terça-feira, 22 de abril de 2008

Crônicas Artonianas #6 - Um grupo formado

Valag 8, Luvitas, 1403 CE
Kuala-Lampur observou, perplexo, a maior construção de um totem que já vira em sua vida. Tão grande como uma das maiores montanhas vulcânicas de sua terra natal em Khubar, a estátua de Valkaria atordoou o jovem guerreiro. O colosso de pedra, com mais ou menos meio quilômetro de altura, marcava o início da civilização humana, da colonização de Arton-Norte e dos primeiros contatos dos humanos do sul com o povo khubariano, séculos atrás. Infelizmente, este primeiro contato não fora amistoso e foi preciso a intervenção do Dragão-Rei Benthos em favor dos khubarianos para evitar um massacre, promovido pela espada civilizatória do reino de Bielefeld.

Mas os tempos são outros. Khubarianos como Kuala-Lampur entendem que os humanos do continente não querem mais guerra. Eles têm seus problemas maiores, como ameaças de uma tempestade rubra de mau agouro. Entretanto, o receio e a desconfiança ainda existe.

Apressando o passo, Kuala-Lampur quer chegar logo a Valkaria e encontrar o homem que é dono daqueles barcos gigantes...



***



O cheiro de urina empesteava o quarto todo. Sem aguentar mais um segundo neste antro de imundices, Tildror saiu de sua cama de palha e cheia de pulgas. Decidiu que o disfarce de aventureiro mercenário não valia tanto a pena se tivesse que se sujeitar a estes impropérios de capanga de um rico mercador. Gilban era nativo de Gorendill e comercializava as deliciosas frutas exóticas, típicas do clima temperado, frio. Mas Gilban também era ambicioso e seus negócios não se limitavam à venda de frutas. Tildror sabia muito bem que comercializava Achbuld, apesar de seus esforços mirabolantes para ocultar a verdadeira fonte de sua riqueza dos olhares de simples aventureiros mercenários contratados. Respirando ar fresco, Tildror começou a maquinar sua desvinculação para com Gilban. Havia gasto todos seus recursos para sair vivo de Ahlen por conta de seu inominável crime e precisava de financiamentos para sua vingança e Valkaria parecia ser um bom local para achar aventureiros sem escrúpulos. Decidiu que talvez fosse útil utilizar a força de seu colega Radammyr, guerreiro forte, músculos impressionantes e inteligência de um orc que tinha uma certa afeição quase fraterna para com ele. Mas provocar um motim não era seguro. Não agora, em Valkaria. E não com os outros mercenários que Tildror sabia, eram tão dignos de confiança quanto um ssazzita. Precisava de uma desculpa.

A noite chegou povoando a mente de idéias para Tildror. Sentava em uma mesa junto aos outros mercenários, a uma distância suficientemente curta para que a proteção de Gilban fosse preservada. O mercador possuia banhas que espalhavam-se fartas pela cadeira, seus olhos pequenos e suínos eram maliciosos e de pouca simpatia. Estava junto a outros mercadores sujos de Valkaria, lhes falando sobre negócios ilegais. Até que algo chamou atenção dos ouvidos de Tildror:

- ... então vou me livrar desses mercenários. Acho que o mais mirrado deles é um ladino e xeretou algumas de minhas mais valiosas mercadorias... malditos ladinos xereteiros!

Achou sua desculpa.



***



O Bairro dos Anões em Valkaria não é muito grande. Suas casas, rústicas feitas de pedra não acomodam as necessidades subterrânicas dessa raça. Poucos anões se dispõem a morar na superfície e ainda menos numa cidade humana. Mas os que moram neste bairro, são exemplos dígnos de nota, por sua diferença do convencional. Anões estudantes de magia da Academia Arcana, anões clérigos de deuses improváveis como Lena ou Valkaria, anões que por algum motivo abandonaram sua vida em seu magnífico reino subterrâneo de Doherimm. Anões que possuem traços mais humanos em sua filosofia de vida, anões, enfim, aventureiros aposentados. Nesta categoria se encaixa Torak Ironaxe, clérigo de Azgher, o deus-sol. Aposentado, viveu um sem número de aventuras por todo o Reinado e além, no Deserto da Perdição, quando teve seu primeiro contato com o único Templo de Azgher. Abraçou a fé do Aquele-que-tudo-vê enquanto já era aventureiro experiente. Ilendar deve tudo a ele. Hoje, encontrou sua fé verdadeira e um sentido para sua existência graças a ele. E hoje o anão clérigo de Azgher precisava de sua ajuda. Fora vítima de um assalto de goblins ousados que lhe roubaram seu Símbolo Sagrado, uma placa de metal circular com o desenho em dourado de Azgher - uma esfera com diversos raios que o circundava - e corria risco de vida.

Infelizmente para Ilendar, o chamado de Torak não foi atendido a tempo e ele estava já morto quando chegou ao bairro dos anões. Inconformado, Ilendar agora só pensava num meio de recuperar o Símbolo Sagrado para que seu funeral fosse digno. Buscou mais informações com outros anões que viviam com ele. Eram goblins que trajavam trapos negros e máscaras no rosto. Usavam armas estranhas e possuiam técnicas de luta exóticas. Eram ataques desarmados poderosos. Havia a Favela dos Goblins. Alí iniciariam suas buscas. Sua aversão por autoridades se revelou neste momento e Ilendar preferiu recorrer à ajuda de aventureiros. Custeou vários cartazes e distribuiu por tavernas de Valkaria em busca de heróis para investigar com ele. Quando, à noite, visitou a Estalagem do Bico Molhado, ao sul de Valkária, aos arredores da Favela dos Goblins...



***



Kuala-Lampur entrou na construção de madeira e pedra e, andando pelo piso de taco, chegou ao balcão que cheirava a alcool. Apesar do sotaque, sabia se comunicar com perfeição em Valkar. Dentre os guerreiros khubarianos, Kuala-Lampur se dedicava menos ao combate e mais à vida simples de pescador e ao contato com o mundo do continente. Tildror, observou a entrada de um homem alto, pele acizentada, torso de fora, trajando uma toga e com várias tatuagens negras pelo braço direito. À suas costas, várias lanças de variados tipos e tamanhos. Seu cabelo, negro, era cumprido e preso. Obviamente, um aventureiro. Kuala perguntou ao taverneiro sobre Gilban, o homem dono de navios grandes. Estava claro para Tildror que poderia usá-lo e agradeceu a Nimb e pediu ajuda à Hyninn para que seu plano desse certo. A essa altura, Gilban já estava em seu quarto tentando dormir e pensando num meio de dispensar seus mercenários, quando Tildror abordou Radammyr. Teria que se livrar de seu colega. O estrangeiro bárbaro seria mais útil que um mercenário de beira de estrada com Radammyr.

- Radammyr, está vendo aquele homem cheio de lanças e pele morena? Ele quem vai ficar nos nossos lugares quando o senhor Gilban nos dispensar - Tildror tentava esconder o sorriso, mas nem precisava se esforçar para ludibriar seu colega que já arriscara perder um braço para salvar sua vida.

- Maldito seja... não vou permitir isso! Vou mostrar para Gilban que sou mais capaz que ele! - Radammyr bufou e se levandou rispidamente. Quase provocou uma curiosidade nos outros mercenários. Quase.

Subindo as escadas para o segundo andar, onde os quartos menos sujos acomodavam quem pagava mais, Radammyr chegou a tempo antes de que Kuala sequer se apresentasse à Gilban que abrira a porta, sonolento.

- Páre, maldito bárbaro! Senhor Gilban! Não o contrate! Sou muito mais capaz que ele! - Sacou sua espada longa e correu em carga sobre Kuala-Lampur.

- O que? Não estou entendendo! Não vim aqui para ser contra... - Kuala teve que sacar sua lança e aparar o golpe do grande homem à sua frente. Radammyr tentou atingí-lo de todas as formas, mas Kuala-Lampur sabia se defender muito bem e, aparentemente, sem esforço. Não conseguia entender os motivos desse homem que o atacava e nem porque o provocara com gracejos. Sem opção, Kuala desferiu um golpe para afastá-lo, mas que foi mais efetivo que o previsto. Radammyr tombou quase inconsciente. Tildror sorriu de orelha a orelha.



***



Kuala-Lampur saiu da taverna com o rosto fechado e visível consternação. O mercador de nada sabia sobre grandes navios e nem sobre sua irmã. Pelo que entendera, ele apenas fazia uma espécie de escambo com mercadorias através dos navios. E os próprios donos de navios realizavam a troca de ouro para conceder a outros como Gilban o direito de usar seus barcos gigantes. As terras do continente eram deveras complicadas. Como uma sombra, Tildror acompanhava o forte homem que derrubara seu ex-colega. Pensava em alguma forma de abordagem. Aparentemente, o selvagem não era um lutador convicto, pois evitara o combate até o limite. Portanto, não seria de sua índole a busca por tesouros. Não poderia simplesmente oferecer ouro a ele. Talvez se ele inventasse uma história sobre a tal irmã desaparecida...

Gritos femininos. Pelo idioma, Tildror identificou que era uma elfa pedindo socorro. E, para confirmar suas infelizes suspeitas, Kuala-Lampur correu disparado para ver o que era. "Ótimo, tudo que eu precisava: um forte guerreiro bondoso...". Apressou seu passo para acompanhar Kuala-Lampur.

Uma elfa de cabelos loiros, roupas de seda de excelente qualidade, expressão mista de fúria e medo. Cinco criaturas que não mediam mais de um metro, que trajavam roupas negras e máscaras. Alguns usavam uma arma exótica que nem Tildror e nem Kuala-Lampur jamais tinham visto. Com um olhar mais atento, Tildror descobriu: eram goblins.

- Goblins...? Mas o que diabos está acon... - Kuala, como um relâmpago, sacou uma de suas lanças menores e de ponta mais fina e a arremessou num goblin que fugira com uma pequena caixa. Impressionado pela ação do guerreiro, Tildror se revelou à Kuala-Lampur, pela primeira vez, sacando seu sabre e desferindo um golpe rápido, meio desajeitado, mas pomposo, sobre um goblin que investira sobre ele. Kuala-Lampur reconheceu um aliado no combate e o sorriso simpático do pequeno homem, com roupas largas, capa de um cinza escuro, cabelos castanhos e levemente longos lhe pareceu bastante amigável. Ambos lutaram contra os goblins. Dois heróis juntos derrotariam os goblins estranhos e descobririam o porque de lutarem com essas armas estranhas ou com as mãos vazias. A donzela élfica ficaria eternamente grata aos dois e ofereceria uma estadia em sua casa na bela Vila Élfica, além de generosas recompensas de seu pai, que poderiam vir em ouro ou em itens mágicos.

Tildror sentiu falta de ar e uma dor horrível no estômago o tirou de seus devaneios. O goblin a sua frente havia lhe dado um chute muito forte que fez sua janta revirar. Incrédulo, notara que o guerreiro tatuado também não estava com muita sorte no combate. Um dos goblins havia fugido. Outro estava começando a escalar uma casa. Outros dois cercavam Kuala-Lampur e o outro restante, era um adversário formidável para Tildror.

- Pestes imprestáveis... - O ex-aristocrata de Ahlen não estava acostumado a goblins tão audases e tão fortes!

A luta não ia bem para os dois, quando uma terceira figura surgiu na noite. Ilendar indo para a estalagem do Bico Molhado ouviu o grito de uma mulher e correu para ajudá-la. Largou sua bolsa onde haviam ainda alguns cartazes a serem distribuidos e sacou sua espada simples, lâmina grossa e encurvada, mas curta, assim que avistou o combate e entendeu o que estava acontecendo.

Desse jeito, os três conseguiram vencer os goblins, apesar de não conseguirem recuperar o último goblin que escalava. Este fugiu com a caixa pertencente à jovem elfa.

As explicações não vieram do modo que Tildror imaginava. Queria falar com Kuala-Lampur e agora que percebera a presença de um clérigo de Azgher, as coisas seriam mais difíceis... ou não! Poderia ludibriar a ambos e bancar o bonzinho, no clichê básico de combater criminosos em sua terra natal. Todos em Ahlen eram criminosos em potencial.

A elfa não se apresentou. Sequer falou em valkar, deixando Kuala-Lampur e Ilendar poupados dos insultos que Tildror arrematou sobre a elfa, a fim de afugentá-la. Aproveitando o fato da elfa não se dignar a falar a língua dos humanos, percebeu seu orgulho. Tildror então, não se esforçou em pisar em sua auto-estima ao citar Lenórienn e a "conhecida competência élfica em lidar com goblinóides". Ia conseguir, mas Ilendar interveio, falando em valkar mesmo. Afinal, quem era essa pessoa de rosto coberto? Vestia vários panos brancos, túnicas com detalhes em ouro e portava um escudo com figuras em dourado, do Vigilante, Azgher. Com sua doce voz, abrandada, Ilendar conseguiu conversar com a elfa e lhe disse que investigaria a Favela dos Goblins em busca dessas criaturas, que são as mesmas que mataram seu tutor, mestre e amigo, Torak. Tildror desconfiou da masculinidade do servo de Azgher... até que pensou na possibilidade dele ser... ela!

A elfa, então, saiu satisfeita. Seu nome era Vannilyanna e possuia um irmão mago. Iria conclamar sua ajuda para se juntar à Ilendar. Tildror viu essa pequena busca de Ilendar como uma oportunidade de formar um grupo de aventureiros. O melhor meio de conseguir a confiança deles é agindo com eles, se arriscando com eles. Investiria nestes dois. Kuala-Lampur buscava sua irmã e as coisas nesse mundo estavam muito confusas. Ele seguiria Tildror e Ilendar nessa empreitada na Favela porque não tinha mais onde procurar. Era preciso fazer aliados para encontrar sequer uma pista. Aprendeu que goblins estão sempre metidos em encrencas, em crimes e poderiam muito bem ter raptado sua irmã. E simpatizou com Tildror...



***



Luna em escudo, o grupo se prepara para ir à Favela.



6 comentários:

Dudu disse...

UUUUU!

>=)

R-E-N-A-T-O disse...

Mané, Marins é muito crápula! Que ódio ler isso! aUAHuahh...

Gostei da aventura de forma romanceada. Fica bonito. Hehehe

Vamos recuperar a jóia, ajudar quem der, mas quero minha irmã. >=|

Marins disse...

varias ideias legais!!

=)

axo q vcs vaum gostar!

R-E-N-A-T-O disse...

Idéias sobre que jogo? O de Aldenor? O_o

Marins disse...

eh.. Tildror!!

R-E-N-A-T-O disse...

¬¬' Trapaceiro maldito!