segunda-feira, 6 de julho de 2009

Vanthuir Skullbringer - Flagelo das Uivantes

Frio.
Desolador, interminável, mortal.

Talvez fosse a primeira sensação que ele registrara em vida. Desde cedo aprendera a sobreviver nas montanhas geladas. Nascera num parto improvisado, em meio à uma das freqüentes viagens da tribo em busca de paragens menos desoladoras. Seu pai, Vegvisir, recebera seu nome graças às previsões da matriarca. É o mesmo nome do compasso rúnico marcado em seu peito antes da "primeira passagem". Uma marca de sorte e poder, e graças a isso - e também por isso - ganhou seu sobrenome de adulto. Whitefox. Esperto, capaz de sobreviver em qualquer ambiente e achar qualquer caminho. E era isso que fazia no dia em que Vanthuir nascera, conduzia a tribo.

E talvez por essa razão - a viagem - Vanthuir tenha recebido esse nome. Significa peregrino. Mesmo a matriarca não se opusera à escolha. Suas previsões revelavam que a criança trilharia muitos caminhos, veria muitas paisagens, seria um verso constante nas canções de viagens e descobertas.

A própria havia realizado o parto, numa iurta débil, no alto das montanhas, em meio a uma tempestade constante e à escassez de recursos. Fora um ano difícil. E por isso também sua mãe não resistira. Gibu-Auja não era bela mas decerto fora abençoada. Dera cinco filhos à seu marido, todos homens, todos saudáveis. Vanthuir fora o último da linhagem e viera quando sua mãe já havia resistido a trinta invernos. Velha demais, cansada demais, fraca demais. Seus últimos dias foram passados ao lado do rebento mais novo, no que restara da viagem. Assim que estavam outra vez instalados, ela fez a passagem. A "última passagem".
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Frio.
Branco, estéril, opressor.

Vanthuir já sobrevivera a onze invernos. E adorara. Pelo menos havia adorado até a chegada do seu décimo segundo inverno. Era chegada a hora de fazer a "primeira passagem". Sobreviver sozinho durante seis escudos e retornar à tribo trazendo histórias, experiência, conhecimento e um presente ao líder. Ele daria seu nome de adulto, recebido com respeito por todos e honrado por seu possuidor.

Whitefox. Whitepaw, Sharpclaws. Strongteeths, Ragewolf. Sua família possía nomes fortes, poderosos. Seu pai trouxera o caminho. O primogênito, um manto de pele de urso branco. O segundo, um colar de garras, algumas com mais de quinze centímetros de comprimento. O terceiro, armadilhas. O quarto, trouxera um filhote de lobo atroz, companheiro do líder até hoje.

Como suplantar esses feitos? Como equiparar-se e honrar seu sangue abençoado?
Partira com essas e outras perguntas na cabeça, rumo ao exílio auto-imposto.
Seis escudos para provar seu valor.
Seis escudos e seria homem.
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Frio.
Acolhedor, carinhoso, constante.

O caminho para casa consumira suas últimas duas luas. Sentiu o cheiro da tribo antes mesmo de avistá-la encrustada em um platô, na base das montanhas. Era o fim da primavera e a vida fervilhava no acampamento. O Grande Lobo tinha sido generoso e as crianças enchiam o ar com suas vozes estridentes. Vanthuir caminhava com um sorriso genuíno no rosto e lembranças doces na cabeça. Corria num ritmo constante os últimos quilômetros que o separavam de casa. Do lar.
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Frio.
Desafiador, brutal, furioso.

- Meu presente para Hræthigaldur, meu líder. - Falou Vanthuir com voz firme, decidida.
Seu rosto, seu crânio, seu corpo, sua alma ainda traziam as marcas da passagem. Três grandes cicatrizes sobre o lado esquerdo da face. Um olho cego. Parte do escalpo faltando.
Ele estendia à Hræthigaldur um grande pacote coberto por peles.

- E eu aceito de bom grado Vanthuir, filho de Vegvisir. - Disse Hræthigaldur, recebendo o pacote com a pompa que era devida ao momento.

Hræthigaldur nascera pra liderar. A matriarca predissera seus feitos muito antes dele vir de fato ao mundo. Significa medo aos inimigos. A tribo florescera sob sua mão e aprendera a amá-lo como a um pai. Era terrível em combate e sábio em suas decisões. Amável como uma avó e esperto feito um furão. Um homem fantástico.

Toda a tribo acompanhava a cerimônia e a ansiedade era palpável. Qual seria o presente? Toda sua família sempre surpreendera a todos. Seria o jovem guerreiro capaz do mesmo? Suas marcas denunciavam uma viagem difícil. O que teria trazido?

- Eu matei o futuro. O futuro de nossos inimigos. Levarão muitas luas para chorar suas perdas e várias estações para semear novamente suas mulheres. Envenei seus ventres. Nossos filhos crescerão em paz, por toda minha geração. - Não havia dúvidas em sua voz ou remorso em seus olhos. Estava impassível, enorme, impiedoso. Não existia nele sequer uma pálida sombra de quem partira.

Ao abrir o pacote, Hræthigaldur contemplou seu interior. Diversos crânios - pôde contar vinte e sete -, de tamanho e forma variados, espiavam-no com olhos mortos. Um odre de couro estava fechado no centro. Parecia um órgão de algum animal feito de odre, curtido e preparado.

- Aceito seu presente jovem Vanthuir. - E o aglomerado em torno explodira em júbilo.

- Meu coração sente orgulho e minha mente vaga pelo futuro. Você honra a casa de seu pai e o sangue que corre em suas veias. A tribo tem honra por tê-lo gerado. De hoje em diante que todos cantem também o seu nome, quando recitarem a história da tribo. Você resistiu, sofreu, feriu e venceu. Seu crânio traz as marcas da batalha, seu rosto, a história de teus feitos. E você retornou. Me trouxe as cabeças, as faces do futuro. Skullbringer. Seu nome trará medo à alma dos inimigos e orgulho ao coração da tribo. Levante-se e vá, Vanthuir Skullbringer.

E ele se levantou, ouvindo de longe as saudações e comemorações da tribo. Fitava o rosto de seu pai e irmãos, no fim do caminho. Podia sentir sua aprovação, tatear seu orgulho. Era um homem e tinha respeito.

A viagem apenas começava.

4 comentários:

S i n n e r disse...

Olla olla senhores.
Conforme havia dito, estava prestes a postar alguma coisa (só não tinha decidido o que).
Aí está, o background de Vanthuir, bárbaro das Uivantes. Procurei não revelar o máximo possível, conforme pedido por Aldie, mantendo a dramaticidade e a atratatividade do texto.
Espero que gostem. A imagem que o personifica não é bem essa porém é muito (muito mesmo) difícil encontrar boas imagens de bárbaros na internets, mesmo com o deus Google.
Essa imagem seria muito mais uma versão futura do Vanthuir do que seu presente. A descrição atual será dada na mesa, no momento do encontro. ^^ .
Não sei se encontrei o tom certo das tribos bárbaras mas, pelo pouco que conheço e pesquisei do assunto, acredito que seja por aí mesmo. Espero vida longa ao Vanthuir e a todos os outros, assim como à campanha.
Abraços e adièau.

PS1.: O nome Vanthuir significa mesmo "peregrino". Joguei no google de curiosidade e veio um estudo completo do nome. Vou tentar traçar um perfil psicológico a partir disso e me guiar por ele.
Sempre me assusto com essas coincidências. O.o

PS2.: A quem interessar possa, Gibu Auja é a runa de boa sorte, assim como Vegvisir é a runa de compasso e Hræthigaldur a runa de medo aos inimigos. As tenho em .bmp, na próxima oportunidade os mostro, se quiserem.

R-E-N-A-T-O disse...

Bom, gostei. É agressivo como esperava que fosse. hehehe

Vou escrever o histórico de Farid, que é meio oposto a esse seu. E posto em alguns dias.

Aldenor disse...

Heheheh
Faço um apelo básico desde já. Últims Dias é sobre pessimismo, mas os personagens não devem ser exatamente recentidos com o clima de fim dos tempos. Seria interessante que fossem tbm inspiradores, aventureiros (de preferencia bondosos) que tbm servissem de contrapartida ao momento geral dos comuns, plebeus, dos nao-aventureiros em geral.
Mas me agradou bastante a criatividade e me deu, sem sombra de dúvidas, MUITOS PLOTS e já sei como te encaixar praticamente na primeira cena da aventura.
Sobre o tom das tribos das Uivantes, vc avaliou bem um dos aspectos. Existem outras tribos que nao são nômades ou semi-nômades. Mas a sua encaixou bem no perfil geral.
E sim, o PS2 foi interessante inclusive como plot.
Vida longa ao Ultimos Dias! (se é que isso é possível...)

S i n n e r disse...

Olla novamente senhores.
Eu compreendo a temática de pessimismo e sua vontade de fazer-nos bastiões da esperança (salvo devidas proporções), mas é difícil não ressentir-se do clima pessimista que impera no cenário (sob o ponto de vista de construção de personagem). Como integrante de uma cultura bem brutal - praticamente sobrevive o mais forte - é difícil moldar um bárbaro com ideais bondosos (no significado literal da palavra).
Notadamente ele seria brutal e impiedoso com inimigos e amável e prestativo com amigos/parentes, e qualquer coisa diferente disso ficaria meio fora de foco. E isso não denuncia efetivamente uma ausência de bondade, e sim uma ausência de bondade como estamos acostumados a ver nos meios aventurescos, dos paladinos brilhantes e clérigos bons.
A liberdade de não possuir um paladino no grupo pode levar os personagens a caminhos bem interessantes, talvez pelo simples fato de não ater-se a uma conduta taxativamente boa.
Quanto a agressividade, acredito, novamente, ser uma constante nos meios de barbárie. Tenho lido alguns livros de romance histórico e uma parte deles trata, em parte, de épocas/civilizações semi-bárbaras ou bárbaras no sentido mais amplo da palavra (história de Gêngis Khan, Império Romano, Invasões Saxônicas e Conflitos Tribais Ingleses, por exemplo). E o ambiente lá não difere muito do descrito, pra melhor ou pra pior.
Mesmo assim aprecio os elogios e absorvo as críticas, como sempre. Espero conseguir dar o tom que desejo à Vanthuir.
Abraços e adièau.

PS.: Note que o background encerra-se aos 12,5 anos de idade. Um avanço de idade se faria necessário (não efetivamente, como queira o mestre) e com isso, qualquer plot (além dos sugeridos) encaixaria-se. Hugs.