domingo, 22 de fevereiro de 2009

Crônicas Artonianas #33 - As Aventuras de Tildror, Margareth e Leonardo


Fazia tempo que não passavam a noite juntos. Margareth e Tildror tinham bastante compatibilidade. O pensamento de um completava o do outro. Eles sabiam mais ou menos o que o outro poderia pensar, sentiam mais ou menos o que o outro sentia. Eram uma dupla que poderia dar muito certo em Ahlen, na Corte do Rei Thorngald Vorlat. Mas Tildror também não era mais livre. Seus amigos, ele soube através de Margareth, haviam sido levados presos por uma estrada para o oeste. Com um pouco de sorte, poderiam alcançá-los, pensava.

O dia amanhecia e eles comeram as provisões que Tildror carregava consigo. Margareth bisbilhotou a mochila dele e descobriu alguns pergaminhos mágicos e uma poção. Indagado sobre os itens, Tildror explicou que se era para ser um aventureiro estaria preparado para tudo. Comprou pergaminhos para se curar e a poção era sua chave para a sua volta aos Desafiadores do Destino. Como ele apenas desapareceu na Noite das Máscaras e não foi mais visto por seus ex-colegas sem dar satisfações, imaginou que não era muito bem visto por eles. A poção era para Peter Lampur, o escudeiro dos Desafiadores do Destino que havia sido transformado em pedra graças à corrupção da Tormenta, naquele fatídico combate em que eliminaram Ibriar Estet. Ele esperava que assim conquistaria a chance de retornar ao grupo e poderia convencer a todos - talvez até a Ilendar - de que estava realmente preocupado com o escudeiro. Era um plano muito razoável. Margareth e Tildror montaram no cavalo e saíram da floresta, passando pelo campo de batalha notando que a carroça do grupo já era uma mistura de cinzas e madeira arruinada. Viajaram pelo leste, pela orla da floresta. Mesmo estando de dia, era de se esperar que não cavalgassem por dentro de uma floresta desconhecida. Ambos tinham se perderiam facilmente. Margareth, então contou-lhe sobre o que aconteceu a Edward. Há algumas noites, quando foram atacados por lobisomens pela primeira vez, Edward acabou sendo amaldiçoado e se transformou em um licantropo. Surpreso, Tildror imaginou em alguma espécie de cura para ele também. Edward era o irmão gêmeo de Thyran, o feiticeiro que fora morto por Tildror enquanto estava sob efeito da loucura de Nimb, e que assumira a missão assim que seu irmão foi morto. Edward, apesar de ser idêntico a Thyran, possuia diferenças gritantes na manipulação da magia. Ambos eram prodígios e haviam um grande poder mágico latente, mas Edward era mais voltado ao combate, sabia lutar muito melhor com armas e trajava armaduras que não afetavam na sua conjuração. Edward ainda estava bastante calado e ausente das decisões do grupo quando Tildror se afastou, então ele imaginava que poderia encontrar um aliado alí, talvez manter um acordo subentendido de lealdade caso conseguisse curá-lo da maldição da licantropia.

Então, Tildror sentiu-se curioso. Ouviu um som de armas se chocando e gritos por Keenn. Seus apurados ouvidos puderam decifrar dentro da miríade de sons da floresta, que Maedhros e Peter Burke estavam se enfrentando naquele momento. Percebeu estar próximo ao acampamento dos Vultos e foi tomado por uma curiosidade que beirava a insanidade. Além do mais, queria ver como Hakma, o jovem líder dos Vultos, encararia aquele combate. Cavalgou subitamente para dentro da floresta sob protestos de Margareth.

Dentro de poucos minutos, avistou um homem peludo com rosto de lobo. Estava sério observando atentamente para os lados. Guiando o cavalo para contorná-lo, Tildror usou toda sua habilidade para conseguir passar desapercebido. Criou uma distração com uma porção de mato que atrapalhou a atenção do lobisomen. Este farejou e pensou sentir algo, mas preferiu confiar em seus olhos que nada viam. Tildror achou uma posição favorável entre árvores e observou a clarera que se formava. Havia alguns barracos feitos de panos e peles de animais. Uma fogueira rudimentar no centro e um pequeno altar improvisado, feito de madeira do lado. Havia um símbolo sagrado de Keenn alí e uma enorme poça de sangue que enxarcava o altar. Havia muitos homens-bicho por alí, todos fazendo um círculo rudimentar para uma batalha de dois servos do mesmo deus. Tildror apurou sua visão e pediu para Margareth calar-se.

Maedhros Russendol estava retalhado de cortes profundos e cauterizados. Sua armadura estava em frangalhos, gastigadas por uma quantidade incontável de golpes. Seu braço direito estava negro pelo sangue e pela queimadura. Estava caindo de joelhos no momento em que Tildror conseguiu ver. Pôs suas mãos no chão para apoiar-se, mas sorria. Sorria pelo combate terrível que teve e pela morte que teria em breve. Há muito havia questionado se o sentido de sua vida era mesmo seguir Keenn, mas sabia que era um caminho sem volta. Sentia a morte próxima. Vomitou puro sangue. Peter Burke estava à sua frente bufando cansaço. Vestia roupas leves, sem sua armadura negra que havia sido alvo da magia de Ilendar, dias atrás. Seu corpo estava castigado por golpes de espada, mas os ferimentos eram bem menores do que os de Maedhros. Sua espada longa brilhava em chamas e seu rosto estava austero.

- Elfo imundo. Receberá aqui teu castigo por desafiar um Lâmina. Volte para o colo de sua fraca deusa.

Desferiu um golpe nas costas de seu inimigo. Profundo e flamejante. Maedhros arregalou os olhos e viu a vida ir embora. Desabou e morreu. Tildror sorriu mostrando os dentes. Um inimigo a menos. Margareth conseguia uma posição para ver, mas ficaria desconfortável sobre o cavalo e preferiu ficar alheia. Tildror ainda viu Peter Burke sorrir para todos e falar que não precisava mais de ninguém alí. Quem quer que o desafiasse, morreria alí mesmo. Um blefe, uma intimidação de guerreiro. Tildror era mestre no engodo com a língua. Notou que ele estava muito ferido, mediu a distância mais ou menos. Pegou sua adaga, olhou com ansiedade e se controlou para evitar qualquer erro. Arremessou sua adaga assim que Peter Burke pegava seu símbolo sagrado e se locomovia para seu corcel negro e armadurado.

A adaga voou livre, passou próximo à orelha de um homem-trigre e encontrou o pescoço, as veias pulsantes do yudeniano. Sangue jorrou espirrado e ele engasgou. Tentou inutilmente estancar o sangramento farto com suas mãos. Olhou para todos os Vultos que nada faziam a não ser observar a queda da Quinta Lâmina de Keenn.

Os Vultos começaram a farejar imediatamente à morte do ex-conselheiro de Hakma, mas nem precisaram de muito esforço. Tildror cavalgou lentamente surgindo entre as árvores com um sorriso cínico. Ele tinha a faca e o queijo na mão. Hakma mostrou-se muito surpreso, mas aliviado. Tildror falou doces palavras sobre a liderança de Hakma para ganhar mais a confiança do jovem líder dos Vultos e para conseguir barganhar os espólios com mais boa vontade. E aparentemente conseguiu. Levou a armadura e as armas de Maedhros alegando sua antiga aliança no grupo dos Desafiadores do Destino - o que era um cinismo sem tamanho, mas passou desapercebido. Levou a armadura completa com cravos de Peter Burke, que apesar de ter sido avariada, ainda era magnífica e o escudo grande metálico, uma vez que os Vultos não trajavam armaduras nem escudos. Estando satisfeito, montou no cavalo e indagou a Hakma para onde deveriam ir para encontrar seus companheiros. O jovem líder dos Vultos respondeu que haviam sido aprisionados em jaulas e sido levados para Tapista, o Reino dos Minotauros, onde provavelmente seriam escravos. Tildror sentiu-se sufocar. Viajar para Tapista demoraria muitos meses, mas como conseguiram chegar lá em um pouco mais de quatro dias? Magia, é claro.

Margareth reclamou mais um pouco sobre a distância e sobre como seria perigoso para ambos chegar em Tapista. Mas pela vida de Tildror, era isso que precisava fazer. Era isso que faria. Cavalgou para longe, saindo da floresta e achando uma trilha numa planície descampada. Atravessou riachos, cruzou campos, avistou pequenos vilarejos e um pouco mais de alguns dias, encontrou o grande rio que marcava a divisa com o Reino da Madeira. Um vilarejo com casebres feito de pedra e madeira e uma suntuosa mansão estava no caminho com um porto. Tildror e Margareth encontraram uma carruagem feita de madeira negra, bonitos corceis brancos domados por um coxeiro. Dentro, havia um nobre menor que cheirava à oportunidade. O casal se olhou e se entenderam. Imediatamente, Tildror era o servo e Margareth era uma nobre que queria visitar parentes na corte de Tollon - confiando que naquele reino de gente rústica havia corte.

O nobre era Hallen Jovignaud, vassalo dos Rigaud e aliado dos Estet. Apesar de parecer ser uma oportunidade para um grande estratagema para enredar o inimigo, Tildror pensou que isso estava longe demais de seus objetivos principais. Ficou frustrado com o pouco tempo que tinha e com suas novas limitações. Foi metódico com seus planos e conseguiu viajar para Tollon com Margareth sem maiores problemas. O Reino da Madeira recebeu o casal de ahlenianos com um sol forte evidenciando o fim do inverno.

Tollon era conhecido por ser densamente florestal e produzir um tipo de árvore de madeira negra que crescia somente em suas fronteiras. Sua madeira negra era de ótima qualidade e, quando usada para fazer armas, eram extremamente letais porque eram capazes de ferir criaturas vulneráveis a magia. A população do reino era trabalhadora, exímios lenhadores honestos que viam no trabalho uma grande missão de vida. As mulheres eram raras e por isso, ficavam dentro de suas casas cuidado apenas dos afazeres domésticos, protegidas em seus claustros. Margareth achou um horror. Em Tollon, Tildror precisava arrumar um jeito de conseguir uma estrada relativamente segura para avançar. Precisava também de um mago ou alguém que soubesse lidar com magia, pois possuia armas, armaduras e escudo que desconfiava ser encantado com magia. Talvez conseguisse um bom preço, talvez mantivesse carregando alguns para dar a seus amigos como prova de boa fé e lealdade. Mas quando pisou em solo tolloniano, viu os casebres de madeira com pessoas simples que vestiam saia xadrez, as barbas, os troncos de árvores sendo carregados nos ombros, notou que alí dificilmente encontraria alguém com o isolamento suficiente para ser um mago. Perdeu algumas horas visitando algumas tavernas para descobrir que teria que andar muito. Entendeu que viajante solitário dificilmente conseguiria viver por muito tempo, pois haviam os trolls inteligentes. Seres brutos, de feições monstruosas que vagavam solitários caçando qualquer tipo de ser vivo para suas hediondas refeições. Haviam os druidas, entretanto. Sábios que viviam para proteger a natureza e orientar as pessoas a viverem em comunhão com Allihanna. Tildror pensou que os druidas seriam um grande obstáculo para o desenvolvimento econômico do lugar, mas decidiu pensar menos como nobre, mais como aventureiro necessitado. Foi a um templo de Khalmyr que encontrou pedir por orientação. Lá, o sacerdote local não parecia diferente do povo. Para um homem santo, era suado e trajava xadrez nas cores azul escuro e branco já desgastado. Disse-lhe que não tinha recursos mágicos disponíveis, mas poderia ajudá-lo a cruzar o reino. Então, Tildror conheceu Leonardo Meliamne e seu lobo Cânin. Druida de Tollon, Leonardo havia conhecido os Desafiadores do Destino semanas atrás e detectou a licantropia em Edward. Mas quando Tildror o conheceu, não sabia nada disso. Tentou tratá-lo com algum respeito por seu título, mas o druida era jovem demais e inocente demais. Lembrava um pouco a Kuala-Lampur, mas notava algumas diferenças filosóficas. Leonardo havia entrado em contato com a igreja de Khalmyr para mostrar que Allihanna era aliada do deus da justiça, que os druidas eram amigos do povo mundano das pequenas cidades. Havia um anão chamado Dhorgarrar Smallfeet, exímio criador de armas, talvez o melhor do mundo, que estava desaparecido. Havia saído de Trodarr, a cidade dos anões e ido para Vallahim, capital de Tollon, mas desapareceu sem deixar notícias. Havia a suspeita dos caçadores locais que um troll havia raptado para algum banquete hediondo.

Tildror aceitou acompanhar e auxiliar com seu sabre o druida. Com sorte, o druida seria um bom lutador e ele não precisaria se expor tanto ao perigo. Em troca, Leonardo o levaria para Lomatubar, pois o jovem druida também tinha assuntos a resolver alí a mando de seu círculo, os Druidas de Tollon. O assunto, tentou descobrir Margareth, era confidencial. "Apenas os druidas entenderiam", dizia. Os três se prepararam e partiram do vilarejo, um grupo improvável.

***

Leonardo era um jovem druida que nasceu e foi cresceu no círculo druídico de Tollon. Conviveu com os mais sábios da ordem e aprendeu bastante sobre a flora, criação de sua deusa, sendo este o assunto que mais gostava. Sentia-se pleno quando em florestas. Seu companheiro, irmão com o qual fora destinado antes mesmo de nascer, era Cânin, o lobo. Ambos eram bastante amigos e se preparavam para servirem como soldados da deusa. Leonardo aprendeu que havia o Coração de Allihanna, artefato de extrema importância para os druidas do mundo, que era escondido em Tollon, numa caverna sagrada. Sua localização, entretanto, era segredo até mesmo para druidas estrangeiros. Leonardo sabia de sua existência, sabia onde era localizado, pois havia sido abençoado com a missão sagrada de proteger o artefato. Leonardo, em breve, se tornaria um viajante onde estaria livre para procurar um lugar para si e para aumentar seu conhecimento perante as maravilhas da flora que sua deusa criou. Até que uma comitiva de druidas de Ahlen os visitou. Aparentemente inofencivos e de dóceis palavras, os ardilosos druidas de Ahlen haviam se corrompido com o modo das cidades. Leonardo, por ser o mais jovem entre os seus iguais, fora seduzido e contou a localização do Coração de Allihanna, pondo em risco a existência de tal artefato. Houve uma guerra entre os druidas e muitos morreram. Leonardo fora banido do círculo, mas percebeu que Allihanna ainda o guiava e estava em seu coração. Sua missão de vida seria ser digno novamente para ser aceito entre os seus. Mas até lá, era mal visto entre os druidas de Tollon. Conheceu pessoas e vilarejos que não conheciam sua situação e logo foi visto como sábio. Recebeu a proposta da igreja de Khalmyr para procurar o anão e talvez salvá-lo das garras do troll. Tildror era um homem que viajava com uma mulher e desejava apenas algum recurso arcano e sair de Tollon o mais rápido possível. Tinha um grupo de amigos que precisavam dele, em Tapista.

Lomatubar era um reino pouco conhecido para ele. Aliás, a idéia de reino para os druidas era estranha. O que definia fronteira para eles eram as florestas e os animais. Ele sabia que Lomatubar era um reino doente e os animais alí sofriam horrendas deformidades. Talvez lá ele pudesse encontrar algo que pudesse estudar nas plantas, talvez alguma notícia de utilidade para seu círculo. Decidiu que seguiria o estranho homem e sua mulher para além de Lomatubar.

***

Partindo do vilarejo, o trio passou por frias florestas de pinheiros de vários tipos. Leonardo as vezes comentava sobre a mudança sutis das florestas e as vezes também se empolgava. Tildror bocejava, mas mostrava respeito ao jovem. Margareth pareceu entretida no início, mas logo se aborreceu e suspirava em reprovação tediosa. A idéia do grupo era encontrar a velha estrada que ligava os anões de Trodarr à capital Vallahim. Talvez na capital Tildror encontrasse um mago no qual precisava, apesar de ter sido advertido de sua extrema raridade.

Leonardo avisou sobre perigo. Margareth sabia que viajando nessas imensas florestas iria encontrar algum perigo, um desafio para aventureiros. Coisa que ela sabia muito bem não ser. Tildror estava ciente de que uma hora iria precisas usar seu sabre e, quem sabe, lutar por sua vida. Olhou para o druida e rezou para aquela divindade que estava flertando com ele fazia tempos para que o jovem soubesse lutar bem. Então, ouviram um uivo engasgado de risada. Surgiu na mata um homem peludo de feições animalescas que lembravam um lobo. Leonardo sussurrou para Allihanna e contou rapidamente aos dois aventureiros de cidade que tratava-se de lobisomens.

Um rápido combate sucedeu. Surgiram outros dois lobisomens, atraídos pelo combate. Mas lutavam de forma desordenada e Tildror e Leonardo foram capazes de lidar com os adversários. Como Tildror temia, Leonardo não era muito melhor que ele no combate. Leonardo usava os músculos para ferir mais e Tildror usava sua sagacidade para atingir onde dói mais. Após esse encontro, Margareth decidiu que não desceria mais do cavalo. Viajaram com mais velocidade. Leonardo, então, começou a encontrar rastros de troll. Eram criaturas horríveis em Tollon que possuiam uma inteligência maligna. Havia sinais de acampamento, de luta e Leonardo julgo estarem próximos de seu destino. Viajaram por mais um dia e meio e encontraram a velha estrada que, aos olhos do casal ahleniano, não passava de uma trilha selvagem e apagada, cheia de mato.

- É aqui. Vamos percorrer um pouco. Cânin me ajudará nessa tarefa. Ele sabe discenir cheiro de anão. Vamos, Cânin.

Tildror suspirou em silêncio pensando se isso não era se afastar de sua divina e ingrata missão de vida. O clérigo de Thyatis lhe disse que morreria caso não cumprisse, mas ainda se sentia vivo. Então, de alguma forma, estava cumprindo sua missão. Apenas no segundo dia viajando pela estrada Leonardo julgou ter encontrado a pista certa. Nesse tempo, Tildror e Margareth discutiam como seria em Lomatubar, se precisariam usar disfarces para conseguir comida e estadia de graça. Então pensaram que não seria muito útil num reino de doentes. Queriam saber qual reino seria a seguir. Encontraram caçadores pelas estradas que os fizeram perguntas simples sobre onde iam e logo saiam do caminho assim que ouviam sobre o resgate à Dhorgarrar Smallfeet.

Então, o grupo avistou uma caverna em meio uma pequena colina, elevada sobre a floresta de pinheiros que, mesmo estando na primavera, gerava um clima frio, quase gélido. O grupo usou luz da única tocha que Tildror possuía e andou lentamente pela caverna. Margareth ficou do lado de fora, num local que fedia a fezes (sob protestos e resmungos), pois segundo Leonardo, afastaria animais perigosos. Andando com os pés furtivos, Cânin, Leonardo e Tildror penetraram na caverna e logo precisavam tapar o nariz. O cheiro era incrivelmente forte e pútrido. Encontraram restos mortais de tudo quanto é tipo de ser vivo, entre elfos e halflings, humanos e anões. Viram pela penumbra uma gaiola com um anão dormindo. Parecia vivo, e era a experança de que fosse quem procuravam. Então, um rugido aguçou os reflexos de todos. Um troll adentrou na caverna, de mãos vazias. Esta grande besta bípede tinha quase o dobro do tamanho de um homem e tinha ombros largos. Sua pele era marrom acinzentado com braços e pernas longas e desajeitadas. Seu couro era borrachudo e seu cabelo era grosso, desgrenhado e parecia contorcer com vida própria. O primeiro golpe foi em Tildror, que estava em seu flanco em questão de segundos. O alehniano sentiu as garras rasgando sua armadura como papel e atingindo seu peito. Sentiu a dor do corte e do jorrar de sangue. Leonardo avançou juntamente com Cânin e ambos desferiam golpes inúteis que não furaram o couro borrachudo. Leonardo usava uma clava de madeira negra, de propriedades mágicas, mas percebeu que não era útil contundir seu adversário. Largou a clava e buscou sua lança nas costas. Tildror se moveu com agilidade, desviando dos golpes da criatura e posicionou-se num flanco oposto de Leonardo. Desferiu um golpe perfeito com o sabre, que encontrou algum órgão do monstro. Ele urrou de fúria e dor. O lobo mordeu-lhe a perna e arrancou um naco de carne podre que cheirava a vegetal. O sangue do monstro era como seiva de árvore. Leonardo desferiu um golpe com sua lança e furou. Sentiu o cheiro e teve uma idéia. O troll estava cercado, mas sentiu a maioria de seus ferimentos se fecharem. Desferiu golpes poderosos em Leonardo que o fizeram voar contra a parede da caverna, provocando um grande estrondo. Tildror arregalou os olhos ao ver os dentes do monstro que se prostravam em desafio a ele. O lobo era um incômodo menor para o troll que parecia se saciar apenas com a carne de seres inteligentes. Tildror desferiu golpes, mas o monstro sempre fechava os buracos. Então, Leonardo orou à Allihanna por fogo e uma esfera em brasa fulminou as costas da criatura. Estes ferimentos não se fecharam.Tildror aproveitou e arrancou uma mão do troll. Leonardo feriu mais e Cânin deu o golpe final. O troll caiu morto e logo sua carne apodreceu e virou cinzas. Trolls eram vulneráveis a fogo. Foram de encontro ao anão e o descobriram vivo, mas dormindo sob efeito de alguma erva anestésica. O jovem druida não encontrou dificuldade para acordá-lo com outra planta.

O anão ficou grato aos dois aventureiros, mas olhou com desconfiança para a mulher que aguardava do lado de fora com um lenço no nariz. Ele contou sobre como era famoso em Doherimm, sobre como mandaram um pedido oficial e formal para que ele permanecesse no reino quando ele decidiu ir embora. Uma vez em Tollon, se apaixonou pelo novo desafio e pela cidade que os anões construíram. Fez uma oficina, a Barba Negra, onde produzia peças incrivelmente poderosas e caras. Disse que no momento estava trabalhando com uma lança que se assemelhava com aquela que estava presa ao cavalo de Margareth - a lança de Kuala-Lampur, mas deixou claro que refutaria qualquer proposta em dinheiro, pois a arma estava preparada para alguém em específico. Esse alguém permaneceu em mistério.

O grupo viajou à Vallahim com Dhorgarrar em apenas um dia, mostrando à Tildror como os trolls estavam ficando ousados. Vallahim era como Tildror havia previsto: decepcionante como capital. Todas as construções eram de madeira e sem ostensividade, como a sede do Conselho de Tollon, centro político importante onde até mesmo suas famílias moravam. A corte em Tollon era muito mais simples e mais sincera. Sutileza e furtividade não eram o modo de Tollon. Na praça central, existe o Monumento aos Mortos, esculpido em madeira na forma de uma montanha. Tratava-se de uma homenagem feita aos colonizadores mortos na vinda para a região que seria fundado o reino. Tildror procurou novamente um templo de Khalmyr e percebeu que o templo de Lena era maior ainda. Mas infelizmente para ele, não havia um mago conhecido residente na capital. Esbravejando, já traçava planos para sair do Reino da Madeira e adentrar o Reino da Praga. Ficaram um dia e Tildror deixou pregado em tavernas um pedido de ajuda para algum arcano. Não era costume do lugar fazer isso, mas ele testou sua sorte. Em vão, aparentemente. Mas descobriu que o reino vizinho era Fortuna, conhecido como o Reino da Boa Sorte. Leonardo, que havia sumido assim entraram na cidade, retornou à estalagem onde Tildror e Margareth estavam dormindo.

- Vou com vocês para Lomatubar e preciso de uma ajuda para encontrar um homem sábio. Os sábios entre os Druidas de Tollon ordenaram que se eu fizesse isso, teria minha culpa expiada e poderia voltar a seu convívio. Se puderem me acompanhar, poderei guiá-los para Fortuna sem problemas.

- Feito. - Disse Tildror, voltando a dormir.

No dia seguinte, seguiram por uma estrada - ou uma trilha quase desaparecida - até as margens de um mangue, onde o solo era de lama escura e mole. Tildror ficou confuso. Como atravessariam um rio tão imenso e tão pouco navegável? Ainda tinha o cavalo que carregava o fardo dos equipamentos pilhados, semanas atrás. Leonardo sentou nas margens e ficou pensativo por horas. As vezes fazia barulhos com a boca, andava de um lado para o outro, sempre com olhar fixo para o rio. Cânin, seu lobo, estava junto do cavalo e parecia começar uma amizade improvável com ele. Horas depois, Margareth estava dormindo e emergiu uma imensa tartaruga. Querendo evitar que ela se desesperasse, Tildror decidiu não acordá-la. Subiram no imenso casco da criatura e atravessaram a noite toda o Rio Kodai, até as margens do outro lado, onde as águas eram mais perigosas e os peixes estavam doentes. O jovem druida agradeceu ao animal e logo Margareth acordou no primeiro raiar de Azgher sobre Lomatubar, o Reino da Praga.

O grupo andou por alguns metros e subiram uma colina e logo decobriram que Lomatubar também era um reino densamente florestal. Diferente de Tollon, o clima já era mais quente e as árvores permitiam que o calor de Azgher torrasse-lhes as cabeças. Suavam com o ar abafado, mas seguiam sem reclamar (muito). Durante dias, Tildror sentia que subia colina acima e resolveu indagar o que Leonardo procurava. Ele respondeu que seria encontrado, quando fosse o momento certo. A resposta foi prontamente detestada por Tildror, que sacou seu sabre e decidiu caminhar com ele em punho. Dias depois, sentiu calos nas mãos e resolveu que seria melhor guardá-lo.

Então, ouviram um barulho. Até então, as florestas pelas quais passavam, denunciavam poucos animais menores que fugiam assustados, mais do que o normal. Leonardo suspeitava que os animais maiores estavam mais agressivos ou doentes. Os animais sabiam disso e fugiam de qualquer coisa. O barulho foi recebido com surpresa para todos. Uma cobra enorme surgiu enrolada numa enorme árvore. O mais impressionante não era seu tamanho agigantado, mas eram as crostas vermelhas que cobriam seu corpo e serviam como uma grande armadura. O olhar era mais feroz do que o normal, a sede de sangue ultrapassava a necessidade natural. Era uma Fera Coral, um animal infectado pela Praga Coral que enlouquecia a todos os animais. O combate foi cruel e Tildror quase morreu recebendo uma grande mordida no ombro e sentindo seu osso quebrar. A cobra evitava os que fosse cercada e o terreno dificultava a movimentação de Tildror, que escorregou mais de uma vez. Leonardo parecia não ter esses problemas e era quem mais machucava o monstro que um dia fora um animal. Margareth cavalgou para longe, desviando dos galhos. Ouviu um rugido de outro animal, provavelmente atraído pelos sons de batalha e resolveu voltar rapidamente a tempo de ver Tildror desferindo um golpe final. O ferimento em Tildror era grande demais e Leonardo disse que estava infectado. Ambos ouviram o rugido de um leão selvagem, provavelmente infectado. Usaram todas as suas forças para correr como nunca e conseguiram achar um local desabitado, cheio de árvores com crostas vermelhas. Leonardo usou um milagre de cura para aliviar Tildror das dores, mas não o suficiente para livrar-lhe da doença. Tildror começaria a sentir os sintomas em alguns dias. Desesperado, ele agarrou Leonardo ordenando que ele fizesse alguma coisa. Sua vida já não era sua e estava fazendo de tudo, arriscando a vida e viajando para conseguir cumprir a missão e manter-se vivo. Não seria uma doença que iria matá-lo. Leonardo disse-lhe que nada podia fazer contra doenças mágicas, produzidas por um mago. Então, veio a idéia de Margareth de ir a uma cidade buscar ajuda. Viajaram por alguns dias e em todos eles, Tildror não pregava o olho. Evitaram algumas Feras Corais e avistaram Barud, a capital de Lomatubar. Metrópole de grande porte, construída para ser uma das mais impressionantes cidades comerciais de Arton, hoje ela estava praticamente vazia. A vigilância nos portões eram rigorosas e tinham ordens para matar qualquer portador da Praga. Quando foram parados em frente às muralhas da cidade e quando um clérigo do Panteão se aproximou com uma tropa bem armada, Tildror notou que seria morto alí mesmo. Então, orou para você-sabe-quem.

- Alto, viajantes. Ninguém infectado pode entrar. Larguem suas armas e permitam a inspeção. - Disse o capitão da tropa. Leonardo abaixou a cabeça, resignado e imaginando que seriam apenas expulsos. Margareth desceu do cavalo mostrando que estava desarmada e pensando em mil maneiras para iludir o clérigo. Ela imaginava que seriam todos mortos. Tildror sentiu o primeiro sinal de febre naquele momento e sentiu também que seu pé estava mais duro: havia uma crosta avermelhada alí. O clérigo se aproximou e orou pelos deuses e um, em específico, enviou um sinal divino mentiroso. Tildror, sob os olhos do clérigo, estava limpo. Ele ainda observou os outros e notou que estavam limpos também. Adentraram na cidade sem problemas. Leonardo ficou confuso, mas Tildror lhe confidenciou que Thyatis o havia salvo, pois estava cumprindo uma missão em seu nome e não seria a lei dos homens que impediriam. Foi uma explicação razoável para o jovem druida.

Andando pela cidade, foram direto ao enorme templo de Lena. Por precaução, dois paladinos impediram os aventureiros e retiraram suas armas. Há alguns anos haviam sofrido um terrível ataque de um servo de Keenn e desde então, não permitiam ninguém andar pelo pátio da igreja armado. Tildror até pensou em algum servo da Sétima Lâmina, mas na verdade, era outro. Um clérigo chamado Hendrick que raptou uma criança chamada Ikaro Madaram. Mas isso é outra história. Uma vez lá, Tildror usou sua lábia para conseguir uma consulta com uma clériga, alegando algum mal que o servo de Allihanna não foi capaz de curar. Sabendo que nenhum portador da Praga poderia entrar na cidade, os paladinos deixaram o grupo entrar. Serynn era a sacerdotiza mais sábia da cidade e soube entender, com serenidade, as necessidades de Tildror que fora obrigado a mentir para conseguir a cura, para continuar seus desígnios divinos em nome de Thyatis. Tildror e também os outros passaram por um ritual de purificação e pela manhã estava curado. Feliz, ele se preparava para partir quando ouviu Serynn chegar. Teve um mau presságio.

- Agora que possui as bençãos de Lena e Thyatis, meu jovem, peço que mande um recado a uma sacerdotisa chamada Gharats Porion em Nimbarann, no maior Templo de Nimb. Está escrito de forma que somente ela entenderá, uma vez que servos do deus do caos, ou da sorte como é reconhecido naquele reino, gostam de divulgar a mensagem do caos. Será a única coisa que lhe pedirei pelo milagre de Lena.

Tildror não encontrou formas de contornar essa nova missão sem que seu disfarce de jovem afortunado pelos deuses fosse rompido. Pegou o pergaminho e nem fez menção de entendê-lo. Guardou na mochila e foi falar com Margareth. Ela estava com uma jovem noviça e riam baixo. Quando ele se fez presente, lhe contaram a novidade.

- Estou grávida de um pequeno Tildror! - O jovem ahleniano sentiu-se sem chão. E mais essa agora? Como ele se comportaria frente a algo assim? A jovem noviça contou-lhe sobre a importância de um bebê na vida de um casal, sobre o milagre da vida. Mas Tildror não conseguia ouví-la direito, apenas na parte de que o bebê nasceria em Cyd de 1404, mesmo mês onde Tildror faria 24 anos.

Margareth parecia feliz e já falava em casamento com urgência, antes que a barriga surgisse. Ela aceitou casar depois de reunir os Desafiadores do Destino, mas em um reino digno, que não fosse Tapista. Petrynia, talvez. A ela foi oferecido que ficasse em Barud até o nascimento do futuro nobre ahleniano, mas ela recusou.

- Quem vai salvá-lo das encrencas na cidade?

Leonardo chegava neste momento. Até então, estava conversando com uma elfa chamada Josielandira Nialandara, druida de Lomatubar, membro dos Exterminadores de Allihanna, grupo responsável por caçar e matar as aberrações que a Praga transformava. Ele conseguiu reunir informações que queria, sobre quem procurava. Avisou a Tildror e descobriram que o caminho era semelhante. Seguiram viagem, saindo dos protegidos (ou nem tanto) portões de Barud. Entraram na floresta abafada e seguiram para o norte. Dias depois, ouviram passos pesados.

Os olhos do jovem druida brilharam de satisfação. Entre as árvores, surgiu uma criatura que era uma árvore com olhos, nariz, boca, braços e pernas. E sua altura era colossal. Azgher desapareceu sob sua altura. Era similar em tamanho à estátua de Valkaria. Tildror tinha o sabre em mãos e segurava o cavalo onde Margareth estava. Sentiu-se estúpido por ficar em posição de combate para uma árvore. Então, a criatura-árvore falou:

- Contemplem a face do Deus Pinheiro, crianças mortais. - com um tom lento e carregado de melancolia.

Leonardo ajoelhou-se e falou palavras numa língua selvagem, incompreensível para Tildror e Margareth. Os casal se entreolhou e esperou. Esperou. Esperou. Leonardo e o Deus Pinheiro conversaram por horas, até que ficasse tudo escuro e as estrelas brilhassem. Depois, pedindo desculpas ao Deus Pinheiro, Leonardo foi falar com o casal.

- Ele é um ent, uma árvore tão antiga e sábia que aprendeu a se transformar numa pessoa. Era ele quem eu tinha que encontrar e graças à Josielandira eu o achei! Ele me disse que antigamente ele era um Deus Menor, mas perdeu seu posto quando a floresta foi abandonada e assolada pela Praga. É triste de se ver, alguém tão sábio, tão poderoso, sozinho nesse meio doentio.

O jovem ficou triste, realmente. Então, um elfo de aparência muito madura, barba (!!!) curta e cinzenta apareceu para os três. Vestia um luxuoso manto feito de folhas verdes que exalavam magia. Conversaram por alguns minutos e logo Leonardo e o Ent se fecharam em sua conversa na língua silvestre. Restou a Tildror ficar atento na floresta e na aproximação de Feras Corais. Margareth dormiu no seu saco de dormir. O dia amanheceu e Tildror acordou num sobressalto. Viu dezenas de criaturas-árvore reunidas, balançando com o vento. Leonardo estava no centro, sorrindo contente. Havia um colar de flores em seu pescoço e algumas raízes cresciam em suas pernas. Esfregando os olhos, Tildror foi checar seu equipamento. Momentos depois Leonardo estava ao seu lado.

- Obrigado por me acompanhar. Agora vamos receber uma dádiva de Allihanna, meu amigo. Vamos beber.

Sem entender muito bem, Tildror conduziu o cavalo com Margareth pela floresta até um riacho que corria livre. No entanto, não era límpido. Havia um bolor vermelho em várias partes, mostrando a infecção da Praga. Leonardo pegou uma caneca feita de madeira e pegou um pouco daquela água. Bebeu e ofereceu à Tildror e a Margareth explicando que antigamente, essa bebida poderia conceder a vida eterna. Hoje, após a Praga, ela apenas mantém livre das doenças naturais. Tildror bebeu e sentiu o gosto de cerveja adocicada. Sem mais delongas, Tildror conseguiu convencer Leonardo de ir embora e deixar para uma próxima oportunidade a conversa dos ents. Partiram em viagem para Fortuna, com um pergaminho escrito de forma incompeensível, para uma sacerdotisa de Nimb. Margareth parecia contente com a chance de ver um templo a Nimb. Em Ahlen, haviam alguns templos, mas tanto povo quanto nobreza não eram muito religiosos.

Eles encontraram uma vila onde pegaram um navio que partiu para Fortuna, atravessando o Rio Daganir. Um dia depois, estavam lá, saltando em uma cidade pequena. Tildror se informou sobre o reino e descobriu que aqui poderiam haver magos, mas como aventureiros aposentados, morando em suas vilas de origem. Nessa cidade pequena, por exemplo, havia Jokkar Helonar, um exímio caçador épico que foi responsável - junto com um grupo de aventureiros - pela destruição de um monstro que parecia uma montanha, chamado de Random pelos campesinos. Sem muito interesse pelas lendas locais, Tildror percebeu que as pessoas eram mais estranhas que em Tollon. Vestiam toda sorte de amuletos no pescoço, carregavam símbolos no braço, nas pernas ou na cabeça. Mais de uma vez viu algum vendedor de amuletos que prometia a vida eterna. Segurou Leonardo mais de uma vez impedindo que ele comprasse algum galho ou amuleto que supostamente vinham da própria Allihanna e protegiam contra animais perigosos.

O grupo pegou uma estrada e se dirigiu ao sul. Pelos cálculos de Tildror, chegariam à Nimbarann, capital de Fortuna, em uma semana. No caminho, passaram por famílias pobres de camponeses que seguiam viagem como uma procissão. Um dia, ele indagou um camponês.

- Estamos seguindo para o templo de Kori-Khodan, o filho de Nimb e Marah. Ele nos dará terras e boa sorte.

Tildror ficou curioso e quis visitar este deus. Não sabia o que esperar. Num mundo em que ele era protegido por Sszzaas, abençoado por Thyatis e Lena, não seria impossível haver um deus ou semi-deus filho de dois deuses maiores. Então, durante um dia de calor, andando pelas planícies, ouviram um piado de águia nos céus. Avistaram uma criatura metade leão, metade águia servindo de montaria para um elfo de cabelos púrpuras, mantos roxos. Sorriso no rosto. Era Peleannor, o mago. A lembrança de Ilendar contando sobre ele veio à mente de Tildror.

Peleannor morreu misteriosamente quando decidiu se separar do grupo para fazer uma caminhada matinal. Ilendar então, decidiu expor a todos que Peleannor não era um elfo, na verdade. Era um tamuraniano que tinha como missão secreta de caçar e matar Kurumada Sano, o monge corrompido. Ele guiava com os aventureiros para ajudá-lo como dívida de gratidão e quem sabe, encontrar pistas que levem à Kurumada. Entretanto, após a morte de Peleannor/Hitsugaya Roki, sua aparência ainda era de elfo. Notadamente, a magia de transformação momentânea deveria passar com sua morte e isso não aconteceu. Nenhum item de transformação foi encontrado em seu corpo. Mistério...

- Guildror Tivanor, meu ex-companheiro aventureiro! - Dizia ele, com um largo sorriso, descendo de sua montaria, um grifo.

- Como sabe meu nome e como me encontrou? - Tildror estava desconfiado e olhou de esgueira para Leonardo para saber de sua reação. Ele parecia apenas em prontidão, aguardando a necessidade de agir. Aparentemente, não entendeu ou não achou importante a mudança de nome de Tildror para Guildror.

- Ora, acha que sou um conjurador de truques baratos? Sou mago! Estudo e por isso sei de tudo. Sei da sua missão divina também. Encontrei um anúncio seu em Tollon e quase chorei de rir! Nunca encontraria um mago num reino de lenhadores.

- Certo, o que você quer, então? Será que veio me ajudar lembrando os velhos tempos?

- Velhos tempos? Te conheci ontem!

- Sete meses, mais ou menos.

- Ah, humanos e suas vidas curtas. Sete meses é o tempo que demoro para pensar numa pequena questão. Bem, aqui estou e sim, venho te ajudar. Mas por um preço, é claro. Posso avaliar a sua pilhagem que fez com a Quinta Lâmina de Keenn e aquele elfo belicoso. E posso ainda te dar uma ajuda extra: teletransporte! Já ouviu falar? - Tildror disse que sim, mas na verdade, fazia idéia do que seria pelo próprio nome. Pensou que seria um transporte mágico mais rápido.

- Sim. Tudo bem. Mas quero comprar pergaminhos para identificação, quero saber por mim mesmo que tipo de encantamento estas armas e armaduras têm.

- Que assim, seja. Voltarei amanhã com dois pergaminhos. Tenho um aprendiz que faz isso pra mim, então não vou exigir mais do que dois dele. Boa sorte!

Peleannor montou no grifo e partiu. Tildror lembrava que o tamuraniano era calado e tímido. Ajudava no que precisava, mas era totalmente diferente deste Peleannor bufante. Tildror explicou a Leonardo quem era o elfo (ocultando sobre como ele morreu e como ele escondia sua verdadeira face de tamuraniano) e convenceu o jovem druida de cumprir a missão de Serynn, a sacerdotisa de Lena de Barud, por ele. Leonardo, então, se despediu dos dois com sorrisos e ganhou um beijo no rosto de Margareth. Tildror apertou sua mão sentindo-se um pouco constrangido, mas sinceramente agradecido. Leonardo e Cânin partiram para sul. No dia seguinte, Peleannor chegou com seu grifo. Mostrou os dois pergaminhos e alguns itens foram identificados. Mágicos, em sua maioria. Satisfeito, pensou na utilidade de cada um deles para o grupo e vendeu apenas aqueles que julgava menos úteis, como o peitoral de aço e a glaive de Maedhros, ambos mundanos. Ficou com a armadura de batalha mágica com cravos de Peter Burke e a espada longa mágica de Maedhros, além da lança de khubariano de Kuala-Lampur. Feito as negociações, Tildror disse que queria aprender o básico de magia. Ele desconfiava que aquele era um impostor, mas decidiu fazer o jogo dele. Peleannor disse que não aceitava mais aprendizes, infelizmente.

Gestos arcanos, palavras mágicas. Um círculo azul formou-se em volta de todos e em seguida uma parede também de energia azul os envolveu. Segundos depois, sentiam seus estômagos revirarem e assim que a parede de energia azul desceu, viram que estavam em outro lugar, mais quente, mais abafado. À frente, viam as muralhas mais altas que já haviam visto em suas vidas. Eram as muralhas de Tiberus, a capital do Império de Tapista, o Reino dos Minotauros. Peleannor sorriu e se despediu com um duvidoso "até breve!" e partiu voando com seu grifo. Para Tildror, Margareth e o cavalo, à frente, o reino da escravidão.

- Iria usar isso em noites tediosas com você. Será útil aqui, "meu senhor" - disse Margareth com um tom de sarcasmo, mostrando as algemas que retirava de sua bolsa de couro de jacaré.

- É por isso que te amo. - Tildror pôs em prática o plano de fazer documentos falsos, que se fossem mostrados rapidamente, não seriam descobertos. Margareth seria a escrava e Tildror, o seu senhor. Queriam aproveitar a escravidão permitida em Tapista para que as portas se abrissem para Tildror. Entretanto, as coisas eram muito mais complicadas que o casal pensava.

Ao longe, viram uma comitiva de minotauros caminhando pela estrada (essa sim, melhor do que em Ahlen, pois era pavimentada com pedra branca, polida e bem feita). Preso a uma corrente, um escravo (?) com panos pesados no rosto, na cores laranjas. Ele notou que fora visto, antes que pudesse fazer qualquer coisa. Margareth estava com as algemas e ficou apreensiva.

- Tildror?!

Foi a voz que saiu do escravo de mantos pesados. Uma voz feminina, mas forçando ser grossa. Muito familiar. Tildror estava com cabelos nas costas e barba negra espessa, mas foi reconhecido. Foi reconhecido por Ilendar.

4 comentários:

R-E-N-A-T-O disse...

Demorei mil anos pra ler tudo, mas terminei. Mas que grande fdp é esse Tildror! O druida que teve que terminar a missão de Lena... Coitado.

Aldenor disse...

Como sempre, esqueci muita coisa e alterei muitas outras, mas tudo pela história. E o próximo Crônicas é aquela sessão onde faltou Digow. A pré-aventura pronta. Vou mudar o inicio dela, para vcs não se aventurarem sem recursos de magia e PVs baixos.

Capuccino disse...

Maior post!!

AHuAhAUHAU

Ainda bem que nao jogo mais com o Maedhros, ele só se fode!! =pp

Marins disse...

Muita coisa diferente.. mas ficou mt bom... demorei mt pra ler tb...


domingo tem jogo!