terça-feira, 29 de março de 2011

Sobre UD, confiança, respostas e futuro.

Olla senhores.
Sei que as coisas têm andado bastante produtivas aqui no blog e eu mesmo tenho uma parcela de crédito por isso. Mas o que me trouxe aqui mais uma vez, quebrando a seqüência de posts com conteúdo, foi a marcação de sessão de Últimos Dias.
Mais uma campanha que mestro e que, apesar do bom feedback de 90% dos jogadores, agoniza por falta de quórum, de tesão. Me torturei e ainda me torturo, podem acreditar, pensando acerca desse assunto. Conversas longas e sinceras com Renato e Aldenor (nossos mestres mais freqüentes), mestres de muito mais sucesso do que eu nos últimos anos, atestam minha confusão. Não que esse seja o motivo da minha tortura, nasci jogador e fui virando mestre aos poucos, num processo complexo. Mas vou me ater a UD e seus desdobramentos.
Na ocasião da mudança de mestre por conta da crise criativa de Aldie a campanha me foi oferecida, assim como ao Renato, e os jogadores foram unânimes na minha escolha. Coisas como tornar o vilão marcante, humanizar os antagonistas e criar antipatia dos jogadores por eles foram alguns dos argumentos que ouvi. Não discordo em nenhum nível dessa argumentação e, além de ter aceitado o desafio de tocar algo que não se originou na minha cabeça, achei muito estimulante a idéia de mudança, de virada, de transformação.
Mas então vieram as faltas, os narizes torcidos, as caras-feias. De praticamente todos. E as explicações para a má-vontade em relação ao jogo, à história, iam desde "não gostar do meu estilo" até "opções demais limitam e intimidam os jogadores"
Ao longo dos anos, devorando livros dos mais diversos autores e dos mais diversos estilos, vendo dias de filmes, até mesmo escutando e jogando várias histórias, acabei desenvolvendo uma percepção muito (vejo hoje) peculiar de RPG. Tendo sempre a enxergar as coisas como um livro, encarar as reviravoltas e os mistérios aparentemente insolúveis como algo estimulante e até mesmo necessário para manter-me ocupado. Renato e Aldenor podem comprovar e testemunhar que me divirto muito mais com o difícil, com o complexo, com o aparentemente impossível. Isso sempre me prende e me captura de tal forma que sempre deixo as sessões com a idéia fixa de saber o que está acontecendo, o que vem depois, qual será o próximo capítulo.
Quando recebi a missão de criar vilões intimistas, de fazer com que os jogadores tivessem motivos além dos simples "a aventura precisa de um antagonista" para odiá-los, encarei como a chance de escrever eu mesmo o livro, de erigir o destino dos personagens com minhas mãos. E talvez por culpa das toneladas de papel traduzidos em histórias que eu consumi através dos anos, tenha feito as coisas como fiz. O problema é que nem todos (e hoje atesto que quase ninguém) enxergam a experiência do RPG como a leitura de um livro. A visão hoje se assemelha mais a um filme ou jogo, onde as coisas são, quando são, no máximo pinceladas. Onde os heróis são o foco e seu ambiente pouco importa se não servir à historyline principal ou ao ego dos jogadores. Onde os vilões só se digladiam com os heróis dentro de locais e contextos controlados, com resultado previsto e conduzido. Claro que essa simplicidade tem sua beleza e seu apelo porém, não foi por isso que eu assumi a campanha. Nem por isso nem para isso, uma vez que meu estilo narrativo é bem diferente do de Aldie ou Renato e eles podem sim, com muita competência, conduzir um jogo neses termos.
Toda essa argumentação serve para embasar o que vou dizer a seguir e infelizmente se faz necessária, por isso continuem lendo, está acabando.
Quando me lembro de livros, de histórias envolventes e estimulantes, me vem sempre à cabeça Cornwell, Iggulden e até mesmo, recentemente, Caldela. Destruir as certezas, esfarelar as crenças, brincar com a vida e com o destino do protagonista. 
Arthur, Gêngis, Caesar, Orion. 
Todos sofreram, todos perderam, todos lutaram e choraram, venceram e fugiram, todos viveram, através da tinta no papel, uma história épica. E praticamente todos os jogadores do FG leram ou lêem esses autores. Apreciam seu estilo e suas narrativas. Confiam que tudo tem um propósito e que tudo vai ficar bem, páginas e páginas à frente. E, além disso, são também narradores, entendem que o mestre está ali para instigar, para distorcer, para divertir. Entendem que "Deus ex Machina" e mesmo que tudo pareça perdido, tudo tem um propósito e a idéia é que os jogadores "vençam" no final. 
Confiança.
Essa é chave e isso é o que falta em UD. Um pouco pela mudança, um pouco pela minha trajetória, um pouco por ser eu. Os jogadores não vêem a situação em que se encontram como passageira e sim como imutável, impossível e insolúvel. Me tem como inimigo e acreditam que me divirto com desgraça, com a perda, com a derrota. Não confiam que tudo passa e que são os protagonistas, que vão vencer no final. De maneira memorável, incrível e marcante. Como nos livros.
Uma vez constatado isso, vim aqui para inquirir a todos sobre o futuro de UD. 
Se vamos jogá-la, como conduzí-la? Deixando tudo para trás e esquecendo o que já foi feito, focando nos heróis e na missão apenas? 
Ir diretamente para o final da aventura e enfrentar o grande colosso de metal, obliterando ou não Arsenal no fim?
Pular até mesmo o combate e ir direto ao labirinto que compõe o colosso, apenas enfrentando Arsenal?
Abandonar a campanha? Ou mudar novamente de mestre?
Vim aqui em busca de soluções e respostas e não conduzirei o jogo de domingo sem tê-las.
Desculpem-me.

domingo, 13 de março de 2011

Profecia #0 - O Chamado



Vila de Versäumnis - Norte de Galienn - Yuden 
Reinado - Um ano atrás

A tarde caia preguiçosa e rósea.
Abelard observava o véu da noite se descortinar por trás dos campos e se preparava para mais uma noite de caça. Nos meses que antecediam o inverno a noite sempre trazia animais maiores e mais valiosos. A vila de Versäumnis atravessava um período de relativa prosperidade, depois que Lady Shivara assumiu o trono. A estrada que seguia para o norte, rumo a Namalkah, havia sido pavimentada e o tráfego de mascates e comitivas crescia com a proximidade do inverno, fornecendo itens valiosos para sobrevivência nos meses frios em troca de carne, couro, moedas e artigos exclusivos. O vilarejo encontrava-se no meio do caminho entre Galienn e Drekellar, tornando-se naturalmente um entreposto conforme os anos passaram.


sexta-feira, 11 de março de 2011

Hector's Diary




Estou tentando ainda compreender seus desígnios minha deusa. Ainda sinto falta de minha mãe e não consigo entender o propósito de sua ida para o plano dos deuses. Tive uma jornada estranha por esses dias e tive a idéia de relatar neste diário para que sirva de documento e informação caso eu venha a perecer nessa jornada.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Crônicas Artonianas II: A Tempestade Rubra #6

Introdução 


O calor do verão castigava aquela pequena cidade-satélite. Aos moradores restava cobrir o rosto, esfregar o suor com o braço e juntar os pedaços de suas almas estilhaçadas pela tragédia que os abateu recentemente.
O prefeito Deikon Heremill havia sido morto, vitima de experiências de um desconhecido algoz. As más línguas diziam que era uma manifestação da Tormenta e que o mundo estava prestes a acabar.
Porém, os pessimistas foram logo contidos pela explosão de entusiasmo do novo prefeito. Escolhido às pressas pela determinação do conselho local, formado pelas famílias mais ricas da vila, o gentil Kalimyr Heremill é o irmão do antigo prefeito. Andrew e Willian estavam na praça principal da cidade quando o novo prefeito se apresentou. Decididos por averiguar a índole do prefeito e ajudar no que fosse preciso, ficaram uns dias na cidade. Quando perceberam a diminuição dos impostos e a ajuda de custo às vítimas dos últimos ataques dos bandidos da estrada, eles partiram.

O Novo Deus #1 - Encontros, parte 2



Bosque nos arredores de Triumphus - Sckharshantallas

- Chu! Chuchuchu! Vem cá... vem cá... vem aqui... - cativava o halfling com sua voz mais aprazível.
Sua caravana estava no fim do bosque que permeava a parte leste da cidade de Triumphus. Arremessando migalhas ao chão observava um jovem humano andar atrás do comboio com expressão confusa, porém séria, olhos fixos na sua pessoa.
Com passadas um pouco mais rápidas, o jovem se aproximou da carroça onde o jovem halfling estava sentado se divertindo atirando pedaços de pão, como quem cativa um animal doméstico.



domingo, 6 de março de 2011

Pax Exaltea: Parte Final: Sealtiel Ironsouled



Justiça – inabalável; imutável. Eterna.


O salão Dele ecoava seus passos firmes. A nave central parecia se dobrar em deferência e respeito para com seu visitante. Tantos atos praticados em Seu serviço, tantas vidas inocentes em segurança, tantas lições, tanto carinho dado aos seus e àqueles que precisavam. O visitante caminhava com a cabeça erguida, puro orgulho, puro dever.

Mas também havia julgamento. Enquanto o som de seus passos, ecoados, davam-lhe as graças e o mérito, sua visão era preenchida de outra forma.

Em cada peça de mármore encaixada perfeita e simetricamente, em cada pilar sustentador daquela Casa, o visitante lembrava-se de seus juramentos. O lugar oprimia sua memória, fazendo-o lembrar e ver tudo que fizera em seu caminho. Sabendo da verdade das visões, sua cabeça jamais se baixara, jamais tentara fugir dos veredictos máximos. Ela ainda estava erguida, aceitando os julgados e, de boa-fé, abrindo-se aos que ainda ser-lhe-iam feitos.


sábado, 5 de março de 2011

Crônicas Artonianas II: A Tempestade Rubra #5

O Passado Bate à Porta

Com passos firmes, William adentrava a capital novamente. A contra gosto, é verdade, mas o ataque que sofrera era grave demais. Talvez uma infestação de simbiontes numa aldeia próxima, bem debaixo do nariz da Rainha-Imperatriz. Ao entrar na capital, e depois de ser interpelado por um miliciano pedindo documentos (??), o caçador petryniano foi abordado por um goblin. Ainda desacostumado com a condição de súditos do Reinado, cidadãos com os mesmos direitos (teoricamente), ele sacou suas armas e amedrontou o coitado. Pegando o pedaço de pergaminho que ele detinha, William seguiu seu caminho ao ponto de encontro, na Catedral de Valkaria.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Pax Exaltea - Parte 1: Emyr "Olhos-de-Ordine"



A tempestade rangia em Valkaria, cobrindo a visão da deusa com nuvens negras.

O evento derramava-se sobre suas ruas, emitindo seu uivo de agonia. Janelas, soltas, batiam repetidamente sem que o som pudesse ser escutado. Cachorros, friorentos, procuravam desesperadamente por abrigo.

Orações suplicavam a volta precoce de Azgher; a chuva parecia fazer tremer o chão; a taverna, outrora barulhenta e pecaminosa, estava silente, numa perfeita simulação de santidade.

Só um lugar não se dobrava. Apenas um lugar permanecia firme - apenas um lugar mantinha-se ungido à terra, em lealdade absoluta.

quarta-feira, 2 de março de 2011

O Novo Deus #1 - Encontros



Catedral do Recomeço - Triumphus - Sckharshantallas

O Salão do Despertar estava lotado.
Figuras enfiadas em mantos brancos circulavam pelo salão, parando ocasionalmente em um ou outro leito antes de seguir caminho. O salão estava repleto de macas simples, feito um hospital de campanha, e sobre cada uma delas jazia um corpo. O salão em si não ostentava a aparência do hospital improvisado em que se transformara, com suas colunas largas e teto abobadado, a quase dez homens de altura. O piso de mármore muito branco contrastava com o cinza das paredes de pedra entrecortadas por janelas em arco, que davam passagem à claridade do dia. Sobre os leitos, homens, mulheres e crianças exibiam toda sorte de ferimentos - e por vezes nenhum - decorrentes do último ataque da besta mágica que assolava a cidade. O Móock.


Crônicas Artonianas II: A Tempestade Rubra #4

Introdutório

O choque das espadas ecoava pela área de treinamento da Igreja de Khalmyr em Valkaria. O céu aberto, nublado, dava uma coloração cinza àqueles dois homens que treinavam há algumas horas. Um deles, de postura relaxada e sorriso no rosto, divertia-se com o combate, usando sua espada de lâmina muito larga e fio grosso. O outro, limpava o suor da testa e sentia o desgaste do combate, estava numa postura disciplinada e fixa. Previsível, mas eficiente.