quarta-feira, 15 de junho de 2011

Crônicas Artonianas III: Contra Arsenal #3

Capítulo 3 – A Cidade Flutuante.

O retorno à Roschfallen depois de cumprir uma missão, aquelas pessoas estavam mais unidas como um grupo. Anne, Farid e Thaedras estreitaram laços, contaram um pouco mais sobre si mesmos. Suas ambições foram ouvidas e apoiadas. Mesmo quando Thaedras revelou que a guerra o seguiria aonde fosse, Farid e Anne aceitaram continuar com ele, seguir com ele durante suas próprias andanças.
Chegando à capital de Bielefeld, o grupo foi entregar a planta e receber a recompensa. Agora sim, sua missão estava completa. Elan Azemberg, o mago contratante, agradeceu e avisou que espalharia a fama do grupo para conseguirem mais missões.




Com ouro, os três resolveram gastar dinheiro em uma luxuosa estalagem, a do Cálice Prateado. Alguns jovens nobres com autoridade de miliciano (combinação muito perigosa) implicaram com eles. Thaedras não queria perder tempo com picuinhas humanas e se recolheu mais cedo. Farid e Anne decidiram brincar um pouco com eles.
Levados a um beco para serem roubados – ou pior – os dois fizeram os nobres de palhaço e fugiram voando graças à magia de Farid.
No dia seguinte, a milícia bateu à porta de seu quarto. Todos já esperavam problemas. Mas a frustração foi bem vinda. O capitão da milícia queria lhes oferecer um contrato para escoltar um mercador até Highter, uma cidade à sul de Roschfallen. Pelo dinheiro e pela viagem, eles aceitaram e partiram.

***

O comerciante Sultai Orero era um homem gordo com vestes de seda e bigodes fartos. Um típico comerciante de sucesso. Junto com ele, um jovem de não mais dezoito invernos chamado Kris também viajou com eles. Era um jovem turrão e sisudo, o que provocou uma grande vontade de provocá-lo – de todos os sentidos – por parte de Anne. A viagem foi razoável, mas o grupo foi interpelado por homens negros tatuados, reconhecidos como guerreiros de Khubar. Eles não falavam a língua do continente e não queriam mais nada além de lutar, matar e saquear.
Thaedras cortou a maioria deles com sua espada longa.
Cinco dias depois, eles chegaram a uma colina. Sultai lhes contou que era a Colina do Sábio Amanhecer, onde diziam, no topo havia um templo de Marah e, qualquer questão ou pergunta seria respondida pela mágica do lugar. Anne convenceu a todos que era uma boa oportunidade de subir, mesmo que Farid achasse desnecessário. Para o qareen não valia a pena descobrir respostas para as coisas sem ele mesmo testar e vivenciar.
Eles subiram a colina que era, na verdade, uma única montanha no meio de um terreno descampado e de relevo baixo. Passaram por uma caverna onde vivia uma tribo goblin, mas devotos de Marah. Ao chegarem ao topo, encontraram um único homem, Sil-kar, um clérigo de Marah. Ele ofereceu comida, abrigo e revelou que as respostas estavam dentro de cada um e que a colina apenas oferecia a paz e tranqüilidade para que a verdade fosse buscada.
Anne aproveitou e se deitou com o sacerdote de não mais de quarenta invernos. Durante a noite, todos tiveram sonhos de sucesso em suas vidas. Farid era reconhecido por seu pai e era um feiticeiro de grande conhecimento mágico. Anne era dona de sua frota naval. Porém, Thaedras acordou a todos berrando desesperadamente de seu quarto. Todos correram para acudi-lo e o encontraram com as mãos nos olhos em desespero. Sil-kar não entendia, não fazia sentido. Mas Farid e Anne já desconfiavam: Thaedras era um abençoado (ou seria amaldiçoado?) de Keenn, o deus da guerra. A paz para ele era o inferno.
Seus olhos estavam lacrimosos, mas saia sangue ao invés de lágrimas. Ele se ergueu de sua cama depois de ser acalmado e saiu do templo, dormir na carroça. O grupo não sabia o que fazer. Então, Sil-kar lhes aconselhou:
- O amigo de vocês possui a maldição da guerra. E entendo que vocês queiram segui-lo mesmo não sendo amantes da guerra. Porém, o laço de amizade que os une um dia será o motivo de suas ruínas.
Com pesar, todos voltaram a dormir.
No dia seguinte, eles partiram da Colina do Sábio Amanhecer e partiram em viagem para Highter. Durante a viagem, Sultai contou ao grupo que a cidade está flutuando cerca de noventa metros do chão, presa a correntes. Para subir, existem portais feitos de pedra que teletransportam a pessoa – e a carroça – para a cidade. Farid ficou muito curioso com o advento arcano.

***

E a cidade era impressionante. Conta-se que era uma fortaleza construída por um mago que queria conquistar Bielefeld. Um grupo de aventureiros, no entanto, impediu seus planos e ficaram com a fortaleza, construindo uma cidade. Hoje em dia, somente o anão Kevarimm está vivo, velho e prefeito de Highter. E mesmo assim, ainda hoje existem partes não exploradas da cidade que são muito perigosas.
O grupo se despediu de Sultai criando um nome para si: a Confraria da Aventura. Depois receberam a recompensa e foram gastar separadamente. Kris foi atrás de Anne e ambos terminaram a noite na cama de uma luxuosa estalagem. Farid bebeu e dormiu com outra rapariga filha de burgueses. Era muito fácil dormir com elas, ele pensava.
Thaedras andou pela cidade e encontrou poucos lugares para a arte. Havia muitas construções antigas, feitas de pedra. Viu uma loja de armas e se entreteve com a variedade.
No dia seguinte, todos se reuniram na taverna onde haviam se despedido de Sultai. Anne (que havia deixado Kris para um futuro incerto), Farid e Thaedras decidiam o que iam fazer a partir dali. Foi quando ouviram gritos na rua. Ao saírem, eles viram um cavaleiro da luz montado sendo atacado por plebeus enfurecidos. Sir Michael Claymont pediu ajuda a eles para se livrarem dos plebeus.
Todos concordaram e Thaedras investiu cortando um deles com sua espada. Farid, então, berrou para não matar. Thaedras concordou a partir dali. Com os plebeus derrotados, Farid revelou que eles estavam sendo controlados mentalmente por alguém. O cavaleiro da luz desceu de seu cavalo e agradeceu a todos. Possuía um pouco de arrogância, mas estava verdadeiramente agradecido. E convidou o grupo para um baile nobre, no castelo da prefeitura, onde mora Kevarimm.
Eles aceitaram depois de pensar um pouco. Anne queria porque era boa comida, chance de conhecer novos rapazes para brincar. Farid era mais neutro à situação, mas aceitou de bom grado. Thaedras estava um pouco desconfortável, pois sabia que os olhos voltariam a ele, um elfo. Mas acabou convencido.
O baile tinha a presença de vários nobres e, curiosamente, revelou que Kevarimm tinha uma esposa humana. A festa foi se desenrolando ao som de músicos que tocavam instrumentos anões. Então, o baile fora invadido por homens vestidos de palhaços com espadas curtas. Anne, Farid e Thaedras, juntamente com o anão Kevarimm e sir Michael Claymont lutaram para proteger as pessoas. Infelizmente, duas pessoas acabaram morrendo.
Na sala de negócios do anão prefeito, um deles foi interrogado. Depois de retirar um pano de muitos metros de dentro das roupas, pegou uma chave amarrada na ponta. Depois retirou um estojo de madeira do bolso e o abriu com a chave. Havia um pergaminho dentro escrito: “Devolva o Cálice das Almas ou sofrerá a fúria de Nimb”.
Todos olharam para sir Michael Claymont. O pergaminho, segundo o servo de Nimb, era direcionado ao cavaleiro da luz.
- Eu não possuo essa carta.
O anão interveio.
- Eu já ouvi falar desse cálice. Pertencia ao antigo mago dessa cidadela. Está na parte inexplorada...
Os olhos se voltaram para os aventureiros.
- Está bem. Quanto nos pagarão? – Anne sorriu para eles.

***

Andando por corredores estreitos, a Confraria da Aventura encontrou uma masmorra intrincada. Nenhuma armadilha, mas havia zumbis espalhados por uma câmara e um grande escorpião monstruoso. O grupo ficou demasiado cansado e ferido nessa parte e não encontraram nada parecido com um cálice. Anne encontrou o que parecia ser um rio, um lugar onde havia água em grande quantidade, onde se banhou. Ela sentia saudade do Rio dos Deuses.
No dia seguinte, já curados e preparados, desceram para outro nível da masmorra.
Logo de cara, encontraram a morte.
Zynkas Skablesh e outros dois guerreiros formavam os Ferrões Negros. Um grupo mercenário que seguia a Keenn. Zynkas era um homem alto, pele negra, sem cabelos. Vestia apenas duas tiras de couro cruzadas no seu peito usava uma espada grande. Trocaram ofensas e começaram a lutar, ao modo de Keenn.
Thaedras poderia ter gostado desse embate, por enfrentar devotos de Keenn. Farid poderia ter gostado desse combate, por vencer outro grupo fanfarrão que queria mandar neles. Anne teria gostado desse combate, por brincar com a imaginação masculina, bem o seu meio de lutar.
Porém a morte veio a encontro deles.
Quando um dos Ferrões Negros estava caído desacordado, Zynkas acertou um poderoso golpe em Anne e a derrubou inconsciente, sangrando. Farid e Thaedras pararam de lutar no mesmo momento quando Zynkas apontou a ponta da espada no pescoço da companheira deles.
- Movam-se, façam qualquer magia e ela morre. Vão embora.
Farid não queria sair. Sabia que se saísse, ela seria morta de qualquer jeito. Thaedras não teve tempo de pensar na questão com calma, o sangue da batalha fervilhava na têmpora.
- Não sairemos sem ela.
- Então ela morre. Contarei até três.
No “três”, Farid lançou sua última cartada: uma magia de sono.
Mas Zynkas era um homem poderoso. Sua força de vontade o manteve de pé. E seus músculos manejaram a espada cortando a garganta de Anne. Ela afogou no próprio sangue e morreu de olhos arregalados.
Mais combate e mais morte. O outro Ferrão Negro fora morto, mas Zynkas escapou por onde a Confraria da Aventura tinha entrado. Combate terminado, eles puderam chorar a morte da companheira. Thaedras lembrou de uma canção élfica antiga sobre sonhos interrompidos no mundo material. Mas a vida continuava em outro lugar, junto dos deuses.
- Anne está agora com os deuses.

***

Sisudos, Thaedras e Farid eram só culpa. Resolveriam o problema de Highter e seriam aclamados como heróis, por protegerem um cavaleiro da luz. Mas nada daquilo era desejado naquele momento.
Eles andaram pela masmorra por mais quase um dia inteiro quando acharam inscrições mágicas. Farid desvendou o mistério arcano deixado pelo antigo mago dono da cidadela e eles encontraram um lugar de invocação de um demônio. Um demônio de Werra, o mundo de Keenn.
Todos ficaram surpresos, pois Zynkas voltou revelando seu propósito nas masmorras de Highter.
- Nunca teria conseguido achar esse lugar de invocação sem vocês. – Com um sorriso, ele cortou um filete de sangue do braço e jogou no chão. O circulo mágico da invocação brilhou e um demônio corpulento, braços pétreos, cabeça de bode com chifres terríveis surgiu.
Parecia o fim. Thaedras e Farid esgotados teriam uma luta muito difícil. E se surpreenderam quando Zynkas avançou em investida contra o demônio. Thaedras esboçou um sorriso sádico. Havia chance de vitórias. Gritou para Farid se afastar, então sua pele embranqueceu até a palidez máxima. Vários cortes surgiram ao longo de seu corpo. Farid ainda recebeu os prejuízos da aura negativa de Keenn e cortou o braço.
A luta foi selvagem. Thaedras, Zynkas e o demônio de Keenn, todos sob as gargalhadas do deus da guerra se jogaram ao frenesi do combate, sangrando e cortando. Farid, de longe, disparava mísseis mágicos.

***

Farid respirava pesadamente. Thaedras arrastava-se com um braço pendurado por um filete de carne. Zynkas e o demônio jaziam mortos. Era a vitória. Anne havia sido vingada. Mas logo depois, eles sentiram que a vingança não compensava. Anne continuava morta.
Saíram daquela masmorra maldita carregando o corpo de Anne como um fardo, envolta em sua capa e na capa de Thaedras. Devolveram o tal Cálice das Almas e entregaram um pouco do ouro e das jóias que encontraram nas masmorras. Era o trato feito. A Confraria ficou com uma porcentagem e mais uma recompensa. Não tocaram no nome de Zynkas ou no demônio de Keenn. Apenas entregaram o Cálice.
- Agora você decide o que fazer com ele. – Disse Farid, taciturno para o anão Kevarimm.
Thaedras e Farid saíram de Highter, escoltados por soldados de Kevarimm até um rio à três dias a leste. Lá, compraram um barco para duas pessoas em uma vila pesqueira e deitaram o corpo de Anne. Thaedras fez uma prece aos deuses em silêncio. Farid recitou um poema na língua do povo do deserto. Em silencio, eles viram o rio levar o barco para longe.
Naquela noite, acampados à beira do rio em volta de uma fogueira, ouviram passos de cavalo. Alguém se aproximava na penumbra.
in memorian

3 comentários:

R-E-N-A-T-O disse...

Tadinha de Anne. RIP Anne Vela-firme.

Marins disse...

fico triste, porém satisfeito com a homenagem.

Foi bem legal jogar com ela, mas Nimb não rolou bons dados. E assim é a vida e suas consequencias.

Adorei o "in memorian", foi inesperado.

R-E-N-A-T-O disse...

Dia 10 de julho devo estar em SP para o RPGcom e para visitar meus amigos paulistas. o/