terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Crônicas Artonianas #29 - Morte e Thyatis


Azgher ainda estava encoberto pela terra no horizonte quando a carruagem se afastou da carroça dos Desafiadores do Destino. Ilendar e Kuala revesavam-se no controle dos cavalos e Edward abriu seu enorme livro de couro para estudar sob as reclamações e resmungos constantes de Paco, seu familiar. Peter era uma estátua, transformado pelo poder divino de Ilendar para evitar que o simbionte controlasse a vida do jovem ranger. Um dos mantos variados de Ilendar, o mais discreto deles, cubria Peter que jazia deitado num canto da carroça. Margareth estava com eles, com seu leque tentando se ajustar ao saco de dormir, completamente inadequado a uma dama de sua estirpe. Ela não era uma aventureira, mas mostrava a todos que estava feliz em estar alí. Nenhum dos outros tinha ânimo para se dar ao luxo do interesse excêntrico dessa nobre ahleniana. Temiam que os motivos fossem fúteis ou superficiais demais, o que provocaria uma revolta maior.

O grupo se fastava de Thartann, a capital de Ahlen, na manhã seguinte à Noite das Máscaras. Uma das piores noites para eles, como um grupo. Os Desafiadores do Destino tiveram que se sujeitar a pessoas de morais duvidosas, a lugares onde a ética era um mito e onde a honra era uma brincadeira de mau gosto. E enfrentaram um homem muito estranho que era tocado pela Tormenta. Felizmente, fora derrotado numa poça de gosma nojenta em sua carroagem durante a madrugada.

Com as almas cansadas e confusas, os Desafiadores do Destino pensavam na noite anterior como um pesadelo. E partiram rumo a um destino incerto, guiados pelas noções de direção de Ilendar, a clériga de Azgher. Tildror sorria satisfeito na carruagem. Ergueu-se lentamente, esfregando suas costas no veludo confortável do banco da carruagem, planejando como vão ser seus negócios, como serão seus dias. Morar em Thartann seria muito arriscado, tendo sua família como inimiga. Ibriar Estet, ao menos, era um problema a menos. Ele estava com seus ex-colegas de aventuras quando houve o derradeiro embate pela madrugada, mas disfarçado sob a alcunha de algum nobre bêbado qualquer. Viu com estranhamento a petrificação de Peter e sentiu um terror estranho. Parecia se preocupar um pouco.

Saiu da carruagem e foi tratar de negócios. Evitava ser visto o máximo possível, planejava escrever cartas à Alondy, seu confiável contato em Gorendill. Queria incriminar Radammyr, hoje falecido, de ser um cultista de Sszzaas. Livraria de Gilban uma acusação, mas não seria suficiente para libertá-lo, pois o achbuld também era um dos artigos comerciados por ele. Com algumas horas pelas ruas, encontrou as pessoas certas, conversou e falou as coisas certas. Foi levado de um fundo de uma taverna para um compartimento secreto de uma loja de animais. Conheceu o porão de um posto da milícia na área mais humilde da cidade e, então soube a quem deveria tratar e conhecer.

Nathaniel era um mercador de pele, vendia casacos luxuosos, roupas e acessórios feitos de pele de animais para os mais ricos nobres da Corte de Ahlen e além. Mas também era um dos fornecedores de achbuld de Holdinnar Ruvtenn, líder da Rosa de Ahlen. Tildror tinha tudo nas mãos: havia entrado na Guilda de Ladrões de Gorendill e recebeu a permissão do próprio nogram para comercializar achbuld fazendo a primeira conexão da Rosa de Ahlen para o Reinado. O nogram era ninguém menos que o Camaleão e ele demonstrou interesse no negócio. Durante a Noite das Máscaras, Tildror e Holdinnar conversaram e acertaram o negócio. Tudo que ele precisava fazer era falar com um dos vários fornecedores que eram controlados pela Rosa de Ahlen e tudo estaria perfeito. Tildror enriqueceria como nunca. Alguns sonhos de alcançar a alta nobreza as vezes o consumiam um pouco de tempo.

Nathaniel e Tildror discutiram os detalhes num quarto escuro e aparentemente vazio, com uma parca iluminação de uma vela. Cenário sombrio e perfeito para a situação. Um plano maligno se concretizava. Afinal, tudo o que importa é o tilintar das moedas de ouro. O acordo fora selado mais do que com palavras. Uma magia estranha ligou Nathaniel e Tildror. Um não poderá faltar com o outro. As consequências são as de praxe. Tildror saía, pensava em contratar aventureiros para o primeiro carregamento. Pensou de novo: "Aventureiros? Estou realmente mudado para confiar nessa laia... Alondy saberá escoltar o carregamento na rota segura."

Haveria um Baile da Ressaca, conhecido por ser festejado apenas pelos nobres onde uma regra obsoleta e convenientemente esquecida dizia que nenhum sangue azul poderia usar máscaras ou maquiagem durante o evento. Nathaniel sugeriu que se encontrassem no final para acertar os detalhes, coisas como documentos falsos para uma mercadoria falsa, para despistar os Patrulheiros da Deusa, cavaleiros e paladinos de Valkaria que vigiavam o perímetro do reino de Deheon. Mas Tildror preferiu encontrá-lo depois, na praça principal e assim foi. Nathaniel disse pela manhã que apresentaria um amigo, mas estava sumido há várias semanas. Seu nome era Peter Burke, um yudeniano, ninguém menos que a Quinta Lâmina de Keenn.

A noite já era bastante velha e Tildror decidiu encerrar suas preocupações. No dia seguinte, enviaria mais uma mensagem cifrada para Alondy explicando mais detalhes sobre a transação comercial. Ele já podia sentir o tilintar do ouro. Lembrou-se de Margareth, seu elo com os Desafiadores do Destino. Sentiu que ainda ouviria falar de seus feitos.

Dia seguinte, após o desjejum, foi escrever a carta para Alondy em seu quarto. Ouviu uma explosão peculiar. Péssimas lembraças vieram à sua cabeça. Savanna era um nome em sua mente. Ficou parado por alguns segundos. Foi lento e se surpreendeu por isso. A porta explodiu com outra explosão de pólvora. Savanna aparecia guardando sua pistola no coldre enquanto sacava outra com outra mão.

- Eu disse que nos veríamos de novo! - Disse ela com um sorriso despreocupado no rosto, enquanto mirava a cabeça de Tildror.

- Duzentos tibares de ouro e vamos conversar. - Tildror pedia por sua vida com um sorriso nervoso.

- Ah, rapaz, você não vai me comprar com isso. Tenho uma bala especial para você.

- Trezentos tibares de ouro e quem está querendo me matar?

- Vamos lá, Tildror, não adianta. Quais são suas últimas palavras?

- Quatrocentos tibares de ouro! - olhos arregalados, coração a mil.

- Dez mil tibares de ouro, Tildror! - gatilho puxado.

- Dez mil?! - Surpresa superando por um segundo o medo de morrer.

- Sim, seu inimigo realmente te odeia. Adeus.

Outra explosão impulsinando uma minúscula bala de ferro. Ela atravessou o peito de Tildror. Um gemido de dor curto. Consciência escapando aos poucos. Então, isso era morrer?

***

Abriu os olhos e demorou para se acostumar com a luz numa sala fechada com paredes brancas. Estava morto? Era algum reino divino? Não parecia ser o inferno de Sszzaas. Mas então olhou um homem de cabelos e barba branca, olhos vivos e castanhos. Ele vestia mantos brancos com detalhes em laranja. Uma fênix desenhada no peitoral.

Ele explicava com entusiasmo juvenil que era um clérigo de Thyatis, o deus da ressurreição e profecia. Disse que ele havia sido agraciado pela benção da segunda chance, e teria que cumprir uma missão, um desafio, para manter sua nova vida: seguir os Desafiadores do Destino e mantê-los unidos, a não ser que pereçam por suas próprias escolhas.

- Você só pode estar de sacanagem, não é?

Tildror reviu sua vida passar como um filme. Tudo que tinha feito, tudo que tinha acontecido com ele até o momento. Para nada? Agora tinha uma vida que não era dele, uma missão que não tinha intenção de cumprir. Teria muito mais dificuldade para tratar de seus negócios... Se não cumprisse o que devia fazer, morreria e nunca mais poderia ser ressucitado.

Sem escolhas, deixou determinado algumas ordens e comprou equipamento. Sabia que teria que reconquistar a confiança dos ex-colegas. Partiu a cavalo.

Dias depois, encontrou uma floresta que parecia ser bastante curta, quase um bosque. Mas um dia inteiro de cavalgada provou o contrário.

Acordou num susto, de frente para um homem de penugem curta, olhos felinos, rosto de gato. Era Hakma, o líder dos Vultos, grupo de licantropos que tentavam sobreviver em Ahlen ocultando sua verdadeira natureza e que haviam aceitado a "ajuda" de Peter Burke como conselheiro para ensiná-los a se defender.

Hakma explicou para que Tildror fugisse para salvar sua vida e que os ex-colegas de Tildror haviam sido massacrados pelos Vultos, há quatro dias. Tildror usou sua língua persuasiva para tentar minar a organização dos Vultos e ferrar com a vida de Peter Burke. Conseguiu o que queria, mas não ficou muito satisfeito com a forma que Hakma contestaria a liderança do grupo: um desafio em combate. Se ele bem sabia que como um servo de Keenn era bastante treinado para o combate e Hakma era bastante jovem.

Então, Maedhros apareceu. Tildror surpreendeu-se sacando seu sabre e mantendo distância. Maedhros explicou que se desligou dos Desafiadores do Destino para matar um a um da Sétima Lâmina de Keenn para tomar sua liderança, à sua maneira. Desafiaria Peter Burke. Ele e Hakma se afastaram deixando Tildror confuso. Queria saber onde estavam seus colegas, aqueles que ele teria que manter unidos para que ele se mantesse vivo. Encontrou o campo de batalha, no final da floresta. Não havia nada, apenas um chão castigado e marcas de sangue em todo lugar. Perto, a carroça que um dia fora dos Desafiadores estava queimada, quase cinzas. Mas ele encontrou na orla da floresta um pedaço de vestido. Seguiu o rastro e encontrou uma caverna escura. Acendeu sua única tocha e viu Margareth deitada. Pelo susto, ela levantou o falcione de Ilendar, mas o abraçou assim que o reconheceu. Havia a espada de Lothar e a lança de Kuala alí também.

Ambos conversaram e Margareth teve planos de voltar à Thartann e começar uma nova vida vendendo os equipamentos dos antigos companheiros. Mas Tildror, infelizmente para ambos, não poderia. Seu destino estava laçado com o destino de Kuala-Lampur, Ilendar, Edward, Lothar e Peter. Margareth demorou a entender, se é que entendeu mesmo. Talvez para ela o coração de Tildror estava mais aventureiro do que ele mesmo imaginava.

6 comentários:

Marins disse...

show!

gostei mt!

Dudu disse...

Tildror ama a gente!
Tildror ama a gente!

La, la lala lá!

ahuuhahuahuahuahu

PEI!
QUERO SABER O QUE ACONTECEU COMIGO!!!!

R-E-N-A-T-O disse...

Caraleo... que zona q aconteceu em uma sessão! ahuahuahuaha
O mundo tá se acabando!

Marins disse...

eu morri com uma bala!

Capuccino disse...

Eu sempre soube que Tildror era um cara legal!

Dudu disse...

Queria 20 tiros?
Ta achando que é o que? Baterista dO Rappa?

Tu-dum Pishh!!