terça-feira, 9 de novembro de 2010

Terror - parte 1

Centro-sul da cidade de Valkaria
Deheon – Reinado

Meredith não acreditava em seus olhos.
Por um instante toda a sala reluziu num azul pálido, pulsando com o poder invocado pela jovem mulher. Nada mais ousou mover-se, reverente ao esplendor do momento.
Não se dera conta, mas tanto ela quanto o bebê em seus braços participavam inconscientemente da ode à majestade do Juiz.


Com os olhos pregados no pistoleiro, Meredith sequer notou o reinício da luta até ser banhada pela luz alva emanada pela espada de Rúbia. Enquanto a arma descrevia um arco amplo em direção à cabeça do pistoleiro, ela se pegou torcendo, pedindo, orando ao Corruptor para que a arma atingisse seu alvo e o mandasse direto para o inferno de Ragnar. O tilintar do choque das lâminas a trouxe de volta à realidade.
Por uma fração de segundo as espadas cantaram sua canção de honra e habilidade, sendo logo substituída pelos ecos poderosos da arma de pólvora.
Um, dois, três, quatro.
A parede atrás da jovem foi salpicada de carmesim, espalhando o líquido da vida por todo o reboco marcado a tiros pela arma maldita do algoz. Com o impacto, Meredith viu a mulher cambalear corredor adentro, rumo à porta que dava para a área externa da casa. Fosse como fosse, era a hora de partir.
Ela veio à casa com um objetivo definido que, dada a reviravolta grotesca do destino, estaria cumprido muito antes do esperado. Sem infiltração, sem confiança, sem traição, sem fuga. Sem tributo ou louvor à Serpente.
Foi arrancada de sua conjectura pelo som agourento da arma. Ela gritava outra vez seus impropérios à honra e à justiça do combate justo, do choque das lâminas, dos olhos nos olhos, da intimidade imposta pela natureza da espada. A arte da espada morria um pouco mais a cada tiro daquele instrumento infernal. 
Ela ouviu o gorgolejar da respiração entrecortada de Rúbia, sorvendo com dificuldade um pouco mais de ar para manter-se viva. Era sua chance de deixar a casa e a mulher para trás, levando consigo o bebê que fora seu alvo desde o princípio. Deslizou pela sala e seu nariz foi inundado pelo cheiro ferruginoso do sangue já coagulando, turvando um pouco sua visão e lembrando-a que ela mesma fora ferida pelo invasor. Numa última olhada pelo corredor viu o homem parado de pé no fim de uma trilha vermelha marcada no chão pelos movimentos do corpo inerte que agora se recostava no muro que fundeava a propriedade. Ele erguia seu braço lentamente e ela pôde então vislumbrar o reflexo arroxeado da arma sendo apontada para o corpo da jovem.
Seriam seus últimos momentos em Arton.
Por um breve momento, Meredith quase se condoeu do fim da jovem, quase sentiu pesar, remorso. O embrulho em seus braços remexeu-se, lembrando-a de sua missão e de suas reais intenções. De seu pacto.
“Talvez em outra vida...”
A figura deixou a casa pela porta da frente, metendo-se no meio do aglomerado de pessoas que já se juntavam na frente da casa bem cuidada dos Kulenov, incógnita e incólume, rumo às sombras.
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Subterrâneos da cidade de Midron
Ahlen – Reinado

O som do gotejar insistente competia com os gemidos mórbidos, espalhando uma melodia funesta por toda a câmara mal-cheirosa.
Oito camas, construídas completamente de metal, acomodavam três corpos agonizantes semi-mutilados cobertos em parte por panos imundos, um tórax feminino sem cabeça acompanhado de cinco membros inferiores de variadas idades, um corpo canino partido em nove partes e duas cabeças de cavalo em estado de avançada putrefação.
No piso corria por uma estreita vala, alimentada em seu caminho por dois orifícios nas paredes laterais, um riacho de dejetos que seguia em direção a fundo da câmara e que competia com o cheiro de podridão emprestado pelos cadáveres ao ar viciado da sala.
O ranger da porta de ferro rebitado fez aumentar o coro profano ao mesmo tempo em que um homem baixo e calvo, vestindo um avental de couro típico de açougueiro já rubro de sangue seco entrava na sala segurando um pequeno embrulho em seu braço esquerdo. No direito trazia um instrumento hostil, maledicente em sua concepção, que lembrava um pouco uma mistura de pinça para carnes, broca e cutelo.
O aumento do som dos gemidos despertou uma nova voz entre os condenados, aguda, irritante, jovem. O embrulho no braço esquerdo do homem manifestara-se pela primeira vez, chorando copiosamente em resposta à atmosfera maldita da sala.
O homem cruzou a sala indo em direção a uma das camas do fundo, alheio aos lamentos dos moribundos e ao choro insistente do infante em seus braços. A superfície da cama estava vazia e, marcada apenas pelos fluidos ressequidos das vítimas anteriores, recendia a um mal ancestral, contundente, forte. Colocou o embrulho sobre a superfície fria e com dois ou três movimentos, expôs seu conteúdo inocente. Uma criança com não mais que cinco meses de vida, pele alva, olhos castanhos, ralos cabelos dourados e muitas dobrinhas de cuidado. Suas fraldas amareladas denunciavam a falta de atenção no cárcere e foram logo removidas e jogadas de lado por seu algoz.
Pressentindo seu destino eminente o infante chorava a plenos pulmões, empurrando um dos moribundos de volta às margens da consciência. Retirando os trapos rotos que cobriam-lhe a face, seu único olho restante pôde acompanhar o desenrolar daquele ritual sinistro.
Sem importar-se com os protestos do bebê, o homem posicionou o instrumento sinistro na altura de seu tórax e começou a girar a haste com calma e precisão, murmurando palavras ininteligíveis a cada volta completa. O moribundo quase pôde sentir o frio do metal em sua própria pele no instante em que a parte do instrumento que se assemelhava a um parafuso tocou o abdome do bebê. O choro alto e poderoso já denunciava o desespero da criança em face da dor crescente provocada pela introdução do parafuso em seu abdome, volta a volta. O moribundo tentou protestar, gritar para que parasse, xingá-lo, ofendê-lo, atrair sua atenção de alguma forma, porém sua boca estava selada, costurada bem justa com fio de tripas usado em sutura de ferimentos. Isso acabou por dissuadir-lhe da idéia de ajudar a criança e atraiu sua atenção para o seu próprio problema imediato. Em poucos segundos o protesto poderoso do inocente deixou a sala, dando novamente lugar ao gotejamento, aos murmúrios e lamentos intermitentes dos não-mortos.
Absorto em sua tentativa de livrar a boca das amarras diabólicas, o moribundo arranhava e rasgava a pele do rosto com as unhas, abrindo mais canais de infecção que intensificariam ainda mais o seu tormento. Não notou até ser tarde demais a presença do homem ao lado de seu leito.

- Ora, ora, ora. O que temos aqui? Um lutador? – seu avental adquirira um tom rubro reluzente, coberto de sangue novo – Ambos sabemos que essa tentativa é inútil não?

Os olhos arregalados do homem mal conseguiam expressar todo terror que o inundava naquele momento ante aquela face fria, cruel, demoníaca. O surto adrenal emprestou-lhe ânimo para uma última tentativa, uma idéia louca, leviana, e o moribundo ergueu as mãos em direção à garganta de seu algoz. Foi rapidamente rechaçado com um golpe forte na cabeça, dado com o instrumento maldito recém-coberto dos fluidos do bebê, que nublou-lhe a visão e o jogou de volta à cama fria.

- Mas que petulância Omar. Que petulância. Depois das melhorias que fiz em ti? Pelo jeito você ainda não se deu conta não é? Pois bem, contemple então minha obra – e retirou com um movimento amplo os farrapos que cobriam o corpo de Omar. No lugar onde deviam estar suas pernas três braços moviam-se lentamente, entorpecidos por algum tipo de droga ou encanto profano. Os dedos terminavam em garras artificiais, feitas de algum tipo de metal implantado diretamente na carne, e os antebraços estavam cobertos por uma carapaça reluzente e maciça, num tom doentio de verde.

Omar quis gritar, mas seu lamento ocorreu na forma de um murmúrio longo, desconexo, gutural. O toque frio da mão úmida minou o que restava de sua sanidade, submetendo-o inteiro ao som das palavras ditas pelo homem com calma e leveza. 
“Onos odnuforp” e Omar mergulhou num sono sem sonhos e sem paz.

10 comentários:

Capuccino disse...

BONDADE É O KRALHO!


Vou comer esse filha da puta de porrada! E não tem qualquer deus nesse cenário que faça com que eu não mate esse infeliz!

Dudu disse...

O_o

Não sei se entendi!
Nem se quero entender...

R-E-N-A-T-O disse...

Teremos que destruir o tal Dr. Victor Frankenstein Junior ae. Bola de fogo maximizada nele! Booooomm! hehehe
Foda. Me senti lendo algo tipo jogos mortais. Vc é definitivamente doente. Vá se tratar! =D

S i n n e r disse...

Olla senhores.
Doente, eu?
Hauhauhuhauahauahuahuaaa
Como eu disse, estou apresentando o novo vilão do cenário, provavelmente encontrado em Ahlen assim como o que foi feito de Meredith.
O post ficou meio grande (novamente, estou notando um certo padrão nisso...) e resolvi outra vez cortá-lo em duas ou três partes.
Ainda vai piorar um pouquinho nas partes vindouras.
E vocês não perdem por esperar.
Abraços a todos, espero que gostem.
Cya.

PS.: Hoje à tarde, parte II.

Aldenor disse...

Argh!!!! Gostar! Quase vomitei! Sobrou até pro brother de Farid! AHUAHUUHAHUAHUAUHA

Esse homem já está morto. Igan vai se certificar de avisá-lo sobre isso.

S i n n e r disse...

Brother de Farid?
Se não me engano o nome dele é Mehmood...
Quase vomitar é forçação né?
A idéia é passar um pouco da atmosfera de terror e depravação da cena, explicitando a índole doentia do protagonista.
Como eu disse, ainda vai piorar um pouco antes de acabar ò.ó
Hoje a tarde, parte II.
Abraços e adièau.

Dudu disse...

Eu não quero é achar que é o filho do Igan aquele ali...
Imagina! Fudeca neném. No mínimo é o mesmo destino!

E fiquei com a impressão que conhecemos o pobre coitado trímanede(adaptação de bípede para condizer à realidade).

Cruz credo.

Dudu disse...

E outra, não posso jogar o proximo, dia 14...

=\

Aldenor disse...

Ih, caralho! É verdade, confundi os nomes!

Sim, quase vomitar é um exagero. Mas foi terrível nesse sentido.

Dudu, seu maldito! AA vai voltar a ter uma dupla: Thalian e Hector!

Marins disse...

ou seja não vai... o timeline não permite...