sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Terror - final


Templo Subterrâneo de Sszzaas
Algum lugar em Deheon – Reinado

O corredor úmido levava direto ao altar principal.
O Coração da Serpente.
Aquele atalho era conhecido apenas por uma seleta fração dos fiéis daquele templo, uma passagem escavada na pedra, inicialmente paralela ao corredor primário depois quase perpendicular, cortando o subterrâneo numa ligação direta que desembocava na câmara principal.
Após atravessar a porta secreta no final da passagem, Meredith se viu na borda de um amplo salão circular com aproximadamente trinta e cinco homens de diâmetro, ocupado apenas por uma plataforma heptagonal de aproximadamente três homens de diâmetro e uma perna de altura, encimada por um altar de mármore muito branco, maciço, entalhado em toda sua superfície com intricados padrões divinos reverenciando o Grande Corruptor. 


Pendendo da abóboda, esculpida com o material que compunha a própria câmara e posicionada imediatamente acima do altar, descia suntuosa uma representação fiel de Sszzaas em sua forma ofídica, com seus seis olhos afiados feitos de esmeraldas de qualidade inimaginável, capazes de perscrutar a fundo a alma dos fiéis, seu sorriso sedutor e maligno, que incitaria pensamentos obtusos ao mais fiel servo, e incontáveis escamas lisas e brilhantes, como que polidas individualmente através do tempo. Ela circundava o altar em espiral a partir do teto, observando atentamente cada ritual, cada sacrifício, cada palavra dita pelo sacerdote.
Nenhuma outra abertura maculava a integridade da parede, que seguia adornada com afrescos ilustrando a queda e retorno do Senhor das Víboras ao Panteão. Meredith adentrou o salão seguindo em direção ao altar central, tendo a cristalina certeza de que era vigiada por olhos ocultos dentro do salão. Ajoelhou-se na borda do altar, sob a cabeça da serpente, e tocou o piso com a fronte recitando o mote do corruptor.

- O poder não jaz nas armas, não está nos braços, não habita a voz. O poder mora na mente sagaz, na astúcia dos atos, na engenhosidade das palavras. Poderoso é o que usa o adversário, corrompe seus aliados e manipula seus inimigos. No sacrifício de outrem jaz a chave da vitória.

- Amém – pontuou uma voz vinda de cima do altar.

- Vossa eminência Atanasij – cumprimentou Meredith, com deferência, ainda com a fronte tocando a plataforma.

Um homem alto e esguio materializou-se sobre a plataforma tocando displicentemente o altar de mármore. Trajava um robe marrom com adornos vermelhos na gola, mangas, cintura e barra. Um olhar mais atento revelaria símbolos profanos de adoração a Sszzaas dispostos de maneiras distintas na gola, cintura, mangas e barra, cada qual com seu objetivo doentio bem delineado ainda na confecção. Ele trazia no rosto um olhar sereno e um sorriso acolhedor, capaz de derreter geleiras e dominar multidões. Sua tez levemente morena era completamente lisa e adornada por tatuagens que iam da nuca até a testa, findando na altura das sobrancelhas negras e fartas. O nariz levemente arrebitado completava aquela face marcante, atrevida, audaz.

- O que a traz à morada das víboras, ao coração da serpente, fora do dia de adoração? – parecia proferir essas palavras por mera formalidade. Seus olhos fixos nos olhos de Meredith denunciavam o conhecimento de toda a situação, quase antevendo sua necessidade antes que ela a proferisse.

- Preciso de seus milagres, do dom divino que habita sua alma vossa eminência. – disse Meredith reticente. Nunca viera a ele nessa condição, com sua capacidade de barganha reduzida pela urgência. Temia pelos rumos da conversa.

- Fervorosa Meredith – disse Atanasij, caminhando agora languidamente em direção à mulher – sabe que a tenho em mais alta conta. Meu Senhor em pessoa não pensaria de outra forma. É claro que posso derramar sobre ti as bênçãos da Serpente – continuou, já tocando a cabeça de Meredith com sua palma quente – Aceita sobre si minha intervenção? Aceita o poder de Sszzaas sobre sua vida, sua vontade acima de seu coração, sua mão em seu destino?

Inconscientemente Meredith estremeceu. 
Era primeira vez que pedia, que precisava de fato. Normalmente seu ouro e influência seriam capazes de providenciar o que desejava. Jamais se colocava em posição de dever nada, nem ouro e muito menos favores.
Era essa sua primeira regra.
Assim avançava na Igreja de Sszzaas, assim se mantinha dona de si, assim continuava viva. Porém a situação se mostrava mais complexa que ela esperava. Após ser ferida pela arma agourenta do pistoleiro, ela sangrou profusamente por quase dois minutos. Teve que trocar suas vestes antes de sair em busca de cura, sujas como estavam, na toca da serpente. Qualquer outro lugar seria por demais público. Os sacerdotes “bons” fariam questionamentos, dariam conselhos e acima de tudo, estranhariam o fato de uma senhora distinta como ela ter sido ferida à bala em plena cidade de Valkaria. Isso acarretaria explicações, suposições, perguntas e histórias sobre o destino da família e da criança, que agora esperava segura e quente em leito, no subúrbio.
Dois mil tibares.
Essa recompensa seria capaz de comprar-lhe finalmente o título de nobreza que ansiava. Acesso à corte, ao luxo, às mentes e corações incautos daqueles que não conheciam a vida, que não tinham experiência no intricado jogo de sobrevivência jogado nas bases da pirâmide. A podridão e perversão das alcovas lhe pareciam por demais atraentes para que ela desperdiçasse a oportunidade de ingresso.
“Nada vem de graça”, pensou ela.
Se esse seria o preço a pagar para prosseguir com seus planos, que assim fosse. Aceitaria o que quer que viesse, iria ao encontro de Zsolt para o pagamento e amanhã, ao raiar do dia, estaria engajada no processo de ascensão da sua linhagem.

- Eu aceito.

E sentiu o cálido toque da serpente em sua alma, curando suas feridas, nublando sua mente e invadindo seu coração. Sentiu em seu âmago que algo estava errado, mas já havia aceitado o preço e ponderado suas chances.
Fechou os olhos e abraçou seu destino.
Sorriu.

11 comentários:

S i n n e r disse...

Olla Senhores.
Bem, aqui fecho o ciclo de posts explicitando o que ocorreu com os antagonistas durante sua estadia em Valkaria.
Vocês já sabem o que aconteceu com Meredith após o ponto deste post (a venda da criança à Zsolt) e falar mais de Emmilian revelaria mais do que eu pretendo sobre seus reais planos.
Vocês já tiveram idéia do que ele é capaz e sabem agora que o bebê Igan foi vendido a ele e porquê. Esses antagonistas ainda vão aparecer e voltar a importuná-los, durante Contra Arsenal porém, tudo a seu tempo.
A velha questão dos spoilers, se vocês lidassem bem...
Hauahuahauhauhaaa
Sacanagem.
Espero que gostem e entendam.
Abraços e adièau.

PS.: Li no último post que os alunos de Marins lêem o blog?!? Sinistro. Caso interesse Marins, estou compilando minha "mestragem" de UD em Word. Se quiser divulgar, avisa. É ela inclusive que pretendo publicar no fórum, sem ingressar em Contra Arsenal propriamente dizendo, encerrando antes disso.

R-E-N-A-T-O disse...

Caraca! Ta todo mundo fodido, até a vilã se deu mal ao ficar em dívida. Que o diabo a carregue, ou melhor a serpente.
Bom final. Ancioso para jogar de novo.

Aldenor disse...

Tbm to ansioso pra jogar de novo. Quero logo chutar a bunda de Arsenal!

S i n n e r disse...

Agitado isso aqui não?
Pelo jeito estão todos off-net ou fora do Rio. Ou ainda com algo melhor pra fazer...
Hauahuahauha
Terça, novo post (caso ninguém poste até lá).
Abraços e adièau.

PS.: Caputto, se não vai postar ao menos apaga o rascunho que deixou na lista. Fuiz. o/

R-E-N-A-T-O disse...

Mandei meu fode-back. ;)

S i n n e r disse...

Eu vi, li e agradeço imensamente a resposta.
Pena você ter sido o único.
De qualquer forma, valeu mesmo.
Abraço.

S i n n e r disse...

Valeu Aldie, pelo feedback.
Será que ninguém mais viu o post?
Estranho...
Caso vocês estejam com Marins, Caputto, Duddits e Lucas, peçam pra que me enviem o feedback (caso possuam) ok?
Abraços e adièau.

PS.: Hoje a noite, post.

Marins disse...

cara eu to sem tempo nenhum pra escrever nada fora faculdade, tu sabe disso.. não preciso ficar falando isso....


acredito q caputo e dudu tb...

além do q já conversamos sobre isso, sobre feedback do jogo.

não encare como agressivo o post.

S i n n e r disse...

Não encaro como agressivo nada cara. Relaxa.
Só estranhei o fato de um post publicado no fim de semana do feriado não ter sido lido/comentado pela galera além de Renato e Aldie.
De qualquer maneira, o pedido de feedback é um forma de melhorar o jogo pra vocês mesmos, enquadrando a minha visão nas suas expectativas.
Não tendo o que falar, blz. Não é compulsório. Só quero manter essa possibilidade de conversa.
Boa sorte nos seus escritos.
Fui.

Dudu disse...

Voltei hoje, tava enclausurado lá no sitio em reunião e estudos.
Tá foda, ta empolgando e dando medo, mas Marins ta certo no motivo de não dar um feedback mais útil.

Defendo minha monografia dia 2 de dezembro, to na merda até lá... Vamos ver no que dá!

Beijundas.

Aldenor disse...

Marinho, renato tá de folga domingo agora. Prepare uma sessão de muitas horas... hehehehe Claro, se todo mundo puder.

To chegando em Niteroi hoje de noite. Fui.