quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Sangue e Cinzas



Hannah - Reino de Atalaka
União Púrpura, Reinado

Noite.
Quente, úmida, pestilenta.
O grande aglomerado de casebres rústicos, com suas paredes de pau-a-pique e telhados de palha, ocupava quase um quilômetro em qualquer direção que ele olhasse. A "casa" principal dividia espaço com o salão comunitário, um grande salão de teto muito baixo, numa mistura de palha, folhas podres e limo, com paredes de barro vermelho com quase um braço de espessura. Um arremedo de porta, aberto provavelmente à machadadas e coberto de tecido muito fino, separava o salão da casa do líder e patriarca. O chão de terra batida ainda guardava as lembranças do último retorno da caçada: cantos escuros onde os feridos foram tratados, o cheiro ocre de urina e vômito, o círculo negro central onde a fogueira era sempre acesa, o zumbido das moscas, baratas e vermes no canto dos restos.

 Foi bem próximo àquela poça de infecção que ele encontrou o que procurava. Um jovem muito belo, de feições estrangeiras - provavelmente do deserto -, olhar ferino que denunciava uma inteligência ardilosa, pele queimada pelo sol e músculos rijos. Estava amarrado, encoleirado na verdade, a um toco no chão poeirento. Suas mãos e pés estavam amarrados juntos à frente do corpo e na boca uma mordaça já turva de sangue reprimia seus gritos de socorro.
O homem cinza olhava impávido aquela cena patética, se perguntando se era mesmo ele que viera buscar. Sua armadura reluzia sinistra num cinza quase negro ao ser tocada pelos fiapos de luar. Ao alcance do braço direito uma grande maça de metal cravejada de espinhos parecia pronta a saltar a qualquer momento. Seus olhos mortos eram visíveis apenas pela abertura ínfima da máscara que compunha o elmo da armadura. Em seu peito, destoante de todo o conjunto, um disco dourado trazia entrecruzado um martelo, uma espada e um machado.
O cativo olhava trêmulo, o desespero estampado em sua face arroxeada, o homem se aproximar. O leve tilintar da sua armadura soava a seus ouvidos como a melodia de Leen, vindo do além para ceifá-lo. "Valhei-me Wynna, me conduza a seus domínios", era a única coisa que lhe passava pela cabeça.
O homem então parou a sua frente e esperou. Ao cativo pareceram horas infindáveis, encarando o espírito da morte. Então uma voz gélida atravessou o espaço entre eles.

- Vim por ti, cadáver. Atravessei meio reinado no teu encalço e finalmente o encontrei. Ainda me lembro da tua face, da tua voz. Tornou-se um tumor que agora enfim, extirpo - e levou sua mão de ferro até a maça, apanhando-a lentamente - Que Ragnar consuma sua alma, Farid.

Lentamente o homem ergueu sua maça, saboreando cada segundo do momento. A seus pés, o homem olhava em desespero, ruminando e grugunhando por trás de sua mordaça. Ajoelhou-se e com a testa na imundície, clamou por misericórdia muda. Foi então que o algoz notou a sutil diferença. Em seu ombro direito, uma tatuagem delineava-se sob a crosta de imundície. Nas costas nuas, apenas o vermelho vivo das chibatadas se fazia presente, nenhuma outra marca. Natural ou não.
O homem hesitou.

- Olhe para mim cadáver - e esperou o farrapo de homem olhá-lo - és Farid, filho de Amani, gênia de Wynna?

O farrapo a seus pés sacudiu veementemente a cabeça em negação. Como seria possível? Estava ele mentindo? Mas tudo indicava que era verdade.
O homem sacou um punhal do interior da sua bota e cortou a mordaça do homem. Era idêntico ao meio-homem que integrava a Confraria, Farid.

- Como se chama farrapo?

- Meu nome é Mehmood Izz-ud-Din - e lançou-lhe um olhar feroz, mesmo estando em nítida desvantagem - Atrop! - e desapareceu, reaparecendo livre e de pé do outro lado do salão - E quem serias tu, algoz ou salvador?

O homem ficou longos momentos em silêncio, a tensão crescendo entre eles até atingir o ponto do insuportável. Um segundo antes das palavras arcanas se formarem na mente de Mehmood, o homem tornou a falar.

- Eu sou Myrtano, servo de Keenn, senhor da guerra. Vim para matá-lo, mas parece que Keen pregou-me uma peça. És idêntico à minha presa.

- Não sou idêntico por acaso sacerdote. Farid é meu irmão. Gêmeo.

- Então parece que minha viagem não foi de todo desperdiçada. Uma cópia é melhor que nenhuma - e Myrtano deu um passo em direção a Mehmood. Sua maça já tremia pela excitação do combate.

- Engana-se se pensa que estou indefeso. Engana-se ainda mais se acredita que vim ou vou ao auxílio de meu irmão. Tenho contas a acertar com o único - seus olhos literalmente faiscaram de ódio, impelindo o espírito sanguinário de Myrtano de volta a seu peito.

Uma sonora e profusa gargalhada irrompeu do interior do elmo de Myrtano. Seria enfim uma excelente noite.

- Parece-me mais incapaz que sua contraparte farrapo. Preso, açoitado, humilhado e abusado pelos selvagens. Patético - quando a última sílaba deixou sua boca, Myrtano pôde ver na periferia da sua visão a cortina do Salão se abrir para a noite.

- Terá meu auxílio eterno se me ajudares servo de Keenn. Se não, queimará como tudo aqui. Ogof! - e o salão irrompeu em chamas, destruindo boa parte do telhado e das paredes. O bruxulear das chamas emprestava loucura aos olhos de Mehmood.

Ainda de pé, como que negando as chamas e o calor a sua volta, Myrtano permanecia impassível, consumido pela discussão entre ele e sua divindade. Gritos rasgaram o véu da noite no instante em que o homem deu um passo em direçao ao jovem irado.

- Serei seu aliado essa noite Mehmood, até que os desígnios de Keenn fiquem claros para mim - falava acima do crepitar das chamas, acima do medo e do ódio de Mehmood, acima da vida e da morte - Eles tiraram muito de você. Humilharam-te e abusaram. É hora da vingança. Keenn! - e o clérigo ergueu sua maça ao mesmo tempo em que um machado espectral gigantesco surgiu sobre o telhado do salão.

- Então peça Myrtano. Peça por fogo e eu terei minha vingança.

Gargalhadas povoaram a noite, acima da fúria do incêndio que se seguiu.
A noite tornou-se rubra para depois assumir o laranja do amanhecer, muito antes da chegada de Azgher.
Um homem teve sua vingança. Um deus foi honrado.
Uma aliança começara, forjada de sangue e cinzas.

6 comentários:

Aldenor disse...

EU EU EU
Farid se fudeu!
Um irmão??? Aliado a Myrtano!!!??? AHAHAHAHAHA

Pena os jogadores nem lembram que já viram Myrtano duas vezes (confrontaram uma)...

R-E-N-A-T-O disse...

Caralhowwwwwwwwwwwwwwwwww! Acho que Farid está em maus lençóis. Myrtano já teve duas oportunidades de tentar matar Farid e não o fez, pq agora quer? Ele que foi contratado por Salini? Pq Salini diz que Farid roubou algo dele?

Tantas perguntas sem resposta... Wynnaaaaaaaaaaaaa

Aldenor disse...

Foi ignorado que eu irei viajar dia 29 e voltar dia 4, não estando pra sessão de dia 3 e o fato de Lucas sugerir jogarem Mago no lugar de UD?

S i n n e r disse...

Olla senhores.
Como meio que me cansei do desespero corrente, passei pra elucidar algumas dúvidas. Vamos lá:

- Salini procura por Mehmood, acreditando que ele sim roubara algo (mas essa interpretação é aberta a leituras), como dito no quinto parágrafo da segunda parte de "Dualidade";
- O homem contratado para tal se chama Fahd Jabr, a Pantera do Deserto, como dito no segundo parágrafo da segunda parte;
- Ao que parece a mãe de Farid havia escondido o fato de ele possuir um irmão de Salini e do próprio Farid, como dito logo no primeiro parágrafo da primeira parte;
- Ao que parece também, ela o havia escondido na parte velha de Triumphus, cobrindo-o de luxos e riqueza, como dito logo na localidade da cena e na descrição do ambiente no segundo parágrafo;
- Tudo indica que Mehmood ("Mérrmuud" seria a pronúncia), tem contas a acertar com Farid, por algum motivo obscuro;
- O mesmo acontece com Myrtano, que teve a chance de matá-lo (e toda a Confraria) antes mas não o fez, e agora parece que deseja;

Bem, por hora são essas questões que deixo para vocês. Espero ter criado uma boa atmosfera, capaz de incentivá-los a continuar jogando UD sob minha batuta.
Abraços e adièau.

PS.: Não esqueci nem ignorei a mudança de calendário proposta por ti Aldie, e endossada por Lucas. Mas como não sou eu que mestro Mago, optei por não aterar o calendário unilateralmente até que Renato se manifestasse. Fuiz. o/

Lucas disse...

Não seja por isso... Renato já deu sua posição quanto ao jogo no dia 3/10 segue a cópia do comentário dele feito no post "Dualidade":

R-E-N-A-T-O disse...

Por mim tudo bem ser mago dia 03, porém dia 10 é meio de feriado(dia 12,terça é feriado). Não tem nenhum corninho que vai viajar não e faltar tb? Se tiver alguém vijando no feriado MANIFESTE-SE.

21 de setembro de 2010 00:15

[]'s

R-E-N-A-T-O disse...

é Daniel ness post notei que usou do artifício do gêmeo mau. hehehe. E provavelmente foi ele que roubou algo de Salini e Farid que acabará levando a culpa. Parece que a "Pantera do deserto" virá atrás de Farid para procurar algo que ele nem sabe o que é.
Agora não consigo imaginar que motivo obscuro seria esse e nem quero saber offgame pq provavelmente a graça está em descobrir.
Agora quanto ao Myrtano é bom para dar uma raiva a mais de Keenn para podermos ir contra Arsenal com mais gana.
A atmosfera está excelente assim como os contos, parabéns e continue embolando a história dos personagens pq isso só incentiva e faz com que não deixemos a história sumir da nossa cabeça nesses intervalos longos sem jogar.