sábado, 28 de fevereiro de 2009

Os Libertadores - Parte 5 - Final



Ironmaidanael Nasceu em Valkaria antes mesmo que Lenórienn fosse destruída. Sua mãe Lilandravanodel, elfa de família nobre e influente na cidade élfica engravidou de um humano de Lamnor por quem era apaixonada na época. Sua família a expulsou de Lenórienn pela vergonha da mistura e por medo das conseqüências que poderiam ter em seus acordos comerciais com outros elfos. Seu filho foi amaldiçoado pelos clérigos da deusa dos elfos Glórienn por ser mestiço. Lilandravanodel fugiu e procurou a única pessoa fora de Lenórienn a quem poderia recorrer, mas o homem não a aceitou. O homem disse para a elfa que ela tinha sido somente um amor juvenil e de viajantes e que ela não poderia viver com ele, pois ele já era casado com outra mulher e esta humana. Muito magoada e revoltada, Lilandravanodel fugiu para o norte.

Meses de viagem e sua barriga já estava grande a viagem teve que ser interrompida em Valkaria a capital do reinado humano. Ali nasceu Ironmaidanael. Sua mãe o detestava. Ele era a representação de tudo o que ela perdera. Sua vida de nobre, sua vida de elfa. Agora era uma estrangeira em terras humanas e tinha um filho mestiço. Criou ele sem regras e sem amor. Assim que pôde Ironmaidanael fugiu de casa e foi viver nas ruas de Valkaria onde aprendeu a sobreviver com esperteza e pequenos furtos. Sempre fora interessado por magia, porém não tinha dinheiro para pagar pelos estudos. E assim foi crescendo, até resolver acompanhar uma caravana até a cidade de Malpetrim onde a jornada rumo à libertação teve início.

Raça: Meio-Elfo
Classe: Ladino, Mago e Unseen seer
Tendência: Neutro
Divindade: Valkaria
Altura e Peso: 1,76m e 67 kg
Idade: 40 anos em 1401, logo após a libertação de Valkaria
Data de Nascimento: 17/05 (Dantal, mês de Hynnin)
Região de Nascimento: Deheon
Cidade de Nascimento: Valkaria
Talento Regional: Cosmopolita
Idiomas Conhecidos: Comum (Valkar), Élfico, Goblin, Halfling, Anão

Descrição curta: É um elfo fanfarrão nascido e crescido sem o amor da mãe que o renegou por ele ser fruto de um amor não correspondido que arruinou sua vida com os eflfos. Nunca teve o amor que merecia e cresceu nas ruas aprendendo a sobreviver da sua maneira. Muito inteligente sempre teve facilidade no aprendizado e sempre quis aprender magia (coisa que conseguiu durante a Libertação de Valkaria). Seus cabelos são castanhos e muito lisos, seus olhos possuem as cores dos olhos élficos sendo eles de um tom esverdeado próximo a cor das folhas. Tem o corpo esguio e magro herança de seu sangue élfico.

Meio-Elfo, Ladino 9, Mago 2, Unseen Seer 10: ND 21; Humanóide Médio; DV 8d6+12d4+21; 88 PV; Iniciativa. +6; Deslocamento 9m; CA 29 (+9 Destreza, +3 Deflexão, +4 Armadura, +2 Amuleto da Armadura Natural), Toque 22, Surpreso 29 (Não perde os bônus quando Surpreso); Ataque Base +14/+9/+4; Agarrar +16; QE: Ataque Furtivo +10d6, Encontrar Armadilhas, Evasão, Sentir Armadilhas +3, Esquiva Sobrenatural, Esquiva Sobrenatural aprimorada, Invocar familiar, Advanced learning x3, Divination Spell Power +3, Guarded Mind, Visão na Penumbra, Invocar Familiar, Imune a: venenos, doenças, efeitos de morte, efeitos de envelhecimento, dreno de habilidade, dreno de energia, morte por dano massivo e acertos decisivos; AE: Magias; corpo-a-corpo: Espada Curta do sangramento +24 (dano 1d6+3, -1 ponto de constituição, dec. X2) ou Besta de Repetição Obra-Prima +24 (dano 1d10 + 1d6 elétrico); Ataque Total corpo-a-corpo: Espada curta do Sangramento +24/+19/+14 (dano 1d6+3, -1 ponto de constituição, dec. X2) ou Besta de Repetição Obra-Prima + 24/+19/+14 (dano 1d10 + 1d6 elétrico); N; For +10, Ref +18, Von +16; For 14, Des 29, Con 12, Int 20, Sab 10, Car 12.

Perícias e Talentos: Abrir Fechaduras +19, Acrobacia +19, Arte da Fuga +19, Blefar +7, Concentração +16, Conhecimento (Arcano) +15, Conhecimento (Religião) +15, Decifrar Escrita +15, Equilíbrio + 19, Escalar +11, Esconder-se +24, Furtividade +24, Identificar Magias +16, Natação +8, Observar +11, Obter Informação +18, Operar Mecanismo +20, Ouvir +16, Procurar +21, Sentir Motivação +15; Escrever Pergaminhos [Bônus], Acuidade com Arma, Cosmopolita [Regional], Conjurador Experiente, Telling Blow, Tiro Rápido, Tiro Certeiro, Rapidez de Recarga, Magia Silenciosa [Bônus] Maximizar Súbito, Ataque Furtivo Aprimorado [Épico].

Magias Preparadas: (4/6/5/5/4/4/2); CD do teste de resistência 15 + nível da magia): 0 – Abrir/Fechar, Detectar Magia, Ler Magias, Luz; 1 – Armadura Arcana, Aumentar Pessoa, Identificação, Mísseis Mágicos, Detectar Portas Secretas, Sono; 2 – Arrombar, Confundir Detecção, Detectar Pensamentos, Patas de Aranha, Resistência a Elementos; 3 – Bola de Fogo (x2), Relâmpago, Vôo, Idiomas; 4 – Invisibilidade Maior, Pele Rochosa, Tempestade Glacial, Vidência; 5 – Cancelar encantamentos, Olhos Observadores, Teletransporte, Vôo Prolongado; 6 – Desintegrar, Analisar Encantamento.

Recompensa de Valkaria: Como recompensa de Valkaria, Ironmaidanael como bom fanfarrão que é, escolheu passar uma noite com Valkaria em seus aposentos no Calabouço do Desafio, sua morada em seu plano divino Odisséia. Educadamente esse pedido foi recusado pela deusa agradecida e proposto outro pedido. Esse segundo pedido foi aceito. Ironmaidanael foi agraciado com a imortalidade, ele agora é imune a vários efeitos de morte e ainda não mais envelhecerá e terá todo o tempo do mundo para desbravar Arton.

Equipamentos: Espada Curta do Sangramento +1, Besta de Repetição Obra-Prima, Virotes para Besta Elétricos, Aljava de Glórienn, Luvas da Destreza +6, Tiara do Intelecto +4, Amuleto da Armadura Natural +2, Anel de Proteção +3, Braçadeiras da Armadura +4, Manto da Resistência +3, 10 Poções de Curar Ferimentos críticos.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Crônicas Artonianas #34 - Reencontros


Sem narração porque o calor é forte:
***

Na última sessão: Ilendar, Tildror e Margareth se encontraram em Tiberus por acaso e se reuniram, falaram sobre os planos, sobre a missão de acabar com o culto a Tenebra e também foram avisados do perigo de ter que enfrentar um senador. Não que ele fosse um adversário poderoso, mas era uma pedra no sapato dos minotauros e se ele usasse de força política, o grupo seria caçado como inimigo do estado. Depois Moreas quase expôs a verdadeira raça de Ilendar, mas por ela foi impedido na hora. Tildror ficou curioso e ofereceu sigilo. Mas ela disse que falaria para todos, depois. O assunto morreu e foi concentrado para a missão. Ilendar soube da gravidez de Margareth e ela teria que ficar com Moreas para não sofrer riscos.

Lothar encontrou Ilendar e Tildror na porta da Arena Real, discutiram com um minotauro empresário da Escola de Gladiadores e ele descobriu que Lothar era de Bielefeld e era escravo ilegalmente. Foi poupado de suas lutas restantes para conseguir a liberdade e ainda receberia dinheiro de suas lutas anteriores que teria ganho se fosse como um homem livre. Lothar estava com a clériga de Lena que titubeou sobre querer ficar com Gollias ou partir com Lothar. Ilendar e Tildror falaram da missão e a clériga terá seu tempo para pensar.

Então, Tildror, Ilendar e Lothar viajaram com uma nau minotáurica para Tile, onde Kuala-Lampur e Edward estavam. Chegando lá, encontram Kuala-Lampur sendo considerado ídolo dos escravos humanos e campeão de um torneio, recenbendo como prêmio uma lança longa mágica. Ilendar, Tildror e Lothar descobriram que Kuala havia descoberto que sua irmã estava viva e seu senhor, Ikarus, estava juntando o dinheiro que seria para Kuala para contratar informantes para saber do paradeiro da menina. Em troca, Kuala lutava por Ikarus e lutaria mais uma vez em Marmo, a norte dalí, quando Vectora chegasse. Então, houve um contratempo.

Ataques de goblins e três ogros sobre a cidade de Tile. Os minotauros dalí pouco fizeram. Os anões e os poucos humanos livres que tentaram defender a cidade. Mas os Desafiadores do Destino, uma vez unidos, que fizeram toda a diferença vencendo a maioria. Destaque para a combinação de Lothar e Kuala em combate, um cuidado das costas do outro. Uma amizade improvável surgiu forte entre eles. Ilendar usando a cimitarra flamejante de Ahmed, um antigo paladino (o qual ela já havia decidido estudar sobre ele quando houvesse chance) de Azgher. Tildror lutando e, observando os escravos aprisionados, teve uma epifania: ele poderia ser ele mesmo quando estava com o grupo. Sozinho, ele estava preso, tinha que ser herói. Com o grupo, sobrava espaço para que ele fosse ele mesmo.

Após o incidente, os anões foram comemorar com os Desafiadores do Destino, aclamados como verdadeiros heróis de Tile - daquela tarde. Houve um grande churrasco pela noite e até alguns escravos participaram. O grupo descansou por um dia enquanto seus ferimentos cicatrizavam e descobriram que o Charco de Possun, onde havia indícios de existir um templo profano de Tenebra, ficava à leste. Demoraria alguns três dias para chegar às margens do Rio dos Deuses, onde encontrariam uma pequena fazenda de um mercador humano. Lá, eles poderiam conseguir viajar para o Charco de Possun, que demorava, em média, cinco horas.
Viajaram e recuperaram-se da última batalha...

***

Pronto, mudei algumas coisas, fui bem descritivo. Quando for o dia de Crônicas, narrarei como Edward aparecerá para vocês e o contato com o fazendeiro que os levará para a outra margem, ao Charco de Possun.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Um Portal para a morte.


OBS: Garulf é o personagem de Digow. Finalmente ele tomou juizo e trocou aquele nome terrível!!!




O “Rum de Valkaria’’ era um lugar excêntrico, onde nobres comem como os seus e os menos ricos podiam comer o que comem normalmente, sem afetar muito seu orçamento. Cada mesa era iluminada por lamparinas élficas, o que demonstrava a influência, com todo humor e orgulho, da filha com o pai.

Leonar dirigiu-se à mesa que lhe era reservada naquela noite e conheceu Unghart, Garulf e Ikaro.

Após algum tempo de conversa, Garulf nota que na mesa ao lado há um humano prestando atenção na conversa. Junto deste, havia três seres menores, ocupados em algum jogo.

Ikaro vai tirar satisfações com aquele estranho grupo e descobre que os três menores são goblins, mas que estão simplesmente jogando com o humano.

Os quatro voltam a conversar quando, de novo, Kurt nota a mesma atenção daquele homem.

Desta vez, Leonar vai até aquele grupo estranho e fascina o humano com sua música; Unghart põe na mesa uma sacola e dela tira uma espécie de pó brilhante e com ele começa a desenhar símbolos geométricos na mesa.

Leonar consegue fascinar o homem, que ao pedido de Leonar  aceita sentar a mesa do grupo recém formado. Nisto,  os dois dos seres menores (que eram goblins, descobertos por Ikaro) e tentam impedir que ele vá com Leonar. O terceiro fica parado, olhando para uma carta, enfeitiçado.

Neste meio tempo, Unghart vai até a outra mesa falar com o goblin enfeitiçado. Dele tira a confissão de que foram mesmo os goblins que seqüestraram o elfo; mas quando iria adquirir mais conhecimento, uma flecha partindo do outro lado da sala acertou a cabeça do goblin com precisão quase que cirúrgica. Foi como se o arqueiro estivesse esperado o momento certo para atirar a flecha numa reta sem obstáculos, numa sala cheia de pessoas festejando.

A discussão entre Leonar e os goblins acaba em combate. Eles concentraram os ataques em Leonar, até que Garulf e Ikaro foram em socorro e aniquilaram o primeiro. O segundo atacou o humano fascinado e recebeu um ataque de Ikaro, que de forma infeliz passou longe do alvo, quase acertando Leonar. Aproveitando-se da do espaço aberto por Ikaro após errar o ataque, Garulf finaliza o trabalho do Servo de Keenn, o que o deixou irritado.

Enquanto discutem, da janela sai um vulto menor e mata o homem fascinado por Leonar. Antes que o assassino pensasse em fugir, Ikaro o matou.

Passada a confusão, os quatro vasculharam os corpos a procura de pistas. Acharam um punhado de peças de cobre e, no corpo do homem, algumas indicações de como chegar a algum lugar na Favela dos goblins. Após uma rápida análise, Unghart inferiu que estas pistas levariam aos seqüestradores e que eles desejavam que aquele homem chegasse lá.

A taverna tinha sofrido um pequeno ataque. Para a sorte de Marcos, havia alguns aventureiros de passagem na taverna, que auxiliaram em sua proteção. Em troca, o taverneiro ofereceu estadia gratuita para aqueles que o ajudaram.

Unghart e Ikaro ficaram na estalagem, enquanto Leonar foi para sua casa acompanhado de Garulf. O que mancharia sua imagem na Vila Elfica, mas assim teria mais segurança.

Pela manhã, eles se encontraram na taverna “Rum de Valkaria” para comer o desjejum e depois partiram para a Favela. Seguindo todas as instruções, eles logo encontraram o lugar indicado e desceram bueiro abaixo, após um rápido combate com alguns goblins e uma discussão entre Ikaro e Garulf que quase termina em luta. Terminaria, se Unghart não notasse a presença de mais goblins chegando (entre eles, clérigos de Ragnar) e se Garulf não fosse tão paciente.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Os Libertadores - Parte 4


Derfel Cardarn – O poderoso

Nascido Mildred, filho de Camlann e Annwyn , artesãos e mercadores da vila de Mirdan ao norte de Deheon. Muito próxima dos limites com as fronteiras de Zakharov, os habitantes da vila de Mirdan constantemente empreendiam viagens a esse reino, a fim de vender e comprar artigos de necessidade. Camlann, pai do então Mildred, sempre teve em si o desejo forte de conhecer, desbravar e viajar tão comum dos nativos de Deheon. Apesar da falta de talento pra caminhos e direções, ele manteve o hábito mesmo após o nascimento de seu filho único. Numa dessas empreitadas a fim de vender suas peças, coisa que ele fazia a cada três ou quatro meses, Camlann e sua esposa Annwyn perderam-se totalmente na confusão de caminhos e direções da fronteira. Os dias viraram semanas e depois desse espaço de tempo, qualquer ajuntamento humano seria bem-vindo.
Ao avistarem uma aldeia no horizonte, o incauto casal acreditava estar a salvo. Zakharov tinha maus hábitos com os estrangeiros, mas mercadores sempre eram aceitos ou no mínimo, tolerados. O ataque foi rápido e brutal. Saídos de lugar algum, uma dezena de homens bem-armados e extremamente violentos estraçalharam a pequena carroça e seus ocupantes. Camlann foi estripado e Annwyn ferida o suficiente para que não fugisse. A jovem Mildred, então com cinco anos foi abatido, mas não assassinado. Viveria se os deuses assim quisessem.
Levados de volta a vila, Annwyn e Mildred conheceram o terror. Sua mãe foi violentada repetidas vezes em sua presença, com intervalos pontuados por surras tétricas. Sem saber precisar quanto tempo passara, Mildred seguiu nessa rotina pelo que pareceu uma eternidade. Mal entendia o porquê, porém já entrara em certo torpor ante tal violência. Sua alma morria lentamente. Então o dia chegou.
Um fosso no centro da vila, pontuado por estacas e cadáveres em diferentes níveis de decomposição, foi anunciado como seu destino e de sua mãe. Seriam oferendas a um Deus qualquer. O sacerdote lhes apresentou outro nível de dor antes de amarrá-los e levá-los até o fosso. Cantando uma liturgia profana, toda a aldeia presenciava o que seria um festim de sangue em prol de boas colheitas e mesa farta no inverno. O jovem Mildred podia divisar uma palavra repetida por todas as bocas, em todas as orações. Keenn.
Sua mãe foi a primeira vítima. Erguida por sobre a cabeça do sacerdote, foi jogada num movimento lento e ensaiado. O olhar de sua mãe foi a última coisa que o jovem viu. Entrando em um frenesi de violência, atacou o sacerdote assim que ele o erguera. Mordendo e chutando, embolando-se e mastigando, levou-o junto ao fosso. A queda pareceu um flash e quando voltou a si, o silêncio imperava ao redor. Sob seu corpo jazia o tal sacerdote, empalado feito sua mãe. Cabeças pontuaram os arredores do fosso e logo gritos de “Viva!” e “Sinal de Keenn!” inundaram o ar.
Mildred foi retirado do fosso e banhado. Limpo e atordoado foi posto pra dormir na antiga casa do sacerdote, enquanto os homens da aldeia decidiam seu destino. No fim, fora entregue à família de Hatdrau, um fracassado guerreiro que gerara uma prole tardia e adoentada, para ser criado como seu filho. Hatdrau e sua mulher Augheld o rebatizaram de Derfel, em honra ao avô de Augheld. Aos 10 anos, matou um de seus irmãos e aleijou outro durante uma briga. Aos 12, assassinou seu pai após alguns meses de abuso, físico e psicológico. Tomou pra si o dinheiro da família e iniciou viagem até a capital do reino em que se encontrara. Estava em Yuden, numa das aldeias mais afastadas da civilização, onde imperava a lei do mais forte, no sentido mais visceral possível. O desejo de molestar, ferir e matar falava alto em seu coração. Isso unido à necessidade de desbravar em seu sangue acabou por levá-lo até Kannilar, após um ano de viagem. Iniciou seu treinamento formal utilizando-se do dinheiro que tomou da família de Hatdrau e logo tomou gosto pela vida de caserna. Formou-se guerreiro rápido e brutalmente, deliciando seus superiores. Serviu por mais dois anos além do necessário, voltando a Deheon com seus 19 anos para atender ao chamado de seu coração.
Implacável e violento comporta-se como um Yudeniano, porém admira o valor dos que se provam fortes. Uniu-se a um grupo improvável e realizou uma empreitada impossível, libertando Valkaria de sua prisão. Mesmo sendo um Libertador, afastou-se do grupo e hoje vive no reino de Keenn, batalhando por força, poder e uma chance de derrubar o Deus de seu posto. Saqueou os cofres de Valkaria e hoje possui vasta quantidade de itens como acessórios e apoio.

Raça: Humano.
Classe: Guerreiro (sem frescura).
Tendência: Leal e Neutro
Divindade: Keenn, deus da guerra.
Altura e Peso: 1,88 m e 80 kg
Idade: 19 anos em 1401, logo após a libertação de Valkaria
Data de Nascimento: 17/03 (Cyd, mês de Keenn)
Região de Nascimento: Deheon.
Cidade de Nascimento: Mirdan.
Talento Regional: Aventureiro Nato.
Idiomas Conhecidos: Comum (Valkar), dracônico e abissal.
Descrição curta: Derfel é um homem de cabelos longos, castanhos claros, olhar frio e feroz. Alto, ombros largos, possui músculos vastos e poucas cicatrizes, representando suas poucas falhas em suas técnicas de combate. Poderoso e bruto, detesta perdas de tempo. Quer satisfazer o máximo de suas vontades buscando vantagens em tudo que puder, usando todos os recursos possíveis. É disciplinado pela escola yudeniana e metódico em suas técnicas de luta.

Humano Escolhido de Valkaria Guerreiro 21: ND 23; Humanóide Médio; DV 21d10+273; 420 PV; Inic. +15; Desl. 9m; CA 44 (+11 Des, +8 armadura, +5 deflexão, +5 natural, +5 escudo), toque 26, surpreso 33; Atq Base +21; Agr +35; corpo-a-corpo: Shining Star +40 (2d6+19, dec. 17-20/x2); Atq Ttl corpo-a-corpo: Kokusho +26/+21/+16/+11 (2d6+19, +1d6 elétrico, dec. 17-20/x2) e Shining Star +36/+31/+26/+21 (2d6+19, dec. 17-20/x2) e Cadarn +36 (2d6+12, dec. 17-20/x2); AE Arma de Sopro; QE Asas e Toque Vampírico (SM); LN; Fort +30, Refl +22, Vont +16; For 39, Des 33, Cons 37, Int 17, Sab 21, Car 19.
Perícias e Talentos: Cavalgar +25, Escalar +25, Intimidação +30, Natação +25, Ofícios (armeiro) +14, Saltar +35; Aventureiro Nato, Empunhadura Primata, Ataque Poderoso, Separar Aprimorado, Trespassar, Reflexos em Combate, Linha de Frente, Encontrão Aprimorado, Combate Brutal, Saltar e Golpear, Trespassar Maior, Sucesso Decisivo Aprimorado (espada larga), Lunging Attack, Cometary Collusion, Robilar's Gambit, Defensive Sweep, Overwhelming Attack, Combater com Duas Armas, Combater com Duas Armas Grandes, Iniciativa Aprimorada, Investida Atroz [Épico].

Recompensa de Valkaria: Derfel preferiu escolher saquear os cofres de tesouros da deusa Valkaria e vasculhar seu imenso repertório de itens mágicos. Com isso ele adquiriu um vasto repertório de tesouros mágicos.

Habilidades de Escolhido: Arma de Sopro de fogo, 2d6 de dano, CD 33 para metade, 1/2d4 rodadas. Asas (+4 em Destreza, +2 Sabedoria, manobrabilidade: Perfeita), Toque Vampírico (SM, CD 19, 1/dia)

Equipamento: Kokusho (espada larga +5, elétrica e dançarina), Shining Star (espada larga +5 da energia brilhante e defensora), Cadarn (espada larga +5 vorpal), Stig (lança longa +5 afiada, da velocidade e sanguinária), Falcione +5 afiado, defensor e da explosão elétrica, Vestes da Resistência +5, Escudo Grande de Mitral +3 animado da fortificação pesada, Anel de Proteção +5, Amuleto da Armadura Natural +5, Braçadeiras da Armadura +8, Cinturão da Força de Gigante +6, Broche da Saúde +6, Botas da Velocidade, Manoplas da Força do Ogro +2, Trombeta da Destruição, Bastão da Segurança, Anel de Evasão, Lâmina da Sorte, Cubo do Portal, Pergaminho (Caminhar na Água, Círculo de Proteção contra o Caos, Invocar Aliado da Natureza III), Poção de Curar Ferimentos Graves, 4 Poções de Curar Ferimentos Leves, 2 Poções de Curar Ferimentos Críticos, 10 Poções da Velocidade Machado Grande +2, Martelo da Energia Negativa +3, 5 Adagas +3, Espada Longa enorme +3, 12 Espadas Bastardas +3, Cimitarra Imensa da explosão flamejante +3, Rede da Constrição, Cimitarra Grande +3 profana, 6 Falciones +3, 7 Arcos Curtos Compostos Reforçados (+2) +3, 2 Espada Largas elétricas +3, 2 Espadas Largas +2, Espada Larga +2 elétrica, Lança Longa +3, Brunea Grande da Fortificação Moderada +3, Peitoral de Aço +3, Armadura de Batalha +2, 15 Armaduras de Batalha +3, Armadura de Batalha de mitral de Valkaria +2, 13 Cintos da Força de Gigante +4, 10 Mantos da Resistência +2, 11 Amuletos da Armadura Natural +2, 8 Amuletos da Armadura Natural +1, 14 Braçadeiras da Armadura +3, 11 Luvas da Destreza +2, 4 Aneis de Proteção +3, 11 Aneis de Proteção +1, 7 Aneis de Proteção +2, Periapto da Sabedoria +2, Periapto da Sabedoria +4, Bandana +2, 3 Cintos do Monge, 3 Tiaras do Carisma +2, 6 Cintos da Resistência +1, Anel da Queda Suave, Anel de Natação, Mochila, Algibeira, Cantil, Corda de Cânhamo, 14 Bastões Solares, Saco de Dormir, 10 Sacos, Traje de Inverno, 2 Mochilas de Carga IV; 750.000 PO em jóias e pedras preciosas.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Crônicas Artonianas #33 - As Aventuras de Tildror, Margareth e Leonardo


Fazia tempo que não passavam a noite juntos. Margareth e Tildror tinham bastante compatibilidade. O pensamento de um completava o do outro. Eles sabiam mais ou menos o que o outro poderia pensar, sentiam mais ou menos o que o outro sentia. Eram uma dupla que poderia dar muito certo em Ahlen, na Corte do Rei Thorngald Vorlat. Mas Tildror também não era mais livre. Seus amigos, ele soube através de Margareth, haviam sido levados presos por uma estrada para o oeste. Com um pouco de sorte, poderiam alcançá-los, pensava.

O dia amanhecia e eles comeram as provisões que Tildror carregava consigo. Margareth bisbilhotou a mochila dele e descobriu alguns pergaminhos mágicos e uma poção. Indagado sobre os itens, Tildror explicou que se era para ser um aventureiro estaria preparado para tudo. Comprou pergaminhos para se curar e a poção era sua chave para a sua volta aos Desafiadores do Destino. Como ele apenas desapareceu na Noite das Máscaras e não foi mais visto por seus ex-colegas sem dar satisfações, imaginou que não era muito bem visto por eles. A poção era para Peter Lampur, o escudeiro dos Desafiadores do Destino que havia sido transformado em pedra graças à corrupção da Tormenta, naquele fatídico combate em que eliminaram Ibriar Estet. Ele esperava que assim conquistaria a chance de retornar ao grupo e poderia convencer a todos - talvez até a Ilendar - de que estava realmente preocupado com o escudeiro. Era um plano muito razoável. Margareth e Tildror montaram no cavalo e saíram da floresta, passando pelo campo de batalha notando que a carroça do grupo já era uma mistura de cinzas e madeira arruinada. Viajaram pelo leste, pela orla da floresta. Mesmo estando de dia, era de se esperar que não cavalgassem por dentro de uma floresta desconhecida. Ambos tinham se perderiam facilmente. Margareth, então contou-lhe sobre o que aconteceu a Edward. Há algumas noites, quando foram atacados por lobisomens pela primeira vez, Edward acabou sendo amaldiçoado e se transformou em um licantropo. Surpreso, Tildror imaginou em alguma espécie de cura para ele também. Edward era o irmão gêmeo de Thyran, o feiticeiro que fora morto por Tildror enquanto estava sob efeito da loucura de Nimb, e que assumira a missão assim que seu irmão foi morto. Edward, apesar de ser idêntico a Thyran, possuia diferenças gritantes na manipulação da magia. Ambos eram prodígios e haviam um grande poder mágico latente, mas Edward era mais voltado ao combate, sabia lutar muito melhor com armas e trajava armaduras que não afetavam na sua conjuração. Edward ainda estava bastante calado e ausente das decisões do grupo quando Tildror se afastou, então ele imaginava que poderia encontrar um aliado alí, talvez manter um acordo subentendido de lealdade caso conseguisse curá-lo da maldição da licantropia.

Então, Tildror sentiu-se curioso. Ouviu um som de armas se chocando e gritos por Keenn. Seus apurados ouvidos puderam decifrar dentro da miríade de sons da floresta, que Maedhros e Peter Burke estavam se enfrentando naquele momento. Percebeu estar próximo ao acampamento dos Vultos e foi tomado por uma curiosidade que beirava a insanidade. Além do mais, queria ver como Hakma, o jovem líder dos Vultos, encararia aquele combate. Cavalgou subitamente para dentro da floresta sob protestos de Margareth.

Dentro de poucos minutos, avistou um homem peludo com rosto de lobo. Estava sério observando atentamente para os lados. Guiando o cavalo para contorná-lo, Tildror usou toda sua habilidade para conseguir passar desapercebido. Criou uma distração com uma porção de mato que atrapalhou a atenção do lobisomen. Este farejou e pensou sentir algo, mas preferiu confiar em seus olhos que nada viam. Tildror achou uma posição favorável entre árvores e observou a clarera que se formava. Havia alguns barracos feitos de panos e peles de animais. Uma fogueira rudimentar no centro e um pequeno altar improvisado, feito de madeira do lado. Havia um símbolo sagrado de Keenn alí e uma enorme poça de sangue que enxarcava o altar. Havia muitos homens-bicho por alí, todos fazendo um círculo rudimentar para uma batalha de dois servos do mesmo deus. Tildror apurou sua visão e pediu para Margareth calar-se.

Maedhros Russendol estava retalhado de cortes profundos e cauterizados. Sua armadura estava em frangalhos, gastigadas por uma quantidade incontável de golpes. Seu braço direito estava negro pelo sangue e pela queimadura. Estava caindo de joelhos no momento em que Tildror conseguiu ver. Pôs suas mãos no chão para apoiar-se, mas sorria. Sorria pelo combate terrível que teve e pela morte que teria em breve. Há muito havia questionado se o sentido de sua vida era mesmo seguir Keenn, mas sabia que era um caminho sem volta. Sentia a morte próxima. Vomitou puro sangue. Peter Burke estava à sua frente bufando cansaço. Vestia roupas leves, sem sua armadura negra que havia sido alvo da magia de Ilendar, dias atrás. Seu corpo estava castigado por golpes de espada, mas os ferimentos eram bem menores do que os de Maedhros. Sua espada longa brilhava em chamas e seu rosto estava austero.

- Elfo imundo. Receberá aqui teu castigo por desafiar um Lâmina. Volte para o colo de sua fraca deusa.

Desferiu um golpe nas costas de seu inimigo. Profundo e flamejante. Maedhros arregalou os olhos e viu a vida ir embora. Desabou e morreu. Tildror sorriu mostrando os dentes. Um inimigo a menos. Margareth conseguia uma posição para ver, mas ficaria desconfortável sobre o cavalo e preferiu ficar alheia. Tildror ainda viu Peter Burke sorrir para todos e falar que não precisava mais de ninguém alí. Quem quer que o desafiasse, morreria alí mesmo. Um blefe, uma intimidação de guerreiro. Tildror era mestre no engodo com a língua. Notou que ele estava muito ferido, mediu a distância mais ou menos. Pegou sua adaga, olhou com ansiedade e se controlou para evitar qualquer erro. Arremessou sua adaga assim que Peter Burke pegava seu símbolo sagrado e se locomovia para seu corcel negro e armadurado.

A adaga voou livre, passou próximo à orelha de um homem-trigre e encontrou o pescoço, as veias pulsantes do yudeniano. Sangue jorrou espirrado e ele engasgou. Tentou inutilmente estancar o sangramento farto com suas mãos. Olhou para todos os Vultos que nada faziam a não ser observar a queda da Quinta Lâmina de Keenn.

Os Vultos começaram a farejar imediatamente à morte do ex-conselheiro de Hakma, mas nem precisaram de muito esforço. Tildror cavalgou lentamente surgindo entre as árvores com um sorriso cínico. Ele tinha a faca e o queijo na mão. Hakma mostrou-se muito surpreso, mas aliviado. Tildror falou doces palavras sobre a liderança de Hakma para ganhar mais a confiança do jovem líder dos Vultos e para conseguir barganhar os espólios com mais boa vontade. E aparentemente conseguiu. Levou a armadura e as armas de Maedhros alegando sua antiga aliança no grupo dos Desafiadores do Destino - o que era um cinismo sem tamanho, mas passou desapercebido. Levou a armadura completa com cravos de Peter Burke, que apesar de ter sido avariada, ainda era magnífica e o escudo grande metálico, uma vez que os Vultos não trajavam armaduras nem escudos. Estando satisfeito, montou no cavalo e indagou a Hakma para onde deveriam ir para encontrar seus companheiros. O jovem líder dos Vultos respondeu que haviam sido aprisionados em jaulas e sido levados para Tapista, o Reino dos Minotauros, onde provavelmente seriam escravos. Tildror sentiu-se sufocar. Viajar para Tapista demoraria muitos meses, mas como conseguiram chegar lá em um pouco mais de quatro dias? Magia, é claro.

Margareth reclamou mais um pouco sobre a distância e sobre como seria perigoso para ambos chegar em Tapista. Mas pela vida de Tildror, era isso que precisava fazer. Era isso que faria. Cavalgou para longe, saindo da floresta e achando uma trilha numa planície descampada. Atravessou riachos, cruzou campos, avistou pequenos vilarejos e um pouco mais de alguns dias, encontrou o grande rio que marcava a divisa com o Reino da Madeira. Um vilarejo com casebres feito de pedra e madeira e uma suntuosa mansão estava no caminho com um porto. Tildror e Margareth encontraram uma carruagem feita de madeira negra, bonitos corceis brancos domados por um coxeiro. Dentro, havia um nobre menor que cheirava à oportunidade. O casal se olhou e se entenderam. Imediatamente, Tildror era o servo e Margareth era uma nobre que queria visitar parentes na corte de Tollon - confiando que naquele reino de gente rústica havia corte.

O nobre era Hallen Jovignaud, vassalo dos Rigaud e aliado dos Estet. Apesar de parecer ser uma oportunidade para um grande estratagema para enredar o inimigo, Tildror pensou que isso estava longe demais de seus objetivos principais. Ficou frustrado com o pouco tempo que tinha e com suas novas limitações. Foi metódico com seus planos e conseguiu viajar para Tollon com Margareth sem maiores problemas. O Reino da Madeira recebeu o casal de ahlenianos com um sol forte evidenciando o fim do inverno.

Tollon era conhecido por ser densamente florestal e produzir um tipo de árvore de madeira negra que crescia somente em suas fronteiras. Sua madeira negra era de ótima qualidade e, quando usada para fazer armas, eram extremamente letais porque eram capazes de ferir criaturas vulneráveis a magia. A população do reino era trabalhadora, exímios lenhadores honestos que viam no trabalho uma grande missão de vida. As mulheres eram raras e por isso, ficavam dentro de suas casas cuidado apenas dos afazeres domésticos, protegidas em seus claustros. Margareth achou um horror. Em Tollon, Tildror precisava arrumar um jeito de conseguir uma estrada relativamente segura para avançar. Precisava também de um mago ou alguém que soubesse lidar com magia, pois possuia armas, armaduras e escudo que desconfiava ser encantado com magia. Talvez conseguisse um bom preço, talvez mantivesse carregando alguns para dar a seus amigos como prova de boa fé e lealdade. Mas quando pisou em solo tolloniano, viu os casebres de madeira com pessoas simples que vestiam saia xadrez, as barbas, os troncos de árvores sendo carregados nos ombros, notou que alí dificilmente encontraria alguém com o isolamento suficiente para ser um mago. Perdeu algumas horas visitando algumas tavernas para descobrir que teria que andar muito. Entendeu que viajante solitário dificilmente conseguiria viver por muito tempo, pois haviam os trolls inteligentes. Seres brutos, de feições monstruosas que vagavam solitários caçando qualquer tipo de ser vivo para suas hediondas refeições. Haviam os druidas, entretanto. Sábios que viviam para proteger a natureza e orientar as pessoas a viverem em comunhão com Allihanna. Tildror pensou que os druidas seriam um grande obstáculo para o desenvolvimento econômico do lugar, mas decidiu pensar menos como nobre, mais como aventureiro necessitado. Foi a um templo de Khalmyr que encontrou pedir por orientação. Lá, o sacerdote local não parecia diferente do povo. Para um homem santo, era suado e trajava xadrez nas cores azul escuro e branco já desgastado. Disse-lhe que não tinha recursos mágicos disponíveis, mas poderia ajudá-lo a cruzar o reino. Então, Tildror conheceu Leonardo Meliamne e seu lobo Cânin. Druida de Tollon, Leonardo havia conhecido os Desafiadores do Destino semanas atrás e detectou a licantropia em Edward. Mas quando Tildror o conheceu, não sabia nada disso. Tentou tratá-lo com algum respeito por seu título, mas o druida era jovem demais e inocente demais. Lembrava um pouco a Kuala-Lampur, mas notava algumas diferenças filosóficas. Leonardo havia entrado em contato com a igreja de Khalmyr para mostrar que Allihanna era aliada do deus da justiça, que os druidas eram amigos do povo mundano das pequenas cidades. Havia um anão chamado Dhorgarrar Smallfeet, exímio criador de armas, talvez o melhor do mundo, que estava desaparecido. Havia saído de Trodarr, a cidade dos anões e ido para Vallahim, capital de Tollon, mas desapareceu sem deixar notícias. Havia a suspeita dos caçadores locais que um troll havia raptado para algum banquete hediondo.

Tildror aceitou acompanhar e auxiliar com seu sabre o druida. Com sorte, o druida seria um bom lutador e ele não precisaria se expor tanto ao perigo. Em troca, Leonardo o levaria para Lomatubar, pois o jovem druida também tinha assuntos a resolver alí a mando de seu círculo, os Druidas de Tollon. O assunto, tentou descobrir Margareth, era confidencial. "Apenas os druidas entenderiam", dizia. Os três se prepararam e partiram do vilarejo, um grupo improvável.

***

Leonardo era um jovem druida que nasceu e foi cresceu no círculo druídico de Tollon. Conviveu com os mais sábios da ordem e aprendeu bastante sobre a flora, criação de sua deusa, sendo este o assunto que mais gostava. Sentia-se pleno quando em florestas. Seu companheiro, irmão com o qual fora destinado antes mesmo de nascer, era Cânin, o lobo. Ambos eram bastante amigos e se preparavam para servirem como soldados da deusa. Leonardo aprendeu que havia o Coração de Allihanna, artefato de extrema importância para os druidas do mundo, que era escondido em Tollon, numa caverna sagrada. Sua localização, entretanto, era segredo até mesmo para druidas estrangeiros. Leonardo sabia de sua existência, sabia onde era localizado, pois havia sido abençoado com a missão sagrada de proteger o artefato. Leonardo, em breve, se tornaria um viajante onde estaria livre para procurar um lugar para si e para aumentar seu conhecimento perante as maravilhas da flora que sua deusa criou. Até que uma comitiva de druidas de Ahlen os visitou. Aparentemente inofencivos e de dóceis palavras, os ardilosos druidas de Ahlen haviam se corrompido com o modo das cidades. Leonardo, por ser o mais jovem entre os seus iguais, fora seduzido e contou a localização do Coração de Allihanna, pondo em risco a existência de tal artefato. Houve uma guerra entre os druidas e muitos morreram. Leonardo fora banido do círculo, mas percebeu que Allihanna ainda o guiava e estava em seu coração. Sua missão de vida seria ser digno novamente para ser aceito entre os seus. Mas até lá, era mal visto entre os druidas de Tollon. Conheceu pessoas e vilarejos que não conheciam sua situação e logo foi visto como sábio. Recebeu a proposta da igreja de Khalmyr para procurar o anão e talvez salvá-lo das garras do troll. Tildror era um homem que viajava com uma mulher e desejava apenas algum recurso arcano e sair de Tollon o mais rápido possível. Tinha um grupo de amigos que precisavam dele, em Tapista.

Lomatubar era um reino pouco conhecido para ele. Aliás, a idéia de reino para os druidas era estranha. O que definia fronteira para eles eram as florestas e os animais. Ele sabia que Lomatubar era um reino doente e os animais alí sofriam horrendas deformidades. Talvez lá ele pudesse encontrar algo que pudesse estudar nas plantas, talvez alguma notícia de utilidade para seu círculo. Decidiu que seguiria o estranho homem e sua mulher para além de Lomatubar.

***

Partindo do vilarejo, o trio passou por frias florestas de pinheiros de vários tipos. Leonardo as vezes comentava sobre a mudança sutis das florestas e as vezes também se empolgava. Tildror bocejava, mas mostrava respeito ao jovem. Margareth pareceu entretida no início, mas logo se aborreceu e suspirava em reprovação tediosa. A idéia do grupo era encontrar a velha estrada que ligava os anões de Trodarr à capital Vallahim. Talvez na capital Tildror encontrasse um mago no qual precisava, apesar de ter sido advertido de sua extrema raridade.

Leonardo avisou sobre perigo. Margareth sabia que viajando nessas imensas florestas iria encontrar algum perigo, um desafio para aventureiros. Coisa que ela sabia muito bem não ser. Tildror estava ciente de que uma hora iria precisas usar seu sabre e, quem sabe, lutar por sua vida. Olhou para o druida e rezou para aquela divindade que estava flertando com ele fazia tempos para que o jovem soubesse lutar bem. Então, ouviram um uivo engasgado de risada. Surgiu na mata um homem peludo de feições animalescas que lembravam um lobo. Leonardo sussurrou para Allihanna e contou rapidamente aos dois aventureiros de cidade que tratava-se de lobisomens.

Um rápido combate sucedeu. Surgiram outros dois lobisomens, atraídos pelo combate. Mas lutavam de forma desordenada e Tildror e Leonardo foram capazes de lidar com os adversários. Como Tildror temia, Leonardo não era muito melhor que ele no combate. Leonardo usava os músculos para ferir mais e Tildror usava sua sagacidade para atingir onde dói mais. Após esse encontro, Margareth decidiu que não desceria mais do cavalo. Viajaram com mais velocidade. Leonardo, então, começou a encontrar rastros de troll. Eram criaturas horríveis em Tollon que possuiam uma inteligência maligna. Havia sinais de acampamento, de luta e Leonardo julgo estarem próximos de seu destino. Viajaram por mais um dia e meio e encontraram a velha estrada que, aos olhos do casal ahleniano, não passava de uma trilha selvagem e apagada, cheia de mato.

- É aqui. Vamos percorrer um pouco. Cânin me ajudará nessa tarefa. Ele sabe discenir cheiro de anão. Vamos, Cânin.

Tildror suspirou em silêncio pensando se isso não era se afastar de sua divina e ingrata missão de vida. O clérigo de Thyatis lhe disse que morreria caso não cumprisse, mas ainda se sentia vivo. Então, de alguma forma, estava cumprindo sua missão. Apenas no segundo dia viajando pela estrada Leonardo julgou ter encontrado a pista certa. Nesse tempo, Tildror e Margareth discutiam como seria em Lomatubar, se precisariam usar disfarces para conseguir comida e estadia de graça. Então pensaram que não seria muito útil num reino de doentes. Queriam saber qual reino seria a seguir. Encontraram caçadores pelas estradas que os fizeram perguntas simples sobre onde iam e logo saiam do caminho assim que ouviam sobre o resgate à Dhorgarrar Smallfeet.

Então, o grupo avistou uma caverna em meio uma pequena colina, elevada sobre a floresta de pinheiros que, mesmo estando na primavera, gerava um clima frio, quase gélido. O grupo usou luz da única tocha que Tildror possuía e andou lentamente pela caverna. Margareth ficou do lado de fora, num local que fedia a fezes (sob protestos e resmungos), pois segundo Leonardo, afastaria animais perigosos. Andando com os pés furtivos, Cânin, Leonardo e Tildror penetraram na caverna e logo precisavam tapar o nariz. O cheiro era incrivelmente forte e pútrido. Encontraram restos mortais de tudo quanto é tipo de ser vivo, entre elfos e halflings, humanos e anões. Viram pela penumbra uma gaiola com um anão dormindo. Parecia vivo, e era a experança de que fosse quem procuravam. Então, um rugido aguçou os reflexos de todos. Um troll adentrou na caverna, de mãos vazias. Esta grande besta bípede tinha quase o dobro do tamanho de um homem e tinha ombros largos. Sua pele era marrom acinzentado com braços e pernas longas e desajeitadas. Seu couro era borrachudo e seu cabelo era grosso, desgrenhado e parecia contorcer com vida própria. O primeiro golpe foi em Tildror, que estava em seu flanco em questão de segundos. O alehniano sentiu as garras rasgando sua armadura como papel e atingindo seu peito. Sentiu a dor do corte e do jorrar de sangue. Leonardo avançou juntamente com Cânin e ambos desferiam golpes inúteis que não furaram o couro borrachudo. Leonardo usava uma clava de madeira negra, de propriedades mágicas, mas percebeu que não era útil contundir seu adversário. Largou a clava e buscou sua lança nas costas. Tildror se moveu com agilidade, desviando dos golpes da criatura e posicionou-se num flanco oposto de Leonardo. Desferiu um golpe perfeito com o sabre, que encontrou algum órgão do monstro. Ele urrou de fúria e dor. O lobo mordeu-lhe a perna e arrancou um naco de carne podre que cheirava a vegetal. O sangue do monstro era como seiva de árvore. Leonardo desferiu um golpe com sua lança e furou. Sentiu o cheiro e teve uma idéia. O troll estava cercado, mas sentiu a maioria de seus ferimentos se fecharem. Desferiu golpes poderosos em Leonardo que o fizeram voar contra a parede da caverna, provocando um grande estrondo. Tildror arregalou os olhos ao ver os dentes do monstro que se prostravam em desafio a ele. O lobo era um incômodo menor para o troll que parecia se saciar apenas com a carne de seres inteligentes. Tildror desferiu golpes, mas o monstro sempre fechava os buracos. Então, Leonardo orou à Allihanna por fogo e uma esfera em brasa fulminou as costas da criatura. Estes ferimentos não se fecharam.Tildror aproveitou e arrancou uma mão do troll. Leonardo feriu mais e Cânin deu o golpe final. O troll caiu morto e logo sua carne apodreceu e virou cinzas. Trolls eram vulneráveis a fogo. Foram de encontro ao anão e o descobriram vivo, mas dormindo sob efeito de alguma erva anestésica. O jovem druida não encontrou dificuldade para acordá-lo com outra planta.

O anão ficou grato aos dois aventureiros, mas olhou com desconfiança para a mulher que aguardava do lado de fora com um lenço no nariz. Ele contou sobre como era famoso em Doherimm, sobre como mandaram um pedido oficial e formal para que ele permanecesse no reino quando ele decidiu ir embora. Uma vez em Tollon, se apaixonou pelo novo desafio e pela cidade que os anões construíram. Fez uma oficina, a Barba Negra, onde produzia peças incrivelmente poderosas e caras. Disse que no momento estava trabalhando com uma lança que se assemelhava com aquela que estava presa ao cavalo de Margareth - a lança de Kuala-Lampur, mas deixou claro que refutaria qualquer proposta em dinheiro, pois a arma estava preparada para alguém em específico. Esse alguém permaneceu em mistério.

O grupo viajou à Vallahim com Dhorgarrar em apenas um dia, mostrando à Tildror como os trolls estavam ficando ousados. Vallahim era como Tildror havia previsto: decepcionante como capital. Todas as construções eram de madeira e sem ostensividade, como a sede do Conselho de Tollon, centro político importante onde até mesmo suas famílias moravam. A corte em Tollon era muito mais simples e mais sincera. Sutileza e furtividade não eram o modo de Tollon. Na praça central, existe o Monumento aos Mortos, esculpido em madeira na forma de uma montanha. Tratava-se de uma homenagem feita aos colonizadores mortos na vinda para a região que seria fundado o reino. Tildror procurou novamente um templo de Khalmyr e percebeu que o templo de Lena era maior ainda. Mas infelizmente para ele, não havia um mago conhecido residente na capital. Esbravejando, já traçava planos para sair do Reino da Madeira e adentrar o Reino da Praga. Ficaram um dia e Tildror deixou pregado em tavernas um pedido de ajuda para algum arcano. Não era costume do lugar fazer isso, mas ele testou sua sorte. Em vão, aparentemente. Mas descobriu que o reino vizinho era Fortuna, conhecido como o Reino da Boa Sorte. Leonardo, que havia sumido assim entraram na cidade, retornou à estalagem onde Tildror e Margareth estavam dormindo.

- Vou com vocês para Lomatubar e preciso de uma ajuda para encontrar um homem sábio. Os sábios entre os Druidas de Tollon ordenaram que se eu fizesse isso, teria minha culpa expiada e poderia voltar a seu convívio. Se puderem me acompanhar, poderei guiá-los para Fortuna sem problemas.

- Feito. - Disse Tildror, voltando a dormir.

No dia seguinte, seguiram por uma estrada - ou uma trilha quase desaparecida - até as margens de um mangue, onde o solo era de lama escura e mole. Tildror ficou confuso. Como atravessariam um rio tão imenso e tão pouco navegável? Ainda tinha o cavalo que carregava o fardo dos equipamentos pilhados, semanas atrás. Leonardo sentou nas margens e ficou pensativo por horas. As vezes fazia barulhos com a boca, andava de um lado para o outro, sempre com olhar fixo para o rio. Cânin, seu lobo, estava junto do cavalo e parecia começar uma amizade improvável com ele. Horas depois, Margareth estava dormindo e emergiu uma imensa tartaruga. Querendo evitar que ela se desesperasse, Tildror decidiu não acordá-la. Subiram no imenso casco da criatura e atravessaram a noite toda o Rio Kodai, até as margens do outro lado, onde as águas eram mais perigosas e os peixes estavam doentes. O jovem druida agradeceu ao animal e logo Margareth acordou no primeiro raiar de Azgher sobre Lomatubar, o Reino da Praga.

O grupo andou por alguns metros e subiram uma colina e logo decobriram que Lomatubar também era um reino densamente florestal. Diferente de Tollon, o clima já era mais quente e as árvores permitiam que o calor de Azgher torrasse-lhes as cabeças. Suavam com o ar abafado, mas seguiam sem reclamar (muito). Durante dias, Tildror sentia que subia colina acima e resolveu indagar o que Leonardo procurava. Ele respondeu que seria encontrado, quando fosse o momento certo. A resposta foi prontamente detestada por Tildror, que sacou seu sabre e decidiu caminhar com ele em punho. Dias depois, sentiu calos nas mãos e resolveu que seria melhor guardá-lo.

Então, ouviram um barulho. Até então, as florestas pelas quais passavam, denunciavam poucos animais menores que fugiam assustados, mais do que o normal. Leonardo suspeitava que os animais maiores estavam mais agressivos ou doentes. Os animais sabiam disso e fugiam de qualquer coisa. O barulho foi recebido com surpresa para todos. Uma cobra enorme surgiu enrolada numa enorme árvore. O mais impressionante não era seu tamanho agigantado, mas eram as crostas vermelhas que cobriam seu corpo e serviam como uma grande armadura. O olhar era mais feroz do que o normal, a sede de sangue ultrapassava a necessidade natural. Era uma Fera Coral, um animal infectado pela Praga Coral que enlouquecia a todos os animais. O combate foi cruel e Tildror quase morreu recebendo uma grande mordida no ombro e sentindo seu osso quebrar. A cobra evitava os que fosse cercada e o terreno dificultava a movimentação de Tildror, que escorregou mais de uma vez. Leonardo parecia não ter esses problemas e era quem mais machucava o monstro que um dia fora um animal. Margareth cavalgou para longe, desviando dos galhos. Ouviu um rugido de outro animal, provavelmente atraído pelos sons de batalha e resolveu voltar rapidamente a tempo de ver Tildror desferindo um golpe final. O ferimento em Tildror era grande demais e Leonardo disse que estava infectado. Ambos ouviram o rugido de um leão selvagem, provavelmente infectado. Usaram todas as suas forças para correr como nunca e conseguiram achar um local desabitado, cheio de árvores com crostas vermelhas. Leonardo usou um milagre de cura para aliviar Tildror das dores, mas não o suficiente para livrar-lhe da doença. Tildror começaria a sentir os sintomas em alguns dias. Desesperado, ele agarrou Leonardo ordenando que ele fizesse alguma coisa. Sua vida já não era sua e estava fazendo de tudo, arriscando a vida e viajando para conseguir cumprir a missão e manter-se vivo. Não seria uma doença que iria matá-lo. Leonardo disse-lhe que nada podia fazer contra doenças mágicas, produzidas por um mago. Então, veio a idéia de Margareth de ir a uma cidade buscar ajuda. Viajaram por alguns dias e em todos eles, Tildror não pregava o olho. Evitaram algumas Feras Corais e avistaram Barud, a capital de Lomatubar. Metrópole de grande porte, construída para ser uma das mais impressionantes cidades comerciais de Arton, hoje ela estava praticamente vazia. A vigilância nos portões eram rigorosas e tinham ordens para matar qualquer portador da Praga. Quando foram parados em frente às muralhas da cidade e quando um clérigo do Panteão se aproximou com uma tropa bem armada, Tildror notou que seria morto alí mesmo. Então, orou para você-sabe-quem.

- Alto, viajantes. Ninguém infectado pode entrar. Larguem suas armas e permitam a inspeção. - Disse o capitão da tropa. Leonardo abaixou a cabeça, resignado e imaginando que seriam apenas expulsos. Margareth desceu do cavalo mostrando que estava desarmada e pensando em mil maneiras para iludir o clérigo. Ela imaginava que seriam todos mortos. Tildror sentiu o primeiro sinal de febre naquele momento e sentiu também que seu pé estava mais duro: havia uma crosta avermelhada alí. O clérigo se aproximou e orou pelos deuses e um, em específico, enviou um sinal divino mentiroso. Tildror, sob os olhos do clérigo, estava limpo. Ele ainda observou os outros e notou que estavam limpos também. Adentraram na cidade sem problemas. Leonardo ficou confuso, mas Tildror lhe confidenciou que Thyatis o havia salvo, pois estava cumprindo uma missão em seu nome e não seria a lei dos homens que impediriam. Foi uma explicação razoável para o jovem druida.

Andando pela cidade, foram direto ao enorme templo de Lena. Por precaução, dois paladinos impediram os aventureiros e retiraram suas armas. Há alguns anos haviam sofrido um terrível ataque de um servo de Keenn e desde então, não permitiam ninguém andar pelo pátio da igreja armado. Tildror até pensou em algum servo da Sétima Lâmina, mas na verdade, era outro. Um clérigo chamado Hendrick que raptou uma criança chamada Ikaro Madaram. Mas isso é outra história. Uma vez lá, Tildror usou sua lábia para conseguir uma consulta com uma clériga, alegando algum mal que o servo de Allihanna não foi capaz de curar. Sabendo que nenhum portador da Praga poderia entrar na cidade, os paladinos deixaram o grupo entrar. Serynn era a sacerdotiza mais sábia da cidade e soube entender, com serenidade, as necessidades de Tildror que fora obrigado a mentir para conseguir a cura, para continuar seus desígnios divinos em nome de Thyatis. Tildror e também os outros passaram por um ritual de purificação e pela manhã estava curado. Feliz, ele se preparava para partir quando ouviu Serynn chegar. Teve um mau presságio.

- Agora que possui as bençãos de Lena e Thyatis, meu jovem, peço que mande um recado a uma sacerdotisa chamada Gharats Porion em Nimbarann, no maior Templo de Nimb. Está escrito de forma que somente ela entenderá, uma vez que servos do deus do caos, ou da sorte como é reconhecido naquele reino, gostam de divulgar a mensagem do caos. Será a única coisa que lhe pedirei pelo milagre de Lena.

Tildror não encontrou formas de contornar essa nova missão sem que seu disfarce de jovem afortunado pelos deuses fosse rompido. Pegou o pergaminho e nem fez menção de entendê-lo. Guardou na mochila e foi falar com Margareth. Ela estava com uma jovem noviça e riam baixo. Quando ele se fez presente, lhe contaram a novidade.

- Estou grávida de um pequeno Tildror! - O jovem ahleniano sentiu-se sem chão. E mais essa agora? Como ele se comportaria frente a algo assim? A jovem noviça contou-lhe sobre a importância de um bebê na vida de um casal, sobre o milagre da vida. Mas Tildror não conseguia ouví-la direito, apenas na parte de que o bebê nasceria em Cyd de 1404, mesmo mês onde Tildror faria 24 anos.

Margareth parecia feliz e já falava em casamento com urgência, antes que a barriga surgisse. Ela aceitou casar depois de reunir os Desafiadores do Destino, mas em um reino digno, que não fosse Tapista. Petrynia, talvez. A ela foi oferecido que ficasse em Barud até o nascimento do futuro nobre ahleniano, mas ela recusou.

- Quem vai salvá-lo das encrencas na cidade?

Leonardo chegava neste momento. Até então, estava conversando com uma elfa chamada Josielandira Nialandara, druida de Lomatubar, membro dos Exterminadores de Allihanna, grupo responsável por caçar e matar as aberrações que a Praga transformava. Ele conseguiu reunir informações que queria, sobre quem procurava. Avisou a Tildror e descobriram que o caminho era semelhante. Seguiram viagem, saindo dos protegidos (ou nem tanto) portões de Barud. Entraram na floresta abafada e seguiram para o norte. Dias depois, ouviram passos pesados.

Os olhos do jovem druida brilharam de satisfação. Entre as árvores, surgiu uma criatura que era uma árvore com olhos, nariz, boca, braços e pernas. E sua altura era colossal. Azgher desapareceu sob sua altura. Era similar em tamanho à estátua de Valkaria. Tildror tinha o sabre em mãos e segurava o cavalo onde Margareth estava. Sentiu-se estúpido por ficar em posição de combate para uma árvore. Então, a criatura-árvore falou:

- Contemplem a face do Deus Pinheiro, crianças mortais. - com um tom lento e carregado de melancolia.

Leonardo ajoelhou-se e falou palavras numa língua selvagem, incompreensível para Tildror e Margareth. Os casal se entreolhou e esperou. Esperou. Esperou. Leonardo e o Deus Pinheiro conversaram por horas, até que ficasse tudo escuro e as estrelas brilhassem. Depois, pedindo desculpas ao Deus Pinheiro, Leonardo foi falar com o casal.

- Ele é um ent, uma árvore tão antiga e sábia que aprendeu a se transformar numa pessoa. Era ele quem eu tinha que encontrar e graças à Josielandira eu o achei! Ele me disse que antigamente ele era um Deus Menor, mas perdeu seu posto quando a floresta foi abandonada e assolada pela Praga. É triste de se ver, alguém tão sábio, tão poderoso, sozinho nesse meio doentio.

O jovem ficou triste, realmente. Então, um elfo de aparência muito madura, barba (!!!) curta e cinzenta apareceu para os três. Vestia um luxuoso manto feito de folhas verdes que exalavam magia. Conversaram por alguns minutos e logo Leonardo e o Ent se fecharam em sua conversa na língua silvestre. Restou a Tildror ficar atento na floresta e na aproximação de Feras Corais. Margareth dormiu no seu saco de dormir. O dia amanheceu e Tildror acordou num sobressalto. Viu dezenas de criaturas-árvore reunidas, balançando com o vento. Leonardo estava no centro, sorrindo contente. Havia um colar de flores em seu pescoço e algumas raízes cresciam em suas pernas. Esfregando os olhos, Tildror foi checar seu equipamento. Momentos depois Leonardo estava ao seu lado.

- Obrigado por me acompanhar. Agora vamos receber uma dádiva de Allihanna, meu amigo. Vamos beber.

Sem entender muito bem, Tildror conduziu o cavalo com Margareth pela floresta até um riacho que corria livre. No entanto, não era límpido. Havia um bolor vermelho em várias partes, mostrando a infecção da Praga. Leonardo pegou uma caneca feita de madeira e pegou um pouco daquela água. Bebeu e ofereceu à Tildror e a Margareth explicando que antigamente, essa bebida poderia conceder a vida eterna. Hoje, após a Praga, ela apenas mantém livre das doenças naturais. Tildror bebeu e sentiu o gosto de cerveja adocicada. Sem mais delongas, Tildror conseguiu convencer Leonardo de ir embora e deixar para uma próxima oportunidade a conversa dos ents. Partiram em viagem para Fortuna, com um pergaminho escrito de forma incompeensível, para uma sacerdotisa de Nimb. Margareth parecia contente com a chance de ver um templo a Nimb. Em Ahlen, haviam alguns templos, mas tanto povo quanto nobreza não eram muito religiosos.

Eles encontraram uma vila onde pegaram um navio que partiu para Fortuna, atravessando o Rio Daganir. Um dia depois, estavam lá, saltando em uma cidade pequena. Tildror se informou sobre o reino e descobriu que aqui poderiam haver magos, mas como aventureiros aposentados, morando em suas vilas de origem. Nessa cidade pequena, por exemplo, havia Jokkar Helonar, um exímio caçador épico que foi responsável - junto com um grupo de aventureiros - pela destruição de um monstro que parecia uma montanha, chamado de Random pelos campesinos. Sem muito interesse pelas lendas locais, Tildror percebeu que as pessoas eram mais estranhas que em Tollon. Vestiam toda sorte de amuletos no pescoço, carregavam símbolos no braço, nas pernas ou na cabeça. Mais de uma vez viu algum vendedor de amuletos que prometia a vida eterna. Segurou Leonardo mais de uma vez impedindo que ele comprasse algum galho ou amuleto que supostamente vinham da própria Allihanna e protegiam contra animais perigosos.

O grupo pegou uma estrada e se dirigiu ao sul. Pelos cálculos de Tildror, chegariam à Nimbarann, capital de Fortuna, em uma semana. No caminho, passaram por famílias pobres de camponeses que seguiam viagem como uma procissão. Um dia, ele indagou um camponês.

- Estamos seguindo para o templo de Kori-Khodan, o filho de Nimb e Marah. Ele nos dará terras e boa sorte.

Tildror ficou curioso e quis visitar este deus. Não sabia o que esperar. Num mundo em que ele era protegido por Sszzaas, abençoado por Thyatis e Lena, não seria impossível haver um deus ou semi-deus filho de dois deuses maiores. Então, durante um dia de calor, andando pelas planícies, ouviram um piado de águia nos céus. Avistaram uma criatura metade leão, metade águia servindo de montaria para um elfo de cabelos púrpuras, mantos roxos. Sorriso no rosto. Era Peleannor, o mago. A lembrança de Ilendar contando sobre ele veio à mente de Tildror.

Peleannor morreu misteriosamente quando decidiu se separar do grupo para fazer uma caminhada matinal. Ilendar então, decidiu expor a todos que Peleannor não era um elfo, na verdade. Era um tamuraniano que tinha como missão secreta de caçar e matar Kurumada Sano, o monge corrompido. Ele guiava com os aventureiros para ajudá-lo como dívida de gratidão e quem sabe, encontrar pistas que levem à Kurumada. Entretanto, após a morte de Peleannor/Hitsugaya Roki, sua aparência ainda era de elfo. Notadamente, a magia de transformação momentânea deveria passar com sua morte e isso não aconteceu. Nenhum item de transformação foi encontrado em seu corpo. Mistério...

- Guildror Tivanor, meu ex-companheiro aventureiro! - Dizia ele, com um largo sorriso, descendo de sua montaria, um grifo.

- Como sabe meu nome e como me encontrou? - Tildror estava desconfiado e olhou de esgueira para Leonardo para saber de sua reação. Ele parecia apenas em prontidão, aguardando a necessidade de agir. Aparentemente, não entendeu ou não achou importante a mudança de nome de Tildror para Guildror.

- Ora, acha que sou um conjurador de truques baratos? Sou mago! Estudo e por isso sei de tudo. Sei da sua missão divina também. Encontrei um anúncio seu em Tollon e quase chorei de rir! Nunca encontraria um mago num reino de lenhadores.

- Certo, o que você quer, então? Será que veio me ajudar lembrando os velhos tempos?

- Velhos tempos? Te conheci ontem!

- Sete meses, mais ou menos.

- Ah, humanos e suas vidas curtas. Sete meses é o tempo que demoro para pensar numa pequena questão. Bem, aqui estou e sim, venho te ajudar. Mas por um preço, é claro. Posso avaliar a sua pilhagem que fez com a Quinta Lâmina de Keenn e aquele elfo belicoso. E posso ainda te dar uma ajuda extra: teletransporte! Já ouviu falar? - Tildror disse que sim, mas na verdade, fazia idéia do que seria pelo próprio nome. Pensou que seria um transporte mágico mais rápido.

- Sim. Tudo bem. Mas quero comprar pergaminhos para identificação, quero saber por mim mesmo que tipo de encantamento estas armas e armaduras têm.

- Que assim, seja. Voltarei amanhã com dois pergaminhos. Tenho um aprendiz que faz isso pra mim, então não vou exigir mais do que dois dele. Boa sorte!

Peleannor montou no grifo e partiu. Tildror lembrava que o tamuraniano era calado e tímido. Ajudava no que precisava, mas era totalmente diferente deste Peleannor bufante. Tildror explicou a Leonardo quem era o elfo (ocultando sobre como ele morreu e como ele escondia sua verdadeira face de tamuraniano) e convenceu o jovem druida de cumprir a missão de Serynn, a sacerdotisa de Lena de Barud, por ele. Leonardo, então, se despediu dos dois com sorrisos e ganhou um beijo no rosto de Margareth. Tildror apertou sua mão sentindo-se um pouco constrangido, mas sinceramente agradecido. Leonardo e Cânin partiram para sul. No dia seguinte, Peleannor chegou com seu grifo. Mostrou os dois pergaminhos e alguns itens foram identificados. Mágicos, em sua maioria. Satisfeito, pensou na utilidade de cada um deles para o grupo e vendeu apenas aqueles que julgava menos úteis, como o peitoral de aço e a glaive de Maedhros, ambos mundanos. Ficou com a armadura de batalha mágica com cravos de Peter Burke e a espada longa mágica de Maedhros, além da lança de khubariano de Kuala-Lampur. Feito as negociações, Tildror disse que queria aprender o básico de magia. Ele desconfiava que aquele era um impostor, mas decidiu fazer o jogo dele. Peleannor disse que não aceitava mais aprendizes, infelizmente.

Gestos arcanos, palavras mágicas. Um círculo azul formou-se em volta de todos e em seguida uma parede também de energia azul os envolveu. Segundos depois, sentiam seus estômagos revirarem e assim que a parede de energia azul desceu, viram que estavam em outro lugar, mais quente, mais abafado. À frente, viam as muralhas mais altas que já haviam visto em suas vidas. Eram as muralhas de Tiberus, a capital do Império de Tapista, o Reino dos Minotauros. Peleannor sorriu e se despediu com um duvidoso "até breve!" e partiu voando com seu grifo. Para Tildror, Margareth e o cavalo, à frente, o reino da escravidão.

- Iria usar isso em noites tediosas com você. Será útil aqui, "meu senhor" - disse Margareth com um tom de sarcasmo, mostrando as algemas que retirava de sua bolsa de couro de jacaré.

- É por isso que te amo. - Tildror pôs em prática o plano de fazer documentos falsos, que se fossem mostrados rapidamente, não seriam descobertos. Margareth seria a escrava e Tildror, o seu senhor. Queriam aproveitar a escravidão permitida em Tapista para que as portas se abrissem para Tildror. Entretanto, as coisas eram muito mais complicadas que o casal pensava.

Ao longe, viram uma comitiva de minotauros caminhando pela estrada (essa sim, melhor do que em Ahlen, pois era pavimentada com pedra branca, polida e bem feita). Preso a uma corrente, um escravo (?) com panos pesados no rosto, na cores laranjas. Ele notou que fora visto, antes que pudesse fazer qualquer coisa. Margareth estava com as algemas e ficou apreensiva.

- Tildror?!

Foi a voz que saiu do escravo de mantos pesados. Uma voz feminina, mas forçando ser grossa. Muito familiar. Tildror estava com cabelos nas costas e barba negra espessa, mas foi reconhecido. Foi reconhecido por Ilendar.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

O Início da noite.




Arton, 1403.

Noite em Lomatubar.

Um homem ajeita sua brunea enquanto espera alguém. Ao seu lado um jovem careca ansioso. Depois de algumas horas, ouve-se uivos e urros da floresta e um homem faz notar-se aos 2 guerreiros.

“Ai está, as criaturas contaminadas.” Disse o homem.

“Pois bem, tome seu pagamento e cuide da sua vida!” Diz Hendrick num tom feliz, mas intimidador.

Um lobo para Ikaro, um Urso para Hendrick. Os clérigos de Keenn deleitam-se com a batalha mesmo que, para Hendrick, aquele urso não fosse uma batalha boa o suficiente, mas para seu aprendiz, Ikaro, o lobo tinha algum valor simbólico.

Azgher desponta no céu e Ikaro é acordado com o bafo morto de um urso. Num susto, procura sua Alabarda mas vê-se indefeso. Para sua sorte, o urso, que agora esta zumbificado, não lhe fez nada e, passada a surpresa e o sono, ele vê Hendrick rindo da sua cara. Após isso, ambos desjejuam trocando insultos e bravatas sobre os adjetivos de suas respectivas mães, como é de costume toda manhã.

“Rapaz, embora você tenha lutado como uma mocinha contra aquele urso e não seja digno de honra de minha parte, devo-lhe dizer: tem coisas interessantes acontecendo em Trebuck! Uma grande guerra contra a tormenta! Imagine! Até mesmo Keenn gostaria de ser mortal para lutar aquela porra. Veja bem, irei para Deheon, haverá uma reunião entre o clero de Keenn sobre esta peleja. Rapaz, você deve ir nesta porra! Muitas mulheres e muitas brigas! Hhahahah!!”

“Inclusive, tem uma tal de Vanessa. Puta que te pariu! Que afinal, convenhamos, era uma puta sem clientes e sem nada o que fazer para cagar esta porra careca!”

Ikaro responde com um soco bem dado em Hendrick e começa uma breve luta, que termina com o mestre imobilizando o púpilo no chão. E continua:

“Voltando ao assunto... Ora rapaz, você deve ir comigo para Trebuck depois! Posso fazer muitas adivinhações nessa careca lisa aqui! Hahahahaa!!!”

“Pois bem seu viadinho, aquela tal de Vanessa é Keenn de saias! Ela comeria nossos ânus mesmo sem ter o que temos. Quer dizer, o que eu tenho. Alias, você deveria aprender esse tipo de coisa com ela, já que ainda é virgem porquê não possui o instrumental necessário. Hahahahahaha!!!”

Ele solta Ikaro e prepara sua Brunea.

“Então, tu vai comigo lá pra Deheon. Um monte de punheteiros que ficam masturbando-se na frente de uma mulher nua gigantesca! Dizem que ela é Valkaria presa... Enfim, partiremos hoje!”

Partiram viagem. Passariam por Tollon, cidade natal de Hendrick e depois por mais algum reino que ambos não lembravam o nome.


Dias antes, numa bela final de manhã onde Azgher mostra sua face a Arton sem que nenhuma nuvem venha a cobrir seu rosto, um nobre bardo prepara seu almoço na Vila Élfica em Valkaria. Leonarthanael cozinha sua comida de modo despreocupado, sem importar-se como ficará seu gosto. Concerteza, se algum humano passasse perto de sua casa sentiria fome (pelo cheiro), mas há muito tempo Leonar não consegue mais sentir esse tipo de coisa. Nem mesmo consegue ver o sol – existe sempre uma nuvem, que só os elfos notam que impossibilita contemplar Azgher. Dizem que o Deus-Sol é aquele que tudo vê, mas infelizmente ele não consegue ver os elfos.

Enquanto cozinha, Leonar escuta ao longe um som de uma corneta. Um som tão suave que parecia que ele tinha medo de ferir o ar. Apreensivo, olhou pela janela e só viu o cotidiano normal da Vila Élfica, com um clérigo indo de casa em casa passando a palavra de Glórienn, como era de costume.

Foi até este clérigo e lhe perguntou se ele tinha ouvido aquele som. A resposta foi negativa. Perguntou depois que tipo de som seria esse, após reproduzi-lo. O clérigo lhe disse que era o som das cornetas de guerra de Lenorienn. Leonar não pode deixar de conter as lágrimas, afinal, seu pai havia instrumentos mágicos que inspiravam coragem nos guerreiros de Lenorienn. De súbito, reuniu coragem para refletir um pouco mais no assunto e talvez procurar o bandolim do seu pai, Rianneth.

Voltou para sua casa e almoçou. Perdido em pensamentos, não notou que alguém batia sua porta.

“Mestre Leonar!!”

Leonarthanael abre a porte e vê um humano que vestia roupas largas. Concerteza um serviçal de alguma taverna.

“Mestre elfo, venho a pedido do Senhor Marcos, dono da taberna “Rum de Valkaria”. Hoje é o aniversário de sua filha e ele deseja que o senhor toque em sua homenagem.”

Leonar sabia que a filha de Marcos, Marianne, adorava elfos e aceitou o trabalho. Às 7 horas da noite deveria ir até a taberna.

Unghart Unbrond olhava a colossal instante de livros de uma das bibliotecas da Academia Arcana. Procurava um volume que falasse sobre encantamentos. Uma de suas disciplinas menos estudada; talvez ele não gostasse do jeito daquele professor e resolveu pesquisar um pouco por conta própria. Já estava a 30 minutos pesquisando alguma coisa, até que na ultima estante do 5º andar achou um volume que, pensava ele, já estaria sendo usado por outro aluno: o Tratado Universal das Instituições dos Encantamentos Artonianos no Mundo Contemporâneo, de Aldabraz Arnold Artz .

Nachtóó Igueamá. Sob o comando do jovem mago, o livro saiu da instante e parou em sua mão.

“Nada de escadas...” Pensou Unghart.

E lá ficou estudando por horas e horas. O livro era realmente bom, tinha uma linguagem bem rebuscada, mas completo.

Álias, alguns instrutores foram até Unghart e o elogiaram por ler tão bem tal obra. Unghart era bom, mesmo não sendo típico dos anões o uso da magia. O último instrutor que veio até ele era Naldror, o meio elfo. Era o professor um professor generalista, de base.

“Unghart, boa tarde! Como sempre, escolhe muito bem seus livros. Escute, preciso conversar com você por um instante. Venho com uma proposta de trabalho!”

“Fora da Academia?” Unghart indagou.

“Sim. Anteontem enviamos um de nossos alunos à vila élfica para entregar a Anarion, um clérigo de Glórienn, uma esmeralda. Ocorre que esta jóia não é uma jóia qualquer; é um componente de um instrumento a muito usado por um grande herói élfico. Fazendo o trabalho, e nos ajudando depois, a Academia Arcana lhe pagará seus dois anos de estudos aqui e lhe garantirá mais 2. O que acha?”

“Feito.”

Unghart vai até à Vila Élfica falar com Anarion. Segundo instruções de Naldror, ele é um clero de um tempo de Glórienn recém construido. Unghart chegou numa construção bela, feita de mármore e decorada com várias folhas douradas. A construção tinha apenas um andar, mas parece razoavelmente larga. Era um templo bem simples. Ao direcionar-se a porta, um elfo lhe interrompe e pergunta o que quer. Era Anarion. Ele convida o anão para entrar no templo, o que era estranho, devido a arrogância natural dos elfos com não elfos. Dentro do templo, havia um pátio sem nenhuma cadeira e sem nenhum piso. Havia apenas um pedestal a frente é um símbolo de Glórienn desenhado na parede que dava pro pedestal. Ambos conversam por um tempo e Anarion lhe conta que poderia conseguir mais informações com Leonar, um elfo bardo. Ele estaria tocando na taverna Rum de Valkaria hoje.

Sabendo disso, Unghart vai em direção à taverna, ainda impressionado com a hospitalidade do elfo.

Azgher dá lugar a Tenebra enquanto Kurt corria freneticamente por alguma planície de Deheon. Seu destino era incerto: estava nas mãos de Nimb. Deveria retornar às Uivantes quando estivesse poderoso. Deveria iniciar uma cruzada por nada é retornar por e com tudo.

Segundo os anciões de sua tribo, ele era a resposta de um grande enigma, mas deveria ser forte o suficiente para escrever no gelo seu destino.

“Kurt, seu corpo não deve tremer ante o frio de Belugha, sua alma não deve fender ante seu olhar.”

Fora lhe aconselhado que fosse a Deheon. E ele agora estava nas suas muralhas. Após uma conversa com os guardas, ele entra. Pergunta se há algum lugar para descansar, e a guarnição indica a taverna “Rum de Valkaria”.

“Não vá criar confusões hein, hoje é o aniversário de Marianne, filha do dono do local!”

Após as instruções, ele vai até a taverna.

Nisso, ao longe surgem duas silhuetas grandes. O Guarda que atendeu Kurt olha e vê 2 homens indo em direção a cidade. Ele já ia fechar o portão, mas o manteve semi-fechado. O guarda e os homens conversaram e quase saiu briga, como era de se esperar de servos de Keenn. Mas Ikaro e Hendrick estavam de bom humor.

Ambos seguiram até a estátua da deusa, até que viram um homem branco que suava bastante se direcionando a uma construção de 3 andares. Viram também um anão. Quando os 4 se notaram, começaram a ouvir uma musica extremamente bela e triste. Na verdade, não era uma música apenas, era quase que uma aula, um ensinamento, um ditado. De súbito, Ikaro sentiu-se em paz. Perdera a guerra, perdera o ímpeto de lutar, apenas queria sentar e refletir. Unghart lembrou-se de como era bela Doherimm e também de que nunca mais poderia pisar lá. De súbito, sentiu o gosto da cerveja que nunca mais tomaria. Kurt, viu Belugha sofrendo, despencando de algum lugar. Sentiu ainda mais calor, e viu sua terra quente como o inferno. E, de uma certa maneira, entenderam a dor dos elfos.

Mas bela; muito bela era aquela melodia.

Ikaro empurrou Hendrick pro lado e adentrou na taverna. Unghart entrou no local e sentou-se numa mesa e Kurt encostou-se numa parede.

Assim que eles entraram, a música durou mais alguns minutos e depois o bardo parou. Leonar falou com Marianne e anunciou a plenos pulmões:

“Convoco aventureiros para buscar uma jóia pertencente a um grande herói e um item pertencente o meu pai. Aos interessados, estou naquela mesa.”

Crônicas Artonianas #32 - A Saga da Escravidão - Parte II

Edward lembrava dos dois golpes certeiros em seu peito que lhe valeram duas enorme cicatrizes. Percebeu, com surpresa, que a dor do corte não o mataria. O que fez seus joelhos dobrarem foi a perda de sangue. A dormência chegou e logo a inconsciência lhe fez companhia. Não soube precisar quanto tempo esteve desacordado. Apenas sentiu a consciência, distante, voltar aos poucos. E com ela, dor. Sentiu cada membro do corpo lentamente e uma dor incômoda vinha junto. Sentiu uma costela quebrada. Viu formas se delineando na escuridão. Era noite e ele tateou para entender onde estava. A forma circular feita de pedras encaixadas e úmidas e uma altura inalcançável. Estava num fosso. Onde estariam seus companheiros? Tateou mais ao chão. Imaginava estar num fosso seco. Encontrou alguma coisa que se desfez com seu toque. Era um esqueleto. Ao seu lado, algo que poderia ter sido um pão um dia, infestado de vermes. Edward se desesperou ao ver uma nuvem revelando a lua cheia.

Sentiu seu coração palpitar fortemente e a consciência lutando para não se perder. Mas não adiantou. Os pêlos cresceram e ele rugiu a insconciência da loucura sanguinária. Era um lobisomen novamente. Tentou escalar, mas estava com muitos ferimentos. Não conseguiu subir e logo caiu desacordado.

Acordou com estômago embrulhado. Parecia que não comia há muito tempo e as lembranças de sua noite como lobisomen eram dolorosas. Mas era dia e um minotauro apareceu acima. Edward subiu e percebeu que vestia trapos que um dia foram suas roupas. Estava descalço e possuía várias escoriações pelo corpo. Em seu peito jazia a enorme cicatriz em formato de cruz que Peter Burke, a Quinta Lâmina de Keenn fizera. Seus cabelos desgrenhados haviam ficado duríssimos de sujeira. Ele estava imundo, com ferimentos abertos. Retirou alguns poucos vermes que alí prosperavam.

Bastou um dia para descobrir tudo sobre sua nova vida. Ele era um escravo e estava em Tile, uma cidade ao nordeste do Império de Tapista. Uma cidade onde os escravos mais rebeldes viviam. Onde havia mais anões do que o de costume e os ataques goblinóides eram constantes as defesas eram insufientes. Edward conheceu um velho que o ensinou como trabalhar nas minas, em condições insalubres. Ele ficou cerca de uma semana em trabalhos forçados até que sua costela parece de doer muito. Ele pensava em Paco, seu familiar, mas não sabia se seu vínculo empático com o corvo funcionava com grandes distâncias. Então, após acordar para mais um dia de vinte horas de trabalho, ele sentiu que era capaz novamente de conjurar suas magias arcanas. E, surpreso, descobriu estar mais poderoso do que antes. As algemas e a bola de ferro na perna não o prenderiam por muito tempo. Lembrou do duende que o visitou, anos atrás em Pondsmânia e lembrou de sua capacidade de invisibilidade. Agora ela salvaria sua vida, quem diria?

Acordou antes do esperado, ansioso. Recebeu o pão, jogado no fosso onde dormia. Comeu calmamente até que a corda desceu lentamente para buscá-lo. Seria mais um dia rotineiro, se não fosse por seus planos de fuga. Havia combinado na noite anterior com o velho um plano para que ele despistasse o capataz para que fugissem. Ele usaria sua magia e acabou revelando que era um feiticeiro que sabia lutar muito bem. O velho havia enchido-se de esperança. Porém, ao receber as algemas nas mãos e a bola de ferro na perna direita, estranhou receber uma mordaça na boca. Seu carrasco disse em tom sarcástico:

- Você pensa que é esperto, não é?

Edward sentiu os joelhos tremerem. Como havia sido descoberto? O velho, é claro! Maldito velho que o dedurou! Mas, talvez, ele tivesse sido torturado para contar algo. Mas nada disso importava, ele iria apanhar e talvez fosse morto. Esperou a decisão de seus carrascos minotauros sobre o que fariam com ele. Haviam cerca de doze deles na construção de mármore que servia como única milícia daquele local. Lutar alí era suicídio. As algemas e a bola de ferro não eram problemas para sua magia, mas lhe tomariam muito tempo. Sentia seus ferimentos ainda fortes na pele, cheio de marcas. Não entendia nada sobre o que os minotauros falavam. Sorriam e olhavam para ele. Foi levado para um tronco de árvore e foi amarrado para ficar com as costas à mostra. Sentiu a primeira chibatada. Via anões e humanos passando pelo local e logo uma pequena platéia se formou para assistir ao martírio. Edward sentiu suas costas arderem até o limite. Foram em torno de cem chibatadas, contada por seu carrasco na língua "nobre" como costumavam dizer.

A incosciência era o caminho mais fácil. Mas Edward resistiu e ficou acordado. Os minotauros, então, o levaram para a pequena arena. Seria jogado como comida para um leão faminto, capturado na Floresta de Megalokk ao norte da cidade. Sua vida teria fim neste momento.

Então, Kuala-Lampur avistou o amigo da arquibancada, sentado ao lado de Ikarus que lia um pergaminho.

- Ikarus! Olhe! É Edward! É meu amigo alí! - Dizia ele, com tom alto em sua voz.
- Ah, sei. - Ikarus lia um pergaminho sobre o torneio. Queria estar a par sobre as regras do torneio para achar uma brecha.
- Ikarus! Salve-o! É meu amigo! Ele vai morrer! - Insistiu.
- Acalme-se homem! Deixe ele morrer! Não posso fazer nada! Ele é um criminoso! - Irritou-se Ikarus.
- Eu também era, não? Um escravo? Compre-o! - Retrucou Kuala.
- Não. Muito caro fazer algo do tipo. - Finalizou Ikarus, voltando a ler o pergaminho.
- Salve-o! Ou não lutarei! - Kuala avançou sobre seu senhor e pegou o pergaminho que lia. O rasgou. Era uma humilhação pública.
- Seu bárbaro! Fique aí sentado! Esqueceu nosso acordo? Ou sua irmã ou esse seu amigo criminoso! Escolha!
- Não! Keilana-Peni! Salve Keilana-Peni! Mas salve ele também! Vou lhe fazer um homem rico!
Nem mesmo Ikarus soube porque fizera. Talvez o desespero do homem a sua frente havia tocado seu coração.
- Está bem! Mas lute como nunca! Quero que vença o torneio!

Kuala-Lampur desceu em seguida para a arena e abraçou Edward. O jovem feiticeiro de batalha estava magro e muito sujo. Era um trapo humano, correntes e claustro. Foi solto para que lutasse contra o leão com melhor mobilidade. O que viram, assustou seus corações. Era um leão imenso, atroz, uma aberração que apenas Megalokk poderia fazer.

Era um leão imenso que possuia uma juba curta e pelagem fulva. Essa criatura monstruosa tinha protuberâncias ósseas nos olhos e nos ombros e uma crista afiada ao longo da espinha dorsal. E rugia em fúria. Ele mordeu, arranhou. Kuala estocou. Edward explodiu com seus poderes mágicos. Fogo e mais fogo. O leão caiu morto. A platéia gritou satisfeita pela matança. A platéia sempre gritava satisfeita, desde que houvesse sangue e um morto.

Edward abraçou Kuala novamente. Estava feliz por ver um rosto amigo depois de tanto tempo vivendo como se estivesse no inferno. Tomou um banho na praça pública e foi levado para sua nova cela. Alí estava próximo de Kuala-Lampur, apesar de não ter ângulo para vê-lo. Conversavam pouco a pouco sobre o que estavam passando. Kuala-Lampur tivera um pouco de mais sorte. Possuia um senhor que buscava sua irmã enquanto ele lutava e ganhava dinheiro para ele. Edward disse a Gorak, o minotauro que servia como guarda-costas para o senhor de Kuala, que sabia lutar bem. Gorak olhou e pensou em como poderia lucrar com aquilo. Olhou as condições do jovem ex-camponês.

- Você não vale o chão imundo em que caga. Amanhã.

No dia seguinte, outra inspeção. Edward agora comia um pão duro, melhor do que o estragado do fosso, e bebia água todos os dias. Acorada assustado quando abriam a cela. Kuala-Lampur saia constantemente, pela manhã e só voltava a noite. Seu rosto estava severo como sempre, mas menos indignado com sua condição. Edward só ficou realmente bem depois de quatro dias. Gorak abriu sua cela pela madrugada e lhe disse que essa luta era informal, mas mais mortal. Valia de tudo, ou quase tudo. O dinheiro que receberia, algum poderia ser usado para comprar mais comida e bebida para o novo e indesejado prisioneiro. Edward insistiu explicando que não seria saudável sair de sua cela em noites de luna em escudo, pois algo terrível acontecia a ele. Gorak fez pouco caso, mas, por via das dúvidas, estava tranquilo porque seriam quinze dias sem que luna estivesse em escudo.

Edward estava faminto. Um pão por dia eram, de longe, insuficientes. Seu primeiro adversário era um homem com pêlos nos ombros, olhar animalesco, orelhas pontiagudas e presas selvagens. Era um hobgoblin, recém apanhado. Um anão sorria satisfeito por seu novo escravo-gladiador das ruas. Esses eventos eram frequentes em partes estratégicas da cidade, longe do olhar da milícia e do fórum e todo tipo de ilegalidades eram cometidas alí. Edward recebeu uma lança para lutar. Ele observou a arma por alguns segundos e a quebrou com as mãos. Ficou com uma parte sem a ponta metálica. Parecia um bastão ou uma clava. Gorak ficou irritado e quase desistiu. Edward, entretanto, estava de cabeça cheia dessa vida e decidiu mostrar àquelas criaturas que seu poder estava maior, que ele valia muito mais do que o chão em que pisavam. O hobgoblin foi solto e avançou sobre o jovem feiticeiro. Ele ergueu uma mão com displicência e falou algumas palavras mágicas. Em seus dedos surgiram duas esferas de fogo e duas rajadas foram disparadas, em sequência. O hobogoblin incinerou. Apenas cinzas para serem levadas pela brisa que aliviava o calor daquela região de mineiros.

Espanto geral, todos começaram a perder o dinheiro de apostas. Gorak havia investido dois tibares de ouro e recebeu quase vinte. Agora, as apostas ficaram mais equilibradas. Os anões chiavam invocando regras obscuras quando todos sabiam que não havia nenhuma no mundo das ilegalidades. Outros combates foram feitos e Edward analisou que eram muito inexperientes ou simplesmente, mais fracos. A um homem faminto foi dada a chance de testar sua força contra o jovem feiticeiro. Edward poderia estar louco, mas estava achando divertido a impressão que causava. Ou era apenas muito jovem. Sorriu de esgueira e, antes de agir, olhou para trás e mirou Gorak.

- Confie em mim.

Sussurrou palavras arcanas e desapareceu, invisível. Seu adversário arregalou os olhos e ficou confuso sobre o que fazer. Os anões e homens livres reclamavam e se xingavam sobre o que podia ou o que não podia-se fazer. Súbito, ouviram um som de pancada. Edward surgiu do lado e de costas para seu adversário que jazia desacordado no chão com o rosto ensanguentado. Gorak mostrou seu sorriso de minotauro e ganhou mais dez tibares de ouro.

A noite terminou assim, sem maiores problemas. Voltou para a cela, em silêncio e Gorak mostrou seu pagamento pela noite: duas moedas de ouro.

- Fique com elas. Pela lança.

Gorak pensou ter encontrado uma fonte de ganhar muito dinheiro alí e Ikarus talvez não soubesse tão cedo. Na noite seguinte, Edward acordou muito tarde, apenas para ouvir o outro escravo de Ikarus, um homem chamado Grog, reclamar de sua sorte. Kuala-Lampur estava vencendo o Torneio de Tile e provavelmente seria o campeão. Era o favorito de Ikarus, que enriquecia a cada dia. A noite, mais torneios ilegais. Edward vencia sempre dois por noite. Gorak não se arriscava a ferir sua mina de ouro e sempre deixava alguns tibares separados para dar o melhor da comida do lugar para o jovem. Edward achava muito interessante a idéia de ser temido, depois de ser considerado um nada. E, ao mesmo tempo, sentia-se praticando seus novos poderes arcanos. A explosão de chamas que ele emitia pelo corpo e a orbe de eletricidade que ele criava eram suas novas armas mágicas. Com o tempo, ele deixou de usar qualquer tipo de arma e só lutava com suas magias. Eram o suficiente para as lutas.

Até que numa madrugada, quando levado por Gorak para uma de suas lutas, foi emboscado. Enquanto olhava para seu adversário, um homem mundano, foi surpreendido por um saco negro em sua cabeça. Recebeu um golpe de chifres e viu seu mundo girar, literalmente. Gorak ria dizendo que conseguiu vendê-lo por um preço muito grande. Estava satisfeito e muito rico, talvez até mais que Ikarus. Mas quizera o destino que as coisas não acabassem assim.

O comprador de Edward era um homem, cultista de um deus proibido em Tapista: Tenebra, a deusa das trevas. Esse homem vestia mantos negros e seu rosto era oculto por uma núvem de mistérios Gorak havia sido contactado pela manhã que receberia quase mil peças de ouro pelo feiticeiro. Sem questionar os motivos, ele aceitou na hora. Preparou a emboscada para Edward e se descuidou das noites... Era noite de luna em escudo.

Mesmo com o saco negro cobrindo-lhe a cara, seu coração palpitou. Pela primeira vez, Edward se entregou totalmente à transformação. Apenas fechou os olhos para abrí-los já vermelhos, injetados de sangue. Seus músculos incharam e ele destruiu a algema. Os pêlos ainda cresciam quando recebeu um golpe de lança de um minotauro que o escoltava para o barco onde seria levado para um pântano próximo dalí. A lança imediatamente se quebrou. A fera que agora pouco foi Edward desferiu uma série de golpes enfurecidos que retalharam por completo seu captor. Olhou para o outro minotauro que o escoltava com os dentes à mostra. Uma baba escorria farta. Sua visão, rubra de loucura e raiva, percebia com detalhes os movimentos de seu inimigo. O minotauro tentou desferir golpes, mas não conseguiu reagir ao salto do lobisomen. Ele pousou no peito do minotauro e o derrubou no chão. Sem chances de se levantar, tentou se arrastar. O lobisomen pisou em sua perna e destruiu sua armadura nas costas com suas garras. Com sua mordida, arrancou um grande pedaço de carne e mastigou. O minotauro não durou muito mais.

Olhando para trás, o lobisomen viu aquele que era seu comprador. Não entendia mais nada, apenas sentia fome. Uivou alto. O homem estava com seu rosto oculto, mas deixou escapar um sorriso à mostra. Súbito, o lobisomen não via mais seu alvo. Olhou para o corpo do outro minotauro e decidiu satisfazer sua fome. Uivou durante a noite toda e correu em direção do norte.

Então, Azgher surgiu no céu, dissipando aquela loucura selvagem.

Edward abriu os olhos e sentiu-se enjoado. Estava sem camisas novamente, suas calças já bastante largas. Seu corpo estava intacto. Olhou em sua volta e viu apenas uma planície entrecortada por um lago. Levantou e foi molhar o rosto, pensando no que fazer. Lembrava de pouca coisa, lembrava de ter escapado. Pensava em Gorak, que era um maldito traidor, e teve vontade de vingança. Lembrou-se de Kuala-Lampur e que ele corria perigo de vida, vivendo ao lado de um minotauro traiçoeiro como Gorak. Talvez Ikarus fosse também um grande filho da puta. Edward encheu-se de raiva e socou o chão.

- Você precisa ter a mente tranquila e concentrada para despertar seus poderes, seu burro.

Edward olhou para cima, já sabendo quem era.

- Maldito corvo! Por onde andou? Estive vivendo o inferno! Precisei de você!

- Estive distante, pois não podia fazer nada. Agora sinto que você melhorou seu controle sobre a magia arcana, pois também me sinto mais ligado a você. Apareço agora nesse momento de perdição sua para por ordem na sua cabeça. Esqueça a sua raiva. Seus amigos precisam de você. - Era Paco, seu familiar corvo que servia como um mentor.

- Amigos?

- Sim, meu jovem. Ilendar, Lothar Orselen e até Tildror estão em Tile nesse momento. Vou lhe guiar para a cidade novamente e poderá reencontrá-los. Mas lembre-se e repita comigo: "A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena".

- Não vou re

- Vamos, "A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena".

- Ora, eu não vo

- "A vingança nunca é"

- Tá bom! "A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena". Edward sentia-se mais calmo com a situação cômica. Levantou-se e percebeu que suas calças estavam muito frouxas. Paco fez um comentário ou dois sobre isso e caminharam para sul.

***
Sir Lothar Orselen era um cavaleiro recém admitido na Ordem da Luz em Bielefeld. Era um homem de bastante honra que, provavelmente, herdaria o feudo de Bedivere assim que sir Bruenor morresse. Seu filho, Valahad de Bedivere havia se exilado para servir a Keenn e dificilmente voltaria para Bielefeld vivo. Sir Lothar, homem com grande vigor e altivez, estava em Tapista como um escravo. Valia tanto como um bandoleiro. Era um escravo.

Seu senhor, Ghilotan, o mandou para lutar na arena de Calacala. Mas, logo nesta primeira luta, o adversário era Kuala-Lampur. Os dois não lutaram e, para piorar a situação de Ghilotan, seu escravo Lothar matou dois minotauros. Era formidável como lutador, mas agora também um criminoso. Lothar foi ferido até quase morrer e fora levado da cidade. Ghilotan sentiu-se lesado por ter comprado uma mercadoria tão problemática por cem tibares de ouro e recorreu ao Estado. O vendedor autorizado, um humano chamado George, que vendeu também Kuala-Lampur, Ilendar e Edward, foi procurado para que reparasse os prejuízos. George, entretanto, não foi encontrado. O estado, então, comprou este escravo.

Mal sabiam eles que Lothar era um cavaleiro da Luz. A escravidão de súditos do Reinado era proibida em Tapista - com claras excessões de Khubar (considerado um reino bárbaro), União Púrpura e reinos fantásticos demais para que existissem de fato, como Pondsmânia.

Ignorando o fato, os minotauros prenderam Lothar Orselen com correntes e de cabeça pra baixo num penhasco. Acordado, ele começou a escalar até encontrar um minotauro que o ajudou a subir. Soube mais tarde que ficara desacordado por quase uma semana. Soube também que estava numa repartição burocrática que tratava de vender e arrumar donos para os escravos do Estado que sobrevivessem ao castigo. O destino quiz que Lothar fosse encontrado por Gollias Chifres-de-Alabastro, um dos donos da Escola dos Gladiadores, que funcionavam como um sindicado e patrocinavam seus gladiadores, cuidavam, treinavam e davam assistência médica. Mesmo os escravos. Lothar conheceu a esposa de Gollias, Alliany, sacerdotiza de Lena. Não pôde deixar de perceber que era encantadora.

No dia seguinte, viajaram de onde estavam por uma estrada pavimentada com pedras bem colocadas que seguiam infintas pelas planícies. Dez dias depois, alcançaram Tiberus, a impressionante capital do reino de Tapista. As construções feitas de mármore, prédios erguidos por colunas magníficas, arquedutos que controlavam a água pela cidade, a profusão de comerciantes minotauros, humanos, os escravos, o fórum, o Palácio do Prínceps e a Arena Real. Alí, palco onde os grandes gladiadores lutavam fortunas eram trocadas de mãos, fama ou infâmia eram forjadas. Gladiadores novos lutavam, morriam ou sobreviveriam mais um pouco para conseguir alguma notoriedade. Lothar foi conduzido para o seu teste. Se vencesse, seria feito o contrato com a Escola dos Gladiadores e ele poderia se tornar num bom profissional, ganhando algum dinheiro que sobrasse. Em talvez um mês pudesse reunir dinheiro suficiente para comprar a própria liberdade.

Lothar desafiou um minotauro e indagou se era um escravo. O minotauro irritou-se com tamanha ousadia e lutou com bravura. Mas Lothar era experiente tanto com a espada quanto com a lança, que usava no momento. Recebeu alguns cortes no braço e no peito, mas quando decidiu deixar de se preocupar com os movimentos de seu adverário, pôs fim ao combate com um único certeiro e mortal golpe com sua lança. Vitorioso, foi aceito na Escola.

Augustus era um meio-elfo ex-escravo que também foi gladiador um dia. Lutou por sua liberdade e continuou no meio, porque era a única coisa que sabia fazer bem. Ganhou notoriedade e o respeito dos minotauros de Tiberus. Assim, fundou a Escola de Gladiadores com Gollias e um outro minotauro.

- Você é um excelente combatente, mas demora muito a se posicionar no combate. Se preocupou demais com os movimentos do adversário e se permitiu receber estes ferimentos. Num torneio longo, é sempre bom não ser atingido para não acumular ferimentos nas finais. Quando for lutar, desfira o golpe derradeiro logo de cara.

Com essa dica, Augustus e Lothar começaram uma amizade. O cavaleiro da luz nunca contou sobre quem realmente era. Havia falhado em sua missão de proteger as vítimas da Ordem da Lâmina de Keenn e sido vendido como escravo. Realmente, uma desgraça para si. No início pensou que não fosse dar conta, não tinha ânimo para mais nada. Mas conheceu Allieny e suas conversas com ela eram confortantes. Viu o outro lado da sociedade de Tapista, onde havia honra e respeito entre escravos e senhores. Lutou contra o preconceito e viu que deveria fazer a coisa certa em Tapista. Lutar e conseguir sua liberdade com honra.

Um mês passou rápido para o cavaleiro da luz. Estreiou com platéia já dois dias depois de receber um treinamento básico. A multidão de minotauros era grande e fazia barulho de satisfação a cada golpe. Lothar Orselen era um guerreiro poderoso. Venceu com relativa facilidade seu adversário e se feriu pouco. Ainda se acostumava aos poucos com armadura leve que quase nunca protegiam seu corpo. Havia treinado a vida toda para mover seu corpo suavemente quando recebia golpes, pois confiava na poderosa armadura pesada que absorveria a maior parte do impacto. Agora teria que se acostumar a mover mais o seu corpo para que fosse o menos possível atingido. Não havia aprendido isso totalmente, apesar de que seu corpo realmente havia ganho mais agilidade.

E mais resistência. Lothar lutou os outros combates e tinha seu corpo bastante castigado. A platéia se deliciava com a resistência de Lothar e havia alguns que comparavam-no a um minotauro em vigor físico. Logo, ele se tornou numa pequena celebridade para aqueles que adoravam o esporte dos gladiadores. Gollias sempre assistia os combates e sempre cumprimentava o guerreiro por cada vitória. Às vezes lhe dava uma dica ou outra sobre algum golpe ou alguma defesa. Lothar, enfim, se permitiu sentir satisfação. Não concordava com a escravidão, mas aprendeu a respeitá-la em Tapista. A Escola de Gladiadores cuidava dos assuntos extra-arena, cuidando para que ele não ficasse sem nenhum dinheiro por não ter nenhum patrono rico como os cidadãos livres geralmente possuíam. Além de tudo, existiam os hospitais utilizados exclusivamente pelos gladiadores. Alí eles eram tratados para que seus ferimentos se curassem mais rapidamente.

Infelizmente, para Lothar, ele não pôde voltar para Calacala, onde achava que Kuala-Lampur ainda estava porque seu antigo senhor moveu as peças certas para que a filial da Escola de lá não achasse seguro a vinda de Lothar. Poderia haver jogo sujo e o guerreiro humano poderia ser morto de forma traiçoeira. As lutas, então, se limitavam à Arena Real de Tiberus.

Com o tempo, as vitórias foram se acumulando e os feitos de Lothar atingiram a esfera cotidiana das pessoas de Tiberus. Os mercantes levavam notícias para outras cidades de um poderoso gladiador humano que derrotava todos em seu caminho. O guerreiro tinha esperanças de que alguém do seu grupo de aventureiros que conheceu na maldita terra de Ahlen tivesse notícias de seus feitos e viessem encontrá-lo. Não que esta fosse seu principal objetivo ao adquirir fama como gladiador, mas também servia ao propósito.

Houve, então, para os mais sentimentais, o momento mais dramático para Lothar em que ele saiu derrotado e quase morto de um combate. Enfrentara um minotauro muito poderoso, clérigo de Tauron chamado Gerontius Cornelius III, de uma família tradicional nos esportes de arena. Ele era o membro mais jovem da família, mas sendo nobres que eram, nada mais valoroso que derrotar o mais famoso naquele momento dentre a plebe.

O combate fora duro e Gerontius teve muitas dificuldades para vencer. Não ousou orar para Tauron para que não desequilibrasse o combate. Os vigores físicos de ambos os gladiadores foram testados até o fim. Lothar havia adquirido uma resistência invejável pela constância de batalhas, era bastante durão. Gerontius possuia uma resistência também invejável e foi castigado bastante pelos golpes de espada do guerreiro humano. O clérigo de Tauron desferia golpes terríveis com seu machado. Ambos estavam muito feridos e exausto. A multidão era levada ao delírio a cada poderoso golpe dos gladiadores.

Até que Lothar não suportou a perda de sangue e seu corpo demonstrou ser inferior a de um minotauro. Caiu, inconsciente. Sua primeira e única derrota. Mesmo derrotado, ele foi aclamado por ter dado (muito) trabalho a um clérigo de Tauron, o deus da força e patrono de Tapista.

Outras lutas vieram e Lothar jamais perdeu novamente. Foram num total de dezoito lutas com dezessete vitórias. Um dia, ele decidiu ir ao Fórum de Khalmyr. Já faltava pouco para que conseguisse o suficiente para comprar sua liberdade. Assim ele queria mandar uma mensagem à Ordem da Luz para avisar à Bruenor de Bedivere, seu senhor, que falhou em sua missão contra a Sétima Lâmina de Keenn e que voltaria em breve para recomeçar. Após uma tarde no banho púplico para escravos com Allieny - onde ele teve que segurar seu ímpeto para não trair a confiança de seu amigo Gollias Chifre-de-Alabastro - esperando sua vez de serem atentidos no Fórum. Uma vez antendidos, o crime fora descoberto. Lothar Orselen foi descoberto como cavaleiro da luz, súdito de Bielefeld e da Coroa Imperial de Deheon. Não poderia, por lei, ser escravizado. Uma comissão de inquérito seria criada para investigar seu vendedor inicial, George, subordinado a Iqmar Strongfeet. Imediatamente, ele foi liberto. Agora, era um homem livre e nem precisaria lutar mais três vezes e receberia o dinheiro que teria ganho se tivesse lutado como homem livre desde o início. Dinheiro suficiente para libertar Allieny. Ofereceu a chance para ela. Ela titubeou, disse que responderia depois. De qualquer forma, sir Lothar Orselen era honrado demais para fazer a transação às escondidas. Conversaria com Gollias Chifre-de-Alabastro sobre o assunto.

Os dois caminharam de volta para a Arena Real e encontraram, de costas para eles, um homem vestido em mantos pesados de cores branda, outro homem de cabelos negros, cumpridos com roupas práticas de viajante e uma mulher de mantos leves e cabelos castanhos ao vento, obviamente escrava...