quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A queda #1


Continente de Lamnor – Lenórienn – 300 anos atrás
Os olhares baixaram todos de uma vez.
Ao se pronunciar, o Conselheiro Real, responsável pela coordenação das Casas Guardiãs na defesa do Reino de Lenórienn, trouxe a frustração da inércia ao coração dos presentes.
Como se perdendo a cor, o suntuoso salão tornava-se cada vez mais frio, impessoal, fosco. Onde outrora grandes heróis debateram como elevar o Reino e trazer medo ao coração dos inimigos hoje imperava o conformismo, a soberba, a arrogância.


Uma grande mesa em forma de crescente tomava conta de quase todo ambiente. Era feita de madeira trazida direto de Nivenciuén, Reino de Glórienn, e talhada pelos mais habilidosos artesãos élficos. Vinte cadeiras de espaldar alto feitas do mesmo material e estofadas com seda branca trazida da Grande Árvore de Lenna contornavam o lado externo da mesa crescente. O centro da esfera imaginária que compunha a mesa era ocupado por um trono inteiro entalhado de madeira Tollon, adornado com fios de ouro puro e estofado com veludo vermelho da casa Real. Um grande vitral inteiriço cortava as paredes circulares do salão ao meio na altura, espalhando um caleidoscópio luminoso com as cores vibrantes do detalhamento de cada vitória do povo eterno ao longo de sua história em Arton.
Pendurados ao longo da parede de maneira eqüidistante, os vinte estandartes das casas guardiãs vaziam as vezes de janelas, bloqueando a luz que advinha dos vitrais e formando um interessante jogo de luz e sombras no salão. No centro da sala, sobre a cadeira do Conselheiro Real, pendia seu próprio estandarte, maior e acima dos demais.
Apesar da reunião completa, nenhum dos guardiões ousara contrariar o desejo de Ynathlarathnisar Aithzeaathdethnisess, chefe da Casa Real do Eterno Amanhecer. O Conselheiro Real possuía o poder de destituir ou incutir a qualquer uma das casas de Lenórienn a condição de guardiã, sem nem mesmo consultar vossa majestade, o Rei Khinlanas.
Na contramão do desejo de todos os presentes, Ynathlarathnisar ordenara, mais uma vez apesar da exaustiva argumentação, que a população goblinóide que habitava Myrvallar e circundava o reino fosse apenas observada, tolhida e cerceada de tempos em tempos, conforme invadissem as fronteiras imaginárias impostas pelos elfos desde sua chegada a Lamnor.
Para ele, os monstros não representavam uma ameaça real e palpável, contundente suficiente para que o desejo de guerra aberta das casas fosse levado adiante, a Khinlanas.
Entre os guardiões estava Lydaelianathvan, um elfo esguio e poderoso, um pouco mais alto que a maioria dos presentes. Suas longas madeixas brancas, trançadas com fios dourados às costas, evidenciavam um olhar classificado por muitos como selvagem. Era astuto e sagaz, dono de uma inteligência sem igual, comparável às dos mestres arcanos. Um predador natural, capaz de feitos inimagináveis e fúria avassaladora, um herói.
Após exaustivo debate interno, Lydaelianathvan resolveu se levantar. Não toleraria a falta de ação por mera arrogância e soberba. Sua casa conhecia cada palmo das florestas e vira mais de uma vez com seus próprios olhos o potencial de ameaça do goblinóide. Já perdera seu filho primogênito numa das inúmeras emboscadas tramadas pelas criaturas, visando barrar as incursões de seus vigias. Era chegado o tempo do acerto de contas e o contra-ataque combinado das vinte casas seria capaz de varrer as criaturas de Myrvallar de uma vez por todas.

- Eu, Lydaelianathvan Aithbaelathraddrim, o Lobo Branco Mestre das Florestas, chefe da Casa Guardiã da Folha Voadora, me oponho à decisão do mestre do Conselho de Proteção do Eterno Reino de Lenórienn – disse calmamente a figura imponente. O Lobo Branco preparava o assalto.

Todos os presentes voltaram seus olhares à atitude do Lobo. Os chefes das outras dezenove casas pareciam não acreditar em seus olhos. Contrariar o Conselheiro Real pela força não era uma atitude inteligente e mesmo ali, os ardis de influência tinham que ser tecidos com calma e precisão, evitando que tudo caísse por terra em decorrência dos caprichos do homem.
Antes mesmo que o líder fosse capaz de responder, o Lobo continuou:

- Invoco nesse conselho Eradethathhelathvaraanaathazaess para apoiar minha posição – disse o Lobo, altivo.

“Eradeth”, a lei eterna, foi instaurada por Glórienn no início dos tempos, quando a raça élfica era jovem e frágil, ainda lutando por sua sobrevivência. Conhecendo a condição de seus filhos, a deusa garantiu com a lei eterna que qualquer elfo, a qualquer tempo, invocasse o direito sangüíneo de paridade, tornando igual em valor todos os indivíduos envolvidos em uma disputa que envolvesse a segurança da comunidade élfica.
Por ignorar completamente todos os costumes e posições hierárquicas que definiam os elfos como uma comunidade monárquica, essa lei fora invocada pouquíssimas vezes na história da comunidade élfica e acabou sendo, na maioria das vezes, a causa da queda de casas inteiras após a resolução da questão.
Sua atitude era um suicídio político e social, uma vez que em sendo incapaz de convencer vossa majestade do potencial da ameaça, teria sua casa, sua posição e seu prestígio destruídos.
Com a tez rosada de ira, o Conselheiro ergueu-se de sua cadeira para responder ao homem. Beirava os quinhentos invernos e já tinha os cabelos verdes talhados de branco, denunciando o toque implacável do tempo. Nunca havia presenciado a invocação de Eradeth antes, sequer ouvido falar. Iria destroçá-lo perante Khinlanas e sua arrogância seria destruída, junto com sua casa e seu prestígio como herói do Reino.

- Pois bem Lydaelianathvan – disse o Conselheiro, pausadamente - vamos ter com o rei. Khinlanas decidirá quem tem razão.

6 comentários:

S i n n e r disse...

Falatu senhores, blz?
Bem, começo agora mais um conto, dessa vez ambientado em Lennórien, passeando um pouco pelos últimos dias da cidade.
Deixo aqui o pedido para que, quem possuir mais acesso aos livros de Tormenta, corrija qualquer possível erro de grafia nos nomes do reino de Glórienn e no nome do Rei de Lennórienn.
A quem interessar possa, deixo também a tradução dos nomes élfico descritos no texto:

- Lydaelianathvan (Lobo branco mestre das florestas)
- Ynathlarathnisar (Portador do brilho do amanhecer dourado)
- Aithbaelathraddrim (Casa guardiã da folha voadora)
- Aithzeaathdethnisess (Casa real do eterno amanhecer élfico)

Espero que gostem.
Abraços e adièau.

Aldenor disse...

É o conto do seu personagem de O Novo Deus?

S i n n e r disse...

Falatu Aldie.
Mais provavelmente seja uma história que ele conheça, uma vez que ele nem sequer havia nascido na data do acontecido.
Como passeia pelos últimos dias de Lenórienn, se adequaria também a esse cenário.
No fim das contas, é um conto.
Ajuda retirar coisas da minha cabeça...
Abraço e boa sorte com o jogo.

PS.: Esqueci a tradução do nome da lei, então segue:

- Eradethathhelathvaraanaathazaess (Lei eterna das lágrimas da mãe criadora da vida élfica)

Aldenor disse...

Falaí, rapá... então seria também interessante por tbm em "Histórias Esquecidas" que é sobre contos mesmo, não acha?

R-E-N-A-T-O disse...

Muito bom o conto, vamos ver o que Khinlanas decide... ele era um bosta arrogante.

Aldenor disse...

Um bostão sem tamanho. No "Expedição a Aliança Negra" tem um contozinho dele, acho. Ainda não li.

Sobre Crônicas Artonianas II, já tenho dois decididos e um terceiro em vias de: marins será guerreiro devotado à Valkaria, renato será paladino de Tanna-Toh e futuro Guardião da Realidade e Ian pensa num ladino goblin, talvez engenhoqueiro, mas ele ainda não confirmou (não que eu tenha entendido assim).

Falta Caputs e Lucs!