terça-feira, 7 de setembro de 2010

Mordred Agravain Parte I: O abraço da Guerra.

Naquele cômodo sombrio, o silêncio reinava quase soberano, se não fosse a respiração pesada daquela que jazia sentado em uma cadeira simples, junto a uma mesa igualmente simples, e os passos de seu inquisidor, que o circulava, como o leão que se delicia ao ver a presa tão inofensiva, quase implorando por seu ataque.

Aquela que estava sentando trajava vestes clericais, marrons. O símbolo de Tanna-Toh pendia do seu pescoço, protegendo-a. Seus cabelos, um dia arrumados, demonstram o descuido de uma mulher relaxada - seus olhos, um dia vívidos, trazem o reflexo de uma vida em ruína, de alguém que já perdera demais, que já perecera o suficiente. Ombros prostrados, músculos relaxados, cabeça baixa.

Lágrimas silenciosas.

O peso do lugar oprimia sua mente. Khalmyr a vigiava, a impedia de mentir – a impedia de omitir. Tratava-se da humilhação máxima para um sacerdote da deusa do conhecimento. A voz do seu caçador ecoara. O vento invadira a sala, fazendo a chama das tochas sibilarem...

“Conte-nos sobre o demônio, sacerdotisa. Conte-nos como tudo se iniciou.”

“Demônio?” Ana contra-indagara. “Meu irmão não é... não era um demônio. Ele era um bom irmão. Um bom filho.” Sua voz falhara. A lembrança era forte demais, bela demais. Amizade, amor, carinho. Como as coisas conseguiram chegar àquele ponto?

“Prossiga.”

“Nascemos em Gorendil. Ele é mais velho que eu por 4 invernos. Sempre ajudou nosso pai nas tarefas mais pesadas. Ele era velho, e já castigado por batalhas nas Montanhas Uivantes. Passara a vida toda protegendo nossa mãe, para no fim descobrir que ela era frágil demais para retribuir o favor.”

“Mordred, como primogênito, o ajudava em detrimento de seus desejos. Ele sempre quis, quando jovem, tornar-se mago, aprender a ler e a escrever. Mas isto era apenas possível para aqueles que têm posses – e tempo.”

Várias imagens invadiam a mente de Ana, banhando-se em suas memórias. A família, unida em uma sala de jantar rústica, comemorando. As brincadeiras, as piadas, as brigas... O jovem, de pele rosada, olhos azulados como a tundra e um sorriso de desafio. Tudo manchado de sangue.

“Eu não posso continuar mais...” Sussurrou Ana.

“Sacerdotisa, tu deves. O teu irmão é um devoto daquele que trás a sombra do massacre. Quantas vidas ele já tirara ao longo de sua caçada contra Arton?” Sua voz soara fria e racional. Fora um choque de realidade. Ana estaria diante de um conhecimento que verdadeiramente não queria conhecer... Mas Tanna-Toh lhe protegia, sempre a protegera – não seria diferente agora.

“Eu tomei o caminho de Tanna-Toh para ensinar meu irmão a ler e a escrever. Ele fazia tudo, e não tinha tempo para si mesmo” As palavras viam difíceis. Pela primeira vez Ana achara difícil pronunciar palavras, conjugar verbos. Naquele momento, a concordância não fazia sentido algum.

“Ele encontrou uma boa mulher, e teve um filho com ela. Mordred é um bom pai, um bom marido. Eu o ensinei e ensinei ao seu filho... Nas primeiras palavras, suas primeiras palavras eram tão... tão inocentes...”

Ana já não podia mais se controlar, as lembranças eram pesadas demais. Ela chorara. Chorara desejando que cada lágrima levasse sua vida junto.

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Cinco anos antes – Em algum lugar de Arton.

Mordred passara anos a fio procurando aqueles que acabaram com sua vida. O sangue deles não seria o suficiente. A morte deles era pouca. Cada noite Mordred lembrava-se do dia em que perdera tudo. Os gritos e as suplicas, as risadas – a glória daqueles.

Há muitos dias Mordred não conseguia dormir. Ele sentia que estava próximo. Sentia que logo banhar-se-ia no sangue dos malditos.

Estava acordado, protegido pela noite velada. Seu companheiro e tutor, Asiltir, um velho sacerdote de Keenn, descansava ao seu lado. Ele havia ensinado Mordred a lutar e a matar. Guiara o jovem pelo caminho da dor e do sangue, protegendo-o.

Segundo os auspícios de Keenn, na manha seguinte aconteceria guerra – e Keenn teria uma nova mão em Arton.

“Mordred, ainda sem sono?” Asiltir rasgara o silêncio noturno.

“Será amanha, velho...” Mordred estava tenso, sabia que sua vida terminaria amanha, pois não haveria mais nada a cumprir, mais nada a completar. No dia seguinte, ele poderia ausentar-se do mundo.

Talvez morrer tivesse sido o melhor a fazer, a muito tempo atrás...

Para alguns.

6 comentários:

Capuccino disse...

Bom, a primeira parte do BG de Mordred está no ar ^^ Acretido que eu só vá construir mais uma - se eu ficar MUITO empolgado, esse numero pode subir pra três, isso vai depender da minha condição criativa no momento ^^

Neste primeiro post visei apresentar em linhas gerais um interludio do personagem, o que ele era e fazia antes de abraçar a guerra.

Dúvidas, críticas ou sugestões, como sempre, aberto a todas XD (nao no sentido literal =P)

Abraços.

Capuccino disse...

Há, uma aditamento aqui ^^

Uma vez que os proximos jogos serão de A.A., meu próximo bg será o de Thalian Aveiniat.

Aldenor disse...

Acabo de fazer uma descoberta para TRPG. Iria fazer um post sobre isso, mas acho que um coment já é o suficiente.

Clérigos ganham um Talento de Domínio e tal. Paladinos não. Até aí, tudo bem. Mas, segundo os autores, se o clérigo e o paladino seguirem as Obrigações e Restrições de seus deuses, ganham o talento de Poder Concedido do Panteão D20 (lembrando que talento de domínio e talento de poder concedido são coisas diferentes)!
Ou seja, poderemos ter clérigos e paladinos que não seguem obrigações e restrições e deixam de ganhar apenas os Poderes Concedidos, mas ganham os poderes mágicos, habilidades de classe e etc. Veja o comentário de Guilherme:

"Não recebem nada que não esteja na descrição da classe. Lembre que, pelas regras do Tormenta RPG, não existem Obrigações e Restrições. Se você usar o Panteão, daí é justo dar um talento de poder concedido em troca de seguir as Obrigações e Restrições."

OH, CÉUS. Aqui fica uma dica para as campanhas futuras: permitir o Panteão D20 e considerar que 90% dos devotos (clérigos, paladinos, druidas, etc) seguem as obrigações e restrições e tem os talentos de Poder Concedido. Um ou outro pode não seguir e não ter, mas são raros e até mesmo considerados charlatães. Minha ideia...

Aldenor disse...

Sobre o background: MUITO legal. Hhehehe

Marins disse...

gostei tb

alias bem legal

R-E-N-A-T-O disse...

Bom, muito bom. Parabéns.