sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Crônicas Artonianas #32 - A Saga da Escravidão - Parte II

Edward lembrava dos dois golpes certeiros em seu peito que lhe valeram duas enorme cicatrizes. Percebeu, com surpresa, que a dor do corte não o mataria. O que fez seus joelhos dobrarem foi a perda de sangue. A dormência chegou e logo a inconsciência lhe fez companhia. Não soube precisar quanto tempo esteve desacordado. Apenas sentiu a consciência, distante, voltar aos poucos. E com ela, dor. Sentiu cada membro do corpo lentamente e uma dor incômoda vinha junto. Sentiu uma costela quebrada. Viu formas se delineando na escuridão. Era noite e ele tateou para entender onde estava. A forma circular feita de pedras encaixadas e úmidas e uma altura inalcançável. Estava num fosso. Onde estariam seus companheiros? Tateou mais ao chão. Imaginava estar num fosso seco. Encontrou alguma coisa que se desfez com seu toque. Era um esqueleto. Ao seu lado, algo que poderia ter sido um pão um dia, infestado de vermes. Edward se desesperou ao ver uma nuvem revelando a lua cheia.

Sentiu seu coração palpitar fortemente e a consciência lutando para não se perder. Mas não adiantou. Os pêlos cresceram e ele rugiu a insconciência da loucura sanguinária. Era um lobisomen novamente. Tentou escalar, mas estava com muitos ferimentos. Não conseguiu subir e logo caiu desacordado.

Acordou com estômago embrulhado. Parecia que não comia há muito tempo e as lembranças de sua noite como lobisomen eram dolorosas. Mas era dia e um minotauro apareceu acima. Edward subiu e percebeu que vestia trapos que um dia foram suas roupas. Estava descalço e possuía várias escoriações pelo corpo. Em seu peito jazia a enorme cicatriz em formato de cruz que Peter Burke, a Quinta Lâmina de Keenn fizera. Seus cabelos desgrenhados haviam ficado duríssimos de sujeira. Ele estava imundo, com ferimentos abertos. Retirou alguns poucos vermes que alí prosperavam.

Bastou um dia para descobrir tudo sobre sua nova vida. Ele era um escravo e estava em Tile, uma cidade ao nordeste do Império de Tapista. Uma cidade onde os escravos mais rebeldes viviam. Onde havia mais anões do que o de costume e os ataques goblinóides eram constantes as defesas eram insufientes. Edward conheceu um velho que o ensinou como trabalhar nas minas, em condições insalubres. Ele ficou cerca de uma semana em trabalhos forçados até que sua costela parece de doer muito. Ele pensava em Paco, seu familiar, mas não sabia se seu vínculo empático com o corvo funcionava com grandes distâncias. Então, após acordar para mais um dia de vinte horas de trabalho, ele sentiu que era capaz novamente de conjurar suas magias arcanas. E, surpreso, descobriu estar mais poderoso do que antes. As algemas e a bola de ferro na perna não o prenderiam por muito tempo. Lembrou do duende que o visitou, anos atrás em Pondsmânia e lembrou de sua capacidade de invisibilidade. Agora ela salvaria sua vida, quem diria?

Acordou antes do esperado, ansioso. Recebeu o pão, jogado no fosso onde dormia. Comeu calmamente até que a corda desceu lentamente para buscá-lo. Seria mais um dia rotineiro, se não fosse por seus planos de fuga. Havia combinado na noite anterior com o velho um plano para que ele despistasse o capataz para que fugissem. Ele usaria sua magia e acabou revelando que era um feiticeiro que sabia lutar muito bem. O velho havia enchido-se de esperança. Porém, ao receber as algemas nas mãos e a bola de ferro na perna direita, estranhou receber uma mordaça na boca. Seu carrasco disse em tom sarcástico:

- Você pensa que é esperto, não é?

Edward sentiu os joelhos tremerem. Como havia sido descoberto? O velho, é claro! Maldito velho que o dedurou! Mas, talvez, ele tivesse sido torturado para contar algo. Mas nada disso importava, ele iria apanhar e talvez fosse morto. Esperou a decisão de seus carrascos minotauros sobre o que fariam com ele. Haviam cerca de doze deles na construção de mármore que servia como única milícia daquele local. Lutar alí era suicídio. As algemas e a bola de ferro não eram problemas para sua magia, mas lhe tomariam muito tempo. Sentia seus ferimentos ainda fortes na pele, cheio de marcas. Não entendia nada sobre o que os minotauros falavam. Sorriam e olhavam para ele. Foi levado para um tronco de árvore e foi amarrado para ficar com as costas à mostra. Sentiu a primeira chibatada. Via anões e humanos passando pelo local e logo uma pequena platéia se formou para assistir ao martírio. Edward sentiu suas costas arderem até o limite. Foram em torno de cem chibatadas, contada por seu carrasco na língua "nobre" como costumavam dizer.

A incosciência era o caminho mais fácil. Mas Edward resistiu e ficou acordado. Os minotauros, então, o levaram para a pequena arena. Seria jogado como comida para um leão faminto, capturado na Floresta de Megalokk ao norte da cidade. Sua vida teria fim neste momento.

Então, Kuala-Lampur avistou o amigo da arquibancada, sentado ao lado de Ikarus que lia um pergaminho.

- Ikarus! Olhe! É Edward! É meu amigo alí! - Dizia ele, com tom alto em sua voz.
- Ah, sei. - Ikarus lia um pergaminho sobre o torneio. Queria estar a par sobre as regras do torneio para achar uma brecha.
- Ikarus! Salve-o! É meu amigo! Ele vai morrer! - Insistiu.
- Acalme-se homem! Deixe ele morrer! Não posso fazer nada! Ele é um criminoso! - Irritou-se Ikarus.
- Eu também era, não? Um escravo? Compre-o! - Retrucou Kuala.
- Não. Muito caro fazer algo do tipo. - Finalizou Ikarus, voltando a ler o pergaminho.
- Salve-o! Ou não lutarei! - Kuala avançou sobre seu senhor e pegou o pergaminho que lia. O rasgou. Era uma humilhação pública.
- Seu bárbaro! Fique aí sentado! Esqueceu nosso acordo? Ou sua irmã ou esse seu amigo criminoso! Escolha!
- Não! Keilana-Peni! Salve Keilana-Peni! Mas salve ele também! Vou lhe fazer um homem rico!
Nem mesmo Ikarus soube porque fizera. Talvez o desespero do homem a sua frente havia tocado seu coração.
- Está bem! Mas lute como nunca! Quero que vença o torneio!

Kuala-Lampur desceu em seguida para a arena e abraçou Edward. O jovem feiticeiro de batalha estava magro e muito sujo. Era um trapo humano, correntes e claustro. Foi solto para que lutasse contra o leão com melhor mobilidade. O que viram, assustou seus corações. Era um leão imenso, atroz, uma aberração que apenas Megalokk poderia fazer.

Era um leão imenso que possuia uma juba curta e pelagem fulva. Essa criatura monstruosa tinha protuberâncias ósseas nos olhos e nos ombros e uma crista afiada ao longo da espinha dorsal. E rugia em fúria. Ele mordeu, arranhou. Kuala estocou. Edward explodiu com seus poderes mágicos. Fogo e mais fogo. O leão caiu morto. A platéia gritou satisfeita pela matança. A platéia sempre gritava satisfeita, desde que houvesse sangue e um morto.

Edward abraçou Kuala novamente. Estava feliz por ver um rosto amigo depois de tanto tempo vivendo como se estivesse no inferno. Tomou um banho na praça pública e foi levado para sua nova cela. Alí estava próximo de Kuala-Lampur, apesar de não ter ângulo para vê-lo. Conversavam pouco a pouco sobre o que estavam passando. Kuala-Lampur tivera um pouco de mais sorte. Possuia um senhor que buscava sua irmã enquanto ele lutava e ganhava dinheiro para ele. Edward disse a Gorak, o minotauro que servia como guarda-costas para o senhor de Kuala, que sabia lutar bem. Gorak olhou e pensou em como poderia lucrar com aquilo. Olhou as condições do jovem ex-camponês.

- Você não vale o chão imundo em que caga. Amanhã.

No dia seguinte, outra inspeção. Edward agora comia um pão duro, melhor do que o estragado do fosso, e bebia água todos os dias. Acorada assustado quando abriam a cela. Kuala-Lampur saia constantemente, pela manhã e só voltava a noite. Seu rosto estava severo como sempre, mas menos indignado com sua condição. Edward só ficou realmente bem depois de quatro dias. Gorak abriu sua cela pela madrugada e lhe disse que essa luta era informal, mas mais mortal. Valia de tudo, ou quase tudo. O dinheiro que receberia, algum poderia ser usado para comprar mais comida e bebida para o novo e indesejado prisioneiro. Edward insistiu explicando que não seria saudável sair de sua cela em noites de luna em escudo, pois algo terrível acontecia a ele. Gorak fez pouco caso, mas, por via das dúvidas, estava tranquilo porque seriam quinze dias sem que luna estivesse em escudo.

Edward estava faminto. Um pão por dia eram, de longe, insuficientes. Seu primeiro adversário era um homem com pêlos nos ombros, olhar animalesco, orelhas pontiagudas e presas selvagens. Era um hobgoblin, recém apanhado. Um anão sorria satisfeito por seu novo escravo-gladiador das ruas. Esses eventos eram frequentes em partes estratégicas da cidade, longe do olhar da milícia e do fórum e todo tipo de ilegalidades eram cometidas alí. Edward recebeu uma lança para lutar. Ele observou a arma por alguns segundos e a quebrou com as mãos. Ficou com uma parte sem a ponta metálica. Parecia um bastão ou uma clava. Gorak ficou irritado e quase desistiu. Edward, entretanto, estava de cabeça cheia dessa vida e decidiu mostrar àquelas criaturas que seu poder estava maior, que ele valia muito mais do que o chão em que pisavam. O hobgoblin foi solto e avançou sobre o jovem feiticeiro. Ele ergueu uma mão com displicência e falou algumas palavras mágicas. Em seus dedos surgiram duas esferas de fogo e duas rajadas foram disparadas, em sequência. O hobogoblin incinerou. Apenas cinzas para serem levadas pela brisa que aliviava o calor daquela região de mineiros.

Espanto geral, todos começaram a perder o dinheiro de apostas. Gorak havia investido dois tibares de ouro e recebeu quase vinte. Agora, as apostas ficaram mais equilibradas. Os anões chiavam invocando regras obscuras quando todos sabiam que não havia nenhuma no mundo das ilegalidades. Outros combates foram feitos e Edward analisou que eram muito inexperientes ou simplesmente, mais fracos. A um homem faminto foi dada a chance de testar sua força contra o jovem feiticeiro. Edward poderia estar louco, mas estava achando divertido a impressão que causava. Ou era apenas muito jovem. Sorriu de esgueira e, antes de agir, olhou para trás e mirou Gorak.

- Confie em mim.

Sussurrou palavras arcanas e desapareceu, invisível. Seu adversário arregalou os olhos e ficou confuso sobre o que fazer. Os anões e homens livres reclamavam e se xingavam sobre o que podia ou o que não podia-se fazer. Súbito, ouviram um som de pancada. Edward surgiu do lado e de costas para seu adversário que jazia desacordado no chão com o rosto ensanguentado. Gorak mostrou seu sorriso de minotauro e ganhou mais dez tibares de ouro.

A noite terminou assim, sem maiores problemas. Voltou para a cela, em silêncio e Gorak mostrou seu pagamento pela noite: duas moedas de ouro.

- Fique com elas. Pela lança.

Gorak pensou ter encontrado uma fonte de ganhar muito dinheiro alí e Ikarus talvez não soubesse tão cedo. Na noite seguinte, Edward acordou muito tarde, apenas para ouvir o outro escravo de Ikarus, um homem chamado Grog, reclamar de sua sorte. Kuala-Lampur estava vencendo o Torneio de Tile e provavelmente seria o campeão. Era o favorito de Ikarus, que enriquecia a cada dia. A noite, mais torneios ilegais. Edward vencia sempre dois por noite. Gorak não se arriscava a ferir sua mina de ouro e sempre deixava alguns tibares separados para dar o melhor da comida do lugar para o jovem. Edward achava muito interessante a idéia de ser temido, depois de ser considerado um nada. E, ao mesmo tempo, sentia-se praticando seus novos poderes arcanos. A explosão de chamas que ele emitia pelo corpo e a orbe de eletricidade que ele criava eram suas novas armas mágicas. Com o tempo, ele deixou de usar qualquer tipo de arma e só lutava com suas magias. Eram o suficiente para as lutas.

Até que numa madrugada, quando levado por Gorak para uma de suas lutas, foi emboscado. Enquanto olhava para seu adversário, um homem mundano, foi surpreendido por um saco negro em sua cabeça. Recebeu um golpe de chifres e viu seu mundo girar, literalmente. Gorak ria dizendo que conseguiu vendê-lo por um preço muito grande. Estava satisfeito e muito rico, talvez até mais que Ikarus. Mas quizera o destino que as coisas não acabassem assim.

O comprador de Edward era um homem, cultista de um deus proibido em Tapista: Tenebra, a deusa das trevas. Esse homem vestia mantos negros e seu rosto era oculto por uma núvem de mistérios Gorak havia sido contactado pela manhã que receberia quase mil peças de ouro pelo feiticeiro. Sem questionar os motivos, ele aceitou na hora. Preparou a emboscada para Edward e se descuidou das noites... Era noite de luna em escudo.

Mesmo com o saco negro cobrindo-lhe a cara, seu coração palpitou. Pela primeira vez, Edward se entregou totalmente à transformação. Apenas fechou os olhos para abrí-los já vermelhos, injetados de sangue. Seus músculos incharam e ele destruiu a algema. Os pêlos ainda cresciam quando recebeu um golpe de lança de um minotauro que o escoltava para o barco onde seria levado para um pântano próximo dalí. A lança imediatamente se quebrou. A fera que agora pouco foi Edward desferiu uma série de golpes enfurecidos que retalharam por completo seu captor. Olhou para o outro minotauro que o escoltava com os dentes à mostra. Uma baba escorria farta. Sua visão, rubra de loucura e raiva, percebia com detalhes os movimentos de seu inimigo. O minotauro tentou desferir golpes, mas não conseguiu reagir ao salto do lobisomen. Ele pousou no peito do minotauro e o derrubou no chão. Sem chances de se levantar, tentou se arrastar. O lobisomen pisou em sua perna e destruiu sua armadura nas costas com suas garras. Com sua mordida, arrancou um grande pedaço de carne e mastigou. O minotauro não durou muito mais.

Olhando para trás, o lobisomen viu aquele que era seu comprador. Não entendia mais nada, apenas sentia fome. Uivou alto. O homem estava com seu rosto oculto, mas deixou escapar um sorriso à mostra. Súbito, o lobisomen não via mais seu alvo. Olhou para o corpo do outro minotauro e decidiu satisfazer sua fome. Uivou durante a noite toda e correu em direção do norte.

Então, Azgher surgiu no céu, dissipando aquela loucura selvagem.

Edward abriu os olhos e sentiu-se enjoado. Estava sem camisas novamente, suas calças já bastante largas. Seu corpo estava intacto. Olhou em sua volta e viu apenas uma planície entrecortada por um lago. Levantou e foi molhar o rosto, pensando no que fazer. Lembrava de pouca coisa, lembrava de ter escapado. Pensava em Gorak, que era um maldito traidor, e teve vontade de vingança. Lembrou-se de Kuala-Lampur e que ele corria perigo de vida, vivendo ao lado de um minotauro traiçoeiro como Gorak. Talvez Ikarus fosse também um grande filho da puta. Edward encheu-se de raiva e socou o chão.

- Você precisa ter a mente tranquila e concentrada para despertar seus poderes, seu burro.

Edward olhou para cima, já sabendo quem era.

- Maldito corvo! Por onde andou? Estive vivendo o inferno! Precisei de você!

- Estive distante, pois não podia fazer nada. Agora sinto que você melhorou seu controle sobre a magia arcana, pois também me sinto mais ligado a você. Apareço agora nesse momento de perdição sua para por ordem na sua cabeça. Esqueça a sua raiva. Seus amigos precisam de você. - Era Paco, seu familiar corvo que servia como um mentor.

- Amigos?

- Sim, meu jovem. Ilendar, Lothar Orselen e até Tildror estão em Tile nesse momento. Vou lhe guiar para a cidade novamente e poderá reencontrá-los. Mas lembre-se e repita comigo: "A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena".

- Não vou re

- Vamos, "A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena".

- Ora, eu não vo

- "A vingança nunca é"

- Tá bom! "A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena". Edward sentia-se mais calmo com a situação cômica. Levantou-se e percebeu que suas calças estavam muito frouxas. Paco fez um comentário ou dois sobre isso e caminharam para sul.

***
Sir Lothar Orselen era um cavaleiro recém admitido na Ordem da Luz em Bielefeld. Era um homem de bastante honra que, provavelmente, herdaria o feudo de Bedivere assim que sir Bruenor morresse. Seu filho, Valahad de Bedivere havia se exilado para servir a Keenn e dificilmente voltaria para Bielefeld vivo. Sir Lothar, homem com grande vigor e altivez, estava em Tapista como um escravo. Valia tanto como um bandoleiro. Era um escravo.

Seu senhor, Ghilotan, o mandou para lutar na arena de Calacala. Mas, logo nesta primeira luta, o adversário era Kuala-Lampur. Os dois não lutaram e, para piorar a situação de Ghilotan, seu escravo Lothar matou dois minotauros. Era formidável como lutador, mas agora também um criminoso. Lothar foi ferido até quase morrer e fora levado da cidade. Ghilotan sentiu-se lesado por ter comprado uma mercadoria tão problemática por cem tibares de ouro e recorreu ao Estado. O vendedor autorizado, um humano chamado George, que vendeu também Kuala-Lampur, Ilendar e Edward, foi procurado para que reparasse os prejuízos. George, entretanto, não foi encontrado. O estado, então, comprou este escravo.

Mal sabiam eles que Lothar era um cavaleiro da Luz. A escravidão de súditos do Reinado era proibida em Tapista - com claras excessões de Khubar (considerado um reino bárbaro), União Púrpura e reinos fantásticos demais para que existissem de fato, como Pondsmânia.

Ignorando o fato, os minotauros prenderam Lothar Orselen com correntes e de cabeça pra baixo num penhasco. Acordado, ele começou a escalar até encontrar um minotauro que o ajudou a subir. Soube mais tarde que ficara desacordado por quase uma semana. Soube também que estava numa repartição burocrática que tratava de vender e arrumar donos para os escravos do Estado que sobrevivessem ao castigo. O destino quiz que Lothar fosse encontrado por Gollias Chifres-de-Alabastro, um dos donos da Escola dos Gladiadores, que funcionavam como um sindicado e patrocinavam seus gladiadores, cuidavam, treinavam e davam assistência médica. Mesmo os escravos. Lothar conheceu a esposa de Gollias, Alliany, sacerdotiza de Lena. Não pôde deixar de perceber que era encantadora.

No dia seguinte, viajaram de onde estavam por uma estrada pavimentada com pedras bem colocadas que seguiam infintas pelas planícies. Dez dias depois, alcançaram Tiberus, a impressionante capital do reino de Tapista. As construções feitas de mármore, prédios erguidos por colunas magníficas, arquedutos que controlavam a água pela cidade, a profusão de comerciantes minotauros, humanos, os escravos, o fórum, o Palácio do Prínceps e a Arena Real. Alí, palco onde os grandes gladiadores lutavam fortunas eram trocadas de mãos, fama ou infâmia eram forjadas. Gladiadores novos lutavam, morriam ou sobreviveriam mais um pouco para conseguir alguma notoriedade. Lothar foi conduzido para o seu teste. Se vencesse, seria feito o contrato com a Escola dos Gladiadores e ele poderia se tornar num bom profissional, ganhando algum dinheiro que sobrasse. Em talvez um mês pudesse reunir dinheiro suficiente para comprar a própria liberdade.

Lothar desafiou um minotauro e indagou se era um escravo. O minotauro irritou-se com tamanha ousadia e lutou com bravura. Mas Lothar era experiente tanto com a espada quanto com a lança, que usava no momento. Recebeu alguns cortes no braço e no peito, mas quando decidiu deixar de se preocupar com os movimentos de seu adverário, pôs fim ao combate com um único certeiro e mortal golpe com sua lança. Vitorioso, foi aceito na Escola.

Augustus era um meio-elfo ex-escravo que também foi gladiador um dia. Lutou por sua liberdade e continuou no meio, porque era a única coisa que sabia fazer bem. Ganhou notoriedade e o respeito dos minotauros de Tiberus. Assim, fundou a Escola de Gladiadores com Gollias e um outro minotauro.

- Você é um excelente combatente, mas demora muito a se posicionar no combate. Se preocupou demais com os movimentos do adversário e se permitiu receber estes ferimentos. Num torneio longo, é sempre bom não ser atingido para não acumular ferimentos nas finais. Quando for lutar, desfira o golpe derradeiro logo de cara.

Com essa dica, Augustus e Lothar começaram uma amizade. O cavaleiro da luz nunca contou sobre quem realmente era. Havia falhado em sua missão de proteger as vítimas da Ordem da Lâmina de Keenn e sido vendido como escravo. Realmente, uma desgraça para si. No início pensou que não fosse dar conta, não tinha ânimo para mais nada. Mas conheceu Allieny e suas conversas com ela eram confortantes. Viu o outro lado da sociedade de Tapista, onde havia honra e respeito entre escravos e senhores. Lutou contra o preconceito e viu que deveria fazer a coisa certa em Tapista. Lutar e conseguir sua liberdade com honra.

Um mês passou rápido para o cavaleiro da luz. Estreiou com platéia já dois dias depois de receber um treinamento básico. A multidão de minotauros era grande e fazia barulho de satisfação a cada golpe. Lothar Orselen era um guerreiro poderoso. Venceu com relativa facilidade seu adversário e se feriu pouco. Ainda se acostumava aos poucos com armadura leve que quase nunca protegiam seu corpo. Havia treinado a vida toda para mover seu corpo suavemente quando recebia golpes, pois confiava na poderosa armadura pesada que absorveria a maior parte do impacto. Agora teria que se acostumar a mover mais o seu corpo para que fosse o menos possível atingido. Não havia aprendido isso totalmente, apesar de que seu corpo realmente havia ganho mais agilidade.

E mais resistência. Lothar lutou os outros combates e tinha seu corpo bastante castigado. A platéia se deliciava com a resistência de Lothar e havia alguns que comparavam-no a um minotauro em vigor físico. Logo, ele se tornou numa pequena celebridade para aqueles que adoravam o esporte dos gladiadores. Gollias sempre assistia os combates e sempre cumprimentava o guerreiro por cada vitória. Às vezes lhe dava uma dica ou outra sobre algum golpe ou alguma defesa. Lothar, enfim, se permitiu sentir satisfação. Não concordava com a escravidão, mas aprendeu a respeitá-la em Tapista. A Escola de Gladiadores cuidava dos assuntos extra-arena, cuidando para que ele não ficasse sem nenhum dinheiro por não ter nenhum patrono rico como os cidadãos livres geralmente possuíam. Além de tudo, existiam os hospitais utilizados exclusivamente pelos gladiadores. Alí eles eram tratados para que seus ferimentos se curassem mais rapidamente.

Infelizmente, para Lothar, ele não pôde voltar para Calacala, onde achava que Kuala-Lampur ainda estava porque seu antigo senhor moveu as peças certas para que a filial da Escola de lá não achasse seguro a vinda de Lothar. Poderia haver jogo sujo e o guerreiro humano poderia ser morto de forma traiçoeira. As lutas, então, se limitavam à Arena Real de Tiberus.

Com o tempo, as vitórias foram se acumulando e os feitos de Lothar atingiram a esfera cotidiana das pessoas de Tiberus. Os mercantes levavam notícias para outras cidades de um poderoso gladiador humano que derrotava todos em seu caminho. O guerreiro tinha esperanças de que alguém do seu grupo de aventureiros que conheceu na maldita terra de Ahlen tivesse notícias de seus feitos e viessem encontrá-lo. Não que esta fosse seu principal objetivo ao adquirir fama como gladiador, mas também servia ao propósito.

Houve, então, para os mais sentimentais, o momento mais dramático para Lothar em que ele saiu derrotado e quase morto de um combate. Enfrentara um minotauro muito poderoso, clérigo de Tauron chamado Gerontius Cornelius III, de uma família tradicional nos esportes de arena. Ele era o membro mais jovem da família, mas sendo nobres que eram, nada mais valoroso que derrotar o mais famoso naquele momento dentre a plebe.

O combate fora duro e Gerontius teve muitas dificuldades para vencer. Não ousou orar para Tauron para que não desequilibrasse o combate. Os vigores físicos de ambos os gladiadores foram testados até o fim. Lothar havia adquirido uma resistência invejável pela constância de batalhas, era bastante durão. Gerontius possuia uma resistência também invejável e foi castigado bastante pelos golpes de espada do guerreiro humano. O clérigo de Tauron desferia golpes terríveis com seu machado. Ambos estavam muito feridos e exausto. A multidão era levada ao delírio a cada poderoso golpe dos gladiadores.

Até que Lothar não suportou a perda de sangue e seu corpo demonstrou ser inferior a de um minotauro. Caiu, inconsciente. Sua primeira e única derrota. Mesmo derrotado, ele foi aclamado por ter dado (muito) trabalho a um clérigo de Tauron, o deus da força e patrono de Tapista.

Outras lutas vieram e Lothar jamais perdeu novamente. Foram num total de dezoito lutas com dezessete vitórias. Um dia, ele decidiu ir ao Fórum de Khalmyr. Já faltava pouco para que conseguisse o suficiente para comprar sua liberdade. Assim ele queria mandar uma mensagem à Ordem da Luz para avisar à Bruenor de Bedivere, seu senhor, que falhou em sua missão contra a Sétima Lâmina de Keenn e que voltaria em breve para recomeçar. Após uma tarde no banho púplico para escravos com Allieny - onde ele teve que segurar seu ímpeto para não trair a confiança de seu amigo Gollias Chifre-de-Alabastro - esperando sua vez de serem atentidos no Fórum. Uma vez antendidos, o crime fora descoberto. Lothar Orselen foi descoberto como cavaleiro da luz, súdito de Bielefeld e da Coroa Imperial de Deheon. Não poderia, por lei, ser escravizado. Uma comissão de inquérito seria criada para investigar seu vendedor inicial, George, subordinado a Iqmar Strongfeet. Imediatamente, ele foi liberto. Agora, era um homem livre e nem precisaria lutar mais três vezes e receberia o dinheiro que teria ganho se tivesse lutado como homem livre desde o início. Dinheiro suficiente para libertar Allieny. Ofereceu a chance para ela. Ela titubeou, disse que responderia depois. De qualquer forma, sir Lothar Orselen era honrado demais para fazer a transação às escondidas. Conversaria com Gollias Chifre-de-Alabastro sobre o assunto.

Os dois caminharam de volta para a Arena Real e encontraram, de costas para eles, um homem vestido em mantos pesados de cores branda, outro homem de cabelos negros, cumpridos com roupas práticas de viajante e uma mulher de mantos leves e cabelos castanhos ao vento, obviamente escrava...

5 comentários:

Aldenor disse...

Não reparem nos erros de continuidade, de português ou desparetes com o que foi jogado realmente. Minha memória é ruim mesmo e isso é o máximo que posso fazer. Em breve farei o solo de Tildror completo até Tapista. Depois, a sessão de hoje, propriamente dita.

Capuccino disse...

Vc retratou com fidelidade mediúnica o ocorrido ^^
Lothar é foda! =)

Boa Aldi!

Marins disse...

boa rapz!

mandando bem!

R-E-N-A-T-O disse...

Vou ganhar a luta de Vectora!! Quero uma lança grande mágica! Comprarei em Vectora, hohohoho.

Marins disse...

E eu quero a parte mais importante dos contos:

as aventuras de Tildror e Margareth

=p