domingo, 6 de março de 2011

Pax Exaltea: Parte Final: Sealtiel Ironsouled



Justiça – inabalável; imutável. Eterna.


O salão Dele ecoava seus passos firmes. A nave central parecia se dobrar em deferência e respeito para com seu visitante. Tantos atos praticados em Seu serviço, tantas vidas inocentes em segurança, tantas lições, tanto carinho dado aos seus e àqueles que precisavam. O visitante caminhava com a cabeça erguida, puro orgulho, puro dever.

Mas também havia julgamento. Enquanto o som de seus passos, ecoados, davam-lhe as graças e o mérito, sua visão era preenchida de outra forma.

Em cada peça de mármore encaixada perfeita e simetricamente, em cada pilar sustentador daquela Casa, o visitante lembrava-se de seus juramentos. O lugar oprimia sua memória, fazendo-o lembrar e ver tudo que fizera em seu caminho. Sabendo da verdade das visões, sua cabeça jamais se baixara, jamais tentara fugir dos veredictos máximos. Ela ainda estava erguida, aceitando os julgados e, de boa-fé, abrindo-se aos que ainda ser-lhe-iam feitos.


O caminho até Ele era longo e árduo. Embora a extensão do local fosse fixa e una, a mente dos que ali chegavam era forçada a acreditar num lugar mais ou menos amplo. Quanto mais atos um ser praticava em vida, mais longo seria o caminho até Ele. Todos sabiam que Ele a tudo via e a tudo conhecia – não o conhecer de Tanna-Toh, oriundo da atividade de pesquisa, ou o de Azgher, que a tudo enxergavam. Seu saber advinha do simples fato da verdade concentrar-se Nele e só Nele.
O visitante já havia vivido e feito demais. O caminho até Ele não poderia ser feito com um mero ato volitivo.
O caminhante só poderia fazê-lo por um ato de fé. As glórias do andarilho não deveriam fazer com que este estagnasse, parasse de buscara a Ele. Os julgamentos não deveriam impor o remorso e o sentimento de falha, mas, a partir destes dar-lhe nova confiança, novo fôlego, até Ele.
Por isso, a cabeça erguida e os passos firmes, obstinados.
Dias e dias artonianos podiam ser contados até que o andarilho O alcançasse. Era a primeira vez que ele o via. Em toda Sua glória guerreira, Ele esperava, inerte em seu trono. Olhos totalmente brancos, cegos para o mundo normal, olhavam os olhos do caminhante, sem íris e totalmente prateado.
O som dos passos cessara à 3 metros Dele.
Ambos se olharam, iguais em direito e deveres. Dois guardiões do mundo, dois senhores de armas, duas fortalezas, em uníssono, contra o mal que rastejava na Criação. Razoabilidade, equilíbrio, justeza.
O caminhante recebia seu premio sublime. O silêncio do salão era sua maior vitória – a jornada estava vencida. Seus olhos, ainda fitando os Dele, acompanharam a saída de sua inércia. O Lorde levantara. O salão estremecia. Ordem, verdade, justiça, retidão, moralidade, ética, lealdade, confiança e segurança absolutas.
A balança pendia desigual. Olhos nos olhos, um em superioridade a outro. Juiz e acusado.
O caminhante baixara o olhar.
De olhos fechados, em obediência, dobrou os joelhos.
Os braços estavam esticados, todas as pontas dos dedos tocavam o chão.
Asas curvadas.
A balança tornava-se equilibrada novamente.
Os olhos abriram. Ao chão, ele pode ver seu juramento máximo, lealdade absoluta e indeclinável à Ele, cravejado em forma de uma runa celestial.
Por fim, iniciara seu discurso...
“Khalmyr...”

Amor, carinho e amizade.
O céu róseo ditava um tom lascivo ao campo de rosas que se estendia além da visão. O sol naquele lugar jamais se extinguia, apenas limitava-se a breves crepúsculos. A felicidade jamais morria. O amor era mantido em seu estado mais latente.

Próxima à uma casa simples, ela esperava. Seus cabelos longos não tinham uma cor definida. Variava do mais intenso ruivo, ao preto, em segundos. Seus olhos, igualmente, do azul mais cinza ao castanho mais escuro. Todas as variações dos padrões humanos.

Seu corpo, desnudo, trazia consigo a prova de seu ofício. Ela era uma amazona, uma guerreira de machado e lança, e por isso guardava todas as cicatrizes já auferidas em sua vida. Mas também trazia as marcas de uma fêmea perfeitamente imperfeita.

Runas dançavam em sua pele, invocando caos, aventura e ambição.

Va’ardalia Twinsouled esperava por ele, seu amante eterno e previsível.

Horas depois, ela pode vê-lo cruzar o céu. Ele estava com o equipamento de guerra, acabara de vencer uma batalha para seu senhor.

Frente a frente, os amantes se olharam. Corpos tencionados, mente furiosa.

As runas pararam a dança, filtrando aquele momento. Seu cabelo e seus olhos adquiriram a tonalidade dos cabelos dele.

Por ele, ela cedia à ordem.

E, por ela, ele cedeu ao caos.

Marah, em seu plano, fora cultuada de todas as formas.

Dever, proteção e cuidado.

As paredes do grande salão eram extremamente bem feitas. Rocha sobre rocha, já se via o que os filhos de seu Lorde eram capazes de fazer. Beleza e rusticidade, em uníssono, estruturavam o local.
O Guardião analisava mapas e informações trazidas por seus informantes. A guerra estava começando. A revolta já começava a tomar corpo.
À sua frente, uma bacia folheada à ouro estava cheia de água. Após o longo estudo, o Guardião levantou-se e tocou a água, tornando-a sagrada.

“Intéllige clamórem meum

Inténde voci oratiónis mea
Rex meus et Deus meu
Quóniam ad te orábio, Dómine.”
A bacia tomou as formas geográficas pretendidas pelo guardião e, em seguida, vários pontos luminosos surgiram. Todas as almas boas, inocentes, alheias a guerra e a destruição.

“Aundÿr tome estas pessoas e traga-as até Pax Exaltea”

A ordem, sem questionamento, fora obedecida.

Guerra, Massacre e Destruição.

O céu estava rubro.

Trovões e berros dominavam em soberania absoluta o local. Os inimigos e o local eram unos. Combater aquilo era combater tudo ao mesmo tempo.

Gwenvendar, o último juramento, estocava firme o último adversário. Suas formas, para ele, eram indecifráveis. Sua mente era ordeira demais, era impossível descrever qualquer forma. Ele estocara uma sombra carmesim, um vulto feito de sangue e ossos.

A criatura despencara do ar, com a espada cravada em seu peito.

Sealtiel ainda viva, encharcado em seu próprio sangue e na matéria dos inimigos. Sua armadura estava completamente despedaçada. Metade de seu rosto estava em carne pura, pulsando sangue.
Em seu torso, uma infinidade de cortes e perfurações. As asas estavam parcialmente quebradas, mantendo-o no ar apenas com muito esforço.

A dor vinha de todas as direções.

Assim, como os inimigos.

Todos eles renasceram, todo o enxame vil e maligno investida contra ele.

Sealtiel só estava com o terço dourado na mão esquerda. Levou-os até a altura dos lábios, recolheu-se em fé e orou.

"Khalmyr, refúgium nostrum et virtus:
adésto piis Ecclesiae tuae précibus,"

As hordas investiam loucas de fúria e sedentas por sangue. O ar encolhia-se, o chão tremia e trovões rubros anunciavam sua morte.

"auctor ipse pietátis,
et praestia,ut, quod, fidéliter pétimus,"
A tempestade ácida dominava os céus. Ele sentia aquela realidade drenando-o, puxando-o para si. A imensidão rubra desejava o arcanjo, desejava conhece-lo. Sealtiel encolhia-se em fé e dor.

"efficáciter consequámur."
Neste momento, uma das criaturas avançava. Seus vários olhos fitavam os olhos prateados de Sealtiel, em fome. Ele devolvia o olhar com outro em desafio e coragem. Seu Lorde estava com ele, e não havia nada a temer ali.
O ataque era iminente, atingiria a garganta, e os próximos estraçalhariam seu corpo.
“PAX EXALTEA!!!”
Sealtiel esticou todo corpo, liberando a palavra sagrada.

Todas as criaturas malignas ouviram. A compreensão era pesada de mais, brutal de mais.

Uma luz poderosa e limpada varreu toda aquela realidade. Sua pureza era suficientemente forte para tirar a visão de tudo que ali enchergava.

Seu entendimento trouxe a morte a todos.

Enquanto a luz se expandia, a realidade vermelha morria, e o céu azul de Arton. O reino a Azgher fora devolvido.

À frente de Sealtiel, estava a estátua de Valkaria.

Em pedra, a deusa chorava. Os olhos cheios de lágrimas.

Delas Sealtiel viu um campo sendo devastado por minotauros.

Delas, Sealtiel viu uma família escravizada.

6 comentários:

Capuccino disse...

Só a título de curiosidade, as orações sao essas:

Oratio
Deus, refúgium nostrum et virtus:
adésto piis Ecclesiae tuae précibus,
auctor ipse pietátis, et praestia,
ut, quod, fidéliter pétimus,
efficáciter consequámur.
Per D. N.
Ó Deus, nosso refúgio e nossa força, autor, Vós mesmo, da piedade, atendei às devotas suplicas de Vossa igreja e fazei que consigamos o que pedimos com firme confiança. Por N. S.

Intéllige clamórem meum:

Escutai o meu clamor;
inténde voci oratiónis mea,

atendei a voz de minha oração,
Rex meus et Deus meu:

Rei e meu Deus;
quóniam ad te orábio, Dómine.

Vós. Senhor, que dirijo a minha oração.

Aldenor disse...

Muito criativa forma de histórico e me deu várias idéias para entrelaçar os históricos de alguns de vocês, sem falar que já tenho uma grande deixa para vcs descobrirem certas coisas sobre a Tormenta. Heheh!

R-E-N-A-T-O disse...

Muito bom texto. Parabéns. Continue a escrever.
Faça o do meu jogo tb.

Aldenor disse...

Lembrando de que quem não me passar suas ações durante esse mês (que podem ser conjuntas ou separadas) agirá do modo bot, ou seja, eu decidirei. MWAHAHAHAHA

S i n n e r disse...

Olla senhores.
Não entendi muito bem essa parte do BG. Muito confusa e provavelmente demanda conhecimentos sobre o personagem que não disponho.
Apesar disso, gostei do texto.
Fica aqui meu incentivo para as pessoas postarem seus BG's e exercitarem o dom da escrita, tão raro hoje em dia.
Abraços e adièau.

PS.: Essa semana está muito atarefada e praticamente não tenho parado na frente do PC. Assim que for pra noite (hoje ou amanhã) a produção de textos deve melhorar. Afinal, tenho ainda o restante da narrativa de ND e o plot de Profecia. Hugs, fui. o/

Aldenor disse...

Recebi as informações de Marins, Renato e Caputs. Falta Ian e Lucas.