sexta-feira, 1 de maio de 2009

Aurora Carmesim - Prólogos, parte 9


Ano 633

“Vai ser perfeito”, pensou Sszzass.
Nunca esperava tal atitude do líder do panteão, considerando o risco envolvido. Retirar o “véu” sobre Arton, mesmo que por um segundo, poderia desencadear a destruição de tudo. O véu os impedia de caminhar livres no plano de Arton. Deuses encarnados.
Porém, o maldito fora esperto em seu ato e até mesmo o senhor da mentira devia admitir. O plano era arriscado e isso era de conhecimento geral. Mesmo os auspícios da fênix não traziam segurança. Vencer era seu destino, mas a que custo?

Enquanto caminhava tranqüilo pelas trilhas no deserto, fitava o futuro e sua tarefa. Ele melhor do que ninguém sabia da importância dos espiões num movimento tão amplo e arriscado. Informação e desinformação eram tão importantes quanto poderes mágicos e arsenais perigosos. Kallyadranoch teria em seus seguidores mais poderosos os espiões perfeitos. Sua capacidade de disfarçar-se na forma humanóide apenas com um pensamento, seu vasto conhecimento mágico, sua experiência de séculos, sua presença destruidora, sua falta de apreço pela vida “inferior”, enfim, dragões. E dentre eles existiam os epítomes da espécie. Os Dragões Reis. O poder máximo.

Divertindo-se com o pensamento, Sszzass pensa em sua tarefa. Enganar um dragão rei. Essa tarefa seria um desafio para seu avatar, mas com ele ali, usufruindo de todo o seu poder, era apenas divertido.

Avistou a construção no horizonte e soube imediatamente que a criatura estava ali. Concentrou-se e soube que ele trabalhava nesse exato instante, tentando descobrir a presença nova em seus domínios. Forçou a realidade a dobrar-se e num piscar de olhos estava ao lado de Sckhar, olhando seu caldeirão de auspícios. O dragão estava em sua forma humanóide, como um belo elfo de cabelos de fogo e olhar feroz.

Projetou sua vontade em direção ao dragão e não houve resistência. “Kally cometera um erro ao falar diretamente à suas crias”, pensou um sorridente Sszzass. Plantou em seu âmago a certeza de que o panteão tramara algo desesperado e esperou que Sckhar falasse a seu deus. E isso aconteceu.

Divertiu-se um pouco mais, trabalhando nas crenças e vontades da pobre criatura. Ele seria intolerante a seus pares e viveria com o sentimento de perseguição permanente. Nunca mais conseguiria cativar nada além do ódio. Trairia e maldiria seus irmãos de sangue e levaria à destruição o que mais amasse. Viveria em busca de poder e sempre que pudesse, passaria por cima de tudo e todos pra conseguir. E nunca seria completo.
Saiu deliciado do amplo salão. Estava realmente inspirado pelo retorno a Arton. Plantaria mais algumas sementes, falaria a mais alguns corações e moldaria mais uns poucos destinos antes de chegar ao ponto de encontro. Ele tinha um plano e nunca era cedo pra começar.
----------------------------------------------------------------
Estavam reunidos. Os dezessete deuses em círculo. O clima solene oprimia até mesmo a luz do ambiente. O lugar colaborava para a atmosfera mística. Todos os elementos estavam presentes. Fogo, terra, ar, água, luz e trevas. Todas as energias giravam em torno das divindades e tudo se dobrava a seus poderes. O tempo não fluía, a matéria estava inerte, o espaço inexistia. Um lugar de negação, numa ilha à leste do continente norte de Arton.
Iria começar.

- Eu Khalmyr, Deus da Justiça, líder do panteão invoco o direito devido a mim por concepção. Cobro aos presentes sua dívida primordial para com a criação. Que seja feita agora a justiça suprema e que retorne à existência o poder que lhe foi tirado no início.

Todos estenderam as mãos ao mesmo tempo e o poder presente no momento era capaz de apagar as estrelas. Um a um, os deuses pensaram em seus aspectos primordiais e seus lugares de poder, lugares onde seus escolhidos mudaram o mundo, lugares onde o mundo os havia mudado. Um brilho pálido começou a invadir a cena e o ar recendia a algo antigo, esquecido, mais velho que a vida.
----------------------------------------------------------------
Tanna-Toh não pôde esconder um sorriso quando eles foram cercados por milhares de criaturas vindas de lugar algum. No centro do círculo uma figura se materializou suavemente. Antes de abrir a boca, ela já conhecia suas palavras.

- Eu sou o poder encarnado. Reclamo para mim todo o poder que não lhes é devido e invoco o direito de tomar da criação a minha parte. O que existe, existiu e existirá deve a mim o tributo por conseguir ser.
No fim de seu mote, Kallyadranoch notou sua falha. Havia sido ele contaminado pela ambição de Valkaria? Estaria entorpecido pela engenhosidade dos planos de Tillian?
De qualquer maneira era tarde. Eles foram derrotados.

4 comentários:

S i n n e r disse...

Cri... cri... cri...
Não sei o que houve, mas imagino que todos devem estar bizarramente atribulados. De qualquer jeito, posto mais um capítulo daqui a pouco.
Espero que estejam todos bem.
Abraços e adièau

R-E-N-A-T-O disse...

Não entrei na internet no feriado aproveitando meus últimos dias de férias.
Gostei do texto, só não se esqueça que os elementos em Arton são seis. Terra, fogo, ar, água, luz e trevas. São seis os caminhos elementais.

R-E-N-A-T-O disse...

Ah... Tem um parágrafo que aparece como quatro elementos e ar aparece duas vezes. "Fogo, terra, ar, água, ar."

Percebi que é um erro bobo e tal. Tá legal o conto.

S i n n e r disse...

Tudo bem imaginei que vocês todos estivessem com a agenda cheia no feriadão.
De qualquer maneira, continuo publicando =p
Quanto aos erros, foram devidamente corrigidos. Tanto o fato de haver seis elementos em Arton (eu havia esquecido totalmente disso) quanto a repetição da palavra "ar".
Espero que todos gostem e como sempre, espero repercussão/discussão/dúvidas.
Logo to de volta.
Abraços e adièau