sábado, 3 de maio de 2008

Crônicas Artonianas #8 - Ibriar Estet


Em algum castelo, a neve penetrava pelo pequeno buraco entre as sólidas paredes de pedra que formavam o calabouço. O vento gélido provocava um barulho horrível de uma voz aguda e triste. Mas nada disso a assustava. Nua, tinha seus braços presos à algemas, correntes que esfolavam seu pulso. O frio era insuportável. A dor em seus vários ferimentos por seu corpo arruinado era imensa. Mas nada disso a assustava. Nada disso importava. Prisioneira, desistiu até mesmo de sonhar com a chance de morrer. Apenas vivia, respirava. Ou melhor, não-vivia. Não era nada. Seu carrasco era o lorde do castelo. E sua morada fedia a corrupção.



***



Ibriar Estet era um propenso aristocrata da baixa nobreza da corte de Ahlen. Era taciturno e raramente era visto nas milhares de festas em que a aristocracia se divertia, negociava, afundava em seus vícios. Sua diversão era acumulação de riquezas, sua negociação era secreta e suja, seu vício era sua obsessão por poder. Obsessão que lhe permitiu a ousadia da corrupção. Não era mais humano.

Sentado em sua poltrona ricamente trabalhada, ele esperava. Esperava. Seus olhos já não eram mais humanos.

Passos, som de metal. Armadura pesada. O homem de cabelos grisalhos, curtos, olhos furiosos, azuis claros. Símbolo de Keenn num amuleto sobre o metal do peitoral. Capa esvoaçante, cor vinho com runas em negro detalhando as bordas. Eric Hobsbawm fazia uma reverência ao aristocrata ahleniense.

- Vim pessoalmente para evitar contratempos. Aqui está o que me pediu, senhor Estet. - O tom zombeteiro e ao mesmo tempo reverenciador. Abriu um saco de couro e de lá retirou algo dentro de um pano úmido que tinha um certo cheiro desagradável.

Ibriar Estet olhou demoradamente para Eric e para o pano, sem se mover. Longos segundos se passaram e mesmo Eric não estranhava. Era como se já esperasse essa lentidão.

- O... Obrigado, senhor Hobsbawm, clérigo de Keenn. Há um clima de guerra no ar. - Ibriar parecia se engasgar com as palavras, procurava um assunto de interesse de seu convidado.

- Sim. Keenn gargalha satisfeito. Logo o Exército do Reinado e a coluna da União Púrpura se enfrentarão em Trebuck. Muitos morrerão, heróis e vilões serão forjados. Enquanto isso, eu adquiro o poder que quero para satisfazer meu desejo. - Eric já se postava mais a vontade, aproximando-se de Ibriar como se fosse um colega de trincheira. Ibriar pareceu apreciar sua aproximação e arriscou um sorisso.

- E... e que é... desejo?

- Seu envolvimento abusivo com a Tormenta fez você perder a noção de desejo, caro Ibriar Estet. Felizmente para mim, a Tormenta é uma ferramenta, assim como a magia. Desejo o que todo clérigo de Keenn deveria desejar: o poder máximo da guerra.

- A Tormenta.... - Ibriar arregalava os olhos ao pronunciar as palavras e parecia se lembrar de algo. Ou de alguém. Ficava distante e começou a ignorar a presença de Eric Hobsbawm.

- Vou embora.

Eric se vira e vai embora. Ibriar ainda ficou sentado, imóvel. Demorou algumas horas para perceber que o pano úmido que Eric trouxera estava em seu colo. Demorou mais alguns minutos antes de avaliá-lo. Sorriso deformado.

Um pedaço de orelha.



***


A porta pesada de ferro se mexeu ruidosamente. Um vulto surgiu segurando uma tocha de pouca iluminação. O contorno de seu rosto ficava oculto. Caminhou por degraus de pedra, andou pelo estreito corredor até a cela da prisioneira.

Sorriso sádico, inumano. Choro de mulher, gemido triste.

2 comentários:

Marins disse...

aaa tormenta!!!!

minha orelha!!!

tormenta em Ibriar!!???!?!?

R-E-N-A-T-O disse...

TORMENTA no PRIMEIRO nível?! ArGh!!! Que medo! >.<

Furgirei pra Khubar!