sexta-feira, 11 de junho de 2010

É possível morrer - Parte I


Penetrou a noite densa como quem recebesse um convite para fundir-se ao medo das almas. Os olhos ainda se habituavam à ausência de luz e logo seus ouvidos aguçaram-se na espera de um inimigo. O som das folhas secas e dos galhos se partindo, ficava cada vez mais alto, traindo-lhe, eventualmente, quando pensava estar sendo seguida. Sentia uma presença forte como se alguém a vigiasse. Caminhou por meia hora até soerguer-se a silhueta sinistra diante de si: o imenso casarão perdido na floresta de Scardale. Já o havia visto durante o dia; um prédio de dois pavimentos, em arquitetura georgiana, construído em 1911 para abrigar um hospício. A vegetação cobria os muros altos e a ferrugem carcomia o portão de acesso. A despeito de tantos anos fechada, a construção mantinha-se em bom estado. Tábuas tapavam-lhe as janelas - quatorze ao todo - e parte do telhado desabara; a madeira podre da porta de entrada permitia que se lograsse penetrar com facilidade o interior a quem assim desejasse. Daisy, conhecida sensitiva - não sem certa desconfiança dos moradores da cidade - nada via além da velha pilha de tijolos vermelhos. Contudo, o terrível peso da carga energética parecia comprimir-lhe as têmporas. A intuição a levara ali como um chamado de alguém que precisava lhe falar urgentemente. Seus pés não queriam mais obedecer... Tremendo, porém, prosseguiu.

Daisy nascera na Louisiana e passava dos cinqüenta. Sua pele negra mantinha os traços lisos de mulher jovial. A figura corpulenta, de membros fortes, socada, parecia caricata quando vestia imitações de peles, turbante e cordões de dentes pontiagudos. A indumentária era apenas um chamariz, algo para impressionar, elemento da apresentação anunciada pelo letreiro ''Daisy Sensitiva: tarô, quiromancia e vodu''. O ritual mesmo dispensava roupas, ela bem o sabia. Sofreu todo tipo de perseguições, capitaneadas pelo presbítero da igreja local, da qual muitos habitantes faziam parte. E, naquela noite, uma voz a despertara novamente para seus dons.

-Venha! - ouviu nitidamente. Não podia saber de quem era a voz e, muito embora acostumada com essas manifestações, aquela a amedrontava sobremaneira. Ao passar pelo pórtico de entrada, um vento gélido, como saído de uma garganta morta, devassou-lhe os ossos - treva total. Estacou, mas a voz convocava-lhe novamente: ''venha!'' Não obstante a madrugada nebulosa, um brilho estranho pairava sobre as nuvens e a iluminação tênue penetrava o saguão. Uma fumaça surgiu vagarosamente do chão, densificando-se, compondo uma massa espectral amorfa - ''venha!'' - O ente seguiu para o interior e desapareceu na escuridão. Daisy, aturdida, desmaiou.

Continua...

11 comentários:

Aldenor disse...

Bonito! Finalmente alguém usou o "Histórias Esquecidas" que eu abandonei ahuahuuahahuhua

Marins disse...

fiquei com medo...

=p

R-E-N-A-T-O disse...

É broxante quando se posta algo e as pessoas sequer comentam dizendo se leram ou não. =(

Aldenor disse...

O pessoal aqui não tem costume de comentar, mas acredito que todos lêem, só não postam suas opiniões. Eu gostei, acho que é um clima mais legal que Vampiro do mundo de Storyteller. Hehehehe
Quando vem a segunda parte?

R-E-N-A-T-O disse...

Quando eu souber que todos leram. E as pessoas comentam sim, é só ter uma briga ou um barraco que todo mundo mete o bedelho, mas pra comentar os posts normais, nem se movem. Hunf!

Dudu disse...

Voltei!

Quanta bronca!
Gostei! Quero storyteller!
Mas qualquer coisa extra que eu for falar vai parecer artificial agora, já que rolou essa bronca...
uhauhauhauha

E leio sempre, e gosto sempre!

Uma beijunda!

Aldenor disse...

E daniel? Ele sumiu e os contos dele tbm. O_O

Marins disse...

ele ta em terra, mas deve estar sem internet ou sem tempo.

hauhauhauhauhauhaua

=D

botando lenha na fogueira!

ahuhauahuahuhauhau

S i n n e r disse...

Olla a todos.
Bem, como comentado por Marins, eu estou em terra sim mas não tive tempo de ler. Apenas hoje o fiz e gostei bastante. Tenho um fraco pra histórias de terror/suspense...
E quanto a lenha na fogueira, desnecessário né Marins, uma vez que estive contigo ontem e tu sabe que o fim de semana foi atribulado.
Quanto aos meus contos/narrativas, sofro do mesmo mal que acomete o Renato hoje.
A broxante sensação de escrever pra ninguém.
Com isso, posto apenas quando sinto necessidade de tirar algumas coisas relativas aos jogos/ idéias da cabeça pra dar lugar a outras tantas. Espero que com a bronca (que não partiu de mim dessa vez) a galera volte a frequentar/ comentar nos contos/ narrativas dos outros.
Abraços e adièau

PS.: Hoje à noite mais um capítulo de Aurora Carmesim, o prólogo de Dança das Eras e o primeiro episódio de X-Men, o Fim. E, se todos comentarem/ lerem/ gostarem, aumento a frequencia de posts.

Marins disse...

auhuahuha

é bom colocar fogo!

=D

R-E-N-A-T-O disse...

Guarda o fogo para as fêmeas! hahaha