sexta-feira, 4 de março de 2011

Pax Exaltea - Parte 1: Emyr "Olhos-de-Ordine"



A tempestade rangia em Valkaria, cobrindo a visão da deusa com nuvens negras.

O evento derramava-se sobre suas ruas, emitindo seu uivo de agonia. Janelas, soltas, batiam repetidamente sem que o som pudesse ser escutado. Cachorros, friorentos, procuravam desesperadamente por abrigo.

Orações suplicavam a volta precoce de Azgher; a chuva parecia fazer tremer o chão; a taverna, outrora barulhenta e pecaminosa, estava silente, numa perfeita simulação de santidade.

Só um lugar não se dobrava. Apenas um lugar permanecia firme - apenas um lugar mantinha-se ungido à terra, em lealdade absoluta.

Trovões rasgavam os céus, em desafio.

Mas ele permanecia, o bastião de Arton - ordem gravada em pedra. A casa de Khalmyr jamais se dobraria.

Ordo ab chaos.
-\-

A abadessa Alessandra terminava de guardar os últimos livros. A luminosidade furiosa dos relâmpagos a guiava pelos salões daquela santa casa, enquanto os trovões quebravam o silêncio de sua mente.

Havia terminado seus estudos por aquele dia. Sempre vivera no templo, em busca de respostas que seu sangue humano demandava. Nem todos os sacerdotes eram juristas, nem todos eram guerreiros.
O que seria justiça? Como conceituá-la? Como aplicá-la? Ela ainda seria aceita? De alguma forma, todos os sacerdotes sabiam que a influência do Senhor da Verdade caia gradativamente ante aos acontecimentos do mundo. Por orgulho, poucos aceitavam. Mas era a verdade - Khalmyr enfrentava seu crepúsculo.

Alessandra, enfim, guardara o último volume. Havia desânimo em sua mente, pois não avançara nada em seu objetivo. O sono já determinava obediência, quando, então, conseguiu ouvir as batidas no portão central do templo, abafado pela tempestade suplantava seus sentidos.

Ela agasalhou-se e fora o mais rápido possível até o portão. Ao abrir a porta, deparou-se com a silhueta de um jovem, castigado pela chuva que caia.

"Preciso de ajuda" Dissera o jovem, com a voz perturbada.

Um relâmpago, forte e claro, denunciara a trovoada que logo cairia e o jovem que estava em frente ao templo.

Era algo que a abadessa jamais sonhara em ver, nem pensava que um dia seu destino fosse este.

Era um filho de Ordine.

O trovão caira forte em algum lugar.

-/-

"Então, seu nome é Emyr?" Perguntara Alessandra, depois de dar comida ao jovem e oferecer-lhe roupas secas. Rezava, com todas as forças, que o ser que estava em sua frente não fosse um devotado a Hynnin. Mas tudo indicava que não era. Não era possível mentir na casa da Justiça.

O rapaz ainda tremia de frio. Viera da região campestre, fora das muralhas de Valkaria. Lá vivia com seus pais – o que era um fato no mínimo inverossímil. Como a igreja de Khalmyr deixaria um aggelus viver sem suporte, tão próximo de sua área?

“Sim, me chamo Emyr.” Ao final. Havia dito a abadessa tudo de sua vida praticamente. O campo, os amigos, garotas, encrencas. Um artoniano normal, longe de qualquer parentesco celestial. Um jovem, como qualquer outro.

A tempestade caía perversa e caótica, mas Alessandra focava-se no jovem, que de alguma maneira exalava ordem.

“Você me disse que sua casa seria destruída, e que você e sua família tornar-se-iam escravos de um “império”?

“Foi isso que a lágrima Dela me disse. Tenho tido vários sonhos – todos eles envolvem mortes e sangue. Dies illa, dies irae, calamitatis et miseriae.” Finalizou o jovem, em uma lingua que a abadessa não compreendera.

“Mas, por de trás disso, havia esperança, certa e imutável.”

As últimas palavras foram proferidas com tamanha fé, que a abadessa logo descartara a hipótese dele ser uma brincadeira de Hynnin. Pediu que o jovem lhe contasse.

E ele contou...

3 comentários:

S i n n e r disse...

Olla senhores.
Nossa, um aggelus de Khalmyr.
Nasceu a criatura mais chata da face do planeta.
E como ele é clérigo, ganhou o selo "Chato Bagarai".
Hauahuahuahaua
Sacanagem contigo Caputo.
História maneira e que pelo visto tem uma parte dois. Quero muito lê-la.
Abraços e adièau.

Aldenor disse...

Muito bom!! Caputo, seu dom pra escrita é do nível de daniel. Invejo os dois!!!!

Estou ávido para ler o segundo capítulo.

R-E-N-A-T-O disse...

GO GO Caputo! Continue a postar o histórico!