quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Armadilha - parte I

Subterrâneos da cidade de Midron
Ahlen – Reinado

O som nauseante de carne sendo trabalhada, talhada, refeita preenchia toda a câmara.
A câmara eneagonal fora milimetricamente escavada para atender às especificações muitíssimo rigorosas de seu idealizador. Tomara quase uma quinzena inteira de trabalho incessante, dia e noite, e custara a vida de uma dezena de trabalhadores. Eles também desempenhariam um papel fundamental, ainda que na morte. Em cada face da sala um padrão intricado de escrituras, símbolos e desenhos se desenrolavam num registro profano do sonho de um homem.
Um registro escrito a sangue.



No centro da face inferior, um altar de aproximadamente dois homens de comprimento por uma perna de altura e uma de largura, atraía a visão instintivamente. Era inteiro feito de partes humanas, superfície de couro muito liso, esticado ao máximo, estrutura de ossos resistentes, costelas, tíbias e fêmures, interior de carne perfeitamente conservada, rubra e brilhante, bases com mãos e pés fortes, calejados, acostumados a uma vida de trabalhos braçais e contato com a terra. Em cada osso, assim como no couro e nas mãos e pés, estavam talhados variados símbolos arcanos, adornando aquela ode ao massacre com um elemento alienígena, antinatural, maldito.
Emmilian trabalhava sem pressa, completamente concentrado no que seria seu plano mestre, sua obra-prima, sua cartada final para superar até mesmo os mestres da Academia. Sobre o altar uma figura vagamente humanóide tomava forma a cada corte, a cada sutura, a cada encaixe. Sua mente trabalhava numa velocidade além de qualquer compreensão e, dividida em muitas partes, se mantinha ocupada com os aspectos do processo. A posição correta da sutura, a forma exata da carne. A lista de ingredientes necessários ao ritual. A posição das estrelas e dos planos no dia mais propício para o ritual. Tudo ao mesmo tempo.
Sua mão direita puxava um dos fios de sutura delicadamente quando, no fundo de sua mente consciente, abaixo de todas as outras, uma campainha começou a soar. Um alarme insistente e irritante. Alguém invadira seu covil. Terminou de puxar pacientemente o fio e completou a sutura, agora ocupado em traçar seu plano de fuga. Havia pago uma pequena fortuna aos mandantes da Adaga para que não fosse interrompido ou ameaçado de maneira alguma. E agora isso?
Deixou o altar e caminhou calmamente em direção a face à sua esquerda, abrindo uma porta secreta com duas palavras murmuradas e virando-se para o interior do aposento ao chegar na soleira. Entoou por cânticos arcanos esquecidos por quase oitocentas batidas de coração, selando a câmara com energia mágica e protegendo-a do tempo e de intrusos. Virou-se para o salão pútrido, com as macas repletas de cadáveres e suas duas cobaias balbuciantes, disse outras duas palavras selando a porta atrás de si e se dirigiu à porta metálica com um sorriso sádico na face.
Iria receber seus visitantes.
___________________________________________
Casa de Chá de Madame Jatek, Midron
Ahlen – Reinado

Gargalhadas histéricas e gritos exultantes sobrepunham-se à animada música dedilhada por um jovem bardo em seu bandolim.
Por todo lado homens deleitavam-se com mulheres, bebidas e sonhos, tornados realidade pela magia do achbuld. Era o único lugar do reino, quiçá do Reinado, onde o consumo da droga era permitido e até incentivado. No palco uma pequena trupe de dançarinas fazia estripulias despudoradas ao som do bandolim, sempre deixando muito mais que as coxas à mostra a cada malabarismo. Escadas maciças de madeira escura dividiam o ambiente, tendo o bar de um lado e o pequeno palco do outro, e levavam ao segundo andar da casa. Completamente privativo e totalmente exclusivo. Apenas os mais abastados, ou influentes, tinham acesso. No alto da escada dois leões de chácara do tamanho de cavalos olhavam a multidão com olhar afiado, livre de qualquer droga ou distração.
O mezanino era composto de quatro portas simples, bem trabalhadas, além do balaustre sólido e lustroso. Atrás de uma dessas portas um casal conversava, alheio à balburdia e algazarra presente no salão abaixo. A alcova era dominada por tons de vermelho e dourado, contrastando com as toalhas brancas de algodão sambur que cobriam a pequena mesa de centro e os dois criados-mudos laterais. Almofadas de todos os tamanhos espalhavam-se sobre o tapete beduíno legítimo, adquirido de um contato no Deserto da Perdição. Na mesa de centro, um narguilé feito completamente de ônix atraía e refletia toda a luz das velas aromáticas espalhadas pela sala, tornando-se ao mesmo tempo uma jóia, um espelho e castiçal.
De um dos lados da mesa, uma mulher algo apresentável, de baixa estatura, compleição respeitável e roupas sóbrias encarava um jovem moreno, atlético, de olhar aguçado e sorriso ferino. Charmoso, bonito e encantador. Mortal, para as mulheres e para os negócios.
- Correu tudo conforme solicitado, meu jovem. – disse a mulher num tom afável, como se tencionando acalmar o jovem.
- É claro que correu, estimada Jatek. Sua reputação em muito te precede e sempre tive certeza de que seria a melhor pessoa para auxiliar-me nessa questão. Fico honrado em conhecê-la e atrevo-me a dizer, já a tenho em mais alta conta. – desfiou o jovem, com um sorriso nos lábios.
“Cobra ardilosa. Conhece o tom certo para bajular sem se depreciar, inflar o ego e abrir brechas para atacar. Se viver o bastante, terá um futuro promissor.”
- Como disse mesmo que se chamava meu jovem cliente?
- Não disse adorável Jatek. Mas saiba que conhecendo meu nome, nossa conversa impreterivelmente deixará o campo da bajulação mútua e adentrará paragens mais duras. Trataremos nós tão cedo de negócios? – seu sorriso era uma constante, capaz de derreter geleiras e arrebatar raparigas. Seu corpo não desperdiçava um movimento sequer, acostumado àquele jogo dicotômico.
- Temo confessar-lhe que sim, adorável mancebo. Trataremos pois de negócios. Se não se importa.
- Realmente não me importo, mas confesso estar apreciando tão gostosa companhia. Tratemos pois de negócios então. Meu nome é Tildror. Tildror Talimor. – o sorriso abandonara sua face num instante. Os olhos adquiriram um tom sombrio e a expressão dura e sagaz apoderara-se de sua face – E  desejo concretizar o negócio iniciado em meu nome. A informação foi repassada ao tal elfo como solicitei?
 - Sim, meu senhor. – Jatek estava perplexa. Seria esse jovem Tildror realmente? “O” Tildror? Preferiu não arriscar e conduzir a conversa como se fosse – E atrevo-me a dizer que sua informação foi ouvida, aceita e rapidamente cumprida. Meus informantes disseram a pouco ver seis homens adentrando o rio, sorrateiros.
- Excelente. Onde está o homem que encontrar-se-ia com elfo a princípio?
- No calabouço, sedado e amarrado. Vai levá-lo consigo?
- Sim, existem coisas que quero saber e apenas ele poderia me contar. Acertou tudo com a guarda? Não quero interrupções na minha ação essa noite. E não quero tornar a visitá-la. – disparou com um sorriso maníaco na face. Levantou-se languidamente em seguida, confundindo a intuição de Jatek.
- Tudo acertado, meu senhor. Apenas cuide daquele maníaco. Suas experiências, seus seqüestros e seu sadismo já estão espalhando rumores pela cidade. Esse tal Urich precisa sumir, é muito ruim para os negócios.
- Ele vai sumir, estimada Jatek. Ele vai sumir.
E deixou a alcova com um ar atrevido, de quem ia aprontar noite adentro.
Jatek esperou acomodada entre as almofadas. Ainda estava ressabiada, acuada.
Seria ele quem dizia ser?
Seria Tildror?

16 comentários:

S i n n e r disse...

Olla senhores.
Bem, apesar da demora finalmente comecei a postar o que planejava.
Esperei para que algum de vocês postasse algo mas diante do silêncio, resolvi inciar os contos "Armadilha".
Bem, vou aproveitar o encejo e pedir aos omissos um feedback da última sessão. Particularmente eu não gostei e estou pensando e mudar alguns aspectos da minha mestragem (rolar dados secretamente por exemplo).
Achei que ficou uma sessão meia-boca e não sei se vocês tiveram essa mesma impressão. Não sei se foi pela falta de jogadores, se foi pelo ritmo estranho, pela falha de Duddits, não sei, apenas não curti.
Mas posso estar me cobrando demais e vocês podem ter gostado. Vai saber.
Espaço aberto para comentários, tanto sobre o jogo último quanto sobre o conto.
Abraçso e adièau.

Lucas disse...

Gostei bastante do conto, mais um inimigo(?) para nos atazanar. E acho melhor sairmos rápido dos esgotos porque se os intrusos somos nós e o Urich está vindo nos pegar, com 3 paranoicos e um desequilibrado (ou pelo menos vai ficar quando encontrar o mago), acho q não vai dar pra lutar bem...

Quanto à última sessão também não gostei, muito pouco se desenrolou, o grupo estava disperso e quando estávamos focados no jogo por motivos diferentes (seja pelo azar nos dados, seja pela falta de jogadores) o jogo ficou truncado, prosseguíamos muito pouco e já tinhamos mais uma pausa in e out game.

Quanto à rolagem de dados passar a ser atrás do escudo não sei se seria a melhor opção, isso aparentemente mudaria o seu estilo de jogo (Daniel) e uma mudança desse tipo afeta bastante a pessoa, o que pode vir a atrapalhar o prosseguimento do jogo. Mas acho que algumas coisas tem que ser consideradas, por exemplo, colocar uma armadilha na dungeon pressupõe uma chance dos jogadores cairem nela e logo sofrerem as consequências, se o grupo não está preparado para lidar com elas (já sofremos com a armadilha do veneno mesmo você tendo tirado números tão baixos!) acho q a dificuldade deveria ser ajustada, talvez numa outra configuração pudéssemos lidar melhor com isso, mas do jeito que está ao cair numa armadilha como essa, não importa quem seja, o grupo tem grandes chances de perder um membro.

Espero ter ajudado.

R-E-N-A-T-O disse...

Cara, não foi a melhor sessão que tivemos, mas também não acho que foi ruim. Sessões com jogadores faltantes são realmente mais complicadas e o fato de Dudu ter dado o azar de sair logo no início, acho que brochou um pouco. Mas nada grave.
Eu sou mestre que costumo jogar dados atrás do escudo, acho melhor manter a discrição em todas as oportunidades. Não é muito seu estilo, mas acho que poderia tentar.

Bom conto, gostei. Pretendo em breve postar outro preview de "O novo deus". Mas ainda não é o momento.

S i n n e r disse...

Olla senhores.
Bem, respondendo incialmente ao Lucas:
Eu acho muito válido esses feed-backs, ajudam a melhorar a diversão de vocês e me ajudam a melhorar como mestre medieval (meu ponto fraco).
Quanto à rolagem de dados secreta ou não, estou ponderando severamente, mesmo que isso acarrete numa mudança de "modus operandi" da minha parte. Eu nunca curti esse tipo de iniciativa porque ela é um faca de dois gumes, quando é a favor do player tudo bem, lindo, mas quando é contra, fica aquela atmosfera de: "¬¬´ tá robando né..."
E sobre o desafio, revelo pra você que todas as armadilhas foram inseridas com ND 9, apesar de um grupo desse tamanho possuir um ND mais elevado.
Ou seja, o desafio JÁ ERA REDUZIDO.
Mas nem sempre poderei agir dessa forma. A escolha de jogar sem clérigo foi de vocês, no fim. Seja por ninguém fazer um personagem clérigo, seja pela escolha de não contratar/conseguir/angariar um, vocês ainda sofrerão muitas vezes por causa dessa deficiência.
É um mundo de aventuras e aventureiros existem aos montes, podendo ser facilmente contratados. Porém, esse curso de ação nunca foi sequer trazido à mesa. Não cabe ao mestre reduzir os desafios por conta das escolhas (ou não-escolhas) dos jogadores.

Continua...

S i n n e r disse...

Se por causa disso eu tiver que reduzir o nível das aventuras (que daqui em diante serão prontas, em sua maioria), acho que a saga contra Arsenal não terá o impacto pretendido pelos autores e por mim mesmo.
Vocês já são "um bonde", seis personagens onde o livro sugere quatro e por isso, para gerar um ND equivalente ao pretendido na confecção das aventuras, começam a jogar efetivamente em nível mais baixo (10º onde seria 14º).
Particularmente eu já optei por aumentar a quantidade de itens mágicos disponíveis aos jogadores (e PdM's), o que por si só já é uma ajuda absurda, mas cabe a vocês se aproveitarem disso. Citando um exemplo rápido: Na penúltima aventura - da emboscada - vocês conseguiram três itens mágicos que sequer foram identificados. A falta de um componente (um pérola) não justifica o fato, uma vez que haviam dois (Thaedras e Shemale Davie) personagens capazes de ir à cidade conseguir tal artefato, mesmo que com problemas.
Antecipo a vocês que os três dariam um upgrade legal nos personagens (uma besta do sangramento e uma besta +1 equipada com uma jóia de detecção de invisibilidade), mas isso passou batido por conta de um sentimento de urgência que vocês mesmos incutiram nas suas interpretações.
Caso haja quórum no próximo jogo acredito que tentarei ter uma conversa com os presentes para meio que "relembrar" o status do jogo, das relações dos personagens entre si e com o mundo e de sua própria personalidade. Acho agora que isso é necessário (e só notei domingo) após longas pausas (meus períodos de embarque).
Espero ter sido claro e não-ofensivo.
Obrigado pelos comentários e feed-backs. Responderei sempre o mais rápido possível, trazendo minhas impressões.
Abraços e adièau.

Aldenor disse...

Impossível eu jogar dia 5, pois terei prova do concurso da prefeitura de niteroi.

Achei o jogo padrão, sem muitas diferenças dos jogos anteriores.

Lucas disse...

Pra mim vai ficar difícil jogar esse fim de semana, ainda não tenho 100% de certeza que não poderei, mas muito provavelmente terei que faltar.

E dia 2 de Janeiro é impossível pra mim, já estarei viajando!

Marins disse...

olá gente... infelizmente nada mudou no meu calendário.

Ficou um pouco mais fácil, mas ainda assim impossível fazer qq coisa nesse finds.

Gostei do conto. Interessante ele ainda não dizer q é Guildror, e ficar com os dois nomes...

Dudu disse...

* 02/01 (domingo) - Últimos

Dia 5 só posso saindo mais cedo... Faço prova do concurso 14h. Nesse caso eu preferiria que fosse no meu play, por minha prova ser na UFF da praia vermelha, e pelo motivo de que eu provavelmente teria que sair um bocado mais cedo.


Dia 12 eu não posso. Vou ter uma reunião infaltável num local distante.
Dia 26 eu estarei viajando, assim como dia 02 de janeiro...
=/

Acabei de perceber que fora esse domingo não poderei mais nenhum jogo, se não explorarmos dias da semana.


PS: Defendi, e foi bom demais!!!

S i n n e r disse...

Olla senhores.
Bem, colocando as coisas em perspectiva temos:
- Eu posso, tranqüilo em qualquer local;
- Renato poderia, afinal não manifestou o contrário;
- Aldie não pode por prova de concurso;
- Lucas não poderia e as chances de mudança são baixas;
- Duddits poderia mas teria que sair cedo (antes das 14h), sendo mais confortável no seu play;
- Marins não pode por motivo de compromissos de facul (provas, trabalhos e fim de período);
- Caputto não se manifestou a respeito - se sim não me lembro, desculpe -, mas acho que não poderá também por conta de compromissos de facul (monografia, provas e afins).
Com isso, temos Eu, Renato e Duddits (com ressalvas) podendo jogar domingo. Caso Caputto possa, mais um engrossa o quórum. Como ficamos então?
Jogamos?
Não jogamos??
Amanhã to de volta e ligo pra todos vocês pra confirmar suas ausências ok? (estranho, confirmar ausência ^^)
Abraços e adièau.

PS.: Podemos agora, com o fim dos períodos, explorar jogos em dia de semana? O que acham??

R-E-N-A-T-O disse...

Aldenor fará o mesmo concurso de Dudu. Sendo no Dudu ele pode sair cedo tb. Tipo 13:00hs. Já que é próximo.
Eu posso sempre, é só marcar.

Aldenor disse...

Como eu falei, minha prova é TREZE horas, não 14h como de dudu.

Eu teria que chegar DOZE horas lá, saindo 11h30. Sinceramente, eu prefiro dormir bastante e acordar disposto às 9h ou 10h e ir pro concurso com cabeça centrada. Se eu fosse pro jogo eu teria das umas 2 horas e meia de jogo (ou alguém acha que o jogo começaria as 8h em ponto?)... acho que não vale a pena.

Capuccino disse...

Infelizmente, estou preso nas minhas obrigaçoes academicas.

Até ontem eu achava que eu poderia liberar o domingo, mas foi só achismo.

Bom, é isso.

PS: Nossa chance de fuder tildror, hein?!

Marins disse...

duvido caputo

Marins disse...

É galera infelizmente eu fiquei em VS de cálculo 3, e agora é tudo ou nada. A prova é na segunda e não vou (posso) dar mais mole...
já fiz todas as merdas possíveis na minha licenciatura...

ou seja, sem jogo pra mim nesse finds.

acho q é isso.

[]'s Marins


ps: Posso jogar na quarta feira. Dia todo

Aldenor disse...

E aí, como foi o jogo? Quero mais explicações sobre meu filho ter morrido e sua alma presa num golem! E o que houve com o golem? Igan irá querer reaver a alma dele!