segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Crônicas Artonianas II: A Tempestade Rubra #3

Frutos da Tormenta

Com olhos vermelhos e expressão de ira, Helena, outrora bela elfa moradora da Vila Élfica, vomitava impropérios. Aos seus pés, Pilathes com um chifre quebrado e outras escoriações diversas que marcavam um mar de ferimentos abertos e mesclados com a matéria vermelha, corrupta.
- Você vai pagar com seu sangue, ser de raça imunda! Você será o primeiro que irá pagar por nossa ruína!




Era verdade que os elfos passavam por uma situação delicada em Arton. Após a queda de Lenórienn, sua nação mágica, seu belo lar, os elfos viviam perambulando como nômades sobre o Reinado e vivendo como escórias sem nunca formar comunidades novamente. A Vila Élfica era única no mundo. Entretanto, em tempos mais recentes a deusa dos elfos, criadora e fundadora do Panteão de tempos imemoriais, caiu em desgraça e perdeu seu posto junto aos seus irmãos deuses. Jazia como uma mera deusa menor, como tantos outros em Arton, e escrava de Tauron, o deus da força e coragem e novo líder do Panteão.
Helenantallas era uma elfa muito bela e cheia de pretendentes. Desde a queda de Lenórienn, entretanto, ela havia se tornado amarga e jamais recuperou a alegria de viver. Porém, descobriu um diário de um antigo mago e nele descobriu o poder da tempestade rubra que cospia corrupção em Arton. Era a Tormenta.
Seduzida por seu poder, ela encontrou um motivo para viver: vingar-se dos minotauros e dos goblinóides. Seu ódio se estendeu à todas as criaturas vivas e, logo, ao mundo. Arton havia caído em desgraça, segundo sua visão, então precisava ser limpo, envolvido e transformado. Lefeu era a perfeição. Lefeus e elfos tinham em comum, em sua mente. Descobrindo cada vez mais o poder lefeu, ela se converteu em sua clériga. Seu corpo fora modificado, sua alma arruinada. Viu na Tormenta a salvação e se tornou seu peão.
Não demorou muito para que ouvisse vozes em sua mente que lhe ensinava o que devia fazer. Primeiro, sacrificou humanos e goblins que encontrava. Depois corrompeu alguns elfos. Sua discrição era extremamente eficiente, herança de sua raça outrora bela e perfeita. A chegada de Pilathes lhe foi avisada antes mesmo que o minotauro pisasse em Valkaria. E ela já tinha um plano para sacrificá-lo e invocar seu maior tesouro. Lefeu.
Para corromper, ela primeiro usou o contato privilegiado que os elfos tinham com a natureza. Fez um belo carvalho se corromper com matéria vermelha e se tornar uma provedora de simbiontes. Com estes simbiontes, ela conseguiu avançar em seu sórdido plano. Corrompeu outros elfos e alguns humanos.
Agora ela tinha Pilathes onde queria. Sua pequena legião estava ferida e muitos haviam sido derrotados horas antes por um grupo de aventureiros intrometidos. Os poucos minotauros que sobraram não foram páreos para os elfos corrompidos com sua carapaça vermelha e viscosa, espadas curtas afiadas cruelmente. Foram todos mortos e despedaçados, espalhados pela casa élfica maculando sua beleza.
- Pode fazer o que quiser, imunda. Você é pior que um elfo. Você está corrompida pra sempre.

***

Emyr abria os olhos lentamente, acostumando-os à claridade que lhe acordava. Sentia dores em todas as partes do corpo e, antes que pudesse se mexer, sentiu cordas amarradas em seus pulsos, com braços jogados pra trás. Olhou em volta viu Hector tentando se soltar de suas amarras em uma lamparina. William e os outros dois também amarrados. Havia sangue pingando pelo corpo do caçador. De alguma forma ele sabia, pouco tempo havia passado. Tinha que se soltar urgentemente.
Soltos, eles perceberam que estavam no mesmo local onde foram derrotados por Pilathes e sua legião. Desceram as escadas até o primeiro andar e confabularam sobre o que fazer. Hector deu uma bisbilhotada pela porta e percebeu milicianos interrogando elfos. Tomou para si que a presença deles não era bem vinda, uma vez que poderiam ser incriminados por matarem minotauros ou mesmo elfos. William descia as escadas avisando que a geografia da casa estava estranha. As paredes que deveriam ser ao sul, estavam ao norte. Assim, Emyr orou a Khalmyr por sabedoria e percebeu aura mágica naquele recinto. O folclore local diz que elfos sabem lidar com magia e por isso não estranharam muito.
Iliar lembrou que havia vindo com Helena por uma passagem secreta no subsolo e ela agora estava desaparecida. Todos decidiram que era melhor evitar contato com a milícia por enquanto para não darem a entender que eram assassinos. Porém, quis o destino que fosse necessário o encontro.
Após saírem do buraco, se depararam com milicianos. Talvez fosse a magia da casa que desorientou um pouco aqueles aventureiros, mas aparentemente eles estavam de frente aos milicianos. Interrogados de forma ríspida, falaram que foram chamados porque humanos estavam criando problemas na Vila e afastaram todos os festejos deles. Antes que Hector pudesse intervir com a verdade da autoridade de Tanna-Toh, um miliciano se descontrolou e atacou outro com uma espada curta. Todos ficaram atordoados com aquele súbito ataque, mesmo os aventureiros. Foi então que uma carapaça viscosa, vermelha, destruiu e ocupou os corpos de mais da metade dos milicianos. Começou uma batalha na praça do Chafariz Anarionlatur. O chefe da milícia naquele lugar berrou que não matassem os milicianos. Nesse momento, Hector lembrou de seus parcos conhecimentos sobre a Tormenta.
Simbiontes corrompiam aqueles homens e os faziam atacar num frenesi terrível. Não reconheciam amigos, colegas ou pessoas. Eles viam o que os lefeus queriam. E aquelas pessoas não eram lefeus e por isso tinham que morrer.
William era um caçador e não estava acostumado a lutar evitando matar seu adversário. Pensava que isso restringia sua força a tal ponto que o tornaria inútil na luta pela sobrevivência. Era impossível não lutar para matar. Andrew tinha um pensamento semelhante, mas Emyr lutou para matar porque simplesmente julgava estarem perdidos para sempre para o mal. E o mal deveria ser imediatamente eliminado...
Foi uma surpresa quando Iliar jogou sua espada no chão. Uma arma de grande lâmina que poderia cortar cabeças com facilidade. Usou com grande perícia os punhos para lutar. Hector ficou frustrado, pois não ajudava muito com seus golpes de seu poderoso martelo. Não podia usar força letal e por isso quase não acertava seus adversários. Era difícil atingir pontos não-vitais totalmente protegidos pela carapaça corrupta e imunda.
Emyr desferiu um golpe poderoso que fez o sangue jorrar pelo chão. Um miliciano infectado caiu inerte. Um outro miliciano que lutava ao lado dos aventureiros perdeu o controle, ficou irado com o golpe de Emyr e, rapidamente foi corrompido e logo era um adversário. Entretanto, o clérigo de Khalmyr ordenou que um miliciano corresse dali para pedir ajuda – que jamais viria, mas ele não tinha como saber.
Após o combate, o capitão da milícia e outro subordinado ordenaram respostas e Hector teria que dar. Assim que a Tormenta foi mencionada, ele pediu que parasse. Era um problema grande demais e que eles – como aventureiros – teriam que dar conta disso por enquanto. Ele chamaria reforços mais tarde.
Enquanto isso, Andrew se aproximou da casa onde vira luzes vermelhas brilhando, horas atrás antes de ser derrotado por Pilathes. Emyr pediu para que não se separassem, mas subitamente todos foram alvos de criaturas semelhantes a lacraias. Ou pelo menos era o que suas mentes artonianas associavam para não ter que lidar com algo que não compreendiam. Iliar e Emyr não conseguiram desviar a tempo e foram atingidos por elas que grudaram em seu peito e seu escudo, respectivamente. Elas se remexiam, contorciam em busca de algum lugar para se acoplarem. Entretanto, eram muito frágeis e simples safanões sofram suficientes para esmagá-las.
Foi assim que William notou que aqueles simbiontes (conceito prontamente explicado por Hector) vinham de um enorme carvalho que se mesclava com uma casa, a mesma que Andrew havia visto as luzes vermelhas. Suas folhas serviam de telhado e teto para a casa. Se aproximando lá com Hector, William começou a subir. Iliar logo se aproximou também. Emyr, para não deixar Andrew sozinho, se juntou a este.
Assim que girou a maçaneta, Andrew viu vermelho. Um instante de loucura, coisas impossíveis e sensação indefinida. Ficou catatônico, imóvel e uma baba pendeu até o chão. Emyr tentou ajudá-lo tirando do campo de visão do que vinha da porta e evitou olhar. Enquanto isso, William já sobre um galho da árvore, notou coisas estranhas. Um buraco se abriu, revelando organismos vermelhos e um simbionte foi cuspido. William era bastante ágil e dificilmente era pego de surpresa e conseguiu desviar. Tentou por fogo, mas a árvore demonstrou ter uma vida sobrenatural. E Iliar sentiu essa vida em seu rosto. Um galho se moveu com violência e atingiu o jovem guerreiro. Ele girou no ar várias vezes antes de cair com o pescoço em posição duvidosa. Porém, não estava morto. Mais uma vez, a árvore cuspiu simbiontes de seus galhos e o grupo se obrigou a afastar-se até próximo do chafariz.
Iliar e Andrew estavam incapacitados, seja por ferimentos ou por insanidade lefeu. Por isso não tiveram chance de se defender. Dois simbiontes correram quase livres por seus corpos. William, Hector e Emyr, entretanto, não deixaram que eles tivessem tempo de serem infectados. Subitamente, Andrew estava acordado para a vida de novo e a lembrança do que vira fez suas pernas tremerem. Ele arrancou um pedaço de sua capa e fez uma bandana cobrindo parcialmente os olhos. Assim, ele evitaria o vermelho, pensou.
Emyr decidiu que era hora de agir com mais firmeza. De espada e escudo em punho, entrou na casa orando por Khalmyr. A vermelhidão atingiu sua mente e ele de repente, não conseguia falar. As palavras vinham a sua mente, mas sua língua não o obedecia. William não quis arriscar e começou a subir as paredes de madeira polida da casa para uma janela no segundo andar. Nesse momento, Iliar apareceu subitamente e começou a subir com o caçador. Hector e Andrew entraram com Emyr, mas o paladino de Tanna-Toh teve sua mente afetada e ficou tremendo todo seu corpo. Andrew não sentiu nada, por já ter sido afetado antes.
Khalmyr e Tanna-Toh olhavam para seus servos e os avisavam do grande mal que aquela árvore e aquela casa continham. Logo quando acostumaram à vermelhidão nociva, perceberam corpos de minotauros espalhados pela sala. Despedaçados, mutilados, estripados. Sangue era camuflado por aquele ambiente macabro. Aquilo deixou aqueles jovens aventureiros mais confusos.
No segundo andar, William e Iliar demoraram alguns segundos para perceberem que não havia um efeito da Tormenta naquela sala vazia. Havia uma porta, um corredor e escadas. Então, começaram a ouvir barulho do metal de espadas se chocando.
No andar debaixo, Hector abriu a porta e fora recebido com uma visão terrível. Andrew e Emyr também ficaram confusos. Havia elfos com carapaças vermelhas e Pilathes estava lá. Preso à parede com matéria vermelha grossa que se movia em direções opostas, fazendo seus braços e suas pernas se separarem cada vez mais. Em seu peito, um buraco grande com seus órgãos pendurados. Havia muito sangue naquele lugar, mas Pilathes mantinha a consciência de forma sobrenatural. Pedia por socorro. Entre aqueles elfos estava Helena com mantos brancos manchados de sangue, como um açougueiro. Seu rosto expressava ódio e uma enorme cicatriz cortava do nariz até quase a orelha.
- Imundos! Este minotauro será o primeiro a pagar pelo que fizeram aos elfos! E vocês serão os próximos!
Um combate mortal se iniciou. Os elfos, munidos de espadas curtas, haviam sido artesões, pintores, poetas tristes. Por isso não possuíam habilidade tão grande com a espada e tiveram dificuldades em acertar seus golpes. Os aventureiros, entretanto, encontravam na carapaça provinda do simbionte um adversário mais temível e impedia que suas armas fizessem mal ao seu hospedeiro. Iliar e William abriram uma porta, próximo à Pilathes quando o combate já acontecia. Eles ainda estavam bem feridos da última batalha. Ainda que tivessem sido curados pelos legionários – agora mortos – não havia sido o suficiente para lutarem com todas as forças. A luta se demonstrou desigual quando Helena demonstrou poderes arcanos e divinos. Mísseis mágicos derrubaram Andrew e acertaram Emyr. Uma energia negra canalizada afetou todos, deixando-os ainda mais feridos. Iliar havia desistido de sua espada antes e, junto com Hector, desferia golpes não-letais. Emyr, entretanto, golpeava com sua espada longa – e depois com sua lança – a fim de eliminar o mal imediatamente.
O caçador preferiu agir para tirar Pilathes daquela situação. Aquele minotauro havia quebrado sua cara, mas estava agora morrendo e pedindo por socorro. Usou sua espada e sua habilidade com armadilhas para poder tentar soltar o minotauro. Aos poucos foi conseguindo, mas antes que pudesse tirar o seu último grilhão lefeu, Pilathes morreu.
William rangeu os dentes de pura raiva. Não estimava tanto a vida daquele minotauro, mas por ter perdido tempo fazendo isso. Sentiu-se idiota e começou a lutar. A batalha se resolveu nos detalhes, somente Hector e Iliar acabaram de pé. O jovem guerreiro desferiu vários socos e chutes e xingamentos que fizeram Helena desabar desacordada. Depois do combate, a adrenalina baixando, sentiram os músculos rangerem a cada movimento. O suor ensopava suas roupas a fadiga era clara. Porém, havia a árvore. Andrew, que se levantara em algum momento, subiu as escadas com a tocha acesa para por fogo no teto. Entretanto, aquelas folhas que serviam de cobertura, cuspiram simbiontes e por pouco o jovem espadachim não fora atingido. Enquanto Hector começava por fogo na casa, numa tentativa de destruir a árvore ao lado no processo, Iliar chegou a sugerir pedir ajuda ao Protetorado. Andrew foi mais rápido que isso – descartando a ideia – e acabou achando na mochila da elfa corrompida um artefato lefeu, como Hector explicou. Era uma bola feita de carne que pulsava como se estivesse viva. Com uma martelada, destruiu aquela aberração e fez a árvore murchar negra, morta. Aparentemente, estava tudo acabado.
Ou não.
Um elfo adentrou a casa com olhos vermelhos e sede de sangue. Ao contrário daqueles elfos que eles acabaram de enfrentar, este vestia roupas simples e não possuía carapaça. Iliar recebeu um duro golpe no peito, ainda cansado do combate e desprevenido. Mas não teve problemas em acertar um soco cruzado derrubando-o.
Saíram da casa e viram outros quatro elfos com a mesma aparência. Será que os simbiontes se espalharam pela Vila Élfica? Depois derrotar aquelas pobres almas, o grupo carregava seus feridos e os inimigos feridos para fora dali e foram interceptados pela milícia na saída do bairro.
- Vamos conversar em um local apropriado.
Era Doug Harisson, investigador da milícia que assumia o comando daquela missão. Macas carregadas por milicianos patrulheiros levaram os elfos corrompidos e os asseclas de Helena para carroças da milícia. Os heróis foram numa carruagem e chegaram em meia hora, um pouco mais descansados.
O grupo contou toda a história e tiveram suas dúvidas respondidas: Pilathes era um minotauro procurado pelo Império, assim como Helena. Pilathes tinha visto a chance de se redimir de seus crimes quando capturasse a elfa. Juntou seus aliados e partiu em caçada. Infelizmente, para ele, acabou sendo morto num episódio confuso.
Pensativos, o grupo ficou sozinho um tempo para conversar sobre tudo aquilo. A Tormenta era um adversário impossível, mas quisera os deuses que entrasse em suas vidas. Emyr e Hector prontamente quiseram ficar a par de tudo que se fosse investigado sobre isso. Iliar demonstrou interesse e sorrisos impulsivos de uma diversão. Apesar do risco de morte e de tragédias de proporções catastróficas, ele lutou bem, derrotou adversários, correu, pulou, desviou e escalou. Havia sido divertido. William estava cansado de Valkaria, precisava se retirar dali. Convencido por seus recém amigos, se manteria por perto. Andrew sentia-se herói e estava pronto para continuar com aquelas pessoas com quem dividiram uma derrota, cordas e a vitória final.
Assim, uma semana se passou...

6 comentários:

Aldenor disse...

Com isso, o grupo passou de nível. Espero que tenham gostado. Quando estivemos mais próximos da 3ª sessão, vou por um post introdutório a ela com as ações que vcs me falaram que iam fazer nessa "uma semana" que se passou.
Fui!

Marins disse...

Bom post!

E boa aventura!


hehehe

R-E-N-A-T-O disse...

Esse post ficou melhor que o último. Parabéns.
Muito bom o jogo tb. Porrada cantou a sessão toda quase uauhauahahuah

Boa sorte aos Desafiadores da Tormenta!

Marins disse...

auhauhauhauauauhhua

desafiadores do destino?!

agora vai ser desafiadores da tormenta?

Aldenor disse...

Pensem em outro nome, pelamor!!!

Lucas disse...

Ótima sessão, que as próximas continuem no mesmo nível.

Sobre o post como já havia dito, achei fraco, preferi o outro.