quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Habemus Jogo


Não morram! Não desistam de jogar, malditos. Eu volto dia 20 e Renato tá de folga dia 21. Existe a possibilidade de ter Eclipse.
Demonstrem aqui seus interesses de jogar ou de jogo. Fui.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

HEXACAMPEÃO



Post nada a ver com RPG e tal, mas...

FLAMENGO, O PRIMEIRO HEXACAMPEÃO MASCULINO E DO POVO

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Últimos Dias - #2 A Torre de Damien Morienus


Iohan nasceu em uma pequena vila em Fortuna na divisa com Petrynia. Desde cedo, ele demonstrou ter grande inspiração divina e uma vocação nata. Ele e seu irmão, então, decidiram entrar para o clero com objetivos de serem alguém na vida, deixando a pacata vida de servo de seus pais para trás. Entretanto, Iohan demonstrava grandes capacidades divinas sem demonstrar o conhecimento necessário. Era um prodígio, praticamente um escolhido. Esse fato despertou a inveja de seu irmão, Jonatas. O clero de Thyatis sempre foi muito reservado e misterioso. Não aceitava facilmente novos membros, não treinava com facilidade qualquer noviço. E não tinham uma vida presente no cotidiano do povo. Os desígnios do destino deveriam ser ocultos para não influenciar as ações mundanas e caóticas impedindo que o futuro seja algo certo. Por essa reclusão, o padre local demorou em contatar a família de ambos. Jonatas e Iohan se tornaram rivais e quase brigaram várias vezes. Antes que alguma atitude fosse tomada, Iohan decidiu partir. Pensava ele que sua ligação com Thyatis não precisava de intermediários ou estudos sobre fé. A fé ele possuía de modo natural. Viajando, conheceu um grupo de aventureiros que o aceitou e fizeram uma incursão nas perigosas Montanhas Uivantes em busca de uma masmorra esquecida. Porém, os perigos do frio e as dificuldades da vida selvagem fizeram que todos perecessem. Iohan vagou aleatoriamente pelas terras geladas até que encontrou Giluk e assim, o templo de Allihanna. Raposa Cinzenta o acolheu dizendo que ele ajudaria muito os serviços de Allihanna. Serviria para substituir um soldado da natureza que viria mais tarde.

E esse momento veio muito rápido.

O dia amanheceu e o frio parecia que não dava trégua. Azgher parecia não gostar muito das Montanhas Uivantes. Pedwinckle logo recebeu Vanthuir, Adedozan, Davie Crown, Farid e um elemento surpresa: Iohan, trazido por Adedozan.

No dia anterior, o grupo se dividiu em Giluk. Vanthuir ficou na sua, cuidado de suas armas e comendo as grandes carnes de mamute. Farid bebia e comia pouco. Estava com constante sono e se incomodava bastante com o frio – ainda não estava acostumado e talvez jamais se acostumasse. Davie Crown passeou pela vila e conheceu uma feira que vendia objetos de marfim de toda sorte. Havia um anão que vendia armas feitas de gelo eterno, um material muito raro que só existia nas Uivantes. Não sabendo se comunicar na língua dos bárbaros, mas entendendo a língua anã, Davie ficou contente por conversar com alguém diferente. Acabou descobrindo que os tempos estavam difíceis mesmo nas Uivantes. O rumor da nova área de Tormenta era verdadeiro e uma grande mobilização populacional estava acontecendo. Os bárbaros fugiam do nordeste e começavam a incomodar os anões. O jovem ladino descobriu que havia um ajuntamento populacional de anões no norte do reino, no sopé da Montanha Invencível, a Cidadela de Khalmyr. Anões parentes dos de Doherimm viviam há séculos extraindo o gelo eterno das minas de gelo. Davie até pensou em comprar, mas as armas eram muito caras. Pensou em roubá-lo, mas desistiu em seguida. Enquanto isso, Adedozan foi ao templo de Allihanna e conheceu a xamã local, Raposa Cinzenta. Ele parecia ser esperado naquele momento.

- Jovem das Savanas, Allihanna, a mãe natureza, me concebeu uma visão. Uma missão para você, enviado do norte.

Adedozan ficou intrigado e decidiu cumprir tal missão sem pestanejar. Mas precisava contar ao grupo a decisão. No momento em que voltaria para a taverna onde os aventureiros estavam hospedados, foi abordado por um homem jovem. Cabelos negros, curtos e apresentando um pouco de calvície. Era Iohan, sacerdote de Thyatis. Os dois se cumprimentaram aos seus respectivos modos e foram para a taverna. Uma vez lá, ele se apresentou ao grupo e Pedwinckle apareceu logo em seguida.

O mercador então revelou suas verdadeiras intenções. Ele era nativo de Lomatudar, o Reino da Praga, e havia descoberto há alguns anos o diário de uma mulher. Essa mulher havia se casado com um mago que vivia nas Montanhas Uivantes chamado Damien Morienus. Esse mago era muito bondoso e desenvolveu uma fórmula capaz de curar todas as doenças mundanas e mágicas. E talvez até extra-planares, como era a Praga Coral. Pedwinckle queria que o grupo encontrasse a torre desse mago e recuperasse o diário de Damien Morienus para que a Praga Coral tivesse um fim.

Iohan e Farid ficaram honrados de participarem de uma empreitada que valesse a pena para ajudar os outros. Farid imaginava os itens mágicos que este tal mago devia ter deixado em sua torre. Vanthuir teria que guiá-los e alertá-los sobre os perigos das Uivantes e fazer a segurança do grupo. Davie Crown teria que lidar com os possíveis mecanismos mágicos ou não da torre, fora as armadilhas. E havia também a promessa de ouro. Pedwinckle pagaria pelo serviço e disse que todo ouro que encontrassem poderia ser dividido pelo grupo.

Todos pareceram satisfeitos nessa nova empreitada. Um preço foi acertado e uma rota foi dada a eles. Pedwinckle não sabia onde estava a torre, mas ouviu rumores de um aventureiro aposentado que vivia a nordeste Dalí. Um halfling chamado Roldo Tocaverde. Imediatamente, o grupo pôs-se a levantar. Vanthuir achava estranho daqueles que compravam seu alimento. Ele podia caçar e arrumar alimento para todos ali em questão de horas. Então, partiram.

Dois dias depois, seguindo uma difícil trilha – mas guiados pela direção dos ventos por Vanthuir, os aventureiros chegaram a uma pequena toca no meio do nada, perto de um bosque com pinheiros enormes. Ali vivia Roldo, que os recebeu com entusiasmo. Ele falava pelos cotovelos talvez porque vivia sozinho e sentia necessidade de falar com alguém. Em sua casa havia vários objetos valiosos e troféus de competições diversas. Farid logo falou a que vieram e encontraram um pouco de má vontade no halfling. Ele disse, por fim, em ajudar se o vencessem num duelo de xadrez. Farid era o único ali disposto a jogar, uma vez que Davie Crown estava preocupado demais com a valiosa mobília.

Farid jogou e venceu. O halfling ainda ensaiou tapear os aventureiros, mas o rosto sisudo de Vanthuir o convenceu. Ele disse que não sabia onde ficava a torre de Morienus, mas sabia que havia um bárbaro muito velho que talvez pudesse saber. Ele indicou a rota para chegar até o bárbaro e decidiu acompanhá-los.

Parecia que a sina do grupo era de não ter halflings. Três dias depois de viajarem, chegaram sopé da montanha. E ele se amedrontou. Apontou a caverna onde o bárbaro costumava viver e foi embora. O grupo escalou com pouca dificuldade, uma vez que Vanthuir os orientava em como escalar. Chegando a caverna, o bárbaro surpreendeu o grupo surgindo pelas costas. Houve um princípio de violência, mas logo Iohan e Farid acalmaram os ânimos. O bárbaro era muito velho com músculos retesados. Tinha um olhar arregalado e balbuciava coisas incompreensíveis. Estava curioso quanto ao grupo e falou que o mago que vivia naquela torre era maligno. Damien Morienus escravizou e matou muitos de sua tribo, há 100 anos.

O grupo intrigou-se um pouco. Farid e Iohan trocaram olhares significativos, pensando num principio de desconfiança. Davie Crown pensou na possibilidade de Pedwinckle ter sido enganado. Para Vanthuir, tanto fazia, nada mudou. Desceram da montanha e chegaram a um terreno plano. A torre estava debaixo da neve. Em volta do local havia pedras enormes formando um circulo. Havia inscrições nas pedras de forma rústica. Davie Crown havia lido sobre locais sagrados uma vez e não estava certo se era um local de algum deus bondoso ou maligno. Mas eles não entendiam o que isso teria a ver com Damien Morienus.

No meio, eles descobriram um alçapão que poderia ser a entrada. Havia runas escritas nela. Farid não entendia nada e ficou quieto a maior parte do tempo bocejando, pouco comunicativo. O que era estranho para sua natureza faladora e contagiante. Talvez fosse o frio aterrador. Vanthuir foi convencido a deixar que Davie cuidasse de identificar os símbolos. Sentou-se paciente numa pedra e pôs-se a esperar. Iohan estava do lado de Davie e tentava ajudar com suas palavras de incentivo. Davie, entretanto, se amaldiçoou por ter dormido nas aulas que tinha com o amigo de seu pai que era um clérigo de Tannah-Toh.

Muitos minutos se passaram e Vanthuir se levantou finalmente.

- Você não conseguiu do seu jeito. Vou abrir a porta do meu jeito.

Com um golpe de sua imensa maça, causou um grande estrago na pedra que era feita o alçapão. Um belíssimo golpe, mas ainda insuficiente. Tentou de novo e de novo. A cada golpe de metal maciço na pedra a fazia rachar e se partir. Poucos segundos depois, havia um grande buraco no chão. Davie suspirou e fez um resmungo de inveja. Vanthuir se permitiu ao escárnio mostrando um sorriso de lado.

- Droga! Não consigo acender a lanterna – Davie tentava, inutilmente, criar fogo de sua pederneira e isqueiro.

- Ora, se quer luz, peça por ela. – Farid, como que despertasse de seu transe congelante se aproximou. Animado com a oportunidade de realizar um desejo, uma capacidade mágica que somente os gênios tinham. E os meio-gênios. Davie pediu, Farid conjurou luz na lanterna apagada do ladino.

Desceram sem dificuldades, com ajuda da neve que caia constantemente e formava um pilar macio. Eles observaram a câmara. Agora eram verdadeiros aventureiros no seu sentido clássico, contado nas histórias infantis: rastejadores de masmorras.

Iohan, Vanthuir, Davie Crown e Farid passaram pelo menos três dias na torre, tendo vários imprevistos com esqueletos e zumbis. Mortos-vivos que se animavam com a presença de gente viva, atraídos pela promessa de alívio de suas dores. O poder divino de expulsão dos mortos-vivos poderia ser bastante útil, mas Iohan não estudou. Iohan conjurava seus milagres para curar seus companheiros e auxiliá-los no combate, várias vezes. Pois tinha uma fé bruta maior que o normal para alguém tão novo. Vanthuir e Davie Crown lutaram com suas armas com mais presença. Vanthuir levava vantagem e, quando aprendeu que esqueletos eram muito resistentes a armas que perfuravam e que zumbis eram mais facilmente esmagados, desequilibrou no combate. Davie Crown encontrou muitas dificuldades, pois os mortos-vivos não se afetavam por feridas em locais vitais. Eles já estavam mortos mesmo. Davie Crown teve dificuldades no manejo dos mecanismos e das portas e fechaduras trancadas. Algumas ele teve sucesso, noutras o braço forte de Vanthuir resolveu o trabalho.

Porém, nem tudo são flores para este grupo. Rondando em lugares diversos da torre, perceberam que ela estava caída. Eles andavam nas paredes da torre, escalavam para portas, caminhavam com alguma dificuldade de ângulo. No combate, também encontraram dificuldades além do esperado. Talvez por uma estratégia errônea, por ainda não se conhecerem direito, foram vitimados por mortos-vivos mais poderosos. Estes pareciam zumbis, mas eram mais ágeis e tinham mais angustia transformada em raiva. Exalavam um cheio de podridão que evocavam a doença. Então, um a um foi tombado e todos teriam morrido se não fosse uma ajuda inesperada.

Mintë era uma bela e jovem druida de Allihanna. Pouco antes do crepúsculo fora convocada pelo Grão-druida da região. Ele lhe disse para investigar os barulhos estranhos que todos ouviam nas proximidades do círculo druídico, ponto sagrado de sua fé. Os bárbaros que ali viviam e eram orientados pelos sacerdotes de Allihanna mandaram um representante para fazer a proteção da jovem, porém sábia sacerdotisa.

Os aventureiros acordaram subitamente. Estavam ainda feridos, mas as dores que os havia tirado a consciência havia desaparecido. Após isso, houve o dilema: os aventureiros haviam danificado e por isso profanado o local sagrado dos druidas. Mas os apelos de Farid e Iohan de que eram por motivos justos, para arrumar uma forma de aliviar o sofrimento de uma nação inteira foram bastante convincentes. Apesar de eles estarem desconfiados de que talvez tudo fosse uma farsa. Davie Crown contribuiu para que a dúvida dos dois colegas não atrapalhasse e soasse como uma mentira. Vanthuir conversou com o bárbaro ao seu jeito, honrando as tradições das Uivantes. Vanthuir saiu com uma perna com fratura exposta e seu “colega” morto com um corte profundo na jugular. Mintë entendia o modo dos bárbaros e que ambos teriam que lutar e por isso não teve ódio de Vanthuir, apenas resignou-se a curá-lo.

A sacerdotisa resolveu voltar para os seus para relatar o ocorrido. Poucos minutos depois, o próprio grão-druida da região voltou com ela. Ele indicou que o local sagrado fora profanado, mas não fazia sentido puni-los já que o estrago estava feito e que a cabeça quente não poderia definir as ações naquele momento. Disse que o grupo deveria ser bem sucedido para o bem de tantas pessoas. Assim, os sacerdotes ajudaram curando o resto do grupo e foram embora.

Nessa segunda parte na torre de Damien Morienus, encontraram o livro. Vasculharam e encontraram uma saída da torre subterrânea. Um grande rio que corria. Decidiram explorar essa saída e foram surpreendidos por goblins. Vanthuir matou dois e um terceiro fugiu. Em seguida, o grupo foi abordado pelo “dono” dos goblins. Um gênio chamado Rajid. Ele caçoou um pouco de Farid por sua natureza mestiça, mas não provocou problemas. O grupo descobriu que por ali eles sairiam numa cadeia de montanhas que levariam para bosques longínquos.

Então, o grupo voltou. Lendo o diário, descobriram que o velho bárbaro tinha razão. Damien Morienus era maligno e tratava os bárbaros da região por escravos. Ele queria se tornar em um Lich e para isso, ele acreditava que estava perto de concluir o ritual necessário. Aparentemente, conseguiu trazer a escuridão das trevas para sua torre o que causou sua ruína.

Mais uma semana viajando, chegaram a Giluk novamente. Nesse momento, as pessoas haviam acabado de passar por problemas com mamutes doentes e os artigos alimentícios estavam mais caro para estrangeiros. Encontraram um esperançoso e ansioso Pedwinckle. A má noticia foi contada em tom de velório. Pedwinckle ficou visivelmente frustrado e pediu mesmo assim o diário. Davie Crown entregou, mas havia arrancado as páginas em que continham os detalhes da transformação em Lich. Ele e o resto do grupo haviam chegado à conclusão de queimar para que o conhecimento maligno não fosse usado por ninguém.

O grupo decidia o que fazer. Haviam se criado algum vínculo. Aventureiros sempre fazem amizade com facilidade e a experiência de terem presenciado a morte várias vezes com riscos mortais sérios os uniu mais ainda. Depois de viverem quase um mês nas terras geladas e incivilizadas das Montanhas Uivantes, eles decidiram ir para o centro civilizacional do mundo: Valkaria. Uma longa jornada estava sendo planejada. No dia seguinte, partiram.

E houve mais uma surpresa.

Pedwinckle apareceu com um clérigo de Keenn, um soldado e um halfling mal encarado com sua adaga retorcida.

- Peguem-nos! Não deixem ninguém vivo! E tragam as folhas do diário de Morienus!

Sim, Pedwinckle na verdade era um falsário. Celerum era seu nome. Um mago de considerável poder que tinha ambições de se tornar em Lich e pretendia usar as informações de Damien Morienus. Usou os aventureiros como marionetes o tempo todo. A pancadaria estancou e quase foi perdida. Mas a balança virou nos momentos finais e Pedwinckle teve que fugir jurando vingança. O halfling foi capturado e contou tudo que sabia sobre Celerum. E foi liberado em seguida. Fugiu loucamente. E sem jurar vingança.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Últimos Dias - #1 O começo do fim


As Montanhas Uivantes é uma região montanhosa onde sopra um vento gélido que mantém o clima glacial. Abundam as teorias dos estudiosos sobre este fenômeno. Os religiosos indicam que a responsabilidade é a presença de um deus do gelo, de imenso poder. A verdade é que esta região é deveras isolada do resto do Reinado. Para o povo comum, nada se sabe de lá a não ser que é tolice viajar para uma região tão hostil e fria.
Apenas alguns poucos mercadores são suficientemente ricos e corajosos (ou loucos segundo alguns) para empregar grandes jornadas para estas terras inóspitas. As dificuldades de sobrevivência criaram grandes tribos bárbaras com grandes capacidades físicas de resistência e força. Homens que vivem da brutalidade e da selvageria onde os toques requintados do saber são luxos que não se pode ter, são inutilidades que não garantem a sobrevivência imediata. De uma dessas tribos, está um personagem desta história. Vanthuir Skullbringer, o Flagelo das Uivantes. Bárbaro, brutal e que demonstra uma inocência deveras perigosa e violenta. Ele não consegue lidar com os problemas da vida de forma não violenta e não se importa com isso. A sobrevivência é a lei de sua vida. É a lei dos Garras Vermelhas.
Recentemente, guiado através de sonhos, Vanthuir Skullbringer se separou de sua tribo e foi buscar seu destino, um motivo para sua existência. Esta é uma lógica que os povos bárbaros desenvolveram além da sobrevivência, fruto da violência sobre a violência: o destino. Eles existem, estão cientes, não apenas para sobreviver, mas para realizar um grande destino. A hitória de uma tribo é calcada em um grande destino e um grande feito. A cada geração, todos os esforços de uma tribo convergem a este ou aquele objetivo. Vanthuir sente o peso de sua responsabilidade histórica perante sua tribo. E ele não pretende fracassar.
Viajando ao sul, ele se deparou com algumas caças: goblins que aliviavam sua tensão muscular, ansiosa para partir ossos, cortar a carne. Nesse sentido, Vanthuir acabou por conhecer gente civilizada. Aventureiros.
Farid, "o único", era o que mais sofria. Robusto, braços fortes, vestia um cobertor de inverno, feito de peles de algum animal. Seu rosto era angular e possuia um cavanhaque cortado além da perfeição. Cabelos negros e curtos, tinha ainda olhos que cintilavam, mas sua expressão era de dor. Com o corpo encolhido, tremia o queixo incessantemente. Parte de seu nariz e bigode estavam duros, congelados. Ele era um homem do norte, de terras quentes. Aquele frio estava além de sua sanidade. Viajava com aquele grupo porque havia decidido para si mesmo ser alguém na vida. Alguém poderoso, capaz de grandes feitos mágicos. Seu amor pela magia e pelas coisas mágicas era combustível suficiente para que ele quisesse viajar por toda Arton. Queria isso tudo por um objetivo psicologicamente obscuro (talvez até para ele mesmo): demonstrar seu valor perante seu pai.
Ao lado dele estava David Crown, ou Davie, como ele insistia que seus amigos o chamassem. Dono de um sarcasmo incorrigível e irreverência que beirava a ofensa, ele sofria pelo frio, mas bem menos. Possuia um chapéu preto com detalhes marrons e se divertia com curiosidade sobre as terras geladas das Uivantes. Vindo de Petrynia, ele fazia parte de uma guilda de aventureiros, os Brancaleone. O grupo buscava, principalmente, descobrir tumbas antigas com seus conhecimentos antigos, masmorras que ocultavam um tesouro perdido, histórias sobre jóias, armas, objetos mágicos ou não, que tivessem valor histórico. Apesar do trágico fim da primeira geração dos Brancaleone, Davie não se intimidou pelas dificuldades quase sempre mortais da vida de um aventureiro. Ser aventureiro era ser único e era este tipo de destaque que ele queria ter.
Um homem negro terminava de compor o grupo de aventureiros. Adedozan era diferente dos homens que Vanthuir estava acostumado a encontrar. Parecia um homem aos avessos pela cor de pele. Sua expressão era fechada, amarrada num eterno mau humor - que não era seu sentimento constante. Com cabelos endurecidos por fezes de elefante, couro feito de animais do mundo quente, ele era um sacerdote da natureza. Um soldado que protegia a natureza, um servo de Allihanna, ou o Grande Leão, como seu povo conhecia a deusa. O seu companheiro para vida toda, Genzo, era um leão de menor tamanho que podia ser facilmente confundido com um leão jovem. Na verdade, ele fora vítima de um castigo por seus anos como entidade maligna e agraciado com uma segunda chance ao lado de Adedozan para cumprir sua pena. O homem também sofria com o frio, mas muito menos que Farid. Ele viajava em busca de conhecimento, desenvolver suas capacidades mentais e físicas para melhor ser útil em sua terra no dia de seu retorno.
Também junto destes três aventureiros, havia Pedwinckle e seu escudeiro Del, o jovem. Pedwinckle era um renomado comerciante que dizia vir de Fortuna e que fazia comércio de objetos de marfim para Luvian, a cidade que abriga os devotos da peregrinação pelo Caminho de Nimb. Sabendo que dessa vez haviam boatos e rumores que as estradas estavam mais perigosas ele decidiu contratar aventureiros para escoltá-lo. Del, filho de um empregado em seu casarão, aprendia tudo que podia para se tornar um bom guarda-costas.
O rápido contato de Vanthuir Skullbringer com Farid, Adedozan, Davie Crown e Pedwinckle fez com que ele fosse um pouco convencido a seguí-los e voltar às Montanhas Uivantes. Pedwinckle fazia questão da presença de um homem forte que soubesse manejar todas aquelas armas que Vanthuir carregava. O grupo teve alguns poucos incidentes com lobos, ursos e um sacerdote de Megalokk, o deus dos monstros e da selvageria.
Tiveram um encontro com um homem em armadura negra, trajando escudo e armas. Seu símbolo sagrado era sua bandeira: era um servo de Keenn, o deus da guerra. Por incrível que pareça, o homem não buscou motivos bélicos para abordá-los. Pedwinckle parecia conhecê-lo, por mais estranho que isso possa parecer. E nem isso fez com que os aventureiros se interessassem. Vanthuir não dava a mínima para palavras ou sutilezas. Davie Crown não entendia de símbolos sagrados e sabia que nem todos os servos do deus da guerra eram loucos em busca da morte de tudo e todos. Farid não detectou nenhum pertence mágico no homem e logo perdeu o interesse como havia perdido na feira de Luvian - onde as pessoas eram enganadas achando que comprava itens mágicos quando na verdade compravam itens estéreis de magia. Adedozan apenas ficou intrigado sobre a possível ligação, mas relevou com as palavras de Pedwinckle:
- O mundo está de pernas pro ar. Há rumores de uma nova área de Tormenta no norte das Montanhas Uivantes.
O grupo se comoveu e Farid teve que explicar para Vanthuir para que ele pudesse entender sobre a tragédia. Mas como ele havia já reparado, o povo civilizado superestima demais os cataclismas da vida e não sabem que bastava ser brutal e violento que os problemas eram destruídos.
Logo após isso, neste caminho, conheceram Blasco Pés-pesados, um halfling com sangue nos olhos e dentes rangidos. Era um guerreiro, raridade entre os de sua raça e com rara disposição para aventura. Ele parecia se importar muito com aparências, nomes, títulos e parecia sempre falar sozinho ou sobre as histórias de sua avó, dona Brigitte Pés-pesados. Histórias essas que faziam algum sentido ou complementavam alguma informação que o grupo precisava adquirir.
Tão rápido quanto foi incorporado, foi obliterado. Blasco Pés-pesados em sua breve passagem pelo grupo, talvez não tenha gostado da brutalidade de Farid, do sarcasmo exagerado de Adedozan, das palavras fáceis e amigáveis de Vanthuir Skullbringer, ou dos conselhos de sabedoria selvagem de Davie Crown. Isso mesmo, ele prestava pouca atenção nas coisas e nas pessoas do mundo, pensando em ser herói, famoso e olhando somente para si. Sumiu sem deixar vestígios.
O grupo chegou, enfim, a Giluk, o destino de Pedwinckle, a maior vila esquimó das Uivantes. Mas cuidado, não vá chamar um daqueles nativos de esquimó. É um nome pejorativo. Pedwinckle chegou, e nem descansou direito partindo para os negócios. Disse que precisava falar com o grupo no dia seguinte. Todos resolveram descansar da longa viagem e fazer pequenas incursões pela vila. Farid apreciou um pouco da bebida local: gullikin (leite de mamute tirado na hora).

Continua...