quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Habemus Jogo


Não morram! Não desistam de jogar, malditos. Eu volto dia 20 e Renato tá de folga dia 21. Existe a possibilidade de ter Eclipse.
Demonstrem aqui seus interesses de jogar ou de jogo. Fui.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

HEXACAMPEÃO



Post nada a ver com RPG e tal, mas...

FLAMENGO, O PRIMEIRO HEXACAMPEÃO MASCULINO E DO POVO

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Últimos Dias - #2 A Torre de Damien Morienus


Iohan nasceu em uma pequena vila em Fortuna na divisa com Petrynia. Desde cedo, ele demonstrou ter grande inspiração divina e uma vocação nata. Ele e seu irmão, então, decidiram entrar para o clero com objetivos de serem alguém na vida, deixando a pacata vida de servo de seus pais para trás. Entretanto, Iohan demonstrava grandes capacidades divinas sem demonstrar o conhecimento necessário. Era um prodígio, praticamente um escolhido. Esse fato despertou a inveja de seu irmão, Jonatas. O clero de Thyatis sempre foi muito reservado e misterioso. Não aceitava facilmente novos membros, não treinava com facilidade qualquer noviço. E não tinham uma vida presente no cotidiano do povo. Os desígnios do destino deveriam ser ocultos para não influenciar as ações mundanas e caóticas impedindo que o futuro seja algo certo. Por essa reclusão, o padre local demorou em contatar a família de ambos. Jonatas e Iohan se tornaram rivais e quase brigaram várias vezes. Antes que alguma atitude fosse tomada, Iohan decidiu partir. Pensava ele que sua ligação com Thyatis não precisava de intermediários ou estudos sobre fé. A fé ele possuía de modo natural. Viajando, conheceu um grupo de aventureiros que o aceitou e fizeram uma incursão nas perigosas Montanhas Uivantes em busca de uma masmorra esquecida. Porém, os perigos do frio e as dificuldades da vida selvagem fizeram que todos perecessem. Iohan vagou aleatoriamente pelas terras geladas até que encontrou Giluk e assim, o templo de Allihanna. Raposa Cinzenta o acolheu dizendo que ele ajudaria muito os serviços de Allihanna. Serviria para substituir um soldado da natureza que viria mais tarde.

E esse momento veio muito rápido.

O dia amanheceu e o frio parecia que não dava trégua. Azgher parecia não gostar muito das Montanhas Uivantes. Pedwinckle logo recebeu Vanthuir, Adedozan, Davie Crown, Farid e um elemento surpresa: Iohan, trazido por Adedozan.

No dia anterior, o grupo se dividiu em Giluk. Vanthuir ficou na sua, cuidado de suas armas e comendo as grandes carnes de mamute. Farid bebia e comia pouco. Estava com constante sono e se incomodava bastante com o frio – ainda não estava acostumado e talvez jamais se acostumasse. Davie Crown passeou pela vila e conheceu uma feira que vendia objetos de marfim de toda sorte. Havia um anão que vendia armas feitas de gelo eterno, um material muito raro que só existia nas Uivantes. Não sabendo se comunicar na língua dos bárbaros, mas entendendo a língua anã, Davie ficou contente por conversar com alguém diferente. Acabou descobrindo que os tempos estavam difíceis mesmo nas Uivantes. O rumor da nova área de Tormenta era verdadeiro e uma grande mobilização populacional estava acontecendo. Os bárbaros fugiam do nordeste e começavam a incomodar os anões. O jovem ladino descobriu que havia um ajuntamento populacional de anões no norte do reino, no sopé da Montanha Invencível, a Cidadela de Khalmyr. Anões parentes dos de Doherimm viviam há séculos extraindo o gelo eterno das minas de gelo. Davie até pensou em comprar, mas as armas eram muito caras. Pensou em roubá-lo, mas desistiu em seguida. Enquanto isso, Adedozan foi ao templo de Allihanna e conheceu a xamã local, Raposa Cinzenta. Ele parecia ser esperado naquele momento.

- Jovem das Savanas, Allihanna, a mãe natureza, me concebeu uma visão. Uma missão para você, enviado do norte.

Adedozan ficou intrigado e decidiu cumprir tal missão sem pestanejar. Mas precisava contar ao grupo a decisão. No momento em que voltaria para a taverna onde os aventureiros estavam hospedados, foi abordado por um homem jovem. Cabelos negros, curtos e apresentando um pouco de calvície. Era Iohan, sacerdote de Thyatis. Os dois se cumprimentaram aos seus respectivos modos e foram para a taverna. Uma vez lá, ele se apresentou ao grupo e Pedwinckle apareceu logo em seguida.

O mercador então revelou suas verdadeiras intenções. Ele era nativo de Lomatudar, o Reino da Praga, e havia descoberto há alguns anos o diário de uma mulher. Essa mulher havia se casado com um mago que vivia nas Montanhas Uivantes chamado Damien Morienus. Esse mago era muito bondoso e desenvolveu uma fórmula capaz de curar todas as doenças mundanas e mágicas. E talvez até extra-planares, como era a Praga Coral. Pedwinckle queria que o grupo encontrasse a torre desse mago e recuperasse o diário de Damien Morienus para que a Praga Coral tivesse um fim.

Iohan e Farid ficaram honrados de participarem de uma empreitada que valesse a pena para ajudar os outros. Farid imaginava os itens mágicos que este tal mago devia ter deixado em sua torre. Vanthuir teria que guiá-los e alertá-los sobre os perigos das Uivantes e fazer a segurança do grupo. Davie Crown teria que lidar com os possíveis mecanismos mágicos ou não da torre, fora as armadilhas. E havia também a promessa de ouro. Pedwinckle pagaria pelo serviço e disse que todo ouro que encontrassem poderia ser dividido pelo grupo.

Todos pareceram satisfeitos nessa nova empreitada. Um preço foi acertado e uma rota foi dada a eles. Pedwinckle não sabia onde estava a torre, mas ouviu rumores de um aventureiro aposentado que vivia a nordeste Dalí. Um halfling chamado Roldo Tocaverde. Imediatamente, o grupo pôs-se a levantar. Vanthuir achava estranho daqueles que compravam seu alimento. Ele podia caçar e arrumar alimento para todos ali em questão de horas. Então, partiram.

Dois dias depois, seguindo uma difícil trilha – mas guiados pela direção dos ventos por Vanthuir, os aventureiros chegaram a uma pequena toca no meio do nada, perto de um bosque com pinheiros enormes. Ali vivia Roldo, que os recebeu com entusiasmo. Ele falava pelos cotovelos talvez porque vivia sozinho e sentia necessidade de falar com alguém. Em sua casa havia vários objetos valiosos e troféus de competições diversas. Farid logo falou a que vieram e encontraram um pouco de má vontade no halfling. Ele disse, por fim, em ajudar se o vencessem num duelo de xadrez. Farid era o único ali disposto a jogar, uma vez que Davie Crown estava preocupado demais com a valiosa mobília.

Farid jogou e venceu. O halfling ainda ensaiou tapear os aventureiros, mas o rosto sisudo de Vanthuir o convenceu. Ele disse que não sabia onde ficava a torre de Morienus, mas sabia que havia um bárbaro muito velho que talvez pudesse saber. Ele indicou a rota para chegar até o bárbaro e decidiu acompanhá-los.

Parecia que a sina do grupo era de não ter halflings. Três dias depois de viajarem, chegaram sopé da montanha. E ele se amedrontou. Apontou a caverna onde o bárbaro costumava viver e foi embora. O grupo escalou com pouca dificuldade, uma vez que Vanthuir os orientava em como escalar. Chegando a caverna, o bárbaro surpreendeu o grupo surgindo pelas costas. Houve um princípio de violência, mas logo Iohan e Farid acalmaram os ânimos. O bárbaro era muito velho com músculos retesados. Tinha um olhar arregalado e balbuciava coisas incompreensíveis. Estava curioso quanto ao grupo e falou que o mago que vivia naquela torre era maligno. Damien Morienus escravizou e matou muitos de sua tribo, há 100 anos.

O grupo intrigou-se um pouco. Farid e Iohan trocaram olhares significativos, pensando num principio de desconfiança. Davie Crown pensou na possibilidade de Pedwinckle ter sido enganado. Para Vanthuir, tanto fazia, nada mudou. Desceram da montanha e chegaram a um terreno plano. A torre estava debaixo da neve. Em volta do local havia pedras enormes formando um circulo. Havia inscrições nas pedras de forma rústica. Davie Crown havia lido sobre locais sagrados uma vez e não estava certo se era um local de algum deus bondoso ou maligno. Mas eles não entendiam o que isso teria a ver com Damien Morienus.

No meio, eles descobriram um alçapão que poderia ser a entrada. Havia runas escritas nela. Farid não entendia nada e ficou quieto a maior parte do tempo bocejando, pouco comunicativo. O que era estranho para sua natureza faladora e contagiante. Talvez fosse o frio aterrador. Vanthuir foi convencido a deixar que Davie cuidasse de identificar os símbolos. Sentou-se paciente numa pedra e pôs-se a esperar. Iohan estava do lado de Davie e tentava ajudar com suas palavras de incentivo. Davie, entretanto, se amaldiçoou por ter dormido nas aulas que tinha com o amigo de seu pai que era um clérigo de Tannah-Toh.

Muitos minutos se passaram e Vanthuir se levantou finalmente.

- Você não conseguiu do seu jeito. Vou abrir a porta do meu jeito.

Com um golpe de sua imensa maça, causou um grande estrago na pedra que era feita o alçapão. Um belíssimo golpe, mas ainda insuficiente. Tentou de novo e de novo. A cada golpe de metal maciço na pedra a fazia rachar e se partir. Poucos segundos depois, havia um grande buraco no chão. Davie suspirou e fez um resmungo de inveja. Vanthuir se permitiu ao escárnio mostrando um sorriso de lado.

- Droga! Não consigo acender a lanterna – Davie tentava, inutilmente, criar fogo de sua pederneira e isqueiro.

- Ora, se quer luz, peça por ela. – Farid, como que despertasse de seu transe congelante se aproximou. Animado com a oportunidade de realizar um desejo, uma capacidade mágica que somente os gênios tinham. E os meio-gênios. Davie pediu, Farid conjurou luz na lanterna apagada do ladino.

Desceram sem dificuldades, com ajuda da neve que caia constantemente e formava um pilar macio. Eles observaram a câmara. Agora eram verdadeiros aventureiros no seu sentido clássico, contado nas histórias infantis: rastejadores de masmorras.

Iohan, Vanthuir, Davie Crown e Farid passaram pelo menos três dias na torre, tendo vários imprevistos com esqueletos e zumbis. Mortos-vivos que se animavam com a presença de gente viva, atraídos pela promessa de alívio de suas dores. O poder divino de expulsão dos mortos-vivos poderia ser bastante útil, mas Iohan não estudou. Iohan conjurava seus milagres para curar seus companheiros e auxiliá-los no combate, várias vezes. Pois tinha uma fé bruta maior que o normal para alguém tão novo. Vanthuir e Davie Crown lutaram com suas armas com mais presença. Vanthuir levava vantagem e, quando aprendeu que esqueletos eram muito resistentes a armas que perfuravam e que zumbis eram mais facilmente esmagados, desequilibrou no combate. Davie Crown encontrou muitas dificuldades, pois os mortos-vivos não se afetavam por feridas em locais vitais. Eles já estavam mortos mesmo. Davie Crown teve dificuldades no manejo dos mecanismos e das portas e fechaduras trancadas. Algumas ele teve sucesso, noutras o braço forte de Vanthuir resolveu o trabalho.

Porém, nem tudo são flores para este grupo. Rondando em lugares diversos da torre, perceberam que ela estava caída. Eles andavam nas paredes da torre, escalavam para portas, caminhavam com alguma dificuldade de ângulo. No combate, também encontraram dificuldades além do esperado. Talvez por uma estratégia errônea, por ainda não se conhecerem direito, foram vitimados por mortos-vivos mais poderosos. Estes pareciam zumbis, mas eram mais ágeis e tinham mais angustia transformada em raiva. Exalavam um cheio de podridão que evocavam a doença. Então, um a um foi tombado e todos teriam morrido se não fosse uma ajuda inesperada.

Mintë era uma bela e jovem druida de Allihanna. Pouco antes do crepúsculo fora convocada pelo Grão-druida da região. Ele lhe disse para investigar os barulhos estranhos que todos ouviam nas proximidades do círculo druídico, ponto sagrado de sua fé. Os bárbaros que ali viviam e eram orientados pelos sacerdotes de Allihanna mandaram um representante para fazer a proteção da jovem, porém sábia sacerdotisa.

Os aventureiros acordaram subitamente. Estavam ainda feridos, mas as dores que os havia tirado a consciência havia desaparecido. Após isso, houve o dilema: os aventureiros haviam danificado e por isso profanado o local sagrado dos druidas. Mas os apelos de Farid e Iohan de que eram por motivos justos, para arrumar uma forma de aliviar o sofrimento de uma nação inteira foram bastante convincentes. Apesar de eles estarem desconfiados de que talvez tudo fosse uma farsa. Davie Crown contribuiu para que a dúvida dos dois colegas não atrapalhasse e soasse como uma mentira. Vanthuir conversou com o bárbaro ao seu jeito, honrando as tradições das Uivantes. Vanthuir saiu com uma perna com fratura exposta e seu “colega” morto com um corte profundo na jugular. Mintë entendia o modo dos bárbaros e que ambos teriam que lutar e por isso não teve ódio de Vanthuir, apenas resignou-se a curá-lo.

A sacerdotisa resolveu voltar para os seus para relatar o ocorrido. Poucos minutos depois, o próprio grão-druida da região voltou com ela. Ele indicou que o local sagrado fora profanado, mas não fazia sentido puni-los já que o estrago estava feito e que a cabeça quente não poderia definir as ações naquele momento. Disse que o grupo deveria ser bem sucedido para o bem de tantas pessoas. Assim, os sacerdotes ajudaram curando o resto do grupo e foram embora.

Nessa segunda parte na torre de Damien Morienus, encontraram o livro. Vasculharam e encontraram uma saída da torre subterrânea. Um grande rio que corria. Decidiram explorar essa saída e foram surpreendidos por goblins. Vanthuir matou dois e um terceiro fugiu. Em seguida, o grupo foi abordado pelo “dono” dos goblins. Um gênio chamado Rajid. Ele caçoou um pouco de Farid por sua natureza mestiça, mas não provocou problemas. O grupo descobriu que por ali eles sairiam numa cadeia de montanhas que levariam para bosques longínquos.

Então, o grupo voltou. Lendo o diário, descobriram que o velho bárbaro tinha razão. Damien Morienus era maligno e tratava os bárbaros da região por escravos. Ele queria se tornar em um Lich e para isso, ele acreditava que estava perto de concluir o ritual necessário. Aparentemente, conseguiu trazer a escuridão das trevas para sua torre o que causou sua ruína.

Mais uma semana viajando, chegaram a Giluk novamente. Nesse momento, as pessoas haviam acabado de passar por problemas com mamutes doentes e os artigos alimentícios estavam mais caro para estrangeiros. Encontraram um esperançoso e ansioso Pedwinckle. A má noticia foi contada em tom de velório. Pedwinckle ficou visivelmente frustrado e pediu mesmo assim o diário. Davie Crown entregou, mas havia arrancado as páginas em que continham os detalhes da transformação em Lich. Ele e o resto do grupo haviam chegado à conclusão de queimar para que o conhecimento maligno não fosse usado por ninguém.

O grupo decidia o que fazer. Haviam se criado algum vínculo. Aventureiros sempre fazem amizade com facilidade e a experiência de terem presenciado a morte várias vezes com riscos mortais sérios os uniu mais ainda. Depois de viverem quase um mês nas terras geladas e incivilizadas das Montanhas Uivantes, eles decidiram ir para o centro civilizacional do mundo: Valkaria. Uma longa jornada estava sendo planejada. No dia seguinte, partiram.

E houve mais uma surpresa.

Pedwinckle apareceu com um clérigo de Keenn, um soldado e um halfling mal encarado com sua adaga retorcida.

- Peguem-nos! Não deixem ninguém vivo! E tragam as folhas do diário de Morienus!

Sim, Pedwinckle na verdade era um falsário. Celerum era seu nome. Um mago de considerável poder que tinha ambições de se tornar em Lich e pretendia usar as informações de Damien Morienus. Usou os aventureiros como marionetes o tempo todo. A pancadaria estancou e quase foi perdida. Mas a balança virou nos momentos finais e Pedwinckle teve que fugir jurando vingança. O halfling foi capturado e contou tudo que sabia sobre Celerum. E foi liberado em seguida. Fugiu loucamente. E sem jurar vingança.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Últimos Dias - #1 O começo do fim


As Montanhas Uivantes é uma região montanhosa onde sopra um vento gélido que mantém o clima glacial. Abundam as teorias dos estudiosos sobre este fenômeno. Os religiosos indicam que a responsabilidade é a presença de um deus do gelo, de imenso poder. A verdade é que esta região é deveras isolada do resto do Reinado. Para o povo comum, nada se sabe de lá a não ser que é tolice viajar para uma região tão hostil e fria.
Apenas alguns poucos mercadores são suficientemente ricos e corajosos (ou loucos segundo alguns) para empregar grandes jornadas para estas terras inóspitas. As dificuldades de sobrevivência criaram grandes tribos bárbaras com grandes capacidades físicas de resistência e força. Homens que vivem da brutalidade e da selvageria onde os toques requintados do saber são luxos que não se pode ter, são inutilidades que não garantem a sobrevivência imediata. De uma dessas tribos, está um personagem desta história. Vanthuir Skullbringer, o Flagelo das Uivantes. Bárbaro, brutal e que demonstra uma inocência deveras perigosa e violenta. Ele não consegue lidar com os problemas da vida de forma não violenta e não se importa com isso. A sobrevivência é a lei de sua vida. É a lei dos Garras Vermelhas.
Recentemente, guiado através de sonhos, Vanthuir Skullbringer se separou de sua tribo e foi buscar seu destino, um motivo para sua existência. Esta é uma lógica que os povos bárbaros desenvolveram além da sobrevivência, fruto da violência sobre a violência: o destino. Eles existem, estão cientes, não apenas para sobreviver, mas para realizar um grande destino. A hitória de uma tribo é calcada em um grande destino e um grande feito. A cada geração, todos os esforços de uma tribo convergem a este ou aquele objetivo. Vanthuir sente o peso de sua responsabilidade histórica perante sua tribo. E ele não pretende fracassar.
Viajando ao sul, ele se deparou com algumas caças: goblins que aliviavam sua tensão muscular, ansiosa para partir ossos, cortar a carne. Nesse sentido, Vanthuir acabou por conhecer gente civilizada. Aventureiros.
Farid, "o único", era o que mais sofria. Robusto, braços fortes, vestia um cobertor de inverno, feito de peles de algum animal. Seu rosto era angular e possuia um cavanhaque cortado além da perfeição. Cabelos negros e curtos, tinha ainda olhos que cintilavam, mas sua expressão era de dor. Com o corpo encolhido, tremia o queixo incessantemente. Parte de seu nariz e bigode estavam duros, congelados. Ele era um homem do norte, de terras quentes. Aquele frio estava além de sua sanidade. Viajava com aquele grupo porque havia decidido para si mesmo ser alguém na vida. Alguém poderoso, capaz de grandes feitos mágicos. Seu amor pela magia e pelas coisas mágicas era combustível suficiente para que ele quisesse viajar por toda Arton. Queria isso tudo por um objetivo psicologicamente obscuro (talvez até para ele mesmo): demonstrar seu valor perante seu pai.
Ao lado dele estava David Crown, ou Davie, como ele insistia que seus amigos o chamassem. Dono de um sarcasmo incorrigível e irreverência que beirava a ofensa, ele sofria pelo frio, mas bem menos. Possuia um chapéu preto com detalhes marrons e se divertia com curiosidade sobre as terras geladas das Uivantes. Vindo de Petrynia, ele fazia parte de uma guilda de aventureiros, os Brancaleone. O grupo buscava, principalmente, descobrir tumbas antigas com seus conhecimentos antigos, masmorras que ocultavam um tesouro perdido, histórias sobre jóias, armas, objetos mágicos ou não, que tivessem valor histórico. Apesar do trágico fim da primeira geração dos Brancaleone, Davie não se intimidou pelas dificuldades quase sempre mortais da vida de um aventureiro. Ser aventureiro era ser único e era este tipo de destaque que ele queria ter.
Um homem negro terminava de compor o grupo de aventureiros. Adedozan era diferente dos homens que Vanthuir estava acostumado a encontrar. Parecia um homem aos avessos pela cor de pele. Sua expressão era fechada, amarrada num eterno mau humor - que não era seu sentimento constante. Com cabelos endurecidos por fezes de elefante, couro feito de animais do mundo quente, ele era um sacerdote da natureza. Um soldado que protegia a natureza, um servo de Allihanna, ou o Grande Leão, como seu povo conhecia a deusa. O seu companheiro para vida toda, Genzo, era um leão de menor tamanho que podia ser facilmente confundido com um leão jovem. Na verdade, ele fora vítima de um castigo por seus anos como entidade maligna e agraciado com uma segunda chance ao lado de Adedozan para cumprir sua pena. O homem também sofria com o frio, mas muito menos que Farid. Ele viajava em busca de conhecimento, desenvolver suas capacidades mentais e físicas para melhor ser útil em sua terra no dia de seu retorno.
Também junto destes três aventureiros, havia Pedwinckle e seu escudeiro Del, o jovem. Pedwinckle era um renomado comerciante que dizia vir de Fortuna e que fazia comércio de objetos de marfim para Luvian, a cidade que abriga os devotos da peregrinação pelo Caminho de Nimb. Sabendo que dessa vez haviam boatos e rumores que as estradas estavam mais perigosas ele decidiu contratar aventureiros para escoltá-lo. Del, filho de um empregado em seu casarão, aprendia tudo que podia para se tornar um bom guarda-costas.
O rápido contato de Vanthuir Skullbringer com Farid, Adedozan, Davie Crown e Pedwinckle fez com que ele fosse um pouco convencido a seguí-los e voltar às Montanhas Uivantes. Pedwinckle fazia questão da presença de um homem forte que soubesse manejar todas aquelas armas que Vanthuir carregava. O grupo teve alguns poucos incidentes com lobos, ursos e um sacerdote de Megalokk, o deus dos monstros e da selvageria.
Tiveram um encontro com um homem em armadura negra, trajando escudo e armas. Seu símbolo sagrado era sua bandeira: era um servo de Keenn, o deus da guerra. Por incrível que pareça, o homem não buscou motivos bélicos para abordá-los. Pedwinckle parecia conhecê-lo, por mais estranho que isso possa parecer. E nem isso fez com que os aventureiros se interessassem. Vanthuir não dava a mínima para palavras ou sutilezas. Davie Crown não entendia de símbolos sagrados e sabia que nem todos os servos do deus da guerra eram loucos em busca da morte de tudo e todos. Farid não detectou nenhum pertence mágico no homem e logo perdeu o interesse como havia perdido na feira de Luvian - onde as pessoas eram enganadas achando que comprava itens mágicos quando na verdade compravam itens estéreis de magia. Adedozan apenas ficou intrigado sobre a possível ligação, mas relevou com as palavras de Pedwinckle:
- O mundo está de pernas pro ar. Há rumores de uma nova área de Tormenta no norte das Montanhas Uivantes.
O grupo se comoveu e Farid teve que explicar para Vanthuir para que ele pudesse entender sobre a tragédia. Mas como ele havia já reparado, o povo civilizado superestima demais os cataclismas da vida e não sabem que bastava ser brutal e violento que os problemas eram destruídos.
Logo após isso, neste caminho, conheceram Blasco Pés-pesados, um halfling com sangue nos olhos e dentes rangidos. Era um guerreiro, raridade entre os de sua raça e com rara disposição para aventura. Ele parecia se importar muito com aparências, nomes, títulos e parecia sempre falar sozinho ou sobre as histórias de sua avó, dona Brigitte Pés-pesados. Histórias essas que faziam algum sentido ou complementavam alguma informação que o grupo precisava adquirir.
Tão rápido quanto foi incorporado, foi obliterado. Blasco Pés-pesados em sua breve passagem pelo grupo, talvez não tenha gostado da brutalidade de Farid, do sarcasmo exagerado de Adedozan, das palavras fáceis e amigáveis de Vanthuir Skullbringer, ou dos conselhos de sabedoria selvagem de Davie Crown. Isso mesmo, ele prestava pouca atenção nas coisas e nas pessoas do mundo, pensando em ser herói, famoso e olhando somente para si. Sumiu sem deixar vestígios.
O grupo chegou, enfim, a Giluk, o destino de Pedwinckle, a maior vila esquimó das Uivantes. Mas cuidado, não vá chamar um daqueles nativos de esquimó. É um nome pejorativo. Pedwinckle chegou, e nem descansou direito partindo para os negócios. Disse que precisava falar com o grupo no dia seguinte. Todos resolveram descansar da longa viagem e fazer pequenas incursões pela vila. Farid apreciou um pouco da bebida local: gullikin (leite de mamute tirado na hora).

Continua...

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O Clérigo



Kevin não conheceu seus pais e foi criado por seu irmão Jack Dawson. Viveram em Villent, cidade ao norte de Deheon com grande concentração da nobreza do reino-capital. Há alguns anos a metrópole estava com economia em crise por conta da ameaça de guerra quando havia a tensão entre Yuden e Deheon, graças ao bélico e inescrupuloso príncipe Miktov.
Os anos se passaram e se tornou cada vez mais difícil para Jack sustentar a si e a seu pequeno irmão. O emprego de ajudante de alfaiate não era mais suficiente. Jack, então, decidiu ir embora de Villent, buscar uma cidade do interior. Passaram meses viajando, indo de fazenda em fazenda, de vila em vila até chegarem a Selentine. Uma vez lá, começaram a ter uma vida melhor.
Jack conseguiu reunir uma pequena fortuna e conseguiu pagar passagens de navio para ele e seu irmão. Seu objetivo era viajar para Ahlen em busca de parentes. Kevin jamais conheceu seus pais, mas a recíproca não era verdadeira para Jack. O irmão mais velho tinha parcas lembranças de seus pais e existia uma memória que o intrigou a vida toda: Ahlen e o caráter especial de Kevin. Havia alguma chance de existir parentes por lá e, apesar de não entende o que de especial tinha Kevin, acreditava no julgamento de sua memória de seus pais. Pensando nisso, pegaram um navio luxuoso, onde ricos mercadores – separados de seus empregados nas partes mais baixas do navio – viajavam para o reino vizinho visando um futuro.
A viagem estava tranqüila nos primeiros dias, apesar da grande ansiedade e das ânsias de vômito de Kevin. Mas numa noite, uma terrível tempestade atravessou o caminho do navio. Ele sofreu sérios danos e afundou. Poucos sobreviveram. A maioria os ricos mercadores, nobres e quem pudesse pagar por serviços mágicos. Kevin e alguns pouquíssimos pobres trabalhadores conseguiram sobreviver agarrados aos destroços do luxuoso navio.
Kevin foi, então, resgatado e largado em Gorendill. Viveu dois anos aprendendo a sobreviver. Era bastante inocente no inicio e fora enganado várias vezes. Passou fome e foi obrigado a roubar para sobreviver. Mas aos poucos foi evoluindo e aprendendo. Adaptou-se à vida em Gorendill. Foi quando recebeu o chamado divino. Um dia sonhou que trajava uma armadura e espada muito pesada. Viajava em um cavalo e percorria grandes distancias, avistando variadas paisagens. Entrava em uma caverna e lutava contra criaturas feitas de sombras. No final, vencia uma mulher com cobras no lugar dos cabelos e obtinha o ouro que ela guardava. Era um aventureiro nesse sonho. Então, Valkaria aparecia e lhe chamava para o clero. Kevin, enfim, tinha a vocação.
Percebendo de imediato, resolveu que não podia ficar parado. Arrumou um contrato de escolta e, aos treze anos, viajou para Valkaria. Uma vez lá, não teve problemas para mostrar sua vocação e logo foi aceito junto à igreja. Fez amigos sinceros e alguns rivais. Formou-se com louvor aos dezesseis anos e já estava pronto para viajar e pregar a evolução, a adaptação, a conquista dos humanos.
Sua aparência é marcada pelo cabelo loiro muito claro, espetado e olhos com uma estranha coloração azul e roupas sempre muito escuras. Sua grande espada entra em contraste com o rosto aparentemente calmo e indiferente. Kevin é calmo e tranqüilo e deseja o bem das pessoas e detesta a tirania.

domingo, 29 de novembro de 2009

Crônicas Artonianas #40 - O retorno aos eixos


Grandes mudanças aos Desafiadores do Destino. Após a derrota de Kuala-Lampur na arena de Vectoria, o grupo descobriu o paradeiro de Keilana-Peni: Fortuna. Viajando por teleporte e sem demora, chegaram sem maiores problemas e encontraram a pequena khubariana em um orfanato de Lena. Após o reencontro, o grupo decidia o que fazer. Prioritariamente, Ilendar iria para Valkaria estudar sobre o Ahmed, o paladino de Azgher que lhe concedeu sua cimitarra; Kuala e Keilana voltariam à Khubar, sir Lothar voltaria para Bedivere e Tildror... bem, ele se sairia mal graças à sua "maldição" de Thyatis.
Para realizar seus planos, os Desafiadores buscaram por Peleannor em sua torre ao norte de Fortuna. Ao chegarem lá, se depararam com uma invasão de meio-orcs que carregavam armas de fogo! Sem muito entender o que se passava, os Desafiadores do Destino passaram o rodo. Infelizmente, por pura impulsividade de Tildror, Peleannor acabou morrendo. Na frente de Ilendar. Várias coisas antigas foram postas na mesa e a discussão no grupo se tornou intensa.
Graças ao item mágico de estudante da academia arcana, os Desafiadores chegaram à Valkaria. Tildror estava distante e logo desapareceu avisando que arrumaria dinheiro para a ressurreição. O grupo, então, resolveu pequenas querelas. Kuala e Ilendar tiveram sua primeira noite romântica; sir Lothar se aconselhou com o clérigo de Khalmyr de Valkaria e percebeu que havia sido chamado pelo deus da justiça para sua terra; e Tildror arrumou informações sobre rituais para se livrar da maldição de Thyatis de manter o grupo unido, além de arrumar mais contatos com o submundo e formas de conseguir dinheiro rápido.
O ahleniano, visando se separar do grupo, escreveu uma carta de despedida que seria entregue junto ao dinheiro no templo de Azgher de Valkaria onde Peleannor seria trazido de volta à vida. Na carta ainda dizia que iria buscar seu rumo, procurar Margareth que ficou em Fortuna com suas próprias mãos. Em segredo, ele pretende voltar à Ahlen em grande estilo, assumindo seu posto como um nobre. Um perigoso nobre com grande experiência de aventureiro...
O grupo agora volta à suas questões principais: Yvaine, a medusa das trevas que quer reunir poder para destruir Ilendar; um louco sacerdote de Nimb que tem como objetivo de vida matar sir Lothar; Kuala precisa voltar para Khubar, rever amigos e parentes e deixar Keilana-Peni sob os cuidados do sacerdócio de Benthos. Para o guerreiro khubariano, suas aventuras no continente criaram laços de amizade que o fizeram decidir por seguir seus amigos no que der e vier.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

D&D de GRÁTIS!


Olla galera.

Inaugurando uma sessão a muito ambicionada mas nunca de fato realizada, eis uma notícia "roubada" diretamente do Melhores do Mundo:

O MMORPG da Wizards, o D&D on Line ficou gratuito a alguns dias.

Basta cadastrar-se, baixar uma das duas versões do jogo (uma de 4Gb para máquinas decentes e uma de 2Gb, para máquinas fuleiras) e começar.

A galera do site joga no primeiro servidor.

Para mais informações sobre o jogo:

http://www.ddo.com/ (site do jogo)

E para a notícia original:


______________________________________________

É isso aí galera.

Sempre que eu ver, ouvir ou ler alguma coisa interessante/ relevante sobre o universo RPGístico vou procurar postar aqui. Deixo o convite a todos os outros omissos, sintam-se à vontade para fazê-lo.

Por hora é só.

Abraços e adièau.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Aurora Carmesim - Prólogos, parte 13

Ano 700

A paisagem seria bela, se não fosse tão... hostil.

A água negra preenchia a região pantanosa com um ar de desespero. Vapores letais dançavam ao sabor do vento traçando espirais malignas que davam a impressão de estarem vivas. Árvores possuiam contornos pavorosos e seus pequenos habitantes emprestavam a elas uma atmosfera sombria. Aqui e ali bolhas e ondulações denunciavam a existência de coisas sob a água, coisas que deveriam permanecer lá. Tudo recendia a morte, a desolação, a toxicidade. Esse era seu lar. Não seu lar propriamente dito afinal, ele residia a um plano de distância mas era o local nessa realidade que emanava mais fortemente seu aspecto. Aqui fora gerado. Aqui tomara forma. Aqui nascera. Seu berço.

Sszzaas sorria brevemente ao relembrar o passado, enquanto seus seis olhos passeavam pela paisagem. Demorara alguns anos para que ele finalmente entendesse e outros tantos até que ele encaixasse todas as peças, de forma a valer a pena o suficiente tentar. Retornara a Arton para mover suas marionetes enquanto a poeira da revolta dos Três ainda estava alta, e acreditava que isso seria suficiente para escondê-lo até que fosse tarde demais.

Ninguém imaginaria suas ambições, ninguém seria capaz de prevê-las ou projetá-las. Ninguém a não ser a Mãe da Palavra. Felizmente ela não enxergou a beleza do que havia criado e caso aquilo ainda existisse, ela fatalmente se tornaria um problema. Mas ela tomara aquela decisão estúpida. Deixara sua mais poderosa criação em mãos espúrias e falhas.

"Patético."

Pensou e a realidade gemeu, torcendo-se à sua volta para levá-lo a outro lugar.
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Caleb ainda tremia, protegido sob o manto da escuridão. Matara, pela primeira vez na vida. Suas mãos ainda fediam ao sangue derramado, suas tripas reviravam-se dentro de sua barriga, seus olhos teimavam em rever seus últimos minutos.

Allerd era um homem bom, claro que a mais pura definição da palavra excluía praticamente todo ser vivente pensante em Arton, mas ainda assim o homem não mereceria o inferno de Leen quando morresse. Herdeiro de uma família com algumas posses, fora justo com seus pais até o fim e generoso com os irmãos na divisão após sua morte. Tinha uma esposa dedicada e um par de filhos inteligentes, os quais amava mais que a própria vida. Jamais imaginaria o que lhe abatera aquela noite.

Já anoitecia quando ele bateu à sua porta esbaforido, agitado feito uma criança que havia descoberto um segredo. Allerd ouviu atento cada detalhe, cada palavra, cada pedaço daquela trama louca que voava da boca de seu irmão.

"Como ele sabe tudo isso? O que ele quer de mim? Como ele seria capaz?"

Seu irmão viera a ele com um plano para invadir a morada de um rico casal cujo chefe da família estava fora da cidade a negócios, roubar seus pertences e levar a mulher e os filhos a fim de receber dinheiro por sua libertação. Confidenciou também que não tinha o intuito de libertá-los e que sua morte garantiria seu anonimato.

Enojado, Allerd discutiu com seu irmão e o expulsou de sua morada, mergulhando a cabeça em dúvidas sobre denunciar ou não o plano nefasto à milícia. Foi quando o frio do metal espalhou seu sangue quente pelo peito. Um aperto de ferro impedia quaisquer movimentos de reação e no auge do desespero sua audição moribunda captou um sussurro, quase uma oração: "Me perdoe irmão..."

Lágrimas brotaram de seus olhos e, ao cair no áspero piso de seu quarto de trabalho, ainda pôde vislumbrar através da bruma de sua visão a figura que o atacara. Uma última olhada denunciava a intenção que mão na maçaneta que dava para a casa corroborava. De seus lábios entreabertos uma última palavra escapou, morrendo pouco depois de nascer: "Caleb..."
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O calor causticante acentuava a desolação da paisagem.

No horizonte turvo de calor, diversos pontos escuros denunciavam o que estava nascendo ali adiante. Uma cidade. Um ajuntamento de pessoas vivendo pelo bem comum, mesmo que esse bem aparente não seja tão explícito assim.

Afinal ele fizera a lição de casa e já dera o primeiro passo para se tornar superior.

- Parece-me que a semente que plantei geminou de maneira peculiar. Isso me será ainda mais útil do que imaginei.

E caminhando calmamente, dirigiu-se à cidade.
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Por toda Arton a realidade respondia à seu mais novo morador.
Filhos roubando pais, esposas traindo cônjuges, irmão matando irmão, pais vendendo filhos. Todo ser vivo dera um passo em direção à escuridão e nem mesmo os seres inferiores resistiram ao impulso. Filhotes de cobra atraiçoando os pais, répteis trocando ovos para que aves criassem o predador em seu ninho, mamíferos comendo carcaças e filhotes.
Traição, intriga, assassínio, malícia.
Sszzaas havia chegado.

sábado, 19 de setembro de 2009

Aurora Carmesim #1 - Travessia, parte 3

Forte Éritro, Deheon

Sentados à mesa, as três figuras comiam despreocupadamente aguardando a chegada dos últimos convivas.

À cabeceira Viktor, arquimago de Valkaria, à sua direita Darin Ferroforte, guerreiro anão lendário e protetor de Doherimm e à esquerda, Thaedras, o Leão, líder da Ordem da Fênix Escarlate e flagelo dos goblinóides de Lamnor. Ainda estavam por chegar Thomas, o paladino guardião da realidade de Tannah-Toh e Halfdan, alto-clérigo campeão ordenado de Khalmyr.

O clima leve conduzia a conversa e piadas e lembranças divertidas eram uma constante. O longo salão era recortado pelos reflexos coloridos dos vitrais que dançavam sobre a prataria. Dezesseis cadeiras ricamente adornadas e finamente forradas rodeavam a pesada mesa retangular e as paredes eram de um trabalho pouco visto fora dos domínios anões. Darin estava à altura do tampo da mesa - revelando passivamente o encanto para equalizar as limitações dos convidados - agitando um grande pedaço de pão recheado com miúdos de faisão quando uma das portas de acesso ao salão se abriu. George, um dos inúmeros serviçais, adentrou o recinto silenciosamente, parando à borda da mesa para anunciar a chegada de Thomas. Revelou ainda que Halfdan fora visto à alguns minutos do forte, cavalgando um belo corcel reluzente ao sol.

Farejando a oportunidade, Viktor explodira o recheio do sanduíche do anão provocando gargalhadas até mesmo no sisudo George, que retirou-se apressadamente.

- Isso foi desleal seu poltrão duma figa. Você me paga... - rosnou Darin, ainda limpando os restos de faisão da longa barba.

- Sabes que a ocasião faz o ladrão, como dizem. Não resisti à sua performance teatral da nossa luta com o vampiro de Sszzass e achei que ela ficaria ainda mais formidável reproduzindo seu estado de asseio na ocasião.

- Não condene nosso pequeno baluarte de metal, você sequer imagina o trabalho que deve dar desmontar todas aquelas camadas de metal? - disparou Thaedras, começando mais uma discussão.

- Me desculpem se não sou uma velha mofada leitora de livros que mais se preocupa com a quantidade línguas que fala do que com sua destreza em armas ou se não sou um afeminado elfo quebradiço, com seu espeto balançante e seus gravetos voadores. Sou macho seus filhos de uma rapariga, e cheiro como macho! Brigo como macho e mato como macho!

- Concordo que cheiras como macho meu caro Darin...

- Troll macho! Hahahahahaha...

- Eu lhes mostro quem é o troll seus vermes almofadinhas...

Enfiando um pedaço de pernil na boca, Darin deixa aos amigos seu dedo médio como resposta às provocações. Ele tinha que admitir, sentira falta dos companheiros nesses meses de afastamento. Desde sua última ação juntos muita coisa mudara em Arton e além. A queda de Glórienn, o retorno do deus dos dragões, o fim da área de tormenta de Tamu-ra, o dragão da tormenta, a queda de crânio-negro. Os tempos estavam movendo-se, agora mais rápido do que nunca.

A entrada da brisa suave com a abertura da porta principal do salão arrancou Darin de seus devaneios. Uma figura prateada recortada contra a parede do corredor sorria genuinamente ao fitar o aposento.

Thomas atravessou a distância que o separava dos amigos disparando xingamentos, provocações e apelidos. Estava finalmente na presença deles e isso o alegrava enormemente. O chão atrás de seus passos ficou pontilhado de coisas e pedaços da armadura de Thomas e ao abraçar o elfo, já estava sem o peitoral e uma das braçadeiras.

- Thaedras, o graveto! Que saudade de você seu pusilânime! - apertando o elfo no seu abraço de ferro e logo partindo para um novo alvo - Viktor seu charlatão! - disse erguendo o jovem mago desconcertado da cadeira e do chão em seguida - Darin Falofraco! Seu grande maricas! - finalizando sua chegada com um rodopio do anão em seus braços.

O tilintar de coisas caindo ao chão continuou mesmo depois de Thomas tomar um lugar à mesa. Os minutos seguintes de conversa foram ainda mais animados, pontuados por palavrões, migalhas, brigas de talheres e louça quebrada.

- Parece-me que nada muda por aqui não é, seu bando de infantes!

A voz poderosa atravessou a sala séria como a reprovação de um tutor. A algazarra cessou imediatamente antes de retornar ainda mais caótica. Halfdan havia chegado. O grupo estava completo outra vez.
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Cavernas das Almas, Werra

Duas figuras destacavam-se contra o ambiente hostil da caverna. Duas figuras e um símbolo intricado traçado a sangue no chão. Toda atmosfera bruxuleava junto com a luz das velas rubras dispostas em doze direções ao redor do símbolo. No centro, uma figura impunha pavor e exalava hostilidade por todos os poros. Na borda, algo pouco maior que um elfo e pouco mais pálido que um morto, cujos trajes pareciam se confundir com a escuridão.

- Neste momento sê finito. Todos os preparativos e providências estão completos, estimado caçador. A hora de se retorno não tarda chegar.

- Isso é tudo? Isso é o que precisa ser feito do lado de cá para que o tal ritual seja completo?

- Certamente caçador. O restante do ritual deverar-se-á acontecer do outro lado. Por hora, aguardemos.

- Magnífico. Então você não é mais necessário. Espero sozinho.

- De fato minha intervenção não se faz mais necessária porém, regozijar-me-ei em presenciar tal feito. Talvez eu não mais tenha tal oportunidade nessa existência.

- Concordo, não terá outra oportunidade.

O sorriso de Mardoc rasgou-lhe a face quase que no mesmo instante que a lâmina de Eeluk dividiu a coisa em dois. O sangue lavou parte do piso e da parede e com as tripas ainda pulsando fora de seu possuidor a caverna gritou em júbilo. Mais uma alma assomava-se ao seu vasto séquito profano.

- Grande golpe Eeluk, digno de meu braço direito.

- Obrigado senhor, foi um prazer. - uma voz forte ecoou de dentro do elmo.

Eeluk era um monstro. Tanto em aparência quanto em batalha essa seria sua melhor definição. Mais alto que Mardoc em quase uma cabeça, trajava uma meia armadura que deixava seu flanco direito exposto mas cobria seu pescoço inteiramente. Na cabeça um capacete completamente fechado adornado por um par de chifres de demônio deixava sua figura ainda mais impressionante. Segurava um machado alto como um homem, tinha as pernas cobertas por placas de metal e usava uma capa vermelha como sangue.

- Esperemos então, as movimentações do outro lado. Kerem está acompanhando?

- Sim senhor, tem todos os passos do lado de lá sob sua vigilância.

- E J'agga?

- Está com ele. Disse que a surpresa está pronta. Ela está bem confiante no êxito.

- Fryenduraak?

- Sob controle. Cingetto está com ele no Campo do Holocausto.

- Ótimo, ele é uma força que deve permanecer neutra até o momento certo. Ostherwulf já foi convocado?

- Sim, o cão de guerra já o chamou. Deve interrogá-lo em breve. Tudo correrá bem senhor. Marcharemos outra vez entre os vivos.

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Anoitecia quando Magnus vislumbrou o tal Forte Éritro.
Decerto uma construção impressionante, ocupava por si só vários quilômetros de campo. À sua direita e à sua esquerda montanhas completavam a paisagem. Tinha várias construções internas, algumas com vários andares de altura. Mas impressionava apenas à primeira vista, ele já havia visto maiores. E melhores.
Era lá que encontraria conhecimento. Era lá que encontraria o poder para abater as aberrações que ameaçavam Arton.
Concentrou-se e caminhou, percorrendo quilômetros em minutos, e logo se viu à sombra do forte. Na entrada, dois golens montavam guarda.
"Óbvio que eles contam com um mago. Seria impossível chegar onde chegaram se fosse diferente. Merda."
Vislumbrou mais uma vez as criaturas e decidiu-se por adentrar.
Seria uma longa estada.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

XIV Bienal do Livro Rio

Senhores omissos, do dia 10 a 20 de setembro haverá a XIV Bienal do Livro Rio. Quem quiser ir, manifeste-se. Assim podemos marcar um grupo e ir. Que tal?!

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Crônicas Artonianas #39 - O que sabem os Desafiadores?


Havia a Ordem Morta de Vidência e Numerologia. Eles acompanhavam todos os acontecimentos históricos do mundo. Seus membros eram os maiores devotos de Tanna-Toh em todo o mundo de Arton, mais fiéis até que os clérigos da Deusa do Conhecimento. Pois os Videntes Mortos não eram clérigos, não recebiam o favor da deusa, nem nunca eram escolhidos para passar a eternidade ao seu lado após a morte. Mas mesmo assim, sua lealdade era de ferro, e nunca fraquejavam. Eles aceitavam viver e morrer dentro do seu mosteiro, nascendo de mães e pais que pertenciam à Ordem, crescendo em meio às crianças da Ordem, trabalhando nela por toda a vida e por fim sendo cremados dentro do mosteiro, enquanto suas almas eram aprisionadas pela eternidade em artefatos de metal e vidro. Tudo porque seu poder era grande demais para ser compartilhado.
Há muito os membros da Ordem Morta de Vidência e Numerologia haviam entendido que um padrão permeava toda a existência, todas as vidas dos mortais e as ações dos deuses, e assim podiam prever, com grande eficácia, o futuro do universo. Faziam isto por meio de números. Suas equações infinitas, complexas além de tudo o que era conhecido, calculavam as possibilidades e variações do destino da criação. Produziam augúrios embasados em probabilidades e estatísticas, profecias calculadas e transcritas em longos pergaminhos repletos de números. Por isso, estavam mortos para o mundo. Na verdade, nunca haviam nascido.

Antes, outono de 1400.
O velho homem que escrevia parou por um instante. Observou com olhar sereno um jovem sentado ao seu lado com olhares curiosos.
- Estou meio confuso, avô. Então Ilendar e Tildror estarão escondendo alguma informação de seus companheiros? Queria saber mais sobre sir Lothar Orselen. E será que aquela bruxa não ocupou o lugar de Edward?
Diante de tantas perguntas, o velho sorriu imaginando que a criatividade de seu neto o levaria a altos postos dentro da Ordem Morta de Vidência e Numerologia.
- São muitas perguntas, meu jovem. E fico feliz que você as tenha. Pois somente assim poderemos descobrir as coisas novas e sermos levados as novas perguntas. Vejamos o que os números dizem.
E disseram muito do que acontecerá em 1403. E além.
***
Os Desafiadores do Destino sabem de muitas informações aparentemente desconexas. Mas recentemente Tildror e Ilendar puderam encaixar algumas peças.
A Sétima Lâmina de Keenn é uma organização que possui uma filosofia de guerra um pouco diferente do caos revolucionário do próprio deus da guerra. Eles são oposição ao Sumo-Sacerdote Mestre Arsenal. Eric Hobsbawm é um homem de cerca de quarenta anos que quer trazer de volta o antigo Sumo-Sacerdote, derrotado por Arsenal, chamado Destruktor. Entre suas pesquisas, as Lâminas encontraram quem poderia ser uma grande aliada: Yvaine, a medusa das trevas, uma sacerdotiza de Tenebra (segundo Peleannor).
Yvaine é nada menos que a irmã de Ilendar. Yvaine possuia outro objetivo (desconhecido) envolvendo uma khubariana chamada Keilana-Peni, a irmã de Kuala-Lampur. Então, enganando a Sétima Lâmina de Keenn dizendo que Keilana-Peni era a reencarnação de Destruktor, os fez raptá-la e prepará-la para um grande ritual envolvendo outras peças. Peleannor se envolveu na questão quando percebeu que seu antigo amigo tamuraniano havia sido morto. O mago elfo descobriu que Yvaine estava enganando os servos de Keenn e os alertou.
Eric Hobsbawm havia feitos acordos com Ibriar Estet para conseguir poder da Tormenta em troca de informações e, principalmente, da orelha de Tildror. Há, então, a sugestão de ligação entre Ibriar Estet, homem da corte de Ahlen e envolvido com a Tormenta, e Tildror. Ibriar foi, aparentemente, morto pelos Desafiadores do Destino no episódio que também causou a corrupção de Peter e sua petrificação.
Yvaine possuía como aliado um senador de Tapista - que havia sido, ao que tudo indica, enganado por sszzaazistas. O que Yvaine tem a ver com isso? Ninguém sabe. Yvaine avisou que estava desaparecendo por um tempo porque seus planos haviam sido frustrados por enquanto.
Há ainda o Cajado de Osso de Dragão Vermelho, herança da família de Edward, o camponês que não sabia que pertencia a uma família de poderosos feiticeiros em Sckharshantallas. Ao que parece, o Cajado tem ligações com a mãe de Yvaine, a medusa feiticeira das trevas Ilker, que era inimiga de Thyrus Lyr'nur, o feiticeiro do fogo e pai de Thyran (atualmente morto) e Edward. Pela história do bardo Alan Wand (conhecida pelos Desafiadore através de seu filho Alexis Wand, em Gorendil). O Cajado daria poderes supremos à Yvaine que quer ser a nova Senhora das Trevas. O paradeiro do Cajado é desconhecido.
Existem outras pontas soltas: Lothar perdeu Aruel, mas sabe onde está, mais ou menos, através de vozes que ouviu nos desfiladeiros em que se meteu enquanto o grupo caçava o senador corrupto. Existe o fato de Peter estar desaparecido também.
Existem as opções e objetivos pessoais: sir Lothar Orselen tem em mente que Valahad de Bedivere é um Lâmina de Keenn e que traiu a cavalaria e é um criminoso por isso. Deve ser levado a julgamento. Por honra a cavalaria e por honra à Brunor de Bedivere. Kuala-Lampur irá de qualquer maneira atrás de sua irmã após a luta em Vectora. Tildror tentará, de qualquer maneira, manter o grupo unido e, com Margareth, pensar num plano para conseguir sua liberdade. Ilendar irá ajudar Kuala a qualquer custo, mas depois terá de pensar no que fazer ou quem ajudar, lembrando que existe a pesquisa a se fazer sobre Ahmed, paladino de Azgher e sobre os passos de sua irmã.

Avante, Desafiadores! O problema é de vocês!!

terça-feira, 14 de julho de 2009

Mais um post democrático


Olla omissos.

Resolvi antecipar esse post por razões puramente funcionais, a fim de conseguir alcançar todos em seus respectivos lares.

Como sabemos (pelo menos a maioria de nós), Aldenor se ausentará todo o restante do mês de julho para participar do encontro (anual da juventude comunista, cof, cof, desculpa) de história lá na puta que pariu. Isso normalmente invibializaria duas das três sessões que ocorreriam na minha folga e eu não quero que isso aconteça. Nada contra viagens de meio de ano e tempo de folga o qual todos (ou quase) têm direito depois de um tempo de labuta mas não faz parte dos meus planos pagar pela diversão alheia mofando no sofá da minha sala.

Eu gosto bastante de jogar RPG e esse é o meu hobby principal desde que me entendo por gente. Com isso, vim propor aos omissos renegados (que não podem/querem viajar) uma alternativa não-permanente para suprir as ausências nesses dois domingos vindouros. Seguem as perguntas/ sugestões:

- Como não sei quem efetivamente vai ficar em casa em julho, por favor comecem se manifestando;

- Tenho pronto um Spin-off de um cenário (semi-esquecido) de minha autoria, o Dança das Eras. Seriam uma ou duas aventuras de apresentação e familiarização com o cenário, para enventuais mudanças/ sedimentações;

- Poderia ocorrer uma sessão de storytellin', isso dependendo de quantos omissos permaneceriam em Niterói;

- Poderia ocorrer uma sessão de Aurora, dependendo também de quantos omissos ficariam em Niterói;

- Poderíamos iniciar algo com uma temática totalmente alternativa ao usual (tal qual Matrix, Cyberpunk, Call of Cthullu, Ravenloft, Eberron, etc) que duraria não mais de duas sessões, a priori;

- Poderíamos convidar um mestre externo (caso alguém conheça um) para uma experiência e eventual ingresso no grupo;

- Poderíamos não fazer nada por que apenas eu e Renato ficaríamos em casa e como o tempo não anda propício à praia, eu pelo menos cometeria suicídio (ou inventaria uma grande coisa, ou escreveria um grande livro, ou faria qualquer coisa que me tirasse do tédio, mesmo que não fosse saudável).

Bem senhores, é isso. Por favor expressem-se e opinem (com opiniões diferentes dessas acima, se existirem). Não postarei nada (e acho que ninguém mais deveria postar) até chegarmos numa decisão a contento.

Abraços e adièau.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Aurora Carmesim #1 - Travessia, parte 2


Um mundo verde, intocado, virgem. Thaedras não podia imaginar como as coisas tinham chegado até aquele ponto. Aquela era Lennórien, sua casa, seu lar. Como toda uma raça pôde deixar isso de lado?
Caminhava calmamente em direção ao acampamento goblinóide. A lua em foice era um rasgo avermelhado no céu, denunciando o sangue que seria derramado essa noite. O líder daquele acampamento devia morrer e ele estava ali para garantir isso. A resistência ganharia muito terreno depois de sua ação e o destacamento que cuidava daquela área fugiria feito um animal acossado.
O Leão aproximou-se da tenda que era seu alvo sem emitir quaisquer som maior que um sussurro. A noite estava perfeita para o assassínio e um certo júbilo correu por seu sangue quando ele se debruçou sobre o leito fétido de seu alvo. Gruundak dormia feito um bebê, incauto, alheio da ameaça que pairava sobre ele. O tempo ensinara Thaedras a manter sua intenção assassina contida até o último instante, até o momento do golpe da arma.
A lâmina deslizou de dentro de sua caverna espalhando um brilho lânguido pela tenda. Em um movimento suave ele a deslizou com um flash pelo pescoço de sua vítima, abrindo um talho rubro na garganta de Gruundak, no momento que ele abriu os olhos aflito. Nenhum som escapou de seus lábios apesar dos movimentos feitos por ele. O gorgolejar intenso quebrou a magia do momento e o Leão pisou em sua vítima, para impedir qualquer reação.
Em pouco tempo, o cadáver parou de se mexer e Thaedras deixou a tenda rumo à noite fresca da floresta.
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Xiucoahtl ouvia os relatos atentamente.
Numa torrente verborrágica seu vassalo desfiava informações, fatos e conjecturas. Ele bebia das palavras como um infante degusta o leite materno. Então esse era o plano, trazer a ruína dos dragões de volta à vida para acabar com Kallyadranoch. Mas o que fariam com o batalhão?
A pequena (tudo parecia pequeno face a Xiucoahtl) criatura findou seu relato num austo prolongado de ar.
- Obrigado Agnustaad. Como sempre você honra minha confiança. O que me trouxeste é deveras útil e recompensar-te-ei devidamente. Procure Hasmed-achinabul. Ela dar-te-há o que precisas. Agora vá e continue honrando-me, Agnustaad.
Debilmente a criatura correu em direção à parede mais próxima, interrompendo-se para uma última mesura exagerada antes de adentrá-la e sumir num brilho negro.
- Cledoveo, a mim! - urrou a figura titânica.
Num lampejo esverdeado uma figura baixa e compacta surgiu ante o dragão. Cabelos negros, túnica verde-capim, armadura forte e rija. Mãos poderosas fechavam em luvas desproporcionalmente grandes.
- Sim, mestre.
- Preciso que realize uma tarefa em meu nome, Cledoveo. A mancha rubra pretende manobrar contra nós trazendo um antigo mal a Arton. Eles querem aproveitar-se do momento de mortalidade de Kallyadranoch para dar-lhe um fim. E isso conflita diretamente com meus planos momentâneos.
Caminhando lentamente, Xiucoahtl atravessa a sala em direção a um pedestal na face sul. Enquanto movimenta-se ele lentamente se transmuta em uma figura pequena, ágil, furtiva. Logo a distância até o tabuleiro é coberta por um halfling de olhos muito vivos e careca brilhante. Pequenas bolsas assomam-se sob suas pálpebras, denunciando a idade já ultrapassando os trinta invernos. Roupas leves e confortáveis de viajante brincam sobre seus gestos controlados.
Olhando o tabuleiro ele recomeça:
- Um novo elemento adentrou o jogo Cledoveo - diz apontando um peão rubro -, novos poderes surgiram em Arton. Um pequeno grupelho, é verdade, que se devidamente conduzido pode nos auxiliar enormemente.
Movendo a peça por uma casa ele volta a fitar o tabuleiro, absorvendo sua nova configuração.
- Diga que desejo lhes falar. Um encontro amigável. Tentarei trazê-los para sob minhas bençãos sutilmente enquanto eles prestam-me favores sem perceber. Dar e receber, até que estejam sob meu jugo. Sei que não fui o único a notá-los mas desejo ser o primeiro a alcançá-los. Traga-os a mim Cledoveo. Logo.
- Sim mestre, já antecipo um meio de fazê-lo. Em dois dias eles estarão em sua presença. Retiro-me milorde.
- Vá com minhas bençãos.
E ele some em meio a um brilho suave, deixando Xiucoahtl imerso em conjecturas e projeções.
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- Olá Thaedras. Não é necessária tamanha precaução pois vim em paz. Vim trazer-lhe um recado de meu mestre. Ele deseja vê-los a todos em breve, em sua morada. Tome.
A tensão permanece quando Cledoveo entrega uma pedra seccionada no diâmetro a Thaedras, indo-se sem olhar pra trás.
Sob o olhar furtivo de Lena Thaedras examina a pedra e sopesa o momento.
Eles tinham que saber. Tinham que investigar.

Extinção #2 - Anjo profano


V Dlourá - Josefov - Old Downtown
Michael ofegava.
O peso da criança no seu colo, a adrenalina da fuga desenfreada, o frio cortante, tudo arremessava seu pensamento cada vez mais longe de si. Quanto mais progredia subindo a rua mais sua cabeça teimava em permanecer lá atrás, naquele cruzamento escuro. Via claramente a figura débil do homem que lhe salavara a vida estirado no chão, ouvia os passos das coisas rondando a caminhonete, sentia o cheiro do seu hálito podre, das roupas ocres, fedendo a sangue. A pequena criança permanecia imóvel feito um fardo no seu colo. Fria, seca, catatônica. Por causa dela capotaram daquela maneira. Por causa dela ele fugira, deixando à morte o homem que o ajudara sem mesmo saber seu nome. Por causa dela sentia um arrepio na nuca, uma sensação de urgência, um aperto na alma que denunciava que nenhum dos dois iria vislumbrar o amanhecer do dia de Natal.
Olhou o relógio mais por hábito do que por se importar com o tempo que passara correndo. Três e trinta da manhã. A rua revelava indícios de ser um centro comercial, daqueles com prédios de escritórios importantes e consultórios médicos caros. Precisava de abrigo. Precisava se aquecer, pensar.
Procurava uma brecha em todas aquelas fachadas de vidro, todas aquelas portarias cercadas por grades fortes, de metal. Continuou subindo a rua, agora em passos mais lentos. Dobrou uma esquina e mais outra, andando a esmo. Procurando. Pedindo aos céus por uma chance de viver um pouco mais. E a recebeu.
Uma portaria de vidro, no térreo de um prédio bonito, brilhando verde. Olhou para os lados - vendo no fim da rua um clarão de incêndio que bloqueava a avenida - procurando vestígios das coisas. Nada. Caminhou em direção às portas de vidro, deixou a pequena criança de pé ali com o olhar vidrado no infinito, e chutou a porta de vidro com toda sua força. Nada aconteceu. Outra vez e outra vez e ainda assim, nada.
Aflito, vasculhou a rua em busca de algo pra estilhaçar a porta. Nada, a não ser os parquímetros eletrônicos perfilados na lateral da via. Se fossem iguais aos de Paris ele teria uma chance. Agarrou um e destravou a base, liberando a grande caixa amarela do seu suporte. Usou-a como um tijolo, arremessando uma, duas, três vezes na porta até produzir algum resultado. A porta trincou-se por completo, porém, continuava de pé. Rasgou com as próprias mãos uma brecha e atravessou com a criança.
Dentro do hall, a luz de emergência inundava o ambiente com uma luz estéril, opaca, cinza. Um grande balcão, quatro elevadores, um relógio redondo na parede. Três e cinqüenta e cinco. Precisava descansar. Precisava se esconder. Precisava viver.
Perscrutou o salão e viu a saída de emergência. A escadaria o levaria para cima pelas entranhas do prédio e poderia, com algum esforço, ser trancada por dentro. Segurança, enfim. Michael levou a garotinha pela mão até o interior do corredor das escadas e entrou junto, escorando a saída com um dos batentes que delimitavam os acessos aos elevadores. Sentiu-se desabar parede abaixo, no escuro. Sua cabeça doía e ardia, provavelmente num corte do acidente. Sua mão latejava e seu peito estava em brasas. Aninhou a pequena em seus braços e entregou-se finalmente ao abraço de Morfeu.
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O mundo era branco mas as pegadas seguiam rubras. Estava correndo na neve, seguindo os rastros em direção a um pequeno bosque cinza. O céu era perolado, pontilhado de diamantes negros sobre sua cabeça. Sentia o frio nos ossos, o peito subindo e descendo rápido, o suor nas têmporas. Virou a esquina e entrou na cobertura das árvores. À sua frente, seis figuras se encaravam. Três de costas para ele, semi-curvadas, ronronando baixo mas ameaçadoramente. As outras três eram facilmente identificáveis naquele ambiente alvo.
Ele mesmo. Andriy e Bogdan.
Seus rostos exprimiam o pavor que sentiam numa careta bizarra, eram figuras muito coloridas naquele mundo cintilante. Uma fração de segundo depois as coisas atacaram, cobrindo os poucos metros que os separavam agilmente. Michael se pegou olhando atentamente a luta que se desenrolava. As coisas eram só unhas e dentes, atacando com uma ferocidade inumana. Seus amigos se debatiam, resfolegando no próprio sangue ao terem as gargantas rasgadas. Uma ilha rubi se formara naquele bosque cinzento e de repente Michael se ouviu gritando. Olhou em sua direção no momento em que inciava uma fuga deseperada, correndo em direção a lugar algum. Duas das coisas dispararam atrás dele assim que outras quatro entraram no bosque. Passaram por ele sem vê-lo e dividiram-se entre o banquete e a caçada. Via claramente as coisas, que talvez uma dia tivessem sido humanas, se refestelando de seus amigos. Olhos, nariz, barriga. As partes moles foram sendo arrancadas, partidas, mastigadas, num frenesi de sangue digno dos mais depravados demônios. Sentiu seu estômago protestando e dobrou-se em si mesmo, vomitando de olhos fechados.
Passados os espasmos ele finalmente abriu os olhos e pôde ver que estava debruçado no asfalto grafite, sobre o corpo de um homem já grisalho. Algo rugia dentro de si e a fome tomava conta de seu ser. Nada o impediria de comer. Nada no mundo o faria abandonar aquele corpo. Olhou de lado e viu mais quatro dele aproximando-se do seu banquete. Rosnou em ameaça. O carro virado protegia seus olhos da claridade cortante do poste. Sua boca babava em antecipação ao que viria. Comida.
Mordeu o homem na altura dos olhos, arrancando-lhe o nariz. A carne era doce, suculenta. Num espasmo ele abriu os olhos e quase exprimiu um grito, mas foi abafado pelo som surdo de um baque na cabeça. O sangue lavou o asfalto e pedaços cinza-pulsante espalharam-se pela via. Outro dele abaixou-se e começou a comer avidamente. Mais um atacou as mãos e o restante mordeu-lhe o pescoço. Ele mal engolira o pedaço do nariz quando rasgou a camisa do homem num gesto e atacou a barriga com sua mão em faca, enterrando a mão nas entranhas ainda quentes do cadáver. Comeu até sentir-se saciado, procurando abrigo da luz feroz do dia num beco escuro. E lá adormeceu.
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Na escuridão, um ronronar baixinho invadiu o ambiente. Olhos pequenos, boca pequena, língua ávida. Sangue.
A pequena figura aninhada ergue a cabeça sinuosamente e lambe um ferimento extenso, que vai da cabeça ao pescoço de seu protetor. Agarra-se a ele como uma sangue-suga, extraindo o máximo possível da ferida. Logo apanha uma das mãos nas suas e vislumbra um corte profundo mas pequeno na lateral. A língua percorre toda extensão, desfazendo as barreiras naturais. O vermelho mancha novamente a manga da camisa. E ela suga, como um pequeno vampiro.
Num espasmo o corpo adormecido se põe de pé, arremessando a criança na parede oposta. O rosnar é perturbador enquanto ele se debruça sobre o pequeno corpo no chão. Numa mordida arranca parte da face da criança, que resiste se debatendo. Um soco poderoso afunda o crânio no piso da escada, espalhando o cinza rubro por todo ambiente.
Os sons espalham-se em eco escada acima, denunciando o banquete profano.
Ele come. Como nunca.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Crônicas Artonianas #38 - Conversas


O culto se revelou perigoso. Os cultistas eram fracos, porém o líder era um poderoso homem-serpente com muitas habilidades. Sir Lothar lutou bravamente e ficou cego. Kuala também. Mas no final, fora vencido. Teleportados, surgiram numa prisão, dentro de um jardim do senador corrupto. Lutaram, o derrotaram e fugiram. Descobriram que Yvaine, a nova medusa das trevas havia se tornado inimiga da Sétima Lâmina de Keenn. Tildror juntou as informações que tinha com Peleannor.

***

- Temo que o senador tenha sido enganado. Pela estatueta de Tenebra que encontramos em nossa aventura nos Charcos de Possun, o senador era mesmo um adepto dos ensinamento malignos da Mãe Sombria. Entretanto, ele fora enganado por sszzaasitas. - Ilendar falou friamente. Estava sentada numa cadeira de veludo bem adornada. O salão era gelado com paredes e piso de mármore. O estilo minotauro de construção já não causava admiração aos Desafiadores do Destino. Tildror estava sentado com portes aristocráticos. Kuala-Lampur, sir Lothar Orselen e Edward estavam há quilômetros dalí, escondidos em algum declive das planícies de Tapista aos arredores de Tiberius, a capital do império.
- São notícias tristes e pesadas para o nosso povo. Como aventureiros mostraram sua sabedoria em aceitar a discrição da missão e, por terem derrotado o senador e os cultistas de um deus morto, mostraram sua força perante os olhos de Tauron. Serão recompensados com medalhas imperiais e serão conhecidos como aliados militares. - Moreas sentava na maior cadeira, que mais parecia um trono. Seus modos eram refinados e calmos. Seu rosto bovino mostrava um misto de paciência, cordialidade e rigidez.
- Temo que Sszzaas não esteja morto, lorde Moreas. Eu e meu grupo aceitaremos de bom grado a recompensa. Existe outro problema, porém. Meu companheiro, Kuala-Lampur, precisa lutar em Vectoria em breve e, como a cidade voadora só passa por Marma, creio que jamais conseguiremos chegar a tempo. Gostaria de saber se é possível um transporte mágico até lá. Outra questão é que ele está cego e precisamos de um sacerdote que seja capaz de derramar-lhe bençãos mais poderosas que as minhas - Ilendar lembrava da revelação que recebeu enquanto orava por Azgher visando crescer sua fé em momentos escuros. Azgher lhe disse em pensamento que deveria fazer um ritual cerimonial em nome de Ahmed, um antigo paladino de Azgher. Lembrou-se que deveria pesquisar mais sobre ele futuramente, quando resolvesse os problemas urgentes. Lembrou-se de sua irmã, Yvaine e se sentiu culpada por tudo. Culpada pelo que sua irmã sofreu, por sua decadência e pelo consequente sequestro da irmã de Kuala-Lampur. O fato de deixá-lo nas planícies de Tapista cego e escondido como um criminoso a deixou um pouco com raiva.
Enquanto isso, Tildror observava a conversa de Ilendar e Moreas com ar respeitoso e atento. Puro engodo. Os anos na corte de Ahlen o ensinaram bem a dissimular atenção e seus gestos respeitosos eram automáticos. Sua mente estava longe. Pensava no que fazer quando se revelasse a verdade sobre a irmã de Kuala-Lampur. Era bem possível que ela estivesse morta agora, segundo o que soube com Peleannor. O elfo bitolado havia descoberto que a Sétima Lâmina de Keenn estava sendo enganada por uma sacerdotiza das trevas e que o ritual com Keilana-Peni era um engodo. Gente belicosa como eles eram, certamente iriam matar Keilana. Apenas um milagre a salvaria. E Kuala? O que ele faria com essa verdade? Tudo que menos precisava era um bárbaro louco de raiva jurando vingança. Assim as viagens e as batalhas nunca acabariam. Ele jamais teria paz porque teria que acompanhar o grupo, graças à sua ressurreição, graças ao clérigo de Thyatis... Graças à Savanna! Mulheres. Margareth! Lembrou-se em um susto de sua mulher grávida. Viu que chamou atenção de Ilendar e Moreas e sentiu-se estúpido.
- Hmm, e Margareth? Onde ela está?
- Sua humana foi conhecer Boren e as histórias fantásticas da Floresta de Naria. Voltará em dois ou três dias, segundo ela mesma. Não se preocupe, ela está com quatro soldados e uma de minhas esposas. - Moreas respondeu rapidamente, esperando voltar ao assunto com Ilendar.
- Certo, tudo bem. Sobre o transporte mágico, gostariamos que fosse urgente. - Tildror se sentia bastante aventureiro.
Moreas ergueu-se de sua cadeira e saiu da sala pedindo para que esperassem. Minutos depois, voltou.
- Amanhã de manhã. Enviei espiões que vivem no Gueto dos Elfos para raptar um mago. Aqui, escravos geralmente são proibidos de usar magia arcana, mas deixamos alguns elfos praticarem para que possamos usá-los quando houver necessidade. Assim eles ganham um privilégio ou outro em troca. Sobre a cegueira de seu companheiro, não se preocupem. Em Marma vocês poderão contactar o sacerdote de Tauron de lá, que é responsável pelos cultos. Mostrem as medalhas e ele lhes cobrará apenas o preço mínimo. - Moreas explicou como se fosse algo natural. Os elfos eram menos que animais no reino dos Minotauros e muitos aceitavam essa condição e chegavam a delatar outros elfos mais rebeldes.
O dia passou e Kuala, Edward e sir Lothar foram trazidos escondidos numa carroça para a mansão de Moreas. Uma vez lá, tomaram cuidado para que o cavaleiro da luz não ouvisse (pois também estava cego) a tortura ao elfo que, aparentemente, foi mais exigente que o esperado. Ilendar rangeu os dentes e pediu por paciência ao Deus-Sol e que os minotauros pagariam por seu modo de vida um dia. Tildror se esforçou para não esboçar um sorriso cínico. Kuala e Edward estava desatento e não viu nada.
A mágica foi pronunciada por um elfo em lágrimas e com hematomas pelo corpo. O grupo sentiu seu chão sumir e a realidade à sua volta transmutar. Logo estavam nos arredores de uma cidade de médio porte, com carroças, mercadores, minotauros pomposos, minotauros guerreiros, alguns poucos aventureiros, a plebe humana e as centenas de escravos. Muitos magos eram escravos particulares dos minotauros mais ricos. Muitos magos viviam em suas pequenas lojas de poções e pergaminhos e forneciam transporte mágico para Vectora. Acima, uma enorme montanha de ponta cabeça sob as nuvens. Era uma visão magnífica que atordoou um pouco os Desafiadores do Destino. Então, após um pouco menos de duas horas procurando pelos conhecidos, os Desafiadores do Destino chegaram até Ikarus, o "dono" de Kuala-Lampur. Ele sorriu por ver Kuala vivo e espumou de raiva ao saber que estava cego. Foram para o templo de Tauron onde marcaram uma audiência. O sacerdote os atendeu pela noite e Kuala-Lampur e sir Lothar voltaram a enxergar o mundo, os velhos rostos conhecidos e os desconhecidos. Descansaram na estalagem em que Ikarus estava hospedado e amanheceram para o dia decisivo em Vectora.

Farid, o único


Ele sempre fora um bom amo para Amani. Ela é uma gênia verdadeira e, portanto uma prisioneira dele. Nunca lhe faltara nada, não que ela precisasse de nada, afinal ela tinha o dom de Wynna, a deusa da magia; era capaz de conjurar o que precisasse para satisfazer suas necessidades.

Os desejos dele eram sempre atendidos apesar de na maioria das vezes não serem possíveis através de magia. Ele queria mulheres, possuía um harém delas em sua mansão. Amani por vezes se deitou com seu amo para satisfazê-lo. Numa dessas vezes, ela engravidou.

O cruzamento entre humanos e gênios na maioria das vezes gera descendentes mágicos. E foi o caso de Amani. Ela teve um filho meio-gênio que chamou de Farid, “único” na língua do povo do deserto Sar-Allan.

Farid sempre fora muito amado por sua mãe, que para poupá-lo de sua prisão o tratou sempre como se fosse adotado para que seu pai não soubesse que ele era filho legítimo dos dois e na verdade seu filho. Ela acredita que caso ele descubra ele irá requerer a propriedade dele como tem a dela. Um contrato mágico entre um gênio e seu amo.
Cresceu em sua mansão fazendo pequenos serviços sem nunca revelar que era seu filho como tinha prometido a ela assim que soube a verdadeira história de seu pai. Por sua natureza mágica, compreendia bem como funcionava esse tipo de contrato mágico. Farid preza muito por sua liberdade e evita falar sobre seu pai que é muito influente entre pessoas do reinado.
Farid adora ajudar os amigos e não se nega a fazer isso através de seus pequenos desejos. Ele também é um apaixonado por itens mágicos e jóias. Não perdendo a oportunidade de ir atrás de um dos dois. Seu aprendizado na magia também é muito valorizado por ele.

Por esse motivo viajou até o reino de Fortuna atrás de um item mencionado por seu pai. Queria conhecer mais sobre objetos mágicos e ampliar seus conhecimentos sobre o dom de Wynna, a magia.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Aurora Carmesim #1 - Travessia

A atmosfera recendia a ferrugem.
A seus pés descortinava-se uma planície salpicada de corvos, e forrada de corpos. Impassível no alto de seu orgulho, Keen ainda sentia os efeitos daquela última batalha. Na verdade fora um massacre. Três mil almas incautas lançadas contra seu exército. Na verdade nem tão incautas assim – eram a elite do general –, porém, Mardoc já fora um desafio melhor.

Algo naquela atitude o incomodava. Por que desperdiçar três mil homens de elite num momento feito aquele, quando a maioria estava poupando recursos e puxando suas teias de aliados? Mardoc poderia facilmente reunir dez vezes essa quantidade de homens caso realmente precisasse. Poderia invadir o recém-criado reino da tormenta e varrer aquelas abominações caso fosse vantajoso. Mas atacar assim? Não era lógico. Não. Era um engodo. Mas por quê? Para que?

- Será que...? Não. Definitivamente não. Aquele maldito não ousaria. – Keen desfiava pensamentos em voz alta. Conforme sua fúria aumentava, Werra tremia em espasmos. A violência explodia.

- Tragam Ostherwulf. Agora! – E uma montanha no horizonte explodiu em lava furiosa.
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Era o local indicado.
Uma caverna no canto mais longínquo de Werra, onde as fronteiras quase tocavam o reino de Ragnar. Caverna das Almas.

Deveria se encontrar com sacerdote que o prepararia para a passagem. Finalmente voltaria à caça. Chega de joguinhos de guerra. Chega de batalhas por batalhas, onde o objetivo principal era apenas a carnificina em si. Não que ele tivesse abdicado do prazer da violência. Gratuita. Furiosa. Excessiva. Mas acreditava que não conseguiria passar o resto da eternidade assim. Esses últimos 800 anos foram até proveitosos no início, com festins de violência e sangue para comemorar cada feito, a passagem de cada década, a morte de cada adversário valoroso. Porém logo sentira falta da caçada, do terror nos olhos da presa, do surto de adrenalina. Ganhou salvo-conduto de Keen para agir por conta própria. Conquistou a “Marca da Discórdia”, dada pelo próprio Keen, para impedir que o deus perscrutasse os planos dos adversários que ele considerava dignos. Estava além do clima reinante em Werra nos últimos 200 anos.

Mas ele retornara. Mortal. Em carne e osso. Em Arton.
Desde a última vez em que esteve no plano material Mardoc ansiava o encontro, o último teste de força, a ruína derradeira dos lagartos. A Presa Máxima.
Kallyadranoch.

A boca escancarada da caverna se tornara visível ao lado de uma corredeira furiosa. Sua garganta profana expelia uma luminosidade rubra, cor de sangue, em todo o chão à frente da entrada. Pontilhando as montanhas ao redor, construções sombrias denunciavam a existência de coisas vivendo ali. Toda a caverna parecia meio arruinada, decadente. A energia da morte era forte aqui.

Parado, fitando a entrada da caverna, existia uma figura metida em trajes estranhos. Sua sombra, projetada pela luz da caverna, espalhava-se pelo chão como uma poça de sangue fresco. Algo brilhava em suas mãos, dispostas à frente do corpo, onde Mardoc não podia enxergar diretamente.

- Olá caçador. Alegro-me em ver-te aqui. – disse a figura se virando. Olhos mortos, face pálida, fronte serena. Não era nativo, não era vivo, não estava morto. Era algo diferente, alguma coisa que eriçava os pelos, apertava o estômago, molhava a face.

- Olá sacerdote. Espero que seja capaz do que dizem por que se não for, vou arrancar seu fígado com minhas próprias mãos e fazê-lo comer, antes de escalpelá-lo com minha faca enquanto ainda vive. Não sobrará nada de você que seja digno de chamar de restos.

- Acredito que divertir-se-ia bastante de fato doravante isso não faz parte dos meus planos no momento. Acompanhe-me caçador, entremos na caverna para que os ritos comecem. Tens tudo que precisa contigo?

Olhando para si Mardoc lembra-se do que deixou para trás e não fora capaz de buscar. Malditos lagartos. Sua hora chegaria em breve.

- Sim sacerdote. Tenho tudo que preciso aqui e o que me falta eu pego quando atravessar.

- Que seja. Entremo-nos, pois a hora se aproxima.
E caminharam lado a lado em direção ao interior da caverna. Sombra a sombra, espalhando sangue fresco no chão.