quinta-feira, 10 de março de 2011

Crônicas Artonianas II: A Tempestade Rubra #6

Introdução 


O calor do verão castigava aquela pequena cidade-satélite. Aos moradores restava cobrir o rosto, esfregar o suor com o braço e juntar os pedaços de suas almas estilhaçadas pela tragédia que os abateu recentemente.
O prefeito Deikon Heremill havia sido morto, vitima de experiências de um desconhecido algoz. As más línguas diziam que era uma manifestação da Tormenta e que o mundo estava prestes a acabar.
Porém, os pessimistas foram logo contidos pela explosão de entusiasmo do novo prefeito. Escolhido às pressas pela determinação do conselho local, formado pelas famílias mais ricas da vila, o gentil Kalimyr Heremill é o irmão do antigo prefeito. Andrew e Willian estavam na praça principal da cidade quando o novo prefeito se apresentou. Decididos por averiguar a índole do prefeito e ajudar no que fosse preciso, ficaram uns dias na cidade. Quando perceberam a diminuição dos impostos e a ajuda de custo às vítimas dos últimos ataques dos bandidos da estrada, eles partiram.

A Tormenta e outras implicações macabras foram acobertadas para não causarem pânico, mas as autoridades competentes de Valkaria foram alertadas e um contingente novo de milicianos chegou à vila. Willian e Andrew se separaram em seguida, pois o caçador queria se isolar um pouco na mata, ou achar uma mata de verdade.
Andrew estava decidido a continuar a atividade que chama de trabalho e percorreu as estradas pavimentadas de Deheon, visitando algumas das muitas cidades-satélites que circundavam a capital do reino e do Reinado. Sempre interessado em assuntos que seriam muito estranhos, fenômenos sobrenaturais e que não fossem explicados por padres ou magos. E, principalmente, que fossem danosos à mente. A Tormenta era um mal que assombrava sorrateiro e, naqueles dias de verão, se tornou mais raro no caminho de Andrew.
Semanas depois, retornou à capital aliviado de não ter ouvido falar de monstros aberrantes, magos encapuzados estudiosos da Tormenta, ou pessoas infectadas por simbiontes. Ou ele simplesmente não teria olhos e ouvidos treinados o suficiente para perceber a influência rubra? Chegando à capital, procurou a Catedral de Valkaria à noite e aguardou o Vingador Negro, o homem que ele tomou como mentor naquele seu início de carreira.
- Há quanto tempo.
A voz grave e soturna tirou Andrew de seus devaneios paranóicos.
- Estive vigilante pelas vilas mais próximas.
- Eu sei. Está fazendo bem, garoto. Em breve será implacável, mas antes precisa ocultar sua identidade.
- Como?
- Não atraia atenção para si. É o começo. Faça com que pensem que a Brigada Escarlate é um bando com número indeterminado de aventureiros. Primeiro, faça isso.
Andrew ficou pensativo. Antes que pudesse perguntar de novo, fora interrompido.
- Fique atento. Em breve surgirá trabalho novo. E não seja preconceituoso.
Virou a capa e, de repente, não estava mais ali. O que ele quis dizer com preconceituoso?

***

Tudo começou quando estava na cadeia. Preso por ter tentado tocar a estátua de Valkaria novamente, Iliar já fazia planos escalar montanhas, nadar o Rio dos Deuses ou participar de corridas de cavalo em Namalkah. Queria ganhar o mundo. E queria levar seu novo grupo consigo. Não gostava muito do nome Brigada Escarlate, mas admitia que fosse um nome forte. Digno de sua própria força. Dormiu com pensamentos de conquistador.
Acordou com barulho e som de mesas se partindo. Tentou olhar de esgueira de sua cela vazia e viu que havia um minotauro. Rangeu os dentes e cerrou os punhos instintivamente. Não demorou muito para que os milicianos levassem o minotauro para sua mesma cela. Iliar ficou irritado e pediu para ser trocado ou os dois se matariam ali mesmo.
O minotauro não respondeu a provocação e ficou no seu canto, quieto com suas enormes escoriações. Iliar perguntou de sua soltura depois das primeiras horas.
- Você ficará uma semana, garoto. E, da próxima vez que tentar vandalismo estúpido, será um mês.
O miliciano saiu jogando os pratos de sopa para ambos. Iliar estava há horas desconfortável, mas decidiu dignar-se a olhar ao seu colega de prisão. Ele tinha pêlos castanhos claros, cabeça bovina rígida e chifres que contornavam para trás. Imóvel e quieto.
- Então, você tentou escravizar quem?
- Ninguém. – uma palavra seca e nenhum olhar.
- Então, por que está aqui?
O minotauro hesitou se respondia ou não. Por fim, teve uma idéia.
- Prove ser digno dessa resposta.
- Ah, cale a boca. – Iliar foi até a pequena janela com grades e olhou a lua.
- Me acerte um soco e lhe conto.
O coração do garoto bateu forte. Ele poderia bater e sairia ganhando de duas maneiras. Não demorou muito para virar-se e desferir um soco muito bem dado no queixo. O minotauro bateu pesado na parede e quase apagou. Depois riu.
- Impetuoso e forte. Gostei de você.
- E eu não gosto de você.
- Eu sou Potentius. Já ouviu falar de mim?
- Não. E aí?
- É natural que não saiba. Afinal, estive ausente de Arton por muitos séculos e quando voltei, não recebi nenhum cargo de confiança no Império.
Iliar via uma grande interrogação surgir em sua cabeça.
- Eu já fui grande, rapaz. Eu já enfrentei os Libertadores de Valkaria, quando eles eram borra-botas.
- Cale a boca. Se for pra falar besteiras, fique calado.
- Aprenda. Eu fui preso porque precisava falar com você.
Iliar estava de novo de volta à janela, mirando o céu. Tentava não dar importância ao que Potentius falava, mas não conseguia. Seu estômago formigou.
- Ser preso aqui é difícil. Ainda mais se é minotauro. Todos temem que o Império venha bater as portas de Valkaria de novo se algum minotauro for olhado torto. – riu.
- O que quer comigo?
- Como falei, eu era grande, eu era famoso. Mas fracassei anos atrás perante os Libertadores. Agora eu vivo em busca da minha redenção e Tauron me designou várias pequenas missões. Uma delas inclui você.
- Você é totalmente insano. E masoquista. Quer que eu te bata de novo?
- Iliar, você vai matar uma pessoa. E eu vim aqui para lhe dizer quem.
O garoto arregalou os olhos.
Uma semana depois, Iliar estava atordoado, andando pelas ruas de Valkaria. Potentius só falara com ele aquele dia e depois fora liberado, deixando-o sozinho por mais alguns dias, absorto em dúvidas. Segundo o minotauro, ele teria que matar um minotauro de nome Aulus. A recompensa seria “surpreendente”.
- Será?
Passou semanas fora de Valkaria, escalando montanhas e nadando em rios caudalosos.

***

A porta rompeu com o forte chute de Hector. A luz de sua lamparina iluminou aquele cômodo totalmente escuro e coberto de teias de aranha. Emyr adentrou em seguida e seus olhos brilharam naquela escuridão. Ele via tudo, graças à sua ascendência divina.
Aquela era a casa de Brian Redstone, quando ele era jovem, antes de entrar para a Igreja de Tanna-Toh e tentar ser seu paladino. Depois duas semanas de exaustivas investigações, Hector havia conseguido achar uma jovem que se apaixonou por ele quando tinha apenas quinze invernos. Reconstituir a história de alguém é o primeiro passo para se saber de seu futuro. Emyr o acompanhava quando podia. Pelas manhãs, ele tinha suas obrigações para com o clero, de tarde disponibilizava seu tempo com crianças carentes e de noite caminhava com Hector pelas ruas de Valkaria em busca de pessoas e objetos que pudessem pertencer ao passado de Brian.
- Sinto uma aura maligna aqui. Felizmente, não muito poderosa.
Hector tirou seu martelo da cintura levemente. Emyr desembainhou sua espada já acertando um golpe. Hector arregalou os olhos e ficou confuso, pois não via direito. A aura maligna sumiu em seguida.
- Eu já havia visto. Olhe.
Trazendo a lamparina para perto de si, Emyr evidenciou uma bola de carne rubra partida em duas. Por dentro, parecia uma laranja, mas de carne que expelia sangue – ou algo parecido.
- Já vimos isso antes. – lembrava Emyr.
- Helena, a elfa sacerdotisa da Tormenta. – certeiro. Hector maquinava muitas informações ao mesmo tempo.
- Eles estariam conectados?
- Provável. É o mesmo objeto asqueroso. E na mesma cidade. Precisamos descobrir o que é isso. Acho que é a “chave” – pausa constrangedora – para encontrarmos Brian.
Vendo que aquilo atormentava seu amigo, Emyr pousou a mão sobre seu ombro.
- A justiça tarda, mas não falha. Não se preocupe. Com o tempo, as nuvens em sua cabeça clarearão.
Hector suspirou pensativo por segundos e logo lembrou de sua caixa. Ali, com o produto químico certo, preservava as propriedades da matéria e depositou as duas partes daquela aberração da Tormenta. Pensou se levaria para o Clube Vermelho ou se iniciava por conta própria seus estudos.
No dia seguinte, antes que pudesse tomar sua decisão, recebeu uma ordem da Igreja de Tanna-Toh. Uma missão nas terras do Império. Ele contorceu a boca em desprazer.

***

O céu estava coberto de nuvens brancas e feixes de luz cobriam a terra por todas as partes. Súbito, as nuvens se abriram lentamente para que a figura imponente por trás surgisse. Era Khalmyr em pessoa derramando suas bênçãos sobre seus guerreiros.
Abaixo, uma legião de soldados celestiais gritava seu nome e fazia Arton tremer.
Os rostos celestiais regozijavam a cada palavra do Senhor da Justiça. Sua força estava no ápice. Os criminosos seriam punidos e, naquele tempo, o sangue jorrou farto sobre Arton. Sangue dos ambiciosos servos de Valkaria, dos poderosos servos de Kallyadranoch e dos inventivos servos de Tillian.
Emyr abriu os olhos, atônito. Era uma visão, algo que não acontecia desde sua infância. Ele viu um lugar coberto por sombras, mas eram de soldados alados, os soldados divinos de Khalmyr. Esse lugar estava incrustado numa montanha. E havia uma enorme massa florestal logo a frente. Mais nada. Sem respostas.
Olhou para sua mochila e outros materiais de viagem que havia comprado depois de perdido os antigos para gnolls assaltantes. Sentiu os pés formigarem por estrada. Foi perguntar a seu superior, o alto-sacerdote Joseph Ironheart. Ele sabia que a Igreja o via como um prodígio, mas que ele era livre para buscar suas origens. Ainda assim, tudo tinha que ser reportado e notificado. Assim ensinava a hierarquia da Igreja de Khalmyr.
Em uma semana de viagem na estrada, seguindo um grupo de mercadores, Emyr sentiu seu coração palpitar. Estava diante de uma enorme massa florestal com montanhas ao norte. Sentira, era ali.
Sua peregrinação continuou apenas com sua vontade e intuição guiada por Khalmyr. Ou assim ele pensava. Ao chegar às montanhas, depois de passar por uma floresta muito densa, viu uma construção, um templo incrustado. Era branco e tinha marcas do tempo em sua vegetação verdejante que cobria os pilares. A destruição também era inevitável, com vários blocos de pedra espalhados pela entrada.
Caminhando sem pudor e com ansiedade, Emyr trouxe luz com seu poder divino àquele cômodo que só via trevas há séculos. Quando ouviu aplausos.
- Muito bem, “herói” – o tom de escárnio era evidente. Virando seu rosto rapidamente com a mão sobre o punho da espada, Emyr viu uma bela mulher.
- Quem é você?
- Sou seu pior pesadelo. – ela era bela como uma leoa. Seus cabelos eram curtos, loiros como o sol e seus olhos eram amarelados e tinha sardas discretas nas bochechas. Vestia um colete de couro e metal que davam ênfase em sua bela silhueta. Seios volumosos e braços fortes, ela carregava um escudo de metal e um mangual na outra mão. No peito, um amuleto evidente.
- Clériga de Valkaria?
Os dois lutaram com ardor por um bom tempo, até que ela o desarmou. E o beijou com paixão. Emyr, atônito, sentiu algo ancestral surgir na sua alma. O que era aquilo? Com um golpe final, ela o derrubou inconsciente.
Acordou com dor de cabeça e não encontrou nada demais naquele templo. Voltou para Valkaria pensativo.

***

O caçador espreitava sua presa. Estava com suas espadas em punho e a língua já molhava os lábios perante a visão de sua comida que ainda andava. Saltou sobre o javali e ele pouco pôde fazer para evitar a morte.
- Isso que é mata de verdade.
- Fico feliz que esteja satisfeito com a Mata dos Galhos Partidos, meu território.
Era Neldor, o druida de barba e cabelos compridos, brancos. Ao seu lado, um elfo silencioso, Tahndour. Era desconfiado e não dirigiu uma palavra sequer à Willian, desde que ele chegou à floresta, dias atrás.
- Lá perto da cidade eles criam tudo. Eles pensam que podem controlar a vida selvagem.
- São uns tolos. Mas aposto que tu voltarás, certo?
Silêncio, em quanto comia um pedaço de carne.
- Sim. São meus amigos, eu até que gosto deles. Mas espero que viajemos para outras paragens.
A Mata dos Galhos Partidos ficava bem ao sul de Deheon, na divisa com Tyrondir e Ahlen e era famosa por sua vida silvestre abundante. Infestada de plantas tóxicas, cobras e insetos venenosos, lobos, javalis e pequenos felinos. Neldor e Tahndour eram seus únicos habitantes que pensavam, mas se consideravam mais um diante daquela fauna.
Depois que se despediu de Andrew, Willian buscou terras mais silvestres e foi ao sul que conseguiu a paz que queria. Achava-se enferrujado por ter se perdido algumas vezes durante a última aventura que teve com a Brigada Escarlate, e por isso decidira praticar mais. Comeu da própria caça e dormiu do próprio abrigo. Mesmo depois de conhecer Neldor e Tahndour, continuou a viver das próprias custas. Até que precisou lutar contra um lobo e percebeu que sua habilidade de combate estava enferrujada. Sentiu necessidade de melhorar seus movimentos e pensou numa pessoa que pudesse ajudá-lo com isso.
- Ah, Valkaria...
Com um muxoxo, ele retornou à capital e encontrou Andrew na velha Taverna do Pombo Perneta da Praça. Assim, quatro dias se passaram. Willian se tornou um inquilino na casa de Andrew e conheceu Anthony, seu tio. Mas o vira pouco, pois ele trabalhava de dia e de noite. Ambos visitavam Hector e Emyr de vez em quando para saber novidades, exceto na última semana, quando Emyr saiu em viagem. Segundo Joseph Ironheart, “em busca de si mesmo”.

***

Império de Tauron, província de Lomatubar.
- Estes são os aventureiros? – perguntava o enorme minotauro de ombros largos com uma toga ricamente trabalhada em ouro e algodão. Tinha uma coroa de louros, demonstrando poder.
- Sim, meu senhor. Foram indicados pela Igreja de Tanna-Toh e o Protetorado do Reino.
- Não sei, não confio nesses valkarianos...
- Se me permite, meu senhor, será bom para que comecemos a ter boas relações com o Reinado.
- Você está certo, valete. Chame-os.

8 comentários:

R-E-N-A-T-O disse...

Puuuuuuutz. Vamos matar minotauros? Ai ai, isso não deu certo uma vez.

Aldenor disse...

HoHoHOhOHO
Muitas surpresas domingo e com um item mágico de premio hauahuauha

Capuccino disse...

Caraca, Emyr sempre apanha!AHuAhu XD

Mas dessa vez levou um beijo duma boazuda!

Caraaaaaaalho! Conseguiu me surpreender ^^

Mt bom, que venha domingo!

Lucas disse...

HAUhauhuahauhauha

Ia fazer esse mesmo comentário... Lá vamos nós apanhar pra esses mestiços novamente!

Bom post.

Marins disse...

Vamos nada! Vamos bater muito.

Apanhar faz parte qual a graça de ganhar sem um pouco da dificuldade?

Que venham seus fdp!

Vou bater! Com ou sem arma!

Lucas disse...

E ai Marins, aproveitou o lvl novo pra pegar de Monge??? he he he

Marins disse...

ahuhauhauhauhua

infelizmente sou caótico demais, não rola...

mas por conta disso mudei a ordem de talentos.

Aldenor disse...

Tem o talento Arma Natural Aprimorada. Seu soco de 1d4, vai pra 1d6 hehehehe