces dos seus convidados, Xiucoathl percebeu instantâneamente a compreensão se formando em dois dos cinco homens. Victor, o mago e Halfdan, o clérigo. Precisava continuar até o ponto principal, até enredá-los de maneira irreversível, selando seus destinos. E assim seria feito.

- Ele provou toda sorte de infortúnios, matou toda qualidade de oponentes e foi um deus entre os seus. Sob seu jugo, a tribo floresceu e cresceu, dando origem a um arremedo de sociedade. Espalharam-se, da maneira que sua natureza os impele, e fincaram-se àquelas terras em definitivo. Porém nenhum homem em Arton é imortal e Mardoc não seria excessão. Sua existência chegara a fim e ele foi acolhido com honras nos braços de Keen pelo resto da eternindade. Então caiu sobre a realidade a guerra dos três. Deus contra Deus, pelo mundo. E Keen o trouxera volta pessoalmente afim de impedir o avanço de Kallyadranoch no norte. Ressucitou-o no auge de seu poder, com toda experiência adquirida em Werra presente em cada célula de seu corpo, em cada canto de sua mente. Ele aprimorara o matador perfeito.
____________________________________________

Victor absorvia tudo com uma das muitas partes de sua mente. Uma outra trabalhava na ligação dos fatos e mais uma vasculhava a história em busca de provas. Uma quarta nas possibilidades de sucesso em um provável embate e uma quinta sobre seu problema mais imediato, como alertar Thomas do engodo que estava sendo tecido ali, bem na frente de seus olhos. Depois de ponderar consigo mesmo algumas vezes, sob pontos de vista diferentes, decidiu tentar um truque simples e rápido, que era capaz de executar com um breve sussurro.

"Gat. Rassaf he mau. Jumaf."


Antes de terminar sua breve sentença, sentiu sua mente esticar e divagar, afastando-se da concentração necessária, perdendo o truque. Mirou Xiucoathl e apurou seus sentidos, conseguindo notar uma segunda voz, quase inaudível, por trás da primeira. Ele o havia impedido.

- Depois que o panteão venceu a guerra e os revoltosos foram punidos, Mardoc ganhou mais um ano de vida, para espalhar suas sementes e gozar da vitória. Fora levado de volta a Werra por Keen e lá deveria permanecer até o fim dos tempos. Mas isso não vai acontecer. Minhas fontes revelam que ele será trazido de volta pelos servos da tempestade rubra através de algum ritual esquecido, da mesma maneira que trouxeram de volta o dragão da tormenta.

- Mas para que eles desejariam isso? Ele é humano e artoniano, ele vai lutar contra eles. - Exasperou-se Thomas, chafurdando ainda mais nas teias da armadilha.

- Ele será controlado pelos servos da tormenta, assim como o foi o dragão. Ele será jogado numa caçada insana para abater o maior obstáculo à conquista do ex-plano de Glórienn, Kallyadranoch. E isso não pode acontecer de maneira alguma ou será o início da morte de Arton. O ritual precisa ser impedido e essas criaturas destruídas. Vocês precisam me ajudar, vocês precisam ajudar o mundo.

"Tarde demais, não temos mais volta. Essa é chance certa de tentar amenizar as perdas."
Pensou Victor logo que o ponto final deixou a bocarra da fera azul. No momento em que abria a boca, Halfdan o antecedeu. "Oh, não."

- Não podemos ajudá-la, besta fera maligna. Não confio na honradez de sua intenção nem na veracidade de suas palavras, sairemos daqui imediatamente. Sobre seu cadáver de preferência.

- Eu ofereço conhecimento, Thomas. - desfiou Xiucoathl, ignorando Halfdan - Único. Inestimável. E você tem a obrigação de ajudar, de impedir que a realidade seja açoitada por mais essa ação da Tempestade Rubra. Você terá que me ajudar, Thomas, paladino guardião da realidade de Tannah-Toh.
____________________________________________

A angústia e confusão eram visíveis na face de Thomas. No espaço de um suspiro seu corpo executou uma rotina que anos de batalhas o ensinara: enrijeceu músculos, acelerou batimentos, estreitou os olhos e trouxe o poder de sua deusa para dentro de si, olhando diretamente para o coração das coisas. E nesse instante, ele viu. O mal estava presente ali, em todo lugar.

Seu espírito estava em guerra. Seu coração em polvorosa argumentava com sua mente atribulada. "É impossível. Não posso ajudá-lo, ou estarei ferindo a regra primordial dos campeões. Não posso associar-me a criaturas malignas. Mas não posso deixar nenhum conhecimento novo pra trás, ainda mais um assim tão valioso. Arton precisa de mim, Tannah-Toh precisa de mim, mas se eu responder ao chamado vou contra minha vocação, meu juramento e minha vida."

Uma mão tocou seu ombro e ele ouviu a voz cristalina de Victor acima de seus pensamentos. "Ele vai achar um modo."

- Acredito sermos incapazes de aceitar sua proposta, meu caro anfitrião. Uma vez que ofereces associação e recompensa, jaz em suas palavras uma forma velada de servidão. Teu coração maligno nos obriga a recusá-la e ainda mais, tua índole compele-nos a destruir-te. - completou a frase olhando diretamente aos outros. Sua mensagem era clara "Vamos embora agora."

Todos os outros deram um passo, aproximando-se de Victor e Thomas, tocando-lhes os ombros. Estavam prontos.

- Considere nossa partida em paz um gesto de profunda gratidão e boa vontade Xiucoathl. - disse Victor, olhando diretamente para os olhos do dragão.

- Eu voltarei maldito, e trarei toda ira de Khalmyr a esse lugar profano. Vou exterminá-lo. - vociferou Halfdan, com o rosto já transmutado de raiva.

Thomas fitou Xiucoathl com um misto de decepção e dor nos profundos olhos castanhos. Encontrou um sorriso de escárnio talhando a face da criatura, um ar de vitória completa.

- Eu voltarei pra tomar todo o seu conhecimento de você, desgraçado. Vou me banhar no seu sangue, assim que perfurar seu coração, fera maldita. Não te esquecerei. Leve-nos embora Victor.

"Raap acsa"


ZzzZiIiUuufF!!
___________________________________________
Fitando o local onde a um segundo atrás estavam cinco criaturas ingênuas, tolas.
Xiucoathl gargalhou. Sua atuação fora impecável. Eles caíram como insetos em seu ardil e fariam sua vontade, com a certeza amarga em seus estômagos de que foram ludibriados para tal. Era inevitável.
Virou-se em direção à prateleira de onde o pergaminho havia flutuado mais cedo e pôs-se a caminhar, transmutando-se novamente para sua forma humanóide. Guardou o pergaminho e foi em direção ao exótico tabuleiro de xadrez.
Fitou-o por um instante antes de ajustar as peças. Torcia pela vitória do grupelho. Só isso impediria que uma nova força entrasse em jogo.
Infelizmente, do lado inimigo.