quinta-feira, 4 de março de 2010

Aurora Carmesim #1 - Travessia, parte 5

Forte Éritro, Deheon
Impressionante.
Magnus acreditou que a palavra definiria bem a estrutura ali contida. Centenas de pessoas andando de um lado para o outro entre as diferentes construções corroboravam que havia muito mais ali do que o aparente. Artifícios mágicos de camuflagem e divisão espacial. Ou talvez algo mais?
Infelizmente aquele era o grupo mais experiente de combate à Tormenta que havia sobrevivido aos dias negros de meses atrás. Após sua pesquisa, Magnus descobrira que suas conexões estendiam-se até a extinta Companhia Rubra (ou o que restara dela, ou seja, Reynard) e sua experiência de combate à praga rubra começara nos idos de 1402, na queda da área de Zakharov (e diziam as histórias que eles foram pegos pela tempestade nessa ocasião). Se ele queria matar aberrações, aquele era o grupo certo para fornece-lhe knowhow.
A passagem do dragão da tormenta ainda estava vívida em sua mente. Todos os mortos. Todos os loucos. Guiller. As feridas eram profundas demais pra serem curadas e as coisas que a fizeram ainda estavam à solta por Arton.
Claro, havia um problema. Eles tinham um mago. Ou talvez pior, vários magos.
Ao avistar o portão, ele divisara de antemão duas criaturas guardando-o. Grandes e poderosas. Golens. E se haviam golens haveriam magos.
Sempre tinha de haver um maldito mago.
Não que esse fato constituísse um problema impossível de ser contornado, mas ainda assim era um problema. Jamais confiara em magos. Provavelmente jamais confiaria num mago.
Outra revelação de suas pesquisas fora o fato de que o tal grupo mantinha os portões de seu forte abertos para os que buscassem aniquilar a tormenta. Forneciam conhecimento, itens, pergaminhos, financiamento, ensino, treinamento, tudo o que fosse necessário. Talvez por isso o pátio estivesse tão cheio.
Adentrou fitando as contruções com mais acurácia. Nada muito portentoso porém, todas eram deveras grandes e pareciam estender-se pra baixo sob o solo. O prédio ao qual se dirigia situava-se à esquerda da entrada e contornava toda a face oposta ao portão, possuindo uma entrada principal e diversas outras, assim como varandas e passadiços. Vitrais coloridos espalhavam-se por toda a lateral, tornando a contrução mais agradável aos olhos. Deviam mesmo possuir muitos recursos porque Magnus jamais havia posto os olhos em vitrais, a não ser no castelo do velho Abutre.
Ao chegar à grande porta dupla, antes mesmo de bater, fora atendido por um homem alto, moreno em sua constituição, um tanto quanto esquálido, na casa dos 45 verões. Devia ser um dos criados pois vestia-se de maneira similar a alguns homens que ele vira passando pelo pátio.

- Olá meu jovem aventureiro. Eu sou George, seu criado. Adentre o hall por favor.

Passando pelo homem Magnus adentrou um amplo hall hexagonal, muito bem decorado e deveras acolhedor. Mas algo estava errado. Sua pedra iônica caiu inerte no momento em que cruzara a soleira. Sentia todas as suas proteções, todos os seus subterfúgios, esvaírem-se em fumaça. A magia o abandonara.
Olhou pra trás no instante em que a porta principal se fechou, num estrondo alto e surdo. Procurou instintivamente o criado, que o fitava de pé em frente a uma das três outras portas. Seu sangue congelara nas veias, apenas para explodir em chamas no momento seguinte. A raiva ameaçava consumí-lo."Como ousam?"

- O que deseja do Forte Éritro jovem aventureiro?

Entre dentes, Magnus vocifera:

- Desejo destruir a Tormenta. E desejo ver o maldito responsável por isso...

- Um instante meu jovem. - sibila George, saindo pela porta atrás de si, literalmente atravessando-a.
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- Saudações jovem viajante. Congratulo-o pela chegada a salvo. Acredito que querias ter com a minha pessoa, estou certo?

Magnus fitou o grupelho que adentrava a sala pela mesma porta que ele. Como poderia ser isso? Afinal, divisara um corredor e outro hall atrás dos homens. Malditos magos.
Seu período de espera até que não fora extenso, pelo menos assim ele pensava. Nunca se sabe quais feitiços poderiam ter lançado nele. O tal George trouxera a certa altura um carrinho de madeira ricamente abastecido com água fria, sucos, chás, vinho, cerveja, biscoitos variados, frutas, pães e carnes, queijos, gorad, tudo dividido entre os quatro andares do apetrecho.

"Curioso" pensou, mantendo o carrinho intocado.

Sua raiva já abrandara a muito e ele havia retirado seu elmo abafado na espera. Sentou numa poltrona confortável, pousou a espada a seu lado e mochila a seus pés. Havia quase relaxado quando ouviu o ferrolho da porta ser recolhido. Adentrando a sala, cinco figuras estranhas e bastante díspares entre si.
Um jovem mago, branco, trajando vestes casuais, careca com um aro de ouro na cabeça. Sem cajado e sem bolsa, logo sem arma.
A seu lado estava um homem corpulento, marcado tanto pelo tempo tanto quanto pelas batalhas. Branco, cabelos cortados baixos, algumas cicatrizes talhando os braços, uma túnica verde e calças de viagem completavam seus trajes. Desarmado.
Do lado oposto um anão maçiço, roliço, rígido. Cabelos castanhos longos, barba trançada com diversos anéis, camisa de mangas longas e calça de algodão cru. Igualmente desprevenido.
Atrás do anão, um elfo de olhar afiado. De longe a maior ameaça do grupo. Músculos rijos, postura tensa, rosto suave porém, frio. Seus cabelos vermelhos caíam às costas em uma trança. Podia sentí-lo analisando as possibilidades, mãos fora da vista, preparando o bote. Estaria armado?
Ao lado desse um homem já aparentando cansaço, tempo acumulado sobre os ombros. Devia passar dos 35 invernos. Barba bem aparada, cabelos caindo sobre os ombros, alto e musculoso. Trajava mantos e vestes peroladas e apesar do semblante sereno, possuía olhos aguçados.
Marcou o elfo como maior ameaça imediata, descartando tanto o anão pela sua precária mobilidade quanto o jovem interlocutor, por ser claramente um mago e não ter seus apetrechos necessários. Os dois humanos poderiam até representar desafio caso portassem armas, o que não era o caso.

- Perscrutar nossa formação e presumir que somos presas fáceis em nossa própria casa não me parece uma atitude sábia meu jovem Magnus. - começara o jovem mago, enquanto adentrava a sala e sentava na poltrona oposta à sua.

- Nada é o que aparenta garoto. - continuou o velho, apanhando um biscoito e cruzando o hall -
Espero que aprenda essa lição antes de viajar novamente.
O anão apanhara um pedaço de pão e recheava com alguns pedaços de carne, alheio à conversa que iniciava.
- O que o traz ao Forte Éritro meu jovem? - incitara o guerreiro de verde, apoiando-se em um criado-mudo no canto oposto a Magnus.
O elfo permanecia parado, teso como uma corda de arco pronta pra disparar. Mantinha a vigilância pela periferia da visão, quando começou a falar.
- Vim em busca de conhecimento para destruir a Tormenta, só isso. Não preciso de ouro ou de suporte, só saber como. Me dêem isso e vou-me.
- Conhecimento é poder meu jovem mancebo, conhecimento sempre foi poder. Aliás, permita-me fornecer-lhe um pouco mais de poder. Eu me chamo Viktor, Arquimago de Valkaria. Aquele faminto anão é Darin Ferroforte, guerreiro anão lendário e Protetor de Doherimm. O homem à minha esquerda é Thomas, paladino e guardião da realidade de Tannah-Toh e o homem sentado à direita é Halfdan, alto-clérigo e campeão ordenado de Khalmyr. O jovem simpático na soleira é Thaedras, o Leão, líder da Ordem da Fênix Escarlate e flagelo dos goblinóides de Lamnor.

- Então Viktor, se sou bem-vindo, porque destruir meus itens e proteções mágicas assim que entrei em sua casa?
- Não me julgues assim tão duramente Magnus. Nem todos adentram os portões com o intenções benignas. Nossos tesouros e conhecimentos são ambicionados por muitas criaturas. Seus artifícios mágicos não foram destruídos e sim temporariamente anulados, para que conversemos de maneira igual.
- Acompanhe-nos Magnus, pois a hora em que chegaste não foi tão bem aventurada. Desfrute de nossa hospitalidade antes de prosseguirmos com sua instrução. - disse levantando-se Lothgar, se dirigindo à porta.
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Antes de cruzar a soleira, Viktor murmurou inaudivelmente: "Oasnepsus".
Cruzando o olhar com Halfdan pode vê-lo pedir em silêncio: "Khalmyr, julgue".
Depois de um segundo de hesitação, Halfdan postou-se de lado, liberando a passagem ao recém-chegado. Era justo.

3 comentários:

Aldenor disse...

Hhehehe Magnus, o bronco. Ficou bem retratado.

R-E-N-A-T-O disse...

Viktor o careca! hauhauhauha

Marins disse...

o que tem no epico?


preu pensar num persona