sexta-feira, 28 de maio de 2010

Aurora Carmesim #1 - Travessia, parte 9



Lamnor Leste, ruínas do castelo de Cobar

A penumbra permeava o cenário desolado. Ruínas de um antigo castelo, erodido pelo tempo, destruído pela mão dos goblinóides, lentamente apagado da memória de todo um povo revelava salas e ante-salas, corredores e escadarias. Sua estrutura decrepta denunciava todas as intempéries sofridas ao longo dos séculos. Cercos, terremotos, ataques mágicos, saques, tempestades. Vários vazios preenchiam o castelo em todas as direções como dentadas de uma besta titânica, buracos gigantescos de punhos invisíveis que retratavam toda sua fúria, deixando de pé apenas as pedras teimosas demais para não ruírem.
No centro de tão precária construção delineava-se um grande salão oval, com colunas a muito partidas, pontilhando a sala com destroços, e um trono de pedra mármore muito branca, manchado em diversos lugares e dilapidado em outros tantos, onde talvez o sangue do antigo rei tenha sido derramado pelos invasores e o festim da vitória tenha começado.

Sentado imóvel nesse altar de demência, uma figura coberta por mantos negros aguardava seus convivas. O cenário mudara rápido demais, ele tinha certeza. Ou talvez fossem os efeitos da sua nova condição. Será que o tempo era assim tão lúdico para os que viviam demais? Será que os elfos, os dragões, as criaturas abençoadas com idade longeva sentiam-no como um simples devaneio, uma coisa quase intangível, incapaz de tocá-los, de mudá-los, de afetá-los?
Seria a eternidade uma maldição ou uma bênção?

Um ruído o arrancou de seus pensamentos melancólicos e ele se levantou, antevendo sua chegada. Quatro figuras igualmente vestidas de mantos negros atravessaram os portais do salão, preenchendo o ambiente com o ecoar de seus passos ritmados.

- Olá Ahenobarbo. - Cumprimentou a menor das figuras, que rivalizava em altura com uma criança humana.

- Olá Giles. Sejam bem-vindos. Throlian. Eliza. Theudger. - pontuando cada nome com um aceno leve de sua cabeça coberta pelo capuz, ele tornou a se sentar.

- Comecemos pois nossa deliberação de aequus nox. - baixando o capus ele expôs seu rosto, seguido pelos outros quatro, que já haviam assumido suas posições ao redor do homem, um em cada um de seus pontos cardeais.

- Mais uma vez todo o contexto que prevíamos fora alterado pelo aparecimento de duas variáveis inesperadas. Enquanto falamos, os acontecimentos se desenrolam ao norte de Yuden. Um grupelho tenta impedir que o Flagelo dos Dragões volte à vida, atitude essa corroborada pelo Ancestral Azul do Grande Jogo.

- Eu preparei pessoalmente o cenário, mestre Ahenobarbo. Eles não vão conseguir - protestou uma voz feminina, Eliza.

- É imperativo que ele retorne, uma chance dessas não pode ser desperdiçada! - exacerbou-se o menor dos três, Giles.

Com um olhar gélido Ahenobarbo, que permanecia sentado incólume no trono, destruiu o entusiasmo de Giles. E pôs-se a falar.

- Você não está mais no centro, Giles. Seu tempo passou e veja tudo o que realizou. - seus olhos faiscavam de uma fúria contida, gélida, letal - Destruiu Lennórien. Trouxe a Tormenta. Matou Glórienn. Pôs Igasehra no panteão, almejando status de Deus. O que mais tenciona tocar com seus deods podres Giles? O que mais sua mente limitada pretende macular?
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A bordo do Segredo Maldito, porto de Antor, ilha de Ocvran.

Ele fitava o oceano, digerindo sua última visita. A grande escotilha na popa da nau pirata proporcionava uma bela visão do pôr-do-sol. O imenso globo dourado imergindo no azul turquesa do oceano. Fogo sobre a água. Mesmo renegando suas origens, o belo ainda o atraía vez por outra. E mesmo belo era uma definição distorcida em sua cabeça.

Os cabelos negros como piche escorriam por sua camisa de seda até os ombros, contrastando com a tez alva de nuvem. Os olhos azuis ferozes iluminavam a face aguçada, algo cruel, do capitão do Segredo Maldito. Mesmo a compleição esquálida dos elfos encaixava-se bem na figura do capitão, emprestando-lhe uma aparência ágil e audaz. Definitivamente perigoso.
Azgher já havia quase deixado o céu quando...

Knock! kNoCk!

- Bill, posso lhe falar? - uma voz grossa de enforcado fez-se presente à porta.

- Claro Will. Entre.

Aconchegando-se num sofá macio de couro no canto do aposento, o homem deixou-se relaxar. Will era um humano poderoso, braços de canhão entrecortados por cicatrizes e tatuagens. Os músculos do pescoço marcado por um enforcamento mal-sucedido saltavam no esforço de falar. No rosto escanhoado evidenciava-se uma cicatriz oblíqua, talhando-lhe a face da sobrancelha direita ao maxilar esquerdo. Olhos castanhos como o olmo e cabelo loiro de trigo já rasgado de branco completavam a visão. Trajava roupas simples e leves, camisa de seda e calças curtas de linho.

Suas mãos falvam tanto quanto sua boca.

- A tripulação quer saber quando atacaremos, Bill. As notícias da chegada das vacas a Malpetrim já não é mais um boato entre os homens. Os outros comandantes já alardeam nossa preguiça e os espírito nos conveses começa a esquentar.

- Era justamente nesse assunto que eu estava pensando Will. Tenho aliados valiosos em Malpetrim. Fui criado naquela pocilga. Não quero vê-la destruída por aquelas vacas. Não agora que consegui chegar tão longe. E ainda assim, nessa hora negra, ele me convoca!

Com um movimento rápido o elfo esmurrou a mesa sobre a qual fitava o mar, destruindo uma de suas pernas. Já antevendo a tempestade, Will afundou-se ainda mais no sofá.

- Aquele maldito carniceiro pestilento! - outro murro - Por que convocar o Pelotão depois de tanto tempo? Pra quê? Caçar uma merda de defunto que ele não foi capaz de manter perto de si! - mais um murro, e a mesa se partiu em duas. Ao menos isso pareceu acalmá-lo um pouco, pois o elfo pôs-se a caminhar pelo aposento.

- Eu queria eu mesmo estripar aquele gado do inferno. Tecer velas com seu couro fedido e decorar minhas amuradas com seus chifres amarelados. Por que eles nunca se contentam em pastar e trepar com suas escravas de merda? - caminhando de um lado a outro enquanto falava, lentamente se colocou de fronte a Will - Mas você começará a festa sem mim Will. Tenho que atender ao chamado do Cão de Guerra. Encontrar Oren, Crucius e os outros e espalhar as tripas daquele defunto do Deserto da Perdição até Khalifor.

- Eu Bill? Tem certeza? - indaga levantando-se um surpreso Will. Ele nunca deixara ninguém no comando. Nunca.

- Quem mais eu deixaria senão você, sua mandrião filho de uma puta velha? Quem mais levaria meus homens pra um belo banho de sangue senão o homem que eu mesmo não consegui matar?

Um calafrio percorreu o corpo de Will no momento em que as palavras deixaram a boca do elfo. Ele ainda tinha pesadelos com aqueles dias. Tinha sido ele que abrira sua cara de um bordo a outro. Tinha sido ele que tentara enforcá-lo no mastro do Desgraça do Enforcado. E tinha falhado. Naquele dia Will ganhara muitas coisas, vida nova, um navio, homens, cicatrizes e mais importante, um mestre.

- Mas você não vai levar o Segredo Maldito. Não. Eu quero que eles se lembrem de mim. Leve os homens para o Inferno Amaldiçoado, chame todos os outros comandantes e relembre aos minotauros quem manda nas águas de Malpetrim.

- E quando você parte pra reunir esse tal pelotão? - Will indagaou sua última pergunta, já de saída, estacado à porta.

- Assim que você deixar o navio, Will. Não sei quando volto mas fique atento, você vai ouvir muitos boatos sobre Billy Alma Negra e o Pelotão do Massacre.

E um sorriso maligno cortou a face de Bill, assim que ele terminou.
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Willbourn "Will" Anke teve a certeza de que o que havia presenciado até então, nesses anos como braço direito de Bill, não era nem o punho da espada. Ele conhecia a fama do Inferno Amaldiçoado. Nunca havia posto os olhos no navio mas conhecia todas as histórias e nenhuma delas era diferente de um pesadelo sonhado pelo próprio Leen. A tripulação exultou às ordens de seu capitão e em poucas horas limpou o Segredo Maldito de tudo que era necessário.
O porto secreto de Antor, na ilha pirata de Ocvran, jamais esqueceu daquele dia.
O dia em que a nau mais perversa e maligna que existe voltou a macular o oceano.
O dia em que o Inferno Amaldiçoado navegou outra vez, em busca de mais almas.

16 comentários:

S i n n e r disse...

Olla senhores. Olla Caputto.
Eu ia responder ao comentário no post anterior mas como resolvi postar, decidi fazê-lo aqui.
Eu até entendo a "necessidade" de se jogar Oblivion para evitar uma possível descontinuidade mas tem que ser enquanto estou aí?
Afinal, embarquei e fico dois fins de semana aqui e com Renato outra vez disponível, o que os impede de jogar nesse fim de semana (dos dias 29-30) e no próximo (dos dias 05-06)? Ou ainda em sessões esporádicas durante a semana?
Com o bônus da presença de Aldie no próximo fds ainda.
Infelizmente o mês de maio passou e não houve nenhuma sessão até agora, seja pela viagem de Renato, seja pela impossibilidade de praticamente todos, seja pela falta de vontade mesmo.
Retorno dia 07/06, ficando até dia 03/07, ou seja, quatro fins de semana apenas. Contando abril/maio, fiquei seis ou sete em terra, jogando em apenas duas ocasiões (se não me engano), na mesma semana.
Dito isto, acho que fica claro que não, não concordo e não, não acho justo. Mas como eu sou apenas um dentre cinco, acato qualquer decisão mesmo que me desagrade.
Por hora é só. Logo outro post, esse com DdE.
Abraços e adièau.

PS.: E Caputto, porque não foi à sessão de DdE que havíamos combinado??

R-E-N-A-T-O disse...

Cara, Aldenor está para voltar e não jogamos praticamente nada! Nem parece que ele foi. Não precisava nem ter tirado ele de jogo nenhum. Sinistro! hehehe
Marquem jogo que eu vou. Dia 4 volto a trabalhar. Resta pouco.
By the way, bom post.

Aldenor disse...

Foi praga minha AHAHAHAHAHAH!!!!
Quero recapitular os jogos que existem e estão ativos.
Aurora Carmesim,
Últimos Dias,
Oblivion e
Con(di)vergências. É isso?

R-E-N-A-T-O disse...

Convergência chegou a começar? Acho que não.
Tem o Crônicas tb Aldenor.

Aldenor disse...

Crônicas não tá ativa, que eu saiba. Demos uma pausa pra eu focar no Últimos Dias... Vamos ativar esse Condivergencias então. A idéia de vários mestres não vingou? Se não vingar, é uma ótima oportunidade pra Renato assumir e voltar a mestrar algo! AHAHAHAHA

S i n n e r disse...

Não exatamente.
A idéia de vários mestres ainda está na ativa porém, conforme dito antes, não jogamos mais do que duas sessões (de jogos diferentes, no mesmo dia) em quase um mês. Por isso a consideração de que Con(Di)vergências ainda não está "ativa".
Espero que hajam mais sessões nesse meu retorno e não que voltemos a jogar com freqüência apenas depois do retorno de Aldie.
Mas isso independe totalmente de mim, se o restante do grupo nunca puder, se sempre houver um impecílio, um compromisso, algo marcado ou de última hora, nunca haverá jogo (como não tem havido).
Endossando sua lista, temos:
- Aurora Carmesim;
- Con(Di)vergências;
- Últimos Dias;
- Oblivion.
Quanto a Dança das Eras, devido ao grupo alternativo, não a considero jogo ativo ainda. Caso as reuniões desse grupo se mostrem impossíveis, pondero a idéia de pular o playtest e partir pra campanha direta.
Ainda no quesito campanha alternativa, existe ainda o Storytellin' de Renato e o possível início de Mago, o Despertar (acredito que em substituição). Mas como apenas o dono das campanhas pode mantê-la viva ou não, aguardo manifestação. Com isso a lista ganharia:
- Storytellin' - Mundo das Trevas;
Existiria ainda a possibilidade de um jogo de M&M, com o mote de supers, conforme sugerido por Aldie e comentado por (quase)todos. Mas acredito que o cenário atual de sessões efetivas realizadas impossibilita tanto a manutenção do alternativo aí de cima quanto o início de algo inteiramente novo (no caso DdE e M&M).
Abraços e adièau.

Capuccino disse...

Olá ^^

Bom daniel eu ja esperava sua opinativa, e compreendo. Mais até, concordo plenamente.

Mas, respondendo: o jogo nos dias 29 e 30 de maio nao poderia ocorrer por causa de marins, que viajou nesses dias.

E, quanto ao proximo fds, por causa de Aldi que ta chegando ae. Seria mais injusto ainda ele ta em niteroi e jogarmos sem ele. Também nao posso fazer ele por mais um PJ na campanha e tirar depois (nao que ele nao tenha uma miríade de personagens prontos =p)

Acho q nao tenho mais nada a comentar, nao sei, fiquei o dia todo no hospital, to quebrado.

Se tiver, lembrem-me.
Abraços

S i n n e r disse...

Bem Caputto, então qual será a escolha?
Aldie vai estar em Niterói e vocês vão jogar o quê?
Das campanhas ativas, ele mestra apenas Últimos Dias.
Vocês então vão jogá-la sem mim? Ou vão jogar Con(Di)vergências, também sem mim? Ou ainda, vocês não vão jogar? O cara vai estar no Rio e não vai rolar jogo?
Se eu bem me lembro, na primeira ocasião de sessão de Oblivion (a qual eu não joguei mas estava em terra) Aldie também esteve presente. Com um personagem inclusive. Um anão que se eu estou certo seria o personagem dele pra essa campanha.
Seria muito injusto com ele usar esse mesmo anão? Seria injusto com você incluí-lo e retirá-lo outra vez apenas pra que ele jogue?
Bem, recapitulando e colocando tudo no mesmo plano teremos o seguinte cenário então:
"Esse fim de semana não vai haver jogo já que Marins viajou e não pode rolar Oblivion sem ele. No próximo vai haver um provável jogo de Últimos Dias, mesmo sem mim, porque Aldie chegou e não pode ficar sem jogar. Uma vez que ele não tem personagem em Oblivion, seria Últimos Dias mesmo. Daí na outra semana, ou em alguma semana próxima que eu estaria em terra, vai rolar jogo de Oblivion, que eu não jogo então não posso comparecer, já que não se pode ficar muito tempo sem sessão ou perde-se o fio da meada."
Parece menos injusto pra você esse cenário?
Valeeeu champz.
Abraços e adièau

Capuccino disse...

Pera ae, pera ae

Nao to achando injustos. A parada do oblivion era pra ver se vc aceitava ou nao.

Antes, esqueci de elogiar a qualidade do post no meu ultimo comentário... Talvez fosse isso que eu tivesse esquecido.

Injusto é vc nao jogar estando aqui, e aldi nao jogar estando aqui.

Aldi jogou uma sessao de oblivion, com aquele anao, e ele ja foi devidamente retirado.

Vc ja meu o que eu queria daniel (mesmo que isso soe mt mal) nao viso mestrar oblivion com vc por aqui sem sua concordância.

Quanto a ultimos dias, tem que se ver com aldi.

Temos um belo impasse...

Alias, já estou meio cansado. Parece que quem se importa somos eu e vc e talvez aldi.

Parece-me que estamos a discutir em vão...

E então Forgottenianos? O grupo terminou?

Quando eu entrei aqui tinhamos mais alegria, menos inercia e mais amizade, mesmo que pouca.

Se for pra ficar assim, prefiro nao postar mais porra nenhuma, nem discutir, nem fazer qualquer outro comentário.

Decidam-se.

Abraços!

Aldenor disse...

Há um belo impasse de facto. Últimos Dias está inviabilizado para esse feriado pelas faltas de Marinho e Daniel. Oblivion pela falta de Marinho e seria ruim pela presença de dois jogadores que não participam do jogo (eu não participo e seria ruim entrar pq eu só volto em julho em definitivo).
Condivergencias tem o problema de Últimos Dias e Oblivion juntos (falta de jogador e presença de um que não joga).
Portanto, a não ser que joguemos uma one-shoot clássica, sugiro que não haja RPG e que vamos celebrar no Outback, no cinema vendo Fúria de Titãs (que eu não vi!), etc, etc... heheh

Capuccino disse...

Aldi, furia de titans nao esta mais em cartaz...

Bom, podemos ir ao outback, nao consegui comemorar meu aniversário com a galera aqui de niteroi.

O que acham?

R-E-N-A-T-O disse...

Amigos,

Estou a disposição para jogos sempre que marcarem. Se quiserem que eu mestre meu Storytelling está aberta também essa possibilidade. Quanto a Mago pretendo sim encerrar a outra para começar uma nova, mas preciso de mais tempo para dominar as regras novas e o que mudou do cenário, anda estou no processo d absorção das novidades do novo cenário.
Se Daniel e Marins não estão, acho que o jeito será mesmo outback né?

Dudu disse...

Cacilda, quanto drama!

Ninguém vai morrer com um mês conturbado, esse fim de semana eu tb não pude, aniversario da minha mãe e tive uma reunião importante de manha...

Mas eu já sugeri, e isso passou batido, que buscassemos explorar horarios alternativos também... So pra ver se existe, e ter um horario alternativo, um plano B.

Seja uma aventura one shot, so pra se divertir, aquecer as juntas e conversar mais do que jogar, ou seja um outback pra nos encontrarmos e lembrarmos que a gente se ama, topo fazer qualquer coisa!

Então vamos parar de cú doce e vamos ser felizes!

Um beijo na testa do coração!

Aldenor disse...

Outback é caro. Mas eu faço uma força. Hehehehe. Sobre o que jogar, prefiro que seja uma one-shot. Podia ser de Pathfinder pra testar, ou uma aventura isolada de Tormenta. Ou mesmo um Crônicas Artonianas, já que o Tildror de Marinho saiu e tal. Aí teria Kuala, Ilendar e Lothar.

R-E-N-A-T-O disse...

Demorô

Dudu disse...

Demorô o que? Ta decidido o que faremos?