terça-feira, 10 de junho de 2008

Crônicas Artonianas #10 - Soberba e Derrotas, Parte 1

- Então, para Selentine? Hoje? Imediatamente? - Disse Tildror como quem tem pressa. Pressa de quem tem fome de vingança. Sua orelha ardia todos os dias. Não estava acostumado à mutilação que sofrera de Bernard Jolk, clérigo de Keenn.
- Sugiro que pesquisemos mais sobre essa tal facção...
- Ordem. A Sétima Lâmina de Keenn é uma Ordem. Este é o temo correto. - Peleannor, o elfo mago, corrigiu seu amigo, Ilendar, clérigo de Azgher. O grupo estava reunido numa mesa com restos de comida que fora o almoço, minutos atrás. Kuala-Lampur jazia sobre sua cadeira como um zumbi. Observava mais do que falava. Tentava aprender tudo que podia. Decidira que, apesar da confiança que tinha para com estes conhecidos do continente, não podia se dar ao luxo de ser um crédulo nestas terras que, para ele, são selvagens.
- Não importa. Consegui informações sobre o paradeiro desse... crápula. Ele deve ser detido. - Tildror havia comido pela primeira vez na casa de Ilendar. Estava agitado e tentava disfarçar seu desejo de vingança. Há poucos dias decidira agir por conta própria, usar de sua lábia e conversa fácil para descobrir mais sobre Bernard Jolk.

Inicialmente começou com mercenários em tavernas nos arredores. Em seguida, visitou academias militares e descobriu que seu carrasco não era nativo de Valkaria. E ninguém o contratara, não era um mercenário. Nenhuma outra conclusão havia chegado e logo uma pequena frustração o incomodou. Entretanto, recebeu uma ajuda inusitada: um goblin.
Com uma furtividade digna da sorte dos loucos ou distraídos, um pequeno pergaminho estava aos pés de Tildror assim que o goblin passou por sua frente e desapareceu segundos depois. Havia um endereço e um convite.

"Caro Tildror,
Possuímos algo de seu interesse e você possui algo de nossa avidez. Nos encontre na Taverna do Bico Torto, nos arredores da Favela Goblin.
Atenciosamente, Movimento Revolucionário Olho de Porco."

"Goblins... só pode ser brincadeira". Tildror tinha um sorriso nervoso quando decidiu tentar a sorte. Atravessando as ruas, observando cada canto das construções da cidade de Valkaria, cada buraco, cada esquina suja que pudesse esconder um goblin para lhe emboscar. Mas em vão. Em instantes, já estava na taverna do Bico Torto. Havia um homem que vestia trapos e estava descalso segurando uma espada curta. Jazia dormindo com uma garrafa de hidromel. Parecia ser o "guarda" do lugar. Adentrando, Tildror pode perceber que ainda não tinha conhecido sujeira suficiente em sua vida, mesmo quando era mercenário para Gilban e dormia em quartos imundos. O cheiro desagradável de urina e comida de procedência duvidosa era uma constante.
- Sente-se, Tildror, humano. - Uma voz, misto de guincho, rouquidão. Era um goblin gordo, sentado numa mesa com outros goblins que pareciam seus asseclas. Tildror se permitiu um sorriso, imaginando que esta era uma paródia da sociedade humana. Uma paródia de Gilban. Sentou-se.
- E o que é que eu quero tanto senhor...?
- Sem nomes. Apenas nós o conhecemos e você não nos conhecerá. Somos o Movimento Revolucionário Olho de Porco. E é apenas isso que saberá. - Respondeu o goblin que parecia ser o chefe.
- Certamente. Vamos, o que tem a me oferecer? - Tildror decidiu esquecer a cômica situação e se ater apenas na troca.
- Temos uma informação. Sabemos que está em busca de Bernard Jolk, o clérigo de Keenn que esteve em Valkaria há poucos dias. - Tildror arregalou os olhos. Estava um pouco espantado, mas, para sua própria surpresa, já imaginava que a informação seria útil, de qualquer forma.
- Então ele não está em Valkaria. Onde ele está? E como você sabe disso?
- Não me tome como um tolo, Tildror. Não direi até você nos dar o que queremos. Sabemos dessas informações porque todos deste Movimento Revolucionário são empregados dos humanos à paisana. Enquanto vocês comem da melhor comida, dormem nas melhores camas, nós...
- Está bem. Está bem. Me diga o que querem. - Interrompeu o gordo goblin com tanta aspereza e com uma voz graciosa que impediu a continuação do discurso e ao mesmo tempo que inibiu reações nervosas.
- Queremos o varinha dos mísseis mágicos que você adquiriu na sua aventurazinha na Favela Goblin. Aquele material pertencia a nós e foi roubado por aqueles goblins sujos que se submeteram a um mísero humano...
Tildror estava debruçado sobre a mesa. Ouviu tais palavras e foi mostrando um sorriso de quem tem a situação sob controle. Ajeitou-se melhor na cadeira e recostou suas costas.
- Feito. Trarei aqui hoje pela noite.
E assim, foi feito. Tildror recebeu a informação de que Bernard Jolk estava indo para Selentine. Pela diferença de dias, estava muito perto de lá. Ou já havia chegado, se estivesse a cavalo.

Antes ou durante. Kuala-Lampur e Ilendar estavam caminhando pelas ruas em direção ao templo de Keenn. Haviam recebido, quase que com desdém, uma idéia de Tildror: visitar o templo de Keenn de Valkaria. Ilendar sabia que seria um problema, mas era uma das únicas formas possíveis para se conseguir informação. Chegaram à tarde e o frio não estava incomodando tanto, mas era o suficiente para que Kuala cobrisse seu torso com um cobertor ou casaco de inverno. O templo era discreto, havia um homem armadurado na entrada. Sua cara de poucos amigos já era esperada por Ilendar.
- Queremos conversar com o sacerdote do templo para saber informações sobre alguém. Poderíamos entrar e discutir? - iniciou Ilendar, tentando uma abordagem que não provocasse um combate alí mesmo.
- Posso te dar uma resposta, mas não será sem luta. - Foi a resposta do homem armadurado. Esperado. Menos para Kuala-Lampur. Achando ridículo recusou tal condição. Houve troca de gracejos e enfim, lutaram dentro do templo. Kuala saiu vencedor, com alguns ferimentos leves.
Subito, aplausos. Era outro homem, dessa vez, trajando uma armadura mais leve sem elmo. Trajava o símbolo de Keenn no escudo. Era o sacerdote do local. Um clérigo-guerreiro.
Mais uma luta, mais uma vitória de Kuala-Lampur que dessa vez, quase foi derrotado. Houve respostas e conversa, então. Kuala-Lampur estava indignado com o modo destes clérigos.
Por fim, descobriram que Eric Hobsbawm pertenceu ao exército de Deheon e ambos serviram juntos. Eric desertou certa vez e fundou uma ordem. A Sétima Lâmina de Keenn. Recrutou muitos guerreiros e raptou muitas crianças para serem treinadas em templos de Keenn para se tornarem seus servos. Hoje, ele possui um grupo forte de guerreiros devotos a Keenn, com objetivos escusos. Entretanto, o homem nada sabia sobre Bernad Jolk.

A reunião do grupo fora feita no dia seguinte, informações postas sobre a mesa. Após mais um dia de pesquisas, Peleannor descobriu mais sobre a Sétima Lâmina de Keenn, na Grande Biblioteca de Tanna-Toh, e que Bernard Jolk pertencia a ela. Kuala rangeu os dentes, mostrando, pela primeira vez em muito tempo desde a invasão à Favela Goblin, sua raiva.
O grupo se preparou como pôde e partiu imediatamente em viagem. Uma longa viagem de cinco dias a pé até Selentine.

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