sexta-feira, 18 de junho de 2010

Aurora Carmesim #1 - Travessia, parte 10


Planície do Desespero, Werra - Antes


- Sim, mestre da guerra - grunhiu um resfolegado Ostherwulf.

Fora trazido à presença de Keen praticamente sob tortura. Sua viagem até ali não durara mais que míseros minutos porém, dado o humor da guarda de honra, parecia ter lhe custado horas.

O deus da guerra caminhava de um lado para o outro, feito um predador tomado pela fome. Seus olhos ardiam em brasas vivas e toda a planície, todo o campo de batalha ao seu redor, queimava intensamente.

- Maldito seja, Mardoc! - gritou a besta de guerra, e no horizonte rubro uma espessa coluna de fumaça negra subiu.

Ao se virar e encarar o débil xamã, este sentiu o ar a sua volta aquecer-se rapidamente.

- Diga-me Ostherwulf, me diz o que planeja aquele filho da puta! Desembuche ou mil anos no reino de Ragnar parecerão um pique-nique em família ante o que farei com você!

Ostherwulf avaliou suas opções com a sabedoria de quem sobreviveu a séculos em Werra. Trair Mardoc, contando a Keen todo o plano? Não seria necessariamente uma traição, visto que cedo ou tarde ele se daria conta que Mardoc fugira. Manter sua palavra e sofrer mil anos de tortura pelas mãos do próprio deus da guerra? Não acreditava que sobreviveria todo esse tempo expiando a raiva de Keen. Se contasse os fatos do jeito certo, omitindo e mascarando alguns eventos, poderia até sair incólume dali.

Tomara sua decisão. Era hora de mover a roda do destino.

Tocando a tez no chão calcinado, o xamã começou a falar.

- Ele me procurou a muitas décadas atrás meu lorde, querendo saber dos limites de vosso reino. Me perguntou sobre fronteiras e interligações, sobre conjunções e brechas. E o que faria eu, ante tão poderoso algoz? Desfiei-lhe teorias e conjecturas, verbalizei tudo que vi em minhas andanças por aqui e além. Ele sorveu de meu conhecimento com o apetite de um infante, e assim também o fez sua corte - torcia para que o cão engolisse toda a história, se tivesse sorte o estado de espírito dele o auxiliaria.

- Que corte? Quem o desgraçado filho de uma cadela sarnenta levou com ele nessa "visita"?

"Xingamentos, perfeito. A raiva ainda nubla sua percepção"

- A bruxa J'agga e o xamã Kerem, além de Eeluk, aquele monstro.

- Compreendo. Voltarei pra fortaleza. Tome, Ostherwulf, por sua presteza - e então estendeu a mão para o xamã. Em sua palma jazia um anel de metal escuro, trançado em um padrão intricado.

Erguendo o rosto da poeira, a figura miserável do xamã vislumbrou o presente na palma da mão do deus. "Saiu tudo melhor que o esperado."
Com toda deferência que conseguiu reunir, Ostherwulf apanhou o anel e o colocou em seu dedo. Uma cálida sensação o percorreu.

- Com isso te faço imortal em Werra, xamã. Não quero correr o risco de perdê-lo para qualquer infortúnio vindouro. Serás ainda muito útil.

E Keen sorriu seu sorriso mais doentio e então o xamã soube que estava condenado. Num sopetão a guarda o imobilizou e no espaço de um suspiro o olhos de Keen estavam a centímetros dos seus.

"Achou que me enganaria seu verme pútrido? Sou onisciente em meu reino. Nada me é negado e tudo me pertence, a não ser que eu decida de outro modo. Você e seus pensamentos mesquinhos não são uma excessão."

Com o olhar de Ostherwulf externando seu terror, Keen gargalhou quando este começou a mastigar a própria língua. Lágrimas confundiam-se com sangue na máscara infernal que era o rosto do xamã, montando um belo quadro do poder da selvageria.

- Levem-no para o campo, estripem-no e empalem os restos sobre uma das fogueiras. Façam-no aproveitar meu presente da melhor forma possível. Tenho que cuidar de um fujão. - e então, num estampido, chamas e fumaça ocre tomaram o lugar onde a besta de guerra estava.

Gritos e lamúrias medonhas escaparam da garganta de Ostherwulf fazendo coro com os parcos sobreviventes do massacre anterior. E por todo o restante daquela tarde ele teve companhia.
Mas logo seu tormento se mostrou eterno e ele desistiu de morrer.

E mais uma vez a planície calcinada fez juz ao seu nome.
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Montanhas de Kor-kovith, norte de Yuden

Tudo estava pintado de vermelho e o cheiro pútrido de sangue coagulado maculava o ar. No meio da confusão de corpos mutilados, membros esparços e vísceras, um humano sorria de orgulho. Trajava um manto negro apenas, que pesava sobre seus ombros, úmido de sangue. Sua face estava borrada de sangue seco, assim como o peito e todo o resto de seu corpo.

Pôs-se a caminhar languidamente, em direção a uma grande porta dupla do assim chamado templo. De lá ecoavam gritos e choro, crianças e inocentes antevendo um destino similar ao enfrentado pelos ocupantes da sala morta. O humano não conseguiu esconder seu escárnio quando chutou escancarando a porta, espalhando restos de uma barricada por todo o salão.

Amontoados ao pé de um grande altar estavam quase uma centena de pessoas, com as faces talhadas de pânico, aguardando o abate. Sobre o altar uma roda imensa com vinte símbolos delicadamente trabalhados em ouro sobre o metal escuro.

- Obrigado aos deuses, por me proporcionar tão inebriante banquete após a farta diversão - o deboche e a ironia carregavam a voz ácida do invasor, provocando uma nova onda de berros e medo.

- Erguerei nesse lugar um templo à tempestade. Erigirei com suas almas a catedral que maculará essas terras para sempre - andando em direção a turba o humano gargalhava - É hora de conhecerem o terror...
E naquele momento foi negado o perdão e a punição. Naquela sala, o destino de muitas almas fora roubado e nada nem niguém sequer se importava com isso. Naquele dia mais uma pequena parte de Arton fora maculada.
E nada, nunca mais, foi o mesmo.

5 comentários:

R-E-N-A-T-O disse...

Primeiramente, gostei do post, bom saber o que anda acontecendo ao mesmo tempo que nossos personagens tentam salvar o mundo.

Respondendo as perguntas feitas no post anterior:

-Manterei o jogo atual até me sentir seguro de mestrar Mago. Em breve deve rolar o jogo novo.

-Estou disponível para jogos como sempre pela manhã. No útimo fim de semana do mês estou de folga. Se quiserem marcar algo all day long, estamos ae.

PS: O texto tem palavras bizarras pq não é meu. O roteiro e enredo é meu, porém não sou eu o autor. Maurício um amigo meu, aspirante a escritor, que o fez. Esqueci de por os créditos a ele no post anterior. Hehehe...

Aldenor disse...

AHahahaha roubador de idéias!!!! Esse teu amigo se anima a jogar RPG? huahuahuahua

Gostei do post tbm. Apesar do que pensam, eu gosto de ler as histórias épicas.

Marins disse...

gostei do post!

quase fiquei com pena do xamã... ahuahuauhua


pergunta, quem fez o massacre na cena de baixo?

Dudu disse...

Que medo! Véve Mardoc!
Agora, so sei que nada sei!

Eu tava crente crente que tinha jogo hoje! Não entrei na internete esses dias! Tava cheio de tesão e fui brochado de repente, que agonia!

segunda allday, terça ate 14h, quarta noway, quinta depois das 17h sexta allday

Capuccino disse...

Caralho! FInalmente um tempo pra respirar ^^

Puta, méo... Vc sentiu pena do xamã, marins?

Eu senti pena das criancinhas da ultima parte!

Tenho mts posts pra ler, e assim q der, atualizar-me-ei ^^