Relic Hunters #1 - A busca

Mithraeum de Castellamonte

Torino, Itália - 10:17h

- Inaceitável! Totalmente inaceitável! - brada um homem acamado, irrompendo num acesso de tosse seca, doente, logo em seguida.

Todo o vasto ambiente era iluminado por archotes bruxuleantes. A inexistência de janelas, a forma de semi-cone e as paredes totalmente em granito bruto contribuíam para dar uma impressão claustrofóbica da gruta. À esquerda e à direita, dez fileiras de bancos de pedra maciços compunham, em conjunto com um sólido altar central de quase quatro metros em pura obsidiana, um cenário quase religioso.

Mas essa não era a visão mais impressionante. Uma representação em alto relevo de um homem matando um touro em escala natural, totalmente esculpida em uma placa de mármore ocupava todo o fundo da caverna, atrás do altar.
Sobre o altar, bem no centro, descansavam um barrete frígio, uma insígnia de ouro e um anel de ferro. Mesmo sendo completamente rústico, o lugar era bastante impressionante.
Bem à esquerda do altar, quatro figuras maculavam a aura primitiva do lugar. Um homem outrora corpulento, deitado numa maca muito aparelhada. Do seu lado direito outro, enfiado num impecável terno risca de giz que parecia pelo menos um número menor que o seu manequim, à sua frente mais dois homens esguios, porém maciços, vestindo calças militares negras e camisetas da mesma cor.
Nenhum estava com o melhor dos humores.

- Perdoe-nos Pater. Não imaginávamos... - um dos homens começara o penoso processo de se desculpar, mas foi interrompido por outro acesso de tosse do idoso.

- Calem-se. Sem explicações. Sem desculpas. Vocês envergonham seu Perses. Talvez eu devesse recomendar sua volta ao grau de Corax - falou friamente o homem de terno ao lado do leito. Seu cabelo meticulosamente despenteado e seu olhar faiscante contrastavam com sua postura calma e rígida.

- Clemência Heliodromus. Dê-nos uma chance de repararmos o engano. Por favor - os homens ajoelharam-se perante o leito, testas no piso.

- Vocês têm oito horas. Provem que são dignos.

Imediatamente os homens levantaram-se e saíram rumo ao Spelaeum e depois à saída, através da antecâmara.
As duas figuras dicotômicas foram deixadas a sós, no fundo da caverna. Depois de alguns minutos tendo apenas o bip dos aparelhos por companhia, o idoso quebrou o silêncio.

- Meu tempo está no fim Vitor. Receio não ser capaz de suportar mais um dia - e tocou o braço de Vitor - Terás que assumir meu posto, quando eu me for.

- Não nos entregaremos tão fácil, mestre Domenico. Agora que chegamos tão perto... Não se renda. Brinde-nos com mais essa esta demonstração de força. Resista um pouco mais. Acharemos o ícor a tempo - e posou sua mão sobre a mão carcomida do velho num gesto tenro.

- Que Mitra testemunhe sua luta, mestre.

- Petra natus potestas est. Ad fores fortuna venit, cui propitia est.

- Amem.
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Palazzo Massimo alle Terme
Museu Nacional Romano, Roma, Itália - 16:12h

- Todas as equipes em posição. Extração em T- 3 minutos. Marque.

Dez homens fortemente armados deixaram a área de carga do museu, rumo ao prédio do fundo. Tudo havia sido arranjado ainda no caminho, eles não seriam incomodados pelos Carabineri enquanto buscavam o tal cofre.
Como haviam deixado isso passar? É claro que sem os manuscritos, seria impossível decifrar a primeira pista. Ainda mais no estado em que as inscrições no dorso da armadura estavam. Inúteis.
Mas agora reparariam esse erro. Pecariam pelo excesso dessa vez. Sem incursões fantasmas ou roubos mirabolantes. Os velhos métodos às vezes se provam mais eficazes. Suborno. Ameaça. Agressão. Simples e rápido.
Tinham somente duas horas até o fim do prazo. Não podiam se dar o luxo de falhar outra vez.

- Mitra potestas est.

Ao atravessar os pátios internos, todos divisaram ao mesmo tempo as espirais de fumaça vindas do jardim. Algo estava errado. Havia alguém comprometendo a operação. Esconderam-se e deram a volta, cercando a sala ao mesmo tempo em que o grupo principal atravessava o jardim para emboscar o intruso.
Mas ele havia desaparecido.

- Há intrusos na sala. Cinco. Curso de ação, Alfa - alguém se pronunciou no rádio, em alto e bom som.

- Neutralizar. Todos eles. Sem testemunhas.

Alfa se posicionou diante da porta dupla de madeira trabalhada. Fez uma breve oração surda, e chutou.
Tiros já ecoavam e cinco homens resistiam entrincheirados as saraivadas de fuzis automáticos. Não resistiriam por muito tempo.
Afinal, ele não tinha mais tempo.