quinta-feira, 31 de julho de 2008

X-Men Chronicles - Episódio X


Noite.
O clima em Westchester é tenso, quase elétrico. Um grande tempestade derramou sua fúria na região a apenas algumas horas, mas o estado de alerta continuava. O ambiente parecia saber o que acontecia dentro dos muros daquele “instituto”.
A apenas alguns metros da superfície, a mansão do instituto esconde tecnologia suficiente para dominar um pequeno país. Ou fazer uma grande fortuna. Mas o núcleo, o coração daquela instalação jazia mais fundo no coração das trevas.
Uma esfera. A forma perfeita. Sem começo, sem fim. Totalmente completa em seu conceito. No centro, uma passarela e sete cadeiras perfiladas. Na ponta da passarela, uma mesa em arco e um capacete. Isso era o Cérebro. A mais poderosa máquina criada no planeta Terra sem auxílio externo. Nas cadeiras, estavam sete homens, sete faces. No console, um mulher. Ruiva e linda em seus cabelos esvoaçantes.
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Amarrado dentro de um mundo exterior, lacrado firmemente, mas diretamente em casa. Claustrofóbico, catastrófico. Isso era o que passava na cabeça de James. Mais uma tentativa e já haviam se passado horas. Se Pietro conseguiu como ela não era capaz? Ainda mais usando o Cérebro. Aquela máquina deveria ser capaz de amplificar em milhares de vezes a capacidade psíquica de um indivíduo. Como ela não conseguia.
Essa era sétima tentativa em cinco horas. James perdia as esperanças. Olhava para o lado e via seus companheiros e a si mesmo. Estranho, a muito tempo não reparava em si mesmo. Face cansada, marcada da guerra. Expressão abatida, olheiras, magreza com um toque de excesso. Talvez não tivesse sido tão ruim assim o acontecido.
“Vamos tentar de novo”
Sua voz monótona o retirou do transe. Aplicada. Essa era a palavra que definia Jean Grey. Nada, além disso. James tinha uma impressão peculiar sobre ela. Tendo sido recrutado pelos X-Men originais (ele pela própria Tempestade), sempre achou Jean limitada. Esforçada, porém limitada para alguém com seu nível de treinamento.
“Concentrem-se! Lembrem-se!”
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Todos se concentram sem saber ao certo em quê. Esforçam-se em lembrar-se de algo que não imaginam se sabem ou não. Limitada.
Ao mesmo tempo, na mente de todos surge um pasto. Uma árvore. O lugar onde tudo aconteceu. De súbito, um homem contorna a árvore. Terno bem cortado, cabelos negros penteados para trás, sapato perfeito. Um líder, um governante, um rei.
“Olá X-Men.” Saúda uma voz sem sotaque. “Devem estar se perguntando por que fiz isso com vocês”. Um sorriso rasga a face do homem.
Atônitos, ninguém esboça uma reação. Nem mesmo Willian, o mais irônico de todos. Parece que as coisas mudam.
“Devo admitir que o resultado do processo foi, no mínimo, inesperado. Planejei destruir vocês, todos, juntos atacando o seu elo mais fraco. Peculiar reação, interessante desfecho. Tão interessante que decidi vê-los eu mesmo.”
Caminhando, o homem não emite sons, como tudo nesse lugar.
“Devem estase perguntando, por que no destruir? O que esse homem deseja? Como pretende conseguir? Toda essa ladainha que pessoas na sua posição adoram indagar. E a minha resposta para essas perguntas é um tanto quanto perturbadora.” Parando ele fica no centro exato do círculo que os X-Men perfazem.
“Eu não quero nada. Apenas tento escapar dessa prisão, rumo ao paraíso sem olhar pra trás.” Seu olhar de asco era evidente. “Não tenho desejos maiores ou ambições megalomaníacas. Vim para destruir. Nesse tempo de mutações, vocês são a melhor arma de sobrevivência. Tão comum no dias de hoje, um rapaz super-forte ou uma garota capaz de fritar alguém com um espirro. Mas, acima de tudo, humanos. Falíveis. Controláveis. Quebráveis.”
O grupo fitava o homem em transe, sem acreditar no que ouvira. Mesmo o mais insano dos vilões tinha um propósito, uma busca. Como ele não queria nada? Como assim apenas destruir?
“Dei meu primeiro golpe hoje, confesso que não com os resultados esperados, em vocês. Mas não cessarei meus ataques. Atacarei tudo e todos, casas e vilas, escolas e hospitais, até não sobrar nada além de cinzas e caos. Quero o fim de todas as coisas, e por conseguirem se esquivar de meu primeiro ataque merecem saber.”
Caminhando ele retorna pra árvore que se abre em flor pra recebê-lo. Tão sereno quanto chegou ele se retirava. Pietro fez menção de abrir a boca pra proferir um pergunta, mas foi interrompido. “Trago no meu bolso a discórdia, trago em meu sangue a destruição”
E se vai.
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A cama parece feita de lâminas. Tudo incomoda. Todas as pequenas sensações. Pietro não consegue dormir, misto de medo e nojo. Olha-se no espelho, fitando sua nova face. “Como vou conseguir levar isso adiante? Como conseguirei ser você?”
Coloca as mãos na moldura e a aperta. Sua cabeça a mil, seu coração congelado na última batida, no último suspiro. O sol despontando no horizonte.
“O que vamos fazer agora?”
...
Do outro lado da galáxia, um homem chora.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Enquanto isso em Arton...


Arton, ano 1402, Lamnor, Interior do castelo de Cobar.


Uma goteira no teto fazia um irritante e repetitivo som quando cada gota d’água tocava o chão enquanto um pequeno camundongo comia migalhas de um pão velho. A cela era fria e úmida, entretanto, Aryanna já se acostumara com o cárcere. Longos anos se passaram desde que viu a luz de Azgher pela última vez. Apesar de nunca ter entendido o motivo de sua prisão, ela sempre imaginou que tenha motivos políticos, afinal, a guerra com os goblinóides durara décadas e cada prisioneiro que aquela raça imunda fez, valeu algo na derrota de Lenórienn.

Aryanna ouviu passos no corredor, devia ser sua refeição diária trazida pelo seu carcereiro que nunca havia visto. Uma pequena portinhola abriu-se no sopé da porta e uma tigela foi empurrada para dentro com força. Ela fitou o prato por alguns segundos que pareceram durar uma eternidade. Pensou em tentar morrer de fome pela décima terceira vez, mas desistiu. Ela sabia o que aconteceria caso tentasse, alguém viria e usaria magias de cura para fazer com que se recuperasse e forçá-la-ia a comer. Aproximou-se da tigela e levou à boca um mingau branco e encaroçado. Bebeu tudo e jogou a tigela pela portinhola de volta ao corredor. Deu um longo suspiro e cantou.

Oh solidão, que te apoderaste do meu ser,
Que a toda a hora me acompanhas.
É também teu o meu sofrer,
É em minhas lágrimas que te banhas.

Agora dia e noite não estou só,
Prometes estar comigo até ao fim,
Talvez por pena ou por dó
Preenches o vazio que há em mim.

E à noite, como que em segredo,
Deitas-te na cama a meu lado,
Junto de ti adormeço sem medo
E agradeço por te teres aproximado.

Se não fosses tu, amiga solidão,
Quem teria eu comigo agora?
Todos me abandonaram sem sequer
Meditarem porquê que meu coração chora.

Minha amiga, a quem eu já
Trato por tu, por tão bem conhecer.
És a única que me escoltas
Neste turbilhão do meu sofrer.

Sua voz parecia um canto de sereia, era limpa, clara e suave. Uma voz que só os elfos podiam ter. Porém a melodia era triste. Refletia a solidão de décadas de cárcere. Depois da canção Aryanna enroscou-se em um pano velho para proteger-se do frio e adormeceu.

***

A ponte levadiça que levava ao castelo estava aberta e faltando pedaços em diversas áreas quando os heróis a atravessaram. Chegaram ao grande portal que era adornado por grandes cabeças de javalis em cada um dos lados. À medida que avançavam para dentro do castelo a cena era de abandono e sujeira trazida pelo tempo. A luz de Azgher que entrava pela porta fazia um jogo de iluminação muito peculiar usando as grandes janelas de vidro que existia no hall de entrada do castelo. Estátuas de mulheres, algumas em pedaços, adornavam alguns portais e pilastras.

Entraram juntos. Patrick abaixou e pegou uma pedra e pediu “Marah, ilumine nossos passos”. A pedra iluminou-se como se fosse uma tocha e todos puderam ver melhor os detalhes do castelo. Suas paredes com pinturas complexas, o chão feito de uma pedra pouco comum em Arton-norte, o teto com um lustre que já faltavam muitos dos cristais que um dia fizeram parte do imenso candelabro que devia iluminar a entrada.
- Ouviram algo? – Perguntou Lylê.
- Não, nada. – respondeu Elina – O que era?
- Um canto. – Respondeu Jezz.

Eles se entreolharam. Souberam que não eram os únicos naquele lugar que pensavam estar abandonado.

domingo, 13 de julho de 2008

Sei lá...

Iae galera
Tendo em vista que ninguém atualiza isso aqui a tempos e o último episódio das crônicas está no meu pendrive no trabalho (acessível apenas amanhã), resolvi postar alguma coisa aqui... sem foto, desligado do propósito básico do blog, mas ainda assim interessante. Da nova série "coisas que eu não sabia que tinha no computador":

"Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu.
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.

Hoje vive na minha aldeia comigo,
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando agente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como na Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou ...

E depois, cansado de dizer mal de Deus
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

E a criança tão humana que é divina
É esta minha cotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,
E que o seu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo o que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direção do meu olhar é o seu dedo apontado.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Como um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda."
Autor desconhecido (por mim ao menos....)