quinta-feira, 9 de julho de 2009

Aurora Carmesim #1 - Travessia

A atmosfera recendia a ferrugem.
A seus pés descortinava-se uma planície salpicada de corvos, e forrada de corpos. Impassível no alto de seu orgulho, Keen ainda sentia os efeitos daquela última batalha. Na verdade fora um massacre. Três mil almas incautas lançadas contra seu exército. Na verdade nem tão incautas assim – eram a elite do general –, porém, Mardoc já fora um desafio melhor.

Algo naquela atitude o incomodava. Por que desperdiçar três mil homens de elite num momento feito aquele, quando a maioria estava poupando recursos e puxando suas teias de aliados? Mardoc poderia facilmente reunir dez vezes essa quantidade de homens caso realmente precisasse. Poderia invadir o recém-criado reino da tormenta e varrer aquelas abominações caso fosse vantajoso. Mas atacar assim? Não era lógico. Não. Era um engodo. Mas por quê? Para que?

- Será que...? Não. Definitivamente não. Aquele maldito não ousaria. – Keen desfiava pensamentos em voz alta. Conforme sua fúria aumentava, Werra tremia em espasmos. A violência explodia.

- Tragam Ostherwulf. Agora! – E uma montanha no horizonte explodiu em lava furiosa.
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Era o local indicado.
Uma caverna no canto mais longínquo de Werra, onde as fronteiras quase tocavam o reino de Ragnar. Caverna das Almas.

Deveria se encontrar com sacerdote que o prepararia para a passagem. Finalmente voltaria à caça. Chega de joguinhos de guerra. Chega de batalhas por batalhas, onde o objetivo principal era apenas a carnificina em si. Não que ele tivesse abdicado do prazer da violência. Gratuita. Furiosa. Excessiva. Mas acreditava que não conseguiria passar o resto da eternidade assim. Esses últimos 800 anos foram até proveitosos no início, com festins de violência e sangue para comemorar cada feito, a passagem de cada década, a morte de cada adversário valoroso. Porém logo sentira falta da caçada, do terror nos olhos da presa, do surto de adrenalina. Ganhou salvo-conduto de Keen para agir por conta própria. Conquistou a “Marca da Discórdia”, dada pelo próprio Keen, para impedir que o deus perscrutasse os planos dos adversários que ele considerava dignos. Estava além do clima reinante em Werra nos últimos 200 anos.

Mas ele retornara. Mortal. Em carne e osso. Em Arton.
Desde a última vez em que esteve no plano material Mardoc ansiava o encontro, o último teste de força, a ruína derradeira dos lagartos. A Presa Máxima.
Kallyadranoch.

A boca escancarada da caverna se tornara visível ao lado de uma corredeira furiosa. Sua garganta profana expelia uma luminosidade rubra, cor de sangue, em todo o chão à frente da entrada. Pontilhando as montanhas ao redor, construções sombrias denunciavam a existência de coisas vivendo ali. Toda a caverna parecia meio arruinada, decadente. A energia da morte era forte aqui.

Parado, fitando a entrada da caverna, existia uma figura metida em trajes estranhos. Sua sombra, projetada pela luz da caverna, espalhava-se pelo chão como uma poça de sangue fresco. Algo brilhava em suas mãos, dispostas à frente do corpo, onde Mardoc não podia enxergar diretamente.

- Olá caçador. Alegro-me em ver-te aqui. – disse a figura se virando. Olhos mortos, face pálida, fronte serena. Não era nativo, não era vivo, não estava morto. Era algo diferente, alguma coisa que eriçava os pelos, apertava o estômago, molhava a face.

- Olá sacerdote. Espero que seja capaz do que dizem por que se não for, vou arrancar seu fígado com minhas próprias mãos e fazê-lo comer, antes de escalpelá-lo com minha faca enquanto ainda vive. Não sobrará nada de você que seja digno de chamar de restos.

- Acredito que divertir-se-ia bastante de fato doravante isso não faz parte dos meus planos no momento. Acompanhe-me caçador, entremos na caverna para que os ritos comecem. Tens tudo que precisa contigo?

Olhando para si Mardoc lembra-se do que deixou para trás e não fora capaz de buscar. Malditos lagartos. Sua hora chegaria em breve.

- Sim sacerdote. Tenho tudo que preciso aqui e o que me falta eu pego quando atravessar.

- Que seja. Entremo-nos, pois a hora se aproxima.
E caminharam lado a lado em direção ao interior da caverna. Sombra a sombra, espalhando sangue fresco no chão.

3 comentários:

R-E-N-A-T-O disse...

Quem é Mardoc? O_o

Aldenor disse...

WHATAHELL?!?!?!
Mardoc é o barbarosão de Keenn, que viveu há milênios atrás

Aldenor disse...

Queria saber quando renato tem folga essa semana (entre o dia 13 e o dia 15) e quando Daniel volta. Bia e eu tamo pensando em marcar um outback em comemoração conjunta dos nossos aniversários.
A partir do dia 16, estarei viajando.