quinta-feira, 1 de abril de 2010

Contos Artonianos #7

- Agora preciso de silêncio.
Korn e os outros haviam atravessado algumas ruas e entrado no bairro dos anões, guiados por Delrin, a fim de chegarem aos arredores do templo de Khalmyr onde o anão trabalhava. Arthur teve a idéia de usar o templo da justiça como uma base mais confiável naquela madrugada. Dificilmente os cultistas da Sociedade da Noite Eterna teriam a audácia de enfrentar um templo do deus da justiça em Valkaria. Um confronto aberto seria absolutamente estúpido. Ferannia estava mais calada que o de costume, nem fazia pequenos comentários pejorativos em relação à Delrin ou a Korn. Parecia mais triste, mas somente Arthur havia percebido. Eles saíram do templo de Khalmyr e foram até a praça principal do bairro. Ali, se esconderam entre as estátuas de anões de glória e renome enquanto Korn avançaria pela escuridão até a rua que cortava a praça.
Ali, ao final dela poucos metros depois, estava o casebre que eles iriam invadir.
Andando em silêncio, Korn chegou à esquina da rua. Visualizou o casebre e notou dois anões fazendo vigília em frente à porta dupla de pedra maciça e já desgastada pelo tempo. O casebre tinha dois andares, o que era bastante impressionante para uma construção residencial anã. Havia duas janelas em cada andar, uma do lado esquerdo e outra do lado direito da porta dupla. Elas estavam trancadas com pedaços de madeira para impedir que fossem abertas dos dois lados. O lugar estava sujo e mau cuidado.
Os anões que vigiavam a entrada eram truculentos, vestiam armaduras de metal como as de Arthur: um colete de couro coberto por plaquetas de metal sobrepostas, como escamas de peixe. Usavam escudos e maças pesadas. Suas barbas e peles eram acinzentadas e seus olhos brilhavam vermelhos. Korn poderia pensar que eram zumbis, mas não cheiravam tão mal e definitivamente eram inteligentes. O goblin sentiu muito medo de ser pego e voltou.
- Como pode os milicianos deixar um culto proibido proliferar debaixo de seus narizes? Eu não arrisco meu pescoço sozinho nem por todo ouro do mundo.
- Não precisa se preocupar com isso, Korn. Estaremos com você agora. Vamos lá, Delrin e Ferannia. – Arthur ergueu o braço e fez um sinal com a mão de positivo. Tinha o brilho no olhar de um jovem encarando o perigo.
Com armas em punho, os quatro avançaram pela noite sem medo de serem vistos. Ao avistarem os aventureiros, os dois anões se entreolharam. Um dos dois abriu a porta dupla e entrou no casebre. Arthur praguejou e pediu para Korn disparar um virote nele para evitar que avisasse os outros. Korn, entretanto, errou.
- Deixe comigo.
Ferannia pegou uma flecha com leveza e sem pressa. Armou-se com o arco e disparou perfeitamente. A flecha atravessou acertou as costas do anão que caiu pesado. O outro anão olhou a cena e cerrou os dentes. Mas só deu para perceber a irritação dele ao ver Delrin e o símbolo de Khalmyr gravado no escudo.
- Morte à Khalmyr!
- Justiça seja feita!
Delrin gritou em resposta e uma arma feita de energia azul surgiu do lado do vigilante. Era um machado anão que reluzia naquela noite. Desferiu um golpe que cortou o ombro do anão vigilante. Ele gritou em dor e largou o escudo no chão.
Arthur correu em investida mirando seus olhos aos olhos do vigilante. Sua espada riscou um arco horizontal e cortou o peito do anão. Ele tombou com sua barulhenta armadura.
- O efeito surpresa já era.
Korn correu sobre o corpo do anão derrubado por Arthur e entrou no salão procurando por prováveis portas secretas e saídas estratégicas. Ferannia passou por Arthur e os anões ao chão andando levemente. Ela murmurou com tristeza alguma coisa inaudível. Delrin se aproximou de um dos anões.
- Este é o preço que se paga por ajudar uma seita maligna de Tenebra. Você e aquele outro desonram os anões e nossas tradições. Ou você acha que o culto à deusa das trevas em Doherimm apóia estas seitas de lobisomens e outros monstros?
- Mate-me logo para que eu possa ir para junto de minha deusa!
- Tolo! Não vê que não está agradando sua deusa? Ela lhe deu inteligência para perceber que suas crias não foram feitas para se aliarem, muito menos ela prega a morte das criaturas sobre a superfície!
Arthur colocou a mão no ombro de Delrin e fez um sinal negativo com a cabeça. O anão vigilante só resmungava e cuspiu no chão. Delrin resmungou também e moveu-se, deixando os anões pelo chão. Arthur percebia que Delrin estava transtornado e poderia fraquejar nessa missão. Já dizia um grande aventureiro do passado: “entre com o sangue ruim numa luta e ele logo será derramado”.
- Delrin, você está bem?
- Sim, Arthur. Mas estes anões me tiram do sério. Os anões devotos de Tenebra estão em decadência em Doherimm, mas ainda são comuns e são pessoas de bem, tradicionalistas. Mas os que vêm pra superfície e fazem essa leitura maligna da deusa das trevas são uns tolos. Tiram-me do sério mesmo. Que Khalmyr me perdoe, mas me dá uma vontade inestimável de amassar suas cabeças com meu escudo.
Korn achou algo, mas esperou Delrin falar o que queria. Aquilo parecia ter ajudado um pouco a por a cabeça do clérigo no lugar. Eles se aproximaram de uma parede e viram que havia uma porta camuflada ali. Mas Ferannia interrompeu Korn.
- Acho que há algo neste chão.
Ela estava do outro lado da sala, perto das escadas que levavam pro segundo andar. O casebre não tinha outros cômodos no primeiro andar. Era sujo e tinha muito cheiro de mofo.
- E como você pode prever isso? Não estava sem magia? – Disse Korn com tom de zombaria.
- Não foi com magia. Foi intuitivo. Melhor você averiguar este chão onde estou pisando também.
Resmungando um pouco, ele caminhou com suas pernas tortas até Ferannia. Arthur olhou para Delrin e o viu resmungar também, de forma quase idêntica.
- A elfa está certa. Tem um alçapão aqui. Bem, e agora? – disse Korn.
- Anões gostam de subterrâneo, certo, Delrin? – Perguntou Arthur.
- Certo, meu jovem.
- Então vamos para o alçapão. – Arthur moveu-se para perto de Ferannia e sorriu para ela.
- Acho que você está ficando cego, Arthur. Só porque Ferannia achou essa passagem não quer dizer que é a mais acertada. Eu prefiro ir pela porta que eu achei na parede. Provavelmente tem tesouros por ali guardados. – Korn mostrou a língua para Ferannia.
- Não fique com inveja, pequeno Korn. Delrin nos falou que os anões...
- Está bem, mas lembre-se que o culto tem mais lobisomens que anões. Pelo menos foi o que encontramos mais. E eu nunca ouvi falar de lobos que gostam de buracos.
Os quatro ficaram num impasse, num clima desagradável. Até que um barulho vindo da parede acabou com a dúvida. Ela se abriu e de lá começaram a sair criaturas feita de ossos humanóides. Eram esqueletos e pequenos pontos de luz avermelhada brilhavam em suas cavidades oculares vazias. Todos tinham velhas espadas curtas e escudos de madeira enegrecida com um símbolo de estrela negra de cinco pontas.
Arthur apontou para as criaturas e falou para Delrin clamar por Khalmyr. Korn não pensou duas vezes, buscou um canto escuro, perto de uma das janelas fechadas para se esconder. Ferannia sacou mais uma flecha e aproximou-se de Arthur e Delrin ficando em sua retaguarda.
Os esqueletos saíram da porta na parede, um a um e se postaram em frente aos aventureiros. Korn sentia-se seguro escondido nas sombras. Arthur recebeu a investida de dois esqueletos e desferiu um golpe com sua espada, mas resvalando no escudo de madeira de um dos adversários. Eles, por sua vez, desferiram golpes precisos e rasparam no braço, atravessando com a lâmina as placas de metal sobrepostas. Um filete de sangue escorreu e Arthur sentiu dor, rangendo os dentes.
Delrin deu um passo à frente e se aproximou do flanco de um dos esqueletos que acabara de atacar Arthur e desferiu um corte horizontal visando o tronco. O anão acertou o golpe, mas apenas destruiu algumas costelas que não pareceram fazer muita diferença no esqueleto. Outros dois esqueletos avançaram sobre o anão que agora estava mais vulnerável. Porém, as habilidades dos esqueletos não foram suficientes para superarem o escudo grande de metal de Delrin Turgar. Ele rangeu os dentes, girando seu corpo para se proteger dos três esqueletos que agora concentravam suas atenções nele.
Outros dois esqueletos se aproximaram de Arthur, que ainda se recobrava das dores dos cortes nos braços, mas Ferannia disparou uma flecha em um deles, rachando o crânio. Um tiro muito preciso, perfeito. Arrancou admiração de Arthur (como se fosse preciso demonstração de habilidade para que Arthur a admirasse). Korn assistia a ação seguindo com os olhos, querendo agir, mas sentido medo demais para tal. Ele parecia ter um medo maior de mortos-vivos, pois não sabia ao certo quando eles morriam de verdade. Decidiu aguardar nas sombras.
Arthur brandiu sua espada mais uma vez e acertou um golpe desajeitado, pois usou a parte sem fio. Porém, foi um golpe fulminante, destruindo a coluna cervical e desmontando o esqueleto. Seus olhos pararam de brilhar. Vendo a ação, Delrin decidiu desferir golpes com o escudo, pois pensou que a concussão seria mais efetiva. Dois esqueletos atacaram novamente Delrin, mas novamente a habilidade de defesa do anão demonstrou ser superior e ele revidou com o escudo mesmo, aproveitando o balanço que fizera para se proteger. Um dos esqueletos desmontou-se num monte de ossos quebrados. Um outro esqueleto avançou despretenciosamente por eles, um tanto afastado do alcance das armas dos heróis e caminhou para o vazio. Ferannia, então, entendeu.
- Korn, eles enxergam no escuro!
O goblin arregalou seus olhos e não acreditou que o esqueleto viera em sua direção mesmo. Ele atacou com sua espada curta e enferrujada e furou a barriga de Korn. Ele berrou abafado e tombou com a cara no chão, uma mão no ferimento e a outra levemente erguida como quem pedia ajuda. Arthur ordenou a Delrin para curá-lo e que ele cuidaria dos outros esqueletos. Ferannia não sabia o que fazer. Suas flechas eram inúteis naquele momento.
Arthur avançou na frente de Delrin, recebendo mais um corte nas costas, mas ignorando a dor ficou de frente para os três esqueletos. Delrin virou as costas e correu em carga contra o esqueleto que ferira Korn. Com um belíssimo golpe de escudo, o destruiu. Arthur se defendeu de mais dois golpes dos esqueletos, usando sua espada para aparar, mas não conseguiu evitar um corte superficial na perna. Ele estava ferido, mas longe de estar como Korn. Ele se preocupava com seu amigo e não se importava se fosse sofrer mais uns golpes se fosse necessário. Girando sua espada com as duas mãos, decepou a cabeça de um esqueleto. Súbito, Ferannia estava em suas costas e tocou em seu ombro.
- Vai dar tudo certo.
Ela pegou mais uma flecha, mas dessa vez errou o golpe. Arthur sentiu-se mais confiante dessa vez e conseguiu defender-se de todos os golpes, desviando e aparando com a espada. Delrin, nesse momento, clamou por um milagre de Khalmyr.
- Ó, campeão da justiça, peço por sua ajuda para acolher este goblin para que me dê mais tempo para fazê-lo trilhar o caminho da ordem.
Uma luz azul envolveu as mãos de Delrin e ele tocou no goblin. Korn sentiu seus ferimentos se fechando e as dores cessando. Piscou várias vezes entender e acreditar que estava curado. Ergueu-se rapidamente com medo no olhar. Delrin virou-se rapidamente para a batalha e viu o jovem Arthur cuidando bem dos adversários.
Arthur aproveitou o flanco aberto de um dos esqueletos e o cortou ao meio com um grande golpe. Ferannia conseguiu acertar os ossos do braço do outro esqueleto e ele largou o escudo no chão. Delrin observava a cena de frente para o goblin como que o protegesse. Arthur finalizou o combate destruindo o último adversário que estava sem proteção.
- Você está bem, Korn?
- Nunca estive melhor, obrigado amigão.
- Por nada, jovem Korn. As bençãos de Khalmyr são para todos os bons e justos. Você tem potencial.
Korn sorriu um pouco sem graça. Arthur correu até ele com cara de preocupado, mas foi tranquilizado por Delrin. Ferannia também demonstrou um pouco de satisfação. Aparentemente, eles enfim eram um grupo de aventureiros.

4 comentários:

Dudu disse...

Não li ainda, mas quem percebeu que Rengav Evol é Vagner Love ao contrário?????

uHAUhUAHuhAHuHUAhuHUAhuHUAhuHAUh

PUTAQUEPARIU!

R-E-N-A-T-O disse...

PQP!! Merece morrer.

Capuccino disse...

huAhuAhAUhAUhAUhAUHAUAUAHUA

Rengav Evol!!! HAUAHuAHuAHuahAUAHAUHAUAU

Caralho!!

Marins disse...

Quero jogar!