quarta-feira, 3 de março de 2010

Aurora Carmesim #1 - Travessia, parte 4


Forte Éritro, Deheon

Finda a balbúrdia que foi a refeição, os cinco amigos caminhavam calmamente em direção à sala de mapas para um aperitivo. Existiam lá bebidas sequer imaginadas por pessoas comuns, néctares e licores, vinhos e destilados, coisas que jogariam ébrios na sarjeta com apenas um gole.
Darin ainda retirava pedaços de faisão da barba enquanto Viktor massageava o braço açoitado pelo anão após a infame brincadeira. Halfdan e Thomas conversavam energicamente sobre algo como o arranjo de poder após a ascenção do Terceiro, enquanto Thaedras seguia sorturno, fitando o piso com um ar de dúvida e urgência que retesava os ombros e nublava os olhos.
Observador ao extremo, Viktor fora o primeiro a notar.

- O que traz tamanha tensão à sua cabeça estimado amigo? Quase posso palpar a atmosfera de dúvida que o cerca.

- Há, de fato, algo que me incomoda Viktor. Uma mensagem, entregue por alguém que ainda não consegui definir se é amigo ou inimigo. - disse Thaedras interrompendo o silêncio, ao mesmo tempo em que retira a estranha pedra de seu bolso.

- O que seria isso? - dispara Darin, tomando a pedra numa fração de segundo.

Os cinco estacaram quase à porta da sala de mapas.
Lá dentro a lareira ardia reconfortante, bruxuleando sua luz dourada pelo extenso ambiente. Espalhados pelas paredes laterais à porta, mapas, esquemas, gravuras, diagramas e representações ocupavam quase todo espaço possível. Reinos, cidades, regiões, castelos, masmorras, planos, criaturas, quase toda coisa passível de ser descrita e mapeada tinha um equivalente ou representante naquelas paredes. A mesa central, feita de obsidiana pura, recendia um brilho pálido, quase uma aura prateada, que não se misturava ao ambiente mas também não forneceria claridade. Poltronas vermelhas de espaldar alto, globos, discos, dois móveis com quase a altura um homem de cada lado da lareira e um mapa sobre ela, grande, colorido, rico em detalhes e, pasmem, pontilhado de objetos que se moviam, completavam o ambiente.

- Quem lhe entregou isso e com que propósito? - se aproxima Thomas, fechando o cerco.

- Me parece trabalho mágico. - distrai-se Darin - É impossível fragmentar uma rocha dessa forma, sem ranhuras, sem imperfeições, por menores que sejam.

- Mas ela não possui aura mágica alguma, eu a notaria no momento em que pus os olhos nela. - diz um interessado Halfdan, deslizando seu dedo indicador pela superfície fendida.

- Entremos pois, nobres colegas, afim de examinar com maior acurácia o mineral.

Automaticamente eles acomodam-se ao redor da grande mesa. Não havia mais júbilo ou felicidade em suas expressões e apenas a resolução era visível. Acomodando a pedra sobre a mesa eles sentaram-se em pleno ar.

- Zul! Rehlocne! - ordenou Viktor e um ponto luminoso como um dia de verão acendeu-se sobre a mesa negra, que encolhia, fazendo a reunião assumir ares de conspiração.

- Magnífico trabalho. Você estava coberto de razão, astuto Darin, posso sentir resquícios dos artifícios arcanos utilizados na confecção dessa peça.

- Nenhuma mão mortal ou imortal seria capaz desse corte, disso eu tenho certeza. Mas, e essas marcas?

Pontilhadas e riscadas na pedra haviam marcas, dispostas tais como um mapa ou pedaço dele. Nada além de algumas representações grosseiras de símbolos comumente usados pelos exploradores. Nenhuma outra informação, nenhum ponto de partida ou forma para associação estavam visíveis.

- Halfdan?

- Minha visão não revela mais nada Viktor. Não há subterfúgios ou artifícios ocultos, nada foi escondido ou engatilhado. A verdade está toda aí.

- Então meu caro Thaedras, o que de fato aconteceu? - perguntou Thomas, finalmente instigando Thaedras a detalhar seu encontro.
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Luna seguia alta no céu. A foice. A lua dos assassinos.
Tendo a floresta como manto, o Leão se deslocava silenciosamente, tal qual sua alcunha. Invisível a olhos comuns, ela caminhava ponderando seu próximo passo, o próximo movimento da resistência. Seria preciso também encontrar-se com a Ordem, já que pensamentos sombrios vinham ocupando-lhe a mente nas últimas semanas. Algo estava por acontecer e não seria algo banal. Thaedras aprendera a muito a confiar em seus instintos, isso garantiu sua sobrevivência em mais de uma ocasião. Mesmo na queda do inferno rubro.

CréÉcK!

Antes mesmo de sua mente registrar o ruído Thaedras teve certeza de que não estava sozinho. Fitou a escuridão com calma. Por traz de suas lentes mágicas um dia primaveril não seria mais claro do que essa noite. Pousou seus olhos numa figura bem distinta. Baixa e compacta , cabelos negros pelos ombros, túnica verde-capim, armadura forte e rija. Mãos poderosas se fechavam em luvas desproporcionalmente grandes. O olhar aguçado do homem pousou sobre ele como se o estivesse vendo. Num movimento quase imperceptível ele retirou algo de um dos bolsos.
Não exalava ameaça nem vontade alguma de matar.
Thaedras retesou-se inconscientemente. A mão pousou sobre o cabo de sua espada e sua boca murmurou palavras breves, acionando seus subterfúgios mágicos. Poder, alcance, movimentação, estratégia, tática, ações prováveis, tudo isso fluía em torrente pela mente de Thaedras.
Embate, combate, sangue. Os sentidos estreitando-se. Matar. Vencer.

- Olá Thaedras. Não é necessária tamanha precaução pois vim em paz. Vim trazer-lhe um recado de meu mestre. Ele deseja vê-los a todos em breve, em sua morada. Tome. Não ouse deixá-lo esperando.

A tensão permanece quando Cledoveo entrega uma pedra seccionada no diâmetro a um Thaedras invisível, indo-se sem olhar pra trás.
Longos momentos atravessaram a floresta antes que o Leão conseguisse retornar ao estado passivo. Com a mente a mil ele destrinchava centenas de possibilidades, inimigos, amigos, contatos, informantes, todos os que poderiam talvez ter negócios com eles.
Tudo isso era deveras estranho. Afinal, amanhã era o dia do encontro anual no Forte Éritro e esse dia mudava a cada encontro.
Eles tinham que saber. Tinham que investigar.
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- Ele foi-se assim? Sem mais palavras, sem mais ações? Como ele sabia de nós? Como ele conhecia você? Como o viu? De onde veio que o pegou de surpresa? Com--

- Acalme-se Thomas! - rosnou um Darin já aborrecido - Como ele seria capaz de responder se você não fecha a maldita matraca?

- Desculpe Thaedras. Vamos, conte-nos.

- Eu não sei Thomas. Realmente não faço idéia de como ele chegou a mim dessa maneira. E porque. Mas o fato concreto é que ele sabe de nós, do nosso encontro no dia de hoje. Meus instintos apenas o reconheceram depois de já ter surgido e acreditem, isso nunca me acontecera antes.

Absorto em pensamentos e alheio à recém-iniciada discussão, Viktor se levanta da mesa displicentemente indo até o mapa sobre a lareira. A pedra revira-se em suas mãos de forma estudada, consciente, padronizada. Ele fita o mapa completo sobre a lareira por meros segundos.

- Achei, é aqui. - gritou Viktor acima da confusão, com seu tom professoral - Esse é o trecho do mapa reproduzido de maneira grosseira nesse fragmento de rocha.

- Que os demônios de Ragnar comam suas entranhas bastardas! - bradou Darin quase caindo da sua não-existente cadeira - Não me assuste mais dessa maneira.

Todos se reuniram de fronte à lareira onde um círculo luminoso marcava um ponto idêntico ao rascunhado na pedra. Norte de Namalkah. Uma montanha baixa, quase classificada como monte, assomada entre o rio e o início das planícies. Voltando-se pra mesa todos podem ver uma representação holográfica do terreno real. Nada além de pedra, água e árvores em planícies, contribuindo para a curiosidade de todos.

- Ainda me assombra sua memória e capacidade de análise. Eu acho que levaria uma semana para eu encontrar o ponto exato.

- Obrigado Halfdan. De fat--

KnOcK! Knock!

- Com licensa senhores - interrompeu-os George - há um rapaz à porta, desejando informações e ter com o mestre do forte. Seu nome é Magnus.

5 comentários:

Capuccino disse...

De fato, Thaedras foi um dos melhores que eu ja fiz XD

Mt bom, mt bom!

Aldenor disse...

Muito bom. Contos épicos podem ser maneiros idem. Hehehe

R-E-N-A-T-O disse...

Muito bom pra relembrar, deu vontade de jogar epic... Ser pica grossa é muito bom. HOHOHOHO

Marins disse...

uahuhauhah

vou pensar em algo e te falo Daniel

Marins disse...

o que tem no epico?