quarta-feira, 1 de abril de 2009

Aurora Carmesim - Prólogos, parte 5

Ano 391

A floresta estava rígida, num silêncio tenso. Do alto de uma colina íngrime ele observa, na forma de uma inocente criança. Estava tudo pronto. Todas as jogadas feitas e o próximo passo iminente. Iria começar e seria magistral. Seus poderosos ouvidos captam passos descompromissados se aproximando e ele se vira a tempo de encarar a face de seu mais novo "aliado". Mal sabe a criatura que é mais um joguete. Um cavalo na verdade, no grande xadrez dos deuses, mas ainda assim, sacrificável.

Ragnar adianta-se fitando a jovem criança. Cabelos negros desgrenhados, rosto pueril, braços definidos e roupa prática. Fora do contexto apenas o gládio e a machadinha que pendiam da cintura e costas, respectivamente. Era ele? Não sabia, mas sentia. Keenn.

- Olá Ragnar. Vejo que terminou seus preparativos e fico muito feliz. Vai ser memorável. Vão escrever sobre seu conflito durante anos e ficará marcado nos anais da história. Através de você terei uma guerra infinita. Através de mim você ficará conhecido além das fronteiras das matas. Adoro acordos lucrativos. Dê o sinal.

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Sentada em seu trono, a bela dama vislumbra um espelho feito de metal líquido. Refletindo apenas pontos e letras, um mapa de Arton. Maior e mais completo do que qualquer já elaborado por mãos mortais. Ela podia ver cada filho, em cada canto do mundo. Nomes, idades, profissões, tudo ali, à sua frente.

Desviando seu olhar do espelho ela fita a janela segundos antes do pouso de um pequeno falcão. Lindo e totalmente perfeito. Ele atravessa o salão em direção ao espelho e se apoleira sobre a moldura. Os olhos brilhantes encontram os da mulher e palavras rompem o silêncio tenso.

- Fale mãe da natureza o que a traz aos meus domínios, sem chamado?

- Vim dar-te um aviso, senhora dos elfos. Sua cidade vai ser atacada e seus filhos vão morrer. Um exército se reúne pra exterminar os seus. Avise-os e tenha uma chance, ignore-me e pereça.

- Como ousa insinuar que preciso de avisos e alarde contra o que quer que seja? Meus filhos vivem a mais tempo que qualquer outra raça pensante existente em Arton. Eles podem lidar e vencer o que quer seja lançado contra eles. O tempo nem ao menos pintou seus cabelos de branco ou enfraqueceu suas juntas. Nem ele pode contra nós. Agora saia mãe dos bichos, antes que seja posta daqui de volta à sua selva.

Com um farfalhar de asas, o falcão se desfaz em penas. Voltando à sua contemplação, Glórienn presta um pouco mais de atenção do ponto mais ao sul do continente.

- Vamos ver como eles se saem.

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A primeira onda chocou-se contra as muralhas invisíveis inadvertidamente. Fogo choveu do céu e ácido brotou das frestas sob os pés dos goblinóides. Cento e cinqüenta mil. Não havia sequer uma única tribo em Lamnor fora dos esforços de guerra. E mais nasciam a cada dia. Os elfos poderiam ser longevos, mas não eram eternos. E Ragnar sabia disso.

Suas tropas moviam-se numa paródia de organização e ainda assim era impressionante de se ver. Blocos de três, quatro mil goblinóides atacando a cidade. Duraria dias, meses, anos, mas eles conseguiriam atravessas as defesas. Os elfos não teriam uma única hora de descanso. Aquelas malditas crias de Glórienn seriam estraçalhadas sob suas garras. Ragnar espalharia morte por toda Lamnor. Animais, nativos, primitivos, nada escaparia à fúria de seu exército.

Haviam sim muitos em Lenórienn mas milhões esperavam em pontos-chave do continente. Assim que seu deus ordenasse, levariam o caos e a morte aonde ele desejasse.

E duraria séculos.

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Sentado em seu trono, Keenn sente os bons fluidos da guerra chegando a si. Era maravilhoso como aquela criatura ignóbil tinha se transformado tanto em apenas trezentos e poucos anos. Violência, crueldade e morte. Fora uma mudança positiva.

Sorrindo ele sente o choque de milhares, o terror de toda uma cidade ante a investida dos rotos e esfarrapados. Sente a morte pela espada, pelo arco, pelo fogo e pelo ácido. Sente a clava arrebetando uma cabeça e a lança empalando um fraco. Quase podia sentir o cheiro ferruginoso do campo. Tinha jogado bem, agora era esperar o próximo movimento.

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Ela soube no momento em que aconteceu. O choque de culturas, de forças e vontades. Sentiu a ameaça mas regozijou-se ante o novo conhecimento. Será que as crias de Ragnar sobrepujariam os filhos de Glórienn? Não importava, no fim.
Se aproveitando do momento em que, ela sabia, todos os olhos se voltavam ao primeiro grande conflito da história, ela pôs seu pequeno ardil em movimento.

Durante os séculos posteriores à visita a Thyatis ela povoou certos escolhidos com idéias e sonhos. Com conhecimento ainda impróprio, mas que floresceria no momento exato. Precisava resguardar sua descoberta, seu modelo. E sabia que o melhor lugar para escondê-lo era Arton. Bastava que desse as insruções corretas às pessoas exatas e tudo ficaria bem. Um monastério secreto, numa região erma com monges fanáticos. Uma ordem esquecida, com o único fim de proteger sua descoberta. Ter, mas não compreender. Guardar mas nunca utilizar.

Não lhe agradava a idéia de algo assim, mas era preciso a longo prazo. Nenhum deus poderia acusá-la de privilegiar-se de sua descoberta contra outros e nem requisitar sua ajuda. Seria uma criação mortal, no fim. Seus mortais escolhidos, mas ainda assim mortais.

Sorriu e com um gesto, enviou tudo às mentes predestinadas. Em dez anos o monastério seria instaurado. Em mais vinte, toda estrutura estaria pronta e daqui a sessenta anos, a próxima geração começaria a transrever suas descobertas pro papel. Levariam séculos para mapear uma simples década, mas era melhor assim. Conhecimento espalhado através das gerações.

O futuro era perigoso demais para que alguém o compreendesse por completo. Caminhando, ela deixa sua biblioteca com a cabeça já longe de suas últimas decisões esquecidas, povoada com invenções que ainda não existiam.

3 comentários:

R-E-N-A-T-O disse...

Quero terminar meu personagem logo pra jogar!!!

Desesperadoooooooooooo

Capuccino disse...

Ich auch! Ich auch!!

Aldenor disse...

hmmmmmmm maneiro.
Quero ver o desenrolar.