terça-feira, 13 de abril de 2010

Anesstinaheir Aith'Liantia - "A'nyr"


Antes - Lennórien, Lamnor

Calor, inquietação, ansiedade.
A muito Lan'Baelsolali não tinha uma noite tranquila de descanso. As trevas vinham atormentá-lo, pensamentos sombrios sobre o fim de tudo. Sobre o fim de uma cidade, o fim de uma cultura, o fim de uma era. E ele sempre despertava dessa maneira, cansado, triste, aborrecido. Amaldiçoava seu pai todos os dias por isso.

Seu pai, patriarca da casa Aith'Liantia, lhe dera um nome peculiar na ocasião de seu nascimento.
Lan'Baelsolali. Filho do guardião da história sombria.
Um nome agourento, triste, que em nada condizia com a atmosfera da casa, da cidade, da raça. Porém, era esse seu nome e era esse seu fardo, pro resto dos tempos. Em seu leito de morte seu pai o confidenciara a profecia que dera origem ao seu nome e na ocasião, Lan'Bael não dera a devida importância. Nem ele nem os outros líderes das outras casas.

"Louco. Pragmático. Senil."

Eles vociferaram. Contudo, Lan'Bael não tinha mais certeza da falta de sanidade do velho. Noite após noite ele era assombrado pelos mesmos pensamentos, pelas mesmas conjecturas e suposições, e isso o destruía por dentro.
Sentado, sob lençóis da mais pura seda, ele pôs-se a observar sua companheira. Sua esposa para a eternidade. Seus cabelos róseos, revoltos até mesmo nessa hora serena, espalhavam-se sobre os travesseiros. Sua expressão serena, seus traços angulosos e boca desenhada. Poderia passar o resto dos seus dias apenas contemplando aquele ser.
Lannarualas. Filha da estrela selvagem.
Eram diferentes em quase tudo. Ele era porto ela era tempestade. Ele era rocha ela era vendaval. Ele era equilíbrio ela era revolução. E eles eram completamente apaixonados um pelo outro. Se completavam e se opunham, sempre na mais perfeita simetria.
Talvez fosse hora de ouvir suas idéias loucas e partir de uma vez. Lennórien era sua casa, seu lar, mas ele não sentia mais seguro, acolhido. Fitou um pequeno catre além de seu leito e sorriu inconscientemente ao pousar os olhos naquela coisinha de cabelos prateados sob os lençóis. De fato era hora de partir.
Por si mesmo e pela sua família.
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A viagem de navio durara três meses.
Três longos meses tendo apenas mercadores e bucaneiros por companhia. Mesmo quando seu humor derretia sob o calor úmido do oceano, Lanna nunca deixava-se abater. Ela adorava a idéia do desconhecido a cada dia. Novas terras, novas pessoas, novas culturas. Um mundo novo a explorar. Sem o onipresente cerco, sem as amarras das tradições, sem as imposições da corte. Só ela, ele, sua filha e a vastidão do reinado.
Ela teria escolhido um destino muito mais excitante. Petrynia ou talvez Deheon, mas Lan'Bael insistira em erguer uma vida serena, longe das intempéries dos aventureiros ou cidades grandes.

"Quero criar nossos filhos e vê-los envelhecer. Mesmo que isso enevoe minha mente e ponha ferrugem em suas juntas. Eles merecem crescer longe de conflito."


E mesmo ali ela aceitara sua decisão, ele estava certo e ela estava grávida.
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"Ele é estranho. Tem olhos engraçados."

Assim foi a definição de Estilynari sobre seu irmãozinho.
Cobertos de sorrisos, Lan'Bael e Lanna acataram o gracejo da pequena Lyn. Seus longos cabelos prateados só eram ofucados por seu temperamento eletrizante. Fitando-a, Lan'Bael concordara em silêncio com seu pai: "Os nomes têm poder."
Ela crescia exatamente reflexo de seu nome.
Estilynari. Elfa do raio prateado.
Forte, veloz, inquieta, destrutiva, linda. Era sua primogênita e até onde ele sabia, primogênita dessa geração dos Aith'Liantia. Ela teria a força pra comandar sua casa, quando o atual patriarca se for.
Seu irmão mais velho, On'Emartra. Ele mantinha hoje a Casa dos Mestres da Magia expoente na corte de Lennórien. Protegia sua honra na grande árvore. Exatamente como seu nome.

"Anesstinaheir. Esse será seu nome. Criança élfica de olhar mágico afiado. Cresça e seja, meu filho."

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"Rirba!"

Ele esperou e um instante depois o cadeado pulou na mesa de madeira. Estava aberto.
Anesstinaheir estava exultante. Esse era o truque que teimava em escapar-lhe da cabeça, por mais que praticasse horas a fio. Dominado esse, era hora de subir de círculo, ampliar o aprendizado. Estava ansioso pra mostrar ao seu pai seu recente avanço.
Correu de volta pra casa, saltitante do alto de seus doze anos. Quer dizer, sua aparência e maturidade equivaliam aos doze anos humanos mas sua idade real já ultrapassara os vinte e cinco invernos.

A pequena colônia em que vivia era quase um santuário perdido. Encarapitada na encosta de uma pequena montanha a dois dias da capital de Collen, uma verdejante mata abrigava um pedacinho de Lennórien no reinado. Dez famílias viviam numa paz quase permanente, com quase nehuma interação com o restante do mundo. Casas amalgamadas com árvores, cristais de iluminação pelas ruas e casas, hortas e jardins viçosos, calçamento colorido. Tudo que era necessário ao alcance das mãos.

Pelo menos era isso que o jovem Anesstinaheir esperava encontrar ao dobrar a montanha e o cenário que o recebeu não poderia estar mais longe disso.

Fogo, fumaça, sangue e gargalhadas.

Dezenas de humanos e orcs passeavam pela vila crestada, pateando numa cultura muito mais antiga que sua existência.

Choro, lamento, angústia.

Vários segundos foram necessários pra arrancar Anesstinaheir do choque crescente em sua mente. Enquanto uma parte de sua cabeça vociferava pra ele correr em direção a sua casa, outra sibilava a certeza do óbito de todos. Por sorte os gritos superaram o veneno e ele correu. Correu pelos meandros e atalhos que só os infantes conhecem, chegando em seu lar em minutos.

Morte, pesar, pavor.

Tudo o assaltara ao mesmo tempo. Sua casa, queimada. Seus pais, mortos. Ele esquartejado, ela estuprada. O pequeno Vainavellynsha não estava entre eles. Onde estaria?

Angústia, terror, covardia.

Encarapitado sobre uma das árvores do caminho ele esperou e viu. Atados pelos pescoços por correntes, crianças, jovens e mulheres seguiam numa letargia torpe, cobertos de lágrimas e sangue, seu e de outrem. Seu jovem irmão caminhava com eles nessa marcha infernal.

"Não vá, busque ajuda. Se atirar contra eles vai resultar na sua morte. Em que isso ajuda?"
"Vingue seus pais. Destrua seus inimigos. Estilynari faria isso. Sua mãe faria isso. Vingue-os."

Inconsientemente pegou-se sussurrando: "Me ajuda Lyn. Cadê você?"
Quase de súbito um dos homens virara em sua direção, apontando uma besta pesada.

"Desça peste, desça ou eu atiro."


E ele fugiu, para a escuridão.
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Agora. Fronteira de Ahlen, Reinado

"Adeus lugar maldito."

Anesstinaheir vociferara sem pudor, sentado ao lado do condutor de sua carroça.

- O que houve meu jovem? Sua estada em Ahlen não foi o que esperava? - perguntara o homem, com uma curiosidade genuína.

- Maldito seja esse solo e tudo que nele cresce e isso é tudo que penso desse lugar e desse povo. - respondeu o jovem Anesstinaheir - E aliás, me chame de A'nyr.

A'nyr aparentava pouco mais de quinze anos. Cabelos cor de fogo, olhos díspares e muito vivos, compleição esguia e língua afiada. Levava consigo um saco de viagem com parcos pertences e um bandolim, além de um bordão de madeira nodosa. Sua capa marrom esfarrapada cobria uma roupa de viajante surrada e completava o visual.

- És filho dessa terra homem?

- Não, sou filho de Valkaria, nascido sob o joelho direito da deusa. Já conhece a capital?

Valkaria. Capital do mundo. Lar da maior escola de magia que se têm notícia. Lá era seu destino. Por ela sobrevivera todo esse tempo em Ahlen. Por ela roubara e por ela matara, anos a fio. Finalmente encontraria seu destino e conseguiria a força necessária para destruir os monstros do passado.

- Não, mas falam-me muito bem dela. É verdade que lá é a sede da Academia Arcana?

- Sim, e não somente apenas isso...

O homem tagarelaria horas a fio por dias sem fim, e isso era bom. Isso criava um laço passível de ser explorado. Dividiria comida e abrigo. Intercederia por ele e lutaria com ele, caso fosse necessário.

"Humanos. Que Leen os leve a todos."

A cabeça de A'nyr só pensava em Valkaria e no poder que aguardava sob seus braços.

8 comentários:

Aldenor disse...

Quando comecei a ler a familia feliz, achei que era background de Renato. Mas aí... AUHAUHAUHAUHAUHAHUAUHAUHAUHAUH
Muito interessante. Um mago elfo em busca de poder para se vingar dos humanos (e orcs?). Um personagem complexo, mas que será picudo para o mestre...
Tenha fé, Dudu!

S i n n e r disse...

Olla senhores.
É cara, foi trabalhoso dar à luz a mais esse personagem. Ainda mais sendo mago, depois de Vecna tenho que ter cuidado pra não cair no lugar-comum.
Quanto aos orcs, bem, para uma criança que só ouvira falar de goblinóides em geral via histórias, aqueles homens pareciam orcs, mas talvez não o fossem. Isso e sua predisposição natural a não gostar de goblinóides sedimentaram mais essa antipatia dentro dele.
Já o motivo fundamental pra que ele tenha tanta ojeriza pelos humanos eu omiti da narrativa, mas decerto ele está em Ahlen, antes e depois.
De fato ele é muito mais do que o mostrado aqui, mas a intenção é apresentar sem revelar.
Abraços e adièau.

Aldenor disse...

Já pensei num bom plot pra quando eu for mestre, lá no 5 ou 6 nivel... hehehe

R-E-N-A-T-O disse...

Mais um personagem dificil de juntar?! huahauhauh... Tamo fudido.

Dudu disse...

CARALHO!
Alguem faz uma relatoria???
Eu entendi menos de 50% das siglas escritas nos comentarios... ToC? CoC?
WTF?!?!?!?!?!

Ainda nem li os ultimos dois posts, so precisava desabafar...

Eu voto qualquer um menos tormenta!! HÊ! Acho também que tormenta precisa respirar... Vamo vareia!

Então, falei pra fazerem a historia dos personagens à vontade, dexa a pica de juntar comigo... Quero fazer a historia a partir dos personagens pro começo ficar mais pessoal, jogadores intimos com os personagens(ui)...

Me perdi lendo coisa demais em muito pouco tempo... Tenho que falar mais alguma coisa?

YES CRONICAS THE RESSURECTION!!!
É isso mesmo? Independente do que for, so de não ter sido descartada eu to feliz! ILENDAR VIVEEE!

Mais alguma coisa? Ah, quase que tenho prova na quinta do feriado e n posso jogar no feriado! Quase!

Beijundas!

Dudu disse...

Eitaporra, acabei de ler...
uhauhahuauhauha

É so dar liberdade que nego não facilita!!
ahuuhauhauhauha


To zolando! Ficou irado!
Na verdade ta fodasso pra encaixar numa ideia que eu tive! Porra! To tendo embrulhos de empolgação!

Dudu disse...

Caralho! Já é depois de amanha???
Porra! Postem essa buceta!!!

Capuccino disse...

Personagem interessante XD


ToC = toque. Sabe, aquele manias...
A mania da vó de arrumação é toque XD

Toc é um jeito mais style de falar XD