terça-feira, 28 de junho de 2011

Crônicas Artonianas III: Contra Arsenal #5

Capítulo 5 – Os Filhos do Fogo

Grakgran Khore caminhava entre os Escolhidos das Chamas, como quem fazia uma revista de tropas. Homem alto, pele negra e tatuagens avermelhadas, ele via seus Escolhidos como soldados para o novo deus que pretendia ascender.
Kurur Lianth era um vulcão tão antigo que as histórias orais da tradição do povo de Khubar o descreviam mais velho que os deuses do Panteão. Grakgran sabia que aquele era o momento da ascensão. E para isso, precisava do apoio dos khubarianos. Mas ele sabia que não conseguiria sem guerra.
Como conselheiro do regente Khulai-Hûk, ele tinha como inimigo o auto-intitulado sumo-sacerdote de Benthos. O povo adorava Benthos e Oceano. Era difícil rivalizar com essas devoções. Somente uma revolução na política conseguiria arrastar o povo para sua fé adormecida em forma de vulcão.
Aproveitando-se da relação ruim entre o regente e seu filho Throkr, ele incitou secretamente, na ilha de Hurtka, que os Escolhidos das Chamas apoiassem a revolução.
Foi assim que tudo começou.
E quatro heróis se envolveram.



Bielefeld.
Thaedras e Farid viram a aproximação de um homem sobre um cavalo. Ele tinha pele branca, cabelos longos, castanhos e presos atrás da cabeça. Cavanhaque bem aparado e olhar de confiança. Na cabeça, um chapéu de aba larga com uma pluma garbosa. Vestia roupas largas, leves e um colete púrpura com o enorme símbolo de Valkaria. Ele se apresentou como Jean-Luc Du’Champs, mosqueteiro imperial, filho de Gistane Du’Champs, o líder e fundador dos mosqueteiros.
Falando sobre sonhos e intuição, ele disse que reconhecia Farid. Os dois aventureiros aceitaram a presença daquele homem estranho que parecia conhecê-los há anos. Farid gostou de sua empatia, ainda que Thaedras ficasse desconfiado.
Eles dormiram aproveitando a fogueira, para no dia seguinte, acordarem com mais uma surpresa. Durante a noite, Farid observou as estrelas e viu uma estrela cadente passar. Desejou um companheiro, um familiar mágico para acompanhá-lo em suas aventuras. No dia seguinte, havia um mico agitado. Vestia um colete e um chapeuzinho vermelhos. Ele sorriu ao ver Farid. O meio-gênio comemorou e mostrou a novidade a Jean-Luc e Thaedras. Era estranho, mas aceitável.
Comeram um pedaço de peixe cada e partiram em viagem quando Azgher despontou no céu. Seu destino talvez fosse Valkaria, mas o certo era que o incerto. Súbito, durante o segundo dia juntos, se conhecendo melhor, um grupo de khubarianos cercou o grupo. Falavam num idioma estranho e não quiseram conversar. Lutaram e venceram. Porém, um deles pediu clemência. Quando esta foi dada, pediu por ajuda.
- Vocês são heróis do continente. Meu povo precisa de ajuda. Eu preciso de ajuda.
- Belo modo de pedir ajuda – disse Jean-Luc.
- Eles – apontando para os khubarianos derrotados – são os Escolhidos das Chamas. Eu não sou um deles. Estava com eles para descobrir mais sobre os rebeldes.
Farid, Jean-Luc e Thaedras não entendiam, mas decidiram aceitar esse pedido de ajuda. Era uma viagem, uma aventura a se envolver. Durante o tempo em que viajaram até a praia que dava para o Mar do Dragão Rei, eles entenderam.
O khubariano se chamava Bane Konane e demonstrava grande honra em suas palavras. Era bastante sábio também. Pegaram o barco que o trouxe para o continente e viajaram para a ilha principal de Khubar. Pegaram um tempo ruim e ainda foram atacados por elfos-do-mar.
Thaedras, Bane Konane, Farid e Jean-Luc lutaram muito bem, ainda que com dificuldades pelo terreno, e se desvencilharam dos perigos do mar. Foram cinco dias no Mar do Dragão, chamado assim porque dizia-se que o próprio Benthos, o rei dos dragões marinhos, morava nas profundezas.
Eles passaram por duas enormes ilhas que mais pareciam pedregulhos colossais no meio do mar. E assim, chegaram à ilha principal de Khubar. O grupo foi para a aldeia Lono Meka, que era a morada de Bane Konane.
- Ela está subjugada por um grupo de Escolhidos. Acredito que eles devem ter informações de onde está o resto de seu maligno grupo.
Mal chegaram, a comitiva do continente foi atacada por khubarianos que lutavam com as mãos nuas. Usando manobras de apresamento, impuseram grandes dificuldades à recém denominada Confraria da Aventura. No fim, todos venceram.
Avançando até dentro da aldeia, encontraram outros tantos lutadores das mãos vazias. E um quarto herói.

***

Antes.
- Por isso eu acho que você é perfeito para liderar os guardas, James.
O homem de cabelos grisalhos e bigode aparado dizia com sorriso nos lábios. Era um Patrulheiro da Deusa, a maior ordem de cavalaria em homenagem à deusa da humanidade.
- Parece ser uma boa, George Wolfman. Meus dias estão contados em Deheon mesmo.
Devolveu o sorriso, o jovem paladino de Valkaria. Livre, ele não havia se comprometido com nenhuma ordem religiosa ou militar. Nem mesmo a nenhum grupo de aventureiros até o momento. Sua intenção era ajudar todos que pudesse, sem estar preso a nenhum compromisso.
Nascido de família humilde, James descobriu que tinha talentos ocultos. A vocação veio à tona quando ouviu da própria Valkaria, em sonhos, que deveria ser seu soldado sagrado. Quando se formou, queria viajar o mais longe possível da cidade de Valkaria e acabou participando de uma aventura que ficou publicada na Gazeta do Reinado sob o nome de Dado Selvagem.
Quando Valkaria se tornara livre graças à ação dos Libertadores, ele percebeu que Deheon não era mais o suficiente. Receber essa oferta de ser guarda da comitiva de diplomatas que viajaria para Khubar para aconselhar na resolução de um conflito interno foi a melhor notícia que pudera receber. Agradeceu a Valkaria por isso.
Assim, ele viajou.
Na mesa do regente, ele viu planos e exércitos arrumados. Estava tudo traçado, bastava o comando. Mas ele não vinha. James ficou muito curioso quanto a isso. Conversou com um soldado de Khubar e este lhe revelou como quem desabafasse.
- É porque o líder rebelde é seu próprio filho. Ele não quer massacrar o filho.
Fazia sentido.
Ele sugeriu de fazer um ataque de guerrilha a alguma aldeia tomada para averiguar a força inimiga. Talvez houvesse chance de evitar um massacre do exército. A ideia foi bem aceita no meio de tanta gente importante: diplomatas, conselheiros de guerra, sacerdotes de Benthos e Valkaria. A humildade daquele guerreiro sagrado fora ouvida. Assim, James cumpria mais um dos desígnios de Valkaria: superar, evoluir. Como um chefe de guarda à líder de um ataque.
Durante a viagem para o norte da ilha, onde havia ocupação, eles conseguiram encontrar algumas respostas. Havia uma aldeia tomada e lá um dos melhores guerreiros estavam a postos. James precisava saber com mais precisão para traçar planos melhores. Porém, essa decisão custou caro. Todos os seus guardas morreram no caminho até essa aldeia. Atacados por muitos rebeldes, os soldados civilizados de Valkaria sofreram como terreno desconhecido e selvagem.
Mas James não podia parar. Ele continuou mesmo sozinho sua empreitada até a aldeia de Lono Meka. E, ao chegar, ouviu sons de batalha. Ouviu o Valkar ser pronunciado.

***

Thaedras e Jean-Luc foram os primeiros a notarem a presença de um paladino de Valkaria. Moradores da capital do Reinado, os heróis reconheceram facilmente o símbolo da deusa numa placa no meio da cota de malha. O paladino lutava com um mangual e um escudo, mas carregava outras armas com ele. Tinha dificuldades de se locomover na areia fofa em que a aldeia se encontrava, mas seus golpes ainda eram precisos.
Farid e Bane Konane lutaram mais próximos. Thaedras sozinho e Jean-Luc e James se encontraram no campo de batalha. Depois de terminada, com alguns ferimentos, Bane correu até sua casa, uma cabana feita de madeira e palha.
E retornou com rosto amargurado. Haviam levado seu filho Kuala-Lampur para um sacrifício no vulcão de Tranklinn Klee. Aqueles heróis se entreolharam preocupados. James disse que poderia haver outras aldeias ocupadas e que a Confraria da Aventura podia ser útil nessa empreitada. Ele sempre confiara mais em aventureiros que soldados. Porém, Farid lhe explicou que eles tinham um compromisso com Bane Konane, que havia pedido ajuda a eles. Intrigado com essa ajuda pessoal, James decidiu segui-los. De alguma forma, parecia que o sacrifício num vulcão não era algo especificamente ligado aos rebeldes. Talvez uma organização que estivesse apoiando ou fomentando a rebeldia?
O grupo partiu em viagem, atravessando a ilha principal de Khubar até uma praia, onde construíram uma jangada com troncos de árvores grossas. A viagem até a ilha do vulcão Tranklinn Klee foi rápida.

***

A ilha parecia um enorme rochedo jogado sobre o mar oriental de Khubar. Rocha sólida e estérea até o topo, quando começava sua vegetação. E, mais no topo, um vulcão enorme que cuspia uma nuvem cinza. Bane Konane contou sobre isso.
Diziam que aquele vulcão pertencia à Tenebra, a horrenda deusa da noite, culto proibido em Khubar. Na ilha havia algumas aldeias chefiadas por clérigos dela. Ele temia que os Filhos das Cinzas – como aquele povo se intitulava – tivessem se aliado aos Escolhidos das Chamas. James começou a entender que esses Escolhidos estavam de fato fomentando uma rebelião contra o regente. Mas por quê?
Passando por uma vegetação alta, eles viram uma aldeia muito pequena com poucas cabanas numa clareira. Havia khubarianos plantando e colhendo frutos. O que mais chamava atenção eram os três cachorros com pele castanha, enormes, dentes pontiagudos com baba que pingavam enxofre. Seus olhos eram vermelhos e cheios de raiva. Cheiravam e olhavam para todas as direções.
A princípio a Confraria da Aventura não entendeu o que estava acontecendo, mas o paladino James tomou a liderança com mãos erguidas em sinal de paz para os khubarianos. Ele era franco e gostava de um contato franco, sem furtividades, ou covardias.
- Viemos em paz. Queremos conversar. – disse.
Os khubarianos da aldeia pararam imediatamente seus trabalhos e começaram a gritar em sua língua exótica. Os cachorros rosnaram erguendo-se. Estavam soltos e prontos para lutar. Então Bane traduziu as falas desesperadas de seus conterrâneos:
- Eles são prisioneiros! Estão pedindo por ajuda e para tomarem cuidado com os ...
Um dos cachorros abriu a boca e cuspiu uma baforada de fogo intensa.
A batalha que se seguiu foi violenta, mas com o triunfo da Confraria.

***

Uma mulher com roupas sumárias e tatuagens em azul brilhante apareceu para o grupo e contou que estavam sendo usados como escravos para alimentar o exército dos Escolhidos das Chamas. Eles pretendiam usar o vulcão Tranklinn Klee para roubar seu poder e alimentar as chamas de seu líder, ainda desconhecido.
O grupo rumou para o vulcão onde Kuala-Lampur seria sacrificado.
Ao chegar lá, encontraram apenas um homem magro, cabelos somente na parte de trás da cabeça, amarrados num coque exótico. Suas tatuagens se espalhavam pelo corpo e ele trazia no pescoço o colar dos Escolhidos das Chamas. Era o feiticeiro Akakor Kannon, um dos mais poderosos da rebelião. No seu auxílio, havia dois cachorros infernais. Segundo Thaedras, eles são criados em planos de deuses ligados ao fogo ou à ordem e neutralidade.
A batalha começou e foi mais sangrenta. Jean-Luc tentou combater o feiticeiro de frente. Farid sabia que seus poderes de fogo eram inúteis contra os cães, e tentou atacar com mísseis mágicos o feiticeiro e percebeu que ele tinha uma proteção de escudo arcano, capaz de anular totalmente os mísseis mágicos. Thaedras e Bane combateram os cães até que suas mortes. Farid derrubou um cão. Thaedras avançou sobre o último cão e o deixou quase morto com um golpe de sua magnífica espada. James avançou visando o feiticeiro, mas foi atingido pelo cão e caiu derrotado, incapaz de continuar devido à perda massiva de sangue. No fim, o feiticeiro fora derrotado. E amarrado como um porco por Thaedras.
Eles encontraram Kuala-Lampur sob efeito de magia de invisibilidade que passou em poucos minutos. Bane Konane e Kuala-Lampur se abraçaram, pai e filho. Aquela questão estava resolvida, por enquanto.

***

- Não serão páreo para o exército dos Escolhidos das Chamas. Muitos dos rebeldes, campesinos aderiram à nossa causa, a causa do grande deus-vulcão Kurur Lianth. Em breve ele ascenderá como um grande e poderoso deus. Nem Benthos, nem Oceano serão páreos.
- E onde estão os tais escolhidos? – Thaedras rangeu os dentes. James olhou torto, já que não confiava ainda em alguém abençoado por Keenn, o deus da guerra. Estava preparado para intervir e impedir que torturassem o feiticeiro Akakor Kannon.
- Acha que vou dizer, elfo?
Então, antes que Thaedras e James agissem, Kuala-Lampur interveio.
- Estão na ilha de Hurtka. Eu sei. E estão liderados por Grakgran Khore.
James lembrou da família Khore, importante e influente conselheiros do regente. Eram traidores. O jovem paladino ficou irritado.
A Confraria da Aventura já tinha um destino final.

Um comentário:

R-E-N-A-T-O disse...

Bom post, bem resumido, mas bom.