quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Últimos Dias - #1 O começo do fim


As Montanhas Uivantes é uma região montanhosa onde sopra um vento gélido que mantém o clima glacial. Abundam as teorias dos estudiosos sobre este fenômeno. Os religiosos indicam que a responsabilidade é a presença de um deus do gelo, de imenso poder. A verdade é que esta região é deveras isolada do resto do Reinado. Para o povo comum, nada se sabe de lá a não ser que é tolice viajar para uma região tão hostil e fria.
Apenas alguns poucos mercadores são suficientemente ricos e corajosos (ou loucos segundo alguns) para empregar grandes jornadas para estas terras inóspitas. As dificuldades de sobrevivência criaram grandes tribos bárbaras com grandes capacidades físicas de resistência e força. Homens que vivem da brutalidade e da selvageria onde os toques requintados do saber são luxos que não se pode ter, são inutilidades que não garantem a sobrevivência imediata. De uma dessas tribos, está um personagem desta história. Vanthuir Skullbringer, o Flagelo das Uivantes. Bárbaro, brutal e que demonstra uma inocência deveras perigosa e violenta. Ele não consegue lidar com os problemas da vida de forma não violenta e não se importa com isso. A sobrevivência é a lei de sua vida. É a lei dos Garras Vermelhas.
Recentemente, guiado através de sonhos, Vanthuir Skullbringer se separou de sua tribo e foi buscar seu destino, um motivo para sua existência. Esta é uma lógica que os povos bárbaros desenvolveram além da sobrevivência, fruto da violência sobre a violência: o destino. Eles existem, estão cientes, não apenas para sobreviver, mas para realizar um grande destino. A hitória de uma tribo é calcada em um grande destino e um grande feito. A cada geração, todos os esforços de uma tribo convergem a este ou aquele objetivo. Vanthuir sente o peso de sua responsabilidade histórica perante sua tribo. E ele não pretende fracassar.
Viajando ao sul, ele se deparou com algumas caças: goblins que aliviavam sua tensão muscular, ansiosa para partir ossos, cortar a carne. Nesse sentido, Vanthuir acabou por conhecer gente civilizada. Aventureiros.
Farid, "o único", era o que mais sofria. Robusto, braços fortes, vestia um cobertor de inverno, feito de peles de algum animal. Seu rosto era angular e possuia um cavanhaque cortado além da perfeição. Cabelos negros e curtos, tinha ainda olhos que cintilavam, mas sua expressão era de dor. Com o corpo encolhido, tremia o queixo incessantemente. Parte de seu nariz e bigode estavam duros, congelados. Ele era um homem do norte, de terras quentes. Aquele frio estava além de sua sanidade. Viajava com aquele grupo porque havia decidido para si mesmo ser alguém na vida. Alguém poderoso, capaz de grandes feitos mágicos. Seu amor pela magia e pelas coisas mágicas era combustível suficiente para que ele quisesse viajar por toda Arton. Queria isso tudo por um objetivo psicologicamente obscuro (talvez até para ele mesmo): demonstrar seu valor perante seu pai.
Ao lado dele estava David Crown, ou Davie, como ele insistia que seus amigos o chamassem. Dono de um sarcasmo incorrigível e irreverência que beirava a ofensa, ele sofria pelo frio, mas bem menos. Possuia um chapéu preto com detalhes marrons e se divertia com curiosidade sobre as terras geladas das Uivantes. Vindo de Petrynia, ele fazia parte de uma guilda de aventureiros, os Brancaleone. O grupo buscava, principalmente, descobrir tumbas antigas com seus conhecimentos antigos, masmorras que ocultavam um tesouro perdido, histórias sobre jóias, armas, objetos mágicos ou não, que tivessem valor histórico. Apesar do trágico fim da primeira geração dos Brancaleone, Davie não se intimidou pelas dificuldades quase sempre mortais da vida de um aventureiro. Ser aventureiro era ser único e era este tipo de destaque que ele queria ter.
Um homem negro terminava de compor o grupo de aventureiros. Adedozan era diferente dos homens que Vanthuir estava acostumado a encontrar. Parecia um homem aos avessos pela cor de pele. Sua expressão era fechada, amarrada num eterno mau humor - que não era seu sentimento constante. Com cabelos endurecidos por fezes de elefante, couro feito de animais do mundo quente, ele era um sacerdote da natureza. Um soldado que protegia a natureza, um servo de Allihanna, ou o Grande Leão, como seu povo conhecia a deusa. O seu companheiro para vida toda, Genzo, era um leão de menor tamanho que podia ser facilmente confundido com um leão jovem. Na verdade, ele fora vítima de um castigo por seus anos como entidade maligna e agraciado com uma segunda chance ao lado de Adedozan para cumprir sua pena. O homem também sofria com o frio, mas muito menos que Farid. Ele viajava em busca de conhecimento, desenvolver suas capacidades mentais e físicas para melhor ser útil em sua terra no dia de seu retorno.
Também junto destes três aventureiros, havia Pedwinckle e seu escudeiro Del, o jovem. Pedwinckle era um renomado comerciante que dizia vir de Fortuna e que fazia comércio de objetos de marfim para Luvian, a cidade que abriga os devotos da peregrinação pelo Caminho de Nimb. Sabendo que dessa vez haviam boatos e rumores que as estradas estavam mais perigosas ele decidiu contratar aventureiros para escoltá-lo. Del, filho de um empregado em seu casarão, aprendia tudo que podia para se tornar um bom guarda-costas.
O rápido contato de Vanthuir Skullbringer com Farid, Adedozan, Davie Crown e Pedwinckle fez com que ele fosse um pouco convencido a seguí-los e voltar às Montanhas Uivantes. Pedwinckle fazia questão da presença de um homem forte que soubesse manejar todas aquelas armas que Vanthuir carregava. O grupo teve alguns poucos incidentes com lobos, ursos e um sacerdote de Megalokk, o deus dos monstros e da selvageria.
Tiveram um encontro com um homem em armadura negra, trajando escudo e armas. Seu símbolo sagrado era sua bandeira: era um servo de Keenn, o deus da guerra. Por incrível que pareça, o homem não buscou motivos bélicos para abordá-los. Pedwinckle parecia conhecê-lo, por mais estranho que isso possa parecer. E nem isso fez com que os aventureiros se interessassem. Vanthuir não dava a mínima para palavras ou sutilezas. Davie Crown não entendia de símbolos sagrados e sabia que nem todos os servos do deus da guerra eram loucos em busca da morte de tudo e todos. Farid não detectou nenhum pertence mágico no homem e logo perdeu o interesse como havia perdido na feira de Luvian - onde as pessoas eram enganadas achando que comprava itens mágicos quando na verdade compravam itens estéreis de magia. Adedozan apenas ficou intrigado sobre a possível ligação, mas relevou com as palavras de Pedwinckle:
- O mundo está de pernas pro ar. Há rumores de uma nova área de Tormenta no norte das Montanhas Uivantes.
O grupo se comoveu e Farid teve que explicar para Vanthuir para que ele pudesse entender sobre a tragédia. Mas como ele havia já reparado, o povo civilizado superestima demais os cataclismas da vida e não sabem que bastava ser brutal e violento que os problemas eram destruídos.
Logo após isso, neste caminho, conheceram Blasco Pés-pesados, um halfling com sangue nos olhos e dentes rangidos. Era um guerreiro, raridade entre os de sua raça e com rara disposição para aventura. Ele parecia se importar muito com aparências, nomes, títulos e parecia sempre falar sozinho ou sobre as histórias de sua avó, dona Brigitte Pés-pesados. Histórias essas que faziam algum sentido ou complementavam alguma informação que o grupo precisava adquirir.
Tão rápido quanto foi incorporado, foi obliterado. Blasco Pés-pesados em sua breve passagem pelo grupo, talvez não tenha gostado da brutalidade de Farid, do sarcasmo exagerado de Adedozan, das palavras fáceis e amigáveis de Vanthuir Skullbringer, ou dos conselhos de sabedoria selvagem de Davie Crown. Isso mesmo, ele prestava pouca atenção nas coisas e nas pessoas do mundo, pensando em ser herói, famoso e olhando somente para si. Sumiu sem deixar vestígios.
O grupo chegou, enfim, a Giluk, o destino de Pedwinckle, a maior vila esquimó das Uivantes. Mas cuidado, não vá chamar um daqueles nativos de esquimó. É um nome pejorativo. Pedwinckle chegou, e nem descansou direito partindo para os negócios. Disse que precisava falar com o grupo no dia seguinte. Todos resolveram descansar da longa viagem e fazer pequenas incursões pela vila. Farid apreciou um pouco da bebida local: gullikin (leite de mamute tirado na hora).

Continua...

4 comentários:

S i n n e r disse...

Excelente relato, gostei da maneira que foi construído. Narrar sem o recurso da primeira pessoa pode ser chato, mas felizmente esse erro não aconteceu aqui.
Parabéns.
Abraços e adièau

PS1.: O sangue do clérigo de Keen tingiu a noite de vermelho no dia da traição. Um banquete e tanto para os carniceiros das trevas.

PS2.: Fiz algumas correções no texto, um pontinho aqui, um acerto de conjugação/construção/português ali. Nada perceptível. Espero que não se importe Aldie.
Cya o/

Aldenor disse...

Não me importo não. Ajuda pra tornar o texto melhor é bem vida. Muito bem, amanha faço a parte na torre propriamente dita. Apesar da minha memoria poder me trair... ahuahuauha

Marins disse...

Estou sem pc's em casa,os dois estão quebrados...
mas como já foi dito, não vou poder jogar no sábado, minha mãe viajou e estarei na loja.

infelizmnte

Marins disse...

adorei os textos.

em breve eu posto historico de Diagor, entre outras coisas q estive pensdo...