Aztag 18, Dantal,
1410 CE.
Eu sabia que magias de cura, os
tais milagres divinos dos deuses, afloravam uma sensação de conforto e prazer.
Ferimentos fechando, dores sumindo, provocavam sentimentos muito agradáveis.
Porém, quando o clérigo de Wynna, Nathaniel, trouxe-me de volta à consciência,
a sensação não foi tão agradável.
O ombro estava dolorido, a
cabeça ardia e a perna direita incomodava muito. O rosto daquele homem de uns
quarenta anos foi a primeira coisa que vi ao acordar. Estava sentindo o chão
balançar um pouco e, pelo barulho de tudo, estávamos em uma carroça ainda. Ao
lado de Nathaniel (eu ainda não sabia seu nome, entretanto), encontrava-se
Elinia, mais bela do que nunca. Aflito, eu segurei o seu braço.
- O que aconteceu?
Sisuda como só ela pode ser,
Elinia me explicou que estávamos fugindo de um caçador de recompensas, um
pistoleiro com uma arma de fogo enorme. Um mosquete, então. Aparentemente,
ninguém ali sabia o que tipo de arma era. Eu sim, pois como morador de
Valkaria, pouca coisa passaria despercebida de um cosmopolita como eu. Armas de
fogo são, em sua essência, coisas perigosas e explosivas, capazes de grandes
estragos. Existem as pistolas, armas de fogo menores, com menor alcance, e os
mosquetes, com canos de metal mais longos, com alcances incríveis e maior capacidade
de dano. Se o nosso mercenário está com um mosquete e afugentou tantas pessoas,
significa que ele era muito perito na arma.
O velho homem se apresentou e,
pelo símbolo religioso que carregava, pude saber que ele era um raríssimo
clérigo de Wynna, a deusa da magia. Raríssimo porque geralmente os devotos
dessa deusa eram magos estudiosos ou feiticeiros. Poucos se dividiam em estudar
magia divina e arcana ao mesmo tempo. Aliás, estudar magia arcana era o
pré-requisito mínimo para que a deusa da magia concedesse milagres divinos. Uma
confusão só. Por isso, os conjuradores arcanos preferiam se dedicar à magia
arcana e prestar algumas homenagens à deusa da magia, mas sem se aprofundar em
um estudo divino.
Ouvi uma voz na frente da
carroça. Uma voz familiar. Era Blasco perguntando qualquer coisa.
- O que esse halfling está
fazendo aqui? – Eu perguntei, afoito.
- Ele está conosco desde que
fugimos de Thenallaran, Aldred. Ele é um aliado. – Respondeu Elinia.
- Ele é um trambiqueiro! Um
enganador falsário. Comparsa de Yurden. – Eu comecei a falar alto, ignorando
que era ele quem dirigia a carroça. – Por conta dele que eu fui preso e nós
estamos sendo caçados.
- Sim, é minha culpa também,
mas fui enganado por Yurden tanto quanto você. – Blasco disse com seus olhos de
halfling amigáveis. Malditos olhos amigáveis. O lefou interviu, falando
qualquer coisa. Nisso, eu percebi que todos estavam lá. O lefou, Blasco, Dorks
(que se afastou quando eu comecei a falar alto), Elinia e Patrick. Pelo menos,
o maldito Yurden não estava lá. E havia dois novos “companheiros”, dois
sujeitos que eu tinha mais ou menos percebido ao entrarem no grupo quando eu
estava quase inconsciente. Um deles era Nathaniel e o outro era um rapaz jovem,
um camponês chamado Vitor.
- Você e Blasco tem um cartaz
com seus retratos falados. Uma recompensa de cinquenta tibares de ouro para
quem captura-los com vida. Blasco e Yurden estão sendo caçados por conspiração
contra o senhor Trodillick e você por assassinato. – disse o jovem Vitor.
Cinquenta tibares de ouro? Ora,
isso é irrisório, uma mixaria. Depois descobri que eu e Blasco precisávamos
estar vivos pela recompensa, mas o resto do bando (sim, eles se referiam a
Aldred e seu bando) podia estar morto. Cansei de brigar naquele momento e
deixei Blasco em paz. Mas não confiei nele. Pulei da carroça e continuei o
caminho a pé. Dorks me ofereceu uma espada curta que ele tinha. Aliás, ele
tinha muitos pedaços de armas preso ao corpo. Criatura de hábitos estranhos...
Porém, o lefou tinha que
intervir.
- Não dê a arma para ele.
Depois do que aconteceu em Thenallaran, temo pela vida de quem quer que
encontremos no caminho.
- Por que você está se metendo?
Cuide de sua vida. Dorks, me entregue a arma.
O troglodita ficou confuso e
irritado. Ele não tinha paciência e parecia se incomodar muito com o modo que o
grupo se comunicava: através da fala.
- Não entregue. Ele não é
confiável.
Foi a gota d’água.
- Cara, você é miliciano, por
acaso?
- Não.
- Então, não precisa ter medo
de mim. – Uma bravata, uma fanfarronice. Senti-me revigorado.
Dorks entregou a espada curta
para Elinia. E ela me entregou, concordando que eu deveria ficar armado e
intercedendo ao meu favor, dizendo que acreditava na minha índole incompatível
de um assassino cruel.
O assunto ia sumir, mas o lefou
tinha que falar.
- Blasco e Yurden são acusados
de conspiração, mas não temos certeza de que isso procede. A única coisa que eu
sei de fato é que você matou mesmo aquele miliciano, pois eu vi com os meus
próprios olhos.
Uma provocação. O que diabos
aquele homem cheio de carapaça queria com aquilo? Só fazia os ânimos das
pessoas diminuir, além de me colocar contra todos.
- Sim, eu o matei e isso é
verídico. Mas estava lutando por minha vida.
- Não. Você avançou sobre o
miliciano e desferiu um golpe mortal com aquela sua espada. E ainda teve
requintes de crueldade ao dizer-lhe que “não era pessoal”.
Maldita frase de efeito. Eu
disse isso mesmo, como o caro leitor pode lembrar. Mas eu não pretendia
matá-lo. Tive que falar alto uma resposta para o lefou. Entretanto, esperava
que todos ouvissem, pois era uma espécie de retratação para o grupo também.
- Não queria matá-lo. No calor
da luta, os milicianos eram nossos inimigos e eu o ataquei com intenção apenas
de feri-lo. Acontece que não medi minha força tão bem, acabei subestimando
minha própria perícia com a katana. Quando falei que não era pessoal, estava
dizendo que não tinha nada contra o miliciano. Sei que ele tinha família,
amigos. Foi um erro e espero não fazê-lo novamente.
- Eu também espero. – Retrucou
o lefou. Eu fiquei muito incomodado com ele. Parecia ser um maldito paladino,
amante da verdade e da justiça. Um chato completo. Subiu-me o sangue e tudo o
que eu disse para me retratar acabou por água abaixo na minha arrogante fala
seguinte:
- Não devo explicações a
ninguém, muito menos a você, lefou. Você não é meu pai, não é nada pra mim. –
Disse e caminhei ignorando-o com arrogância. Não antes de ameaçá-lo com a
espada, de forma obviamente inofensiva, apenas para pregar um susto. Um susto
que não aconteceu. Sim, às vezes, eu posso ser muito infantil.
Brigas internas em grupos de
aventureiros era esperado. Afinal, entende-se que um grupo seja heterogêneo,
com pessoas com visões de mundo diferentes, mas com objetivos parecidos. Por
isso, uma briga ou outra acerca de um assunto qualquer era bastante comum.
Porém, na formação de um grupo, os problemas não seriam tão visíveis, as
diferenças não seriam tão marcantes logo no início. Mas no meu caso, este meu
primeiro grupo de aventureiros se demonstrou bastante confuso e conflituoso. Não
éramos efetivamente um grupo. Trodillick escreveu certo nos cartazes: “Aldred e
seu bando”. Nós éramos um bando de desconhecidos que fugiam de um tirano. Não
havia heroísmo, apenas sobrevivência nua e crua. Para se ter uma ideia, Dorks
era o mais útil membro do grupo. Ele e Nathaniel, capaz de curar com seus
milagres. E com aquela espada curta, eu era o mais fraco, praticamente um fardo
ambulante.
Pelo menos tínhamos um objetivo
em comum. Chegar ao tal lago mágico ao sul de Sckharshantallas. Uma vez lá,
teremos a pista do desaparecimento da família de Patrick. Ou pelo menos é o que
o pobre pondsmaniano acreditava. Por ele, eu seguia naquele grupo. Mas ao final
dessa missão, eu pensava em rumar para o Rio dos Deuses e pegar uma embarcação
qualquer, um navio para que eu pudesse trabalhar para pagar minha viagem até a
civilização, o coração do Reinado. Talvez chegar à Deheon, chegar à Valkaria.
Ainda não havia decidido isso.
Com esses pensamentos em mente
que chegamos ao final do dia, com Dorks achando um buraco no chão rachado e
árido daquela maldita terra quente.
A nossa carroça estava sendo
puxada por um trobo, um animal bem peculiar, comum em grandes fazendas. Um
animal perfeito para tração. Como estávamos em um buraco no chão em que nem a
carroça nem o trobo poderia entrar e não queríamos deixá-los à vista por conta
da perseguição pelo qual éramos vítimas, decidimos nos livrar de ambos.
- Tudo bem por você, Elinia? –
perguntei. Afinal, druidas de Allihanna tem um apreço maior por animais.
- Vamos libertar o trobo da
carroça.
O plano era simples. Eu e
Elinia afastávamos do nosso “acampamento” e largávamos a carroça e o trobo por
lá. O trobo, livre de ter que puxar a carroça, seria um animal solto para fazer
o que quiser. Ou o que seus instintos mandassem. Porém, ao voltarmos para junto
dos outros, o trobo também voltou. Aparentemente, Elinia não foi muito bem
sucedida em se fazer entender. Ela havia acariciado o animal e feito sons
guturais tranquilos. Queria dizer para o trobo que ele estava livre e poderia
seguir seu caminho. Mas o animal era muito fiel e leal aos seus donos e, por
isso, voltou nos seguindo.
- Parece que ele gostou de mim.
– Disse Elinia.
- Não é muito difícil gostar de
você, né? – Eu respondi, como que no automático. Minha relação com ela melhorou
um pouco depois de ter acordado de meus graves ferimentos, de modo que me senti
mais confortável em falar essa indireta. Ela sorriu um pouco corada. Foi a
primeira vez que quebrei um pouco sua barreira anti-homens.
Antes que pudéssemos fazer
alguma coisa, ouvimos um bater de asas, um deslocamento de ar muito forte. A
escuridão da noite nos impediu de ver direito. O trobo fora agarrado por algo
que pairou sobre nossas cabeças num ataque rasante.
- Pelo menos, ele se tornou alimento.
Uma cria de Allihanna não passará fome esta noite. – Disse a druida.
Assim, o dia ia terminar. Todos
dormiam em uma espécie de fila, dentro do buraco. O lefou era o primeiro do
turno. Ele parecia um pouco sonolento.
- Qual o seu nome? – Eu comecei,
antes de dormir. Estava de bom humor, ainda mais depois de ter arrancado um
sorriso e um rubor do rosto de Elinia.
- Drake. – Isso, sabia que era
algo assim. Continuei falando, para tentar arrumar minha relação com ele. Se
iriamos continuar juntos, era melhor que sem problemas internos.
- Escuta, nós começamos com o
pé errado. Sinto que devemos resolver nossas diferenças. Sei que você acha que
sou um assassino louco, ou um descuidado. Mas não é bem assim.
Ele balançou a cabeça em sinal
de positivo. Não parecia interessado em conversar. Então, dei de ombros
pensando ter feito minha parte. Pelo menos, plantei a semente. Esperava que ele
conjecturasse sozinho acerca da minha pessoa. Entretanto, eu imaginava que
somente com meus próximos atos poderia conquistar a confiança de Drake.
Lanag 19, Dantal,
1410 CE.
Este foi o dia mais quente da
história. Tudo bem, eu não acho que seja verdade, mas estávamos no inverno e eu
tenho certeza que o calor poderia matar qualquer pessoa normal que viajasse no
meio daquele árido descampado.
Seguimos a viagem ao amanhecer.
Notei que Elinia estava um pouco pálida e abatida. Claro, depois de perguntar,
ela disse que estava bem. Ela poderia ser orgulhosa ao não aceitar ajuda, mas
também poderia não querer incomodar ninguém demonstrando alguma fragilidade.
Por ser mulher, todos esperavam
que fosse mais frágil mesmo. Desse modo, acho que somente Dorks não pensava
assim. O troglodita ouvia apenas a ela, tentava se comunicar apenas com ela e
ficava irritado e incomodado quando não a via por perto. Entretanto, eu notei
que era um erro considerá-la mais fraca. Nunca a tinha visto lutar de verdade,
mas seus dons e sua intimidade com sua deusa eram espantosos. Mais de uma vez
ela conjurou aquelas incríveis armadura e bordão de madeira bastante
resistente.
Nesse dia, entretanto, o calor
estava além dos limites imagináveis. Era seco, mas suávamos bastante. Era
difícil respirar. O céu estava limpo e o sol caminhava livremente sobre nossas
cabeças, acompanhando nossos passos sobre aquele chão duro e rachado. Lábios
secos eram a marca de todos. Goles de água tinham que ser racionados, pois não
sabíamos se duraria até a noite. Aquele calor era mais forte que os verões
ensolarados de Valkaria. E estávamos no inverno!
Ao meio dia, as coisas
complicaram fortemente. Não sentíamos muita fome, era difícil pensar em comer
sentindo-se tão mal pelo calor. Apenas a sede era uma constante. Falar era
desagradável. Então, o halfling passou mal. Blasco cambaleou e ameaçou cair.
Elinia também não suportou. Acho que Vitor ou Nathaniel, não tenho certeza, não
estavam bem. Eu, Dorks, Patrick e Drake estávamos confiantes e inabaláveis,
ainda que muito cansados.
O que me chamou atenção foi a
resistência incrível de Patrick. Ele era um rapaz jovem demais, franzino
demais, branco e ruivo. Esperava que o sol pudesse tostá-lo como uma carne mal
passada, mas não foi isso que vi. Ele estava corado, é verdade, mas seguia
firme e forte. Acho que subestimei o garoto. Além de seus talentos mágicos com
encantamento, ele parecia ser feito de um material mais resistente que os
demais. O troglodita Dorks estava bem. Parecia um calango adaptado a esse clima
hostil. Ele ficou preocupado com Elinia também. Drake tinha a cara fechada, não
dava para entender se ele sofria com algo, ou se ele era mesmo mal encarado.
Considerando que ele é um lefou, acatei a segunda opção. O garoto Vitor estava
bem também, demonstrando uma grande resistência para uma pessoa normal.
Perguntei o que ele sabia fazer e ele me disse que era um lutador, mas não
usava armas ou armaduras.
- Você é como um artista
marcial?
- Não, sou como um lutador de
rua.
Eu ri um pouco.
- Que eu sabia, dá pra socar e
chutar mesmo sem ser artista marcial. – Disse Patrick, eventualmente.
- Sim, mas fazer isso bem é
outra história. Em Valkaria eu conheci monges, artistas marciais que tinham um
grande treinamento com o corpo e espírito. – Eu respondi e me lembrei de alguns
dias que visitava o bairro Nitamu-ra.
Eu mesmo estava sofrendo muito,
mas segurei meu instinto de reclamar. Quando era mais novo, eu reclamava muito
ao menor sinal de insatisfação. Era como ter algo a falar, um comentário que
precisava dizer, mesmo sendo redundante e desnecessário. Mas eu mudei um pouco
com a idade. Não estava passando mal por conta do calor, ainda que suasse como
um porco. Retirei minha camisa e enrolei na cabeça, para evitar danos à minha
cabeça. Eu ganhei uma cor interessante, fiquei um pouco mais moreno.
Mais tarde fiquei sabendo que
Blasco, Elinia e Drake foram mordidos por leões dias atrás. Eu me recordei de
rugidos quando estava no estado de semiconsciência. Leões eram felinos muito
grandes, poderosos e ferozes. Os ferimentos que os três sofreram não foram
tratados com qualidade, pois Nathaniel não havia nos encontrado ainda. E Elinia
não sabia tratar de ferimentos. Como druida, eu esperava que ela soubesse
disso, mas aparentemente, ela é mais uma guerreira da natureza do que uma
curandeira. Aliás, “curandeiro” é o nome que ela dá ao Nathaniel.
Pós meio dia, o sol começou ser
menos agressivo. Podíamos respirar com mais facilidade. Porém, Blasco desmaiou
e Elinia disse que era incapaz de continuar andando. Eu começava a aceitar mais
o Blasco, pois ele tinha lutado contra os leões para proteger o grupo,
inclusive a mim, que estava desacordado. Mas a Elinia concentrava minhas
atenções naquele momento. Drake se ofereceu para carregar Elinia, mas ao falar,
ele demonstrou estar também combalido.
- Você está cansado, Drake. Eu
estou em melhor condição. Elinia, pode subir nas minhas costas. – Eu sorri para
ela, dando o meu melhor. Era uma espécie de teste para ver se ela melhorou sua
visão para comigo.
Ela hesitou, mas aceitou.
Suspeitei que seu rosto tivesse corado um pouco. Ou talvez estivesse apenas
queimada pelo sol. Abaixei e ela subiu nas minhas costas. Senti seus seios
sobre minhas costas e corei um pouco também. Era um grande avanço. Se eu
fizesse tudo certinho, poderia conseguir torna-la mais íntima. Mas aí,
aconteceu o Dorks. Ah, o troglodita.
Ele se aproximou e fez um gesto
apontando para Elinia e depois para ele mesmo. Ela me disse que preferia subir
nas costas de Dorks. Então, foi aí que meus planos se desmoronaram. Era
entendível, o troglodita era como um companheiro animal para Elinia, muito mais
que Lyka (ô grafia complicada). Ela se sentia mais a vontade com ele. Mas eu
gosto de pensar que se o troglodita não fizesse nada, ela teria gostado de
estar nas minhas costas.
Depois disso, fiquei tentando
me convencer de que Elinia não era tão bonita assim. Ela tinha dezesseis anos,
uma criança, praticamente. Quando eu tinha a idade dela, era um rapaz muito
afobado, louco e mimado. Namorava a elfa Julyana, é verdade, e amadureci muito
com ela, mas ainda era um garoto. O possível envolvimento com Elinia não teria
futuro. Pensando assim, consegui me enganar por um tempo.
Chegamos a uma região ainda de
terra dura, mas tropeçamos numa estrada de pedra que parecia invisível. Era
noite e estávamos muito cansados. Elinia disse que estávamos no caminho certo.
Bastava cruzar a estrada e não segui-la, que em até quatro dias chegaríamos ao
lago mágico. Dorks e ela quem lideravam o grupo. Na verdade, Dorks era o
essencial. Ele caçava e poupava algumas provisões. Eu e Blasco (acho) não
tínhamos rações de viagem, então comíamos dos outros. Eu ameacei me sentir mal
por não ter minha própria comida, mas Dorks nos salvou com suas eventuais
caças.
- Blasco não aguentará mais um
dia como esse. Aliás, eu mesmo não aguentarei. – Disse Nathaniel, esbaforido.
- Eu vejo algo no horizonte. –
Disse Drake.
Era uma construção vertical,
podia ser um posto militar. E eu me lembrei dos milicianos que me levaram na
carroça-prisão, falando que encontraríamos vários postos militares pelo
caminho. Um por dia, aparentemente.
Nathaniel, Drake e Vitor
decidiram ir até aquela construção, que se demonstrou ser uma torre de vigia.
Enquanto isso, eu troquei umas palavras com Elinia, mais um desabafo.
Aproveitei que Dorks não entendia, e que Blasco estava desacordado. Patrick não
estava perto para ouvir, tratando do halfling.
- Eles não confiam muito em
mim. São pessoas muito complicadas, difíceis, diferentes de mim. Sou o único
citadino daqui, aparentemente.
- Você é uma pessoa difícil. –
Ela disse. Foi como um soco no estômago. Voltaríamos à situação de indiferença
de antes?
- Eu sou diferente, mas eles
não parecem aceitar isso. Além do mais, julgam mais do que lhes é devido. De
qualquer forma, tive muito azar desde que cheguei a esse maldito reino.
Ela me olhou, depois disso.
Pude adivinhar o que diria em seguida.
- Eles o entenderão melhor
quando você mostrar o seu melhor.
Era mais ou menos isso, eu
acho. Eu tinha que provar minhas capacidades, tinha que provar que era mais que
um fardo no grupo. Engoli seco, porque sabia que estava em desvantagem como
combatente, sem minha arma a qual eu era muito proficiente, especialista, por
assim dizer. Teria que me virar com uma reles espada curta.
Drake e Vitor retornaram um
tempo depois, nós nos encontramos no caminho. Havia um elfo com eles. Os dois
companheiros de grupo haviam dito que Nathaniel ainda estava lá e que
poderíamos descansar do lado de fora da torre. Eu já estava acostumado a dormir
no chão duro, então, não faria diferença. Havia apenas um miliciano, ou soldado
de vigia no lugar.
- Temo pela vida do soldado. Melhor
você se controlar. Não faça besteiras. – Disse Drake para mim. Eu me irritei
muito, mas preferi engolir aquilo. Eu merecia e comecei a aceitar isso.
- Relaxa. Basta ele não me
atacar. – Eu não podia deixar de ser atrevido. Nathaniel suspirou também
irritado comigo, eu acho. Aquele grupo estava cansado e sem paciência, então
minha índole não ajudava muito.
Dorks pegou Blasco no colo e
avançou, depois de gritar muito. Aparentemente, por conta dos gestos com suas
mãos, ele estava irritado pelo fato da gente falar demais. E brigar e discutir
demais. E Blasco estava desacordado, precisando de cuidados, coisas que estavam
além da simples cura mágica. Ele avançou sozinho pela frente. Eu andei,
demonstrando indiferença, mas na verdade, queria que ele sobrevivesse.
Ao chegarmos, vimos um archote
aceso na torre. O soldado parecia irritado.
- Ele parece não ter gostado da
gente. – E dei um sorriso de canto de boca. Totalmente desnecessário. O elfo,
que eu não sabia o nome, acabou suspirando, desconfortavelmente. Pronto, o cara
mal me conhecia e também já não gostava de mim. Eu fiz pose de durão e fingi
não me importar.
Blasco e Nathaniel ficaram no
segundo andar da torre, com um local para descansar. Lá, o clérigo de Wynna
poderia cuidar a noite toda do pequeno companheiro. Embaixo, havia um cavalo
numa espécie de estábulo. À primeira vista, eu percebi que quando o dia
raiasse, as sombras seriam minúsculas. O sol ainda seria uma ameaça. Mas também
havia um fosso, onde poderíamos encher nossos cantis. Era um verdadeiro alívio.
Falei pela milionésima vez para
eu ficar acordado no primeiro turno de vigia. Patrick concordou, pela
milionésima vez e dormiu. Porém, Dorks e Drake ignoravam essa ideia pela
milionésima vez e faziam turnos entre si. Dei de ombros e decidi conversar para
conhecer melhor o elfo.
- Eu sou Harell. Reconheci
vocês pelos retratos nos cartazes de procurados lá em Thenallaran.
Aparentemente, este soldado deste posto de vigia não vai à cidade há quatro
dias, o que significa que ele não sabe do ocorrido por lá.
- Impressionante, por isso ele
nos aceitou de bom grado. Bem, mais ou menos, ele não parecia muito feliz. – Eu
disse.
- Sim, Nathaniel e Drake não
falaram toda a verdade para ele. Disse que eram mais pessoas, mas não falaram
que seriam oito ao total. E nem que havia um troglodita e um doente.
- Pois é. – Limitei-me a falar
só isso, mas a verdade era que eu me sentia um pouco vingado. Se o soldado
tivesse decido pela violência e alguém tivesse morrido, a culpa recairia sobre
a péssima decisão de Drake e Nathaniel. Bom, Vitor também não disse a verdade,
mas ele era um rapaz muito gentil, não tinha nada contra ele.
- Aldred, você está bem
ferrado. – O elfo Harell disse subitamente.
- Eu sei. Minha cabeça está a
prêmio. A minha e a de meu bando. – Eu mostrei um riso qualquer, enquanto bebia
um gole da água do cantil de Elinia.
- Desculpe-me por ter agido
daquela forma impaciente agora a pouco. – Harell parecia confuso a meu ver.
Aparentemente, aquela pequena rusga significava muito para ele. Ou talvez eu
estivesse acostumado a ser mal tratado e por isso não dei tanta importância
para o fato.
- Relaxa. Acontece. Estamos
todos de cabeça quente. – Eu disse.
E assim, o dia mais infernal do
ano finalmente acabou.
Tirag 20, Dantal,
1410 CE.
O dia chegou num piscar de
olhos. O sol derramou seu calor incandescente e nós somos atingidos como um
tapa no rosto. Acordei com a testa e as axilas suando. Tirei minha camisa
rapidamente e pus na cabeça. Faltavam ainda algumas horas para o meio-dia, mas
o calor já estava insuportável. Graças aos deuses, o dia parecia menos quente
que ontem.
A noite era fria, de modo que o
choque da mudança de temperatura fazia meu nariz encher-se de coriza. Dormia
com minha camisa vermelha com listras horizontais pretas, mas durante o dia a
colocava sobre a cabeça pra proteger meu rosto, fazer uma mínima sombra. Sentia
meu corpo dolorido por dormir em condições precárias e as queimaduras do longo
do dia cobravam seu preço agora. Os ombros estavam bem vermelhos e muito sensíveis
ao toque. Meu rosto, entretanto, estava apenas mais moreno.
Notei que fui um dos primeiros
a acordar, mas decidi caçar uma comida. Peguei uma fruta cítrica qualquer,
típica das rações de viagem e me satisfiz pela manhã. Bebi também dois ou três
goles de água, já me sentindo o pior dos seres por não ter meus próprios
recursos de sobrevivência. Ainda bem que o grupo era formado por pessoas
razoavelmente boas, ainda que impacientes. Patrick era o mais ingênuo de todos,
mas parecia ter o melhor coração. Se bem que Vitor chegou para competir com ele
o posto de pessoa mais gentil do bando.
Nathaniel desceu as escadas da
torre e estava com um aspecto horrível. Aparentemente, passou a noite em claro
tratando de Blasco. E não fora em vão, o halfling estava acordado e melhor. Eu
acenei discretamente, ainda não querendo uma aproximação. Sempre que o via, me
lembrava da prisão e o culpava instantaneamente por ter perdido minha katana e
minha dignidade.
Aos poucos, todos foram
acordando e começaram a comer o desjejum.
- Como havíamos conversado
ontem, vamos passar o dia aqui na torre. O soldado não nos fará mal e nem nós
falaremos com ele. Vamos descansar um dia inteiro para recobrar as nossas
forças. Eu preciso muito descansar para recuperar minha conexão com Wynna. –
Disse Nathaniel, já se sentando frente ao muro da torre que produzia uma
pequena, mas eficiente sombra.
Eu não me lembro de ter
conversado sobre ficar o dia inteiro aqui, mas decidi não implicar com isso.
Dei de ombros e disse que concordaria.
- Acho que devemos viajar pela
noite. É mais seguro, por conta do calor. Minhas bênçãos de Allihanna não são
suficientes para proteger a todos das mazelas de Azgher. – Azgher é o deus do
sol, vigilante e implacável nessa região.
- Viajar de noite é pedir para
atrair encrenca. Existem animais ferozes por aí. Sem falar que facilitaria o
trabalho do mercenário que está em nosso encalço. – Disse Nathaniel.
- Eu voto por ficarmos aqui por
agora e partir de noite. – Eu falei, olhando para Elinia. É, meu caro leitor,
eu relutava, mas não conseguia me livrar dessa menina.
Outras pessoas deram suas
opiniões e ficou decidido, a contra gosto de alguns, que partiríamos de noite.
Logo mais, perceberíamos que essa discussão não teve sentido, pois o destino
traçou nosso caminho.
O sol do meio-dia foi
arrasador. Graças ao milagre de proteção de Allihanna, alguns dos mais frágeis
dentre nós conseguiu suportar àquelas horas de intensidade. Eu consegui me
manter forte, apensar de suar. Eu olhava pra Dorks com inveja. Ele nem parecia
se incomodar com o calor. O entardecer veio, sem brisa para aliviar nossos
corpos. Mas o sol começava a sumir no horizonte e isso era sinal de
comemoração.
Eu pensei em encher o cantil do
pessoal, mas ouvimos um estampido. Uma explosão súbita. Eu reconhecia aquele
tiro, mas Dorks parecia ser íntimo dele. Era um tiro de mosquete. O troglodita
logo se agitou. Todos começaram a se movimentar, levantando-se do chão,
procurando abrigo. Logo, outros tiros. Vi as costas de Vitor abrir um buraco
considerável e o sangue brotar em profusão. Estranhamente o rapaz não se moveu.
Parecia ignorar aquela dor. Achei fenomenal tamanha resistência.
Outros tiros foram dados, outras
pessoas foram feridas. Eu corri e me protegi um pouco atrás do fosso. Então, vi
que Drake estava tentando agarrar Blasco.
- Solte-me, ele quer somente a
mim. Basta me entregar e vocês estarão livres. – Disse o halfling. Aquilo fez
meu coração bater mais forte. Blasco queria se sacrificar por nós? Pensando
bem, o pistoleiro queria a mim também. Os principais caçados era eu, Blasco e
Yurden (maldito seja).
Aparentemente, o halfling
caolho queria mesmo ajudar a todos com isso. E Drake tentava convencê-lo do
contrário. Foi nesse momento que eu percebi, finalmente, que o lefou era um
paladino de Thyatis, o deus da ressurreição e da profecia. Isso explicava o seu
desprendimento em se jogar aos cães para salvar a todos. Ele poderia morrer,
mas ele possuía o dom da imortalidade. Thyatis o traria de volta à vida dias
depois. E agora, ele estava protegendo o grupo novamente. Mesmo Blasco, um dos
causadores dos conflitos.
Naqueles poucos segundos que
pude pensar, vi que eu estava agindo muito errado com todos. Eles eram todos
boas pessoas e eu um garoto arrogante e mimado. Não percebia que eles tinham
toda a razão por não gostarem de mim. Não pelos meus atos errôneos no passado,
como ter matado o miliciano, mas por agir como um completo babaca.
Agarrei Blasco e o puxei. Eu
tinha que salvá-lo.
- Blasco, pare com isso. Ele
não vai parar de atirar se tu se entregar. Ele quer a nós, mas não
necessariamente vivos. Venha! – Depois de ter conseguido agarrá-lo, pensei que
puxá-lo fosse fácil.
Mas o pequeno era muito forte.
Anormalmente forte e habilidoso. Desvencilhou-se facilmente de mim. Patrick
agiu rapidamente, escondido com praticamente todo mundo atrás da torre. Com sua
magia de sono, Blasco apagou inconsciente.
Corremos para trás da torre e
ouvimos outros tiros. Senti um ventinho próximo à minha orelha. Ele não estava
se poupando, não queria nos levar vivos mesmo. Todos nós estávamos amontoados,
exceto por Dorks, que surgiu pingando sangue.
Havia a porta da torre.
Nathaniel berrou para irmos para lá, arrombar a porta para subir. Drake, com
seu escudo e martelo, avançou e ficou vulnerável ao alcance da arma. O maldito
bancava o herói novamente. Deu uma martelada sem muito sucesso na porta.
Recebeu um tiro forte que o fez gemer.
Dorks, então, teve a melhor
ideia de todos. Na verdade, o troglodita incapaz de se comunicar, vindo de uma
tribo que conseguiu ressignificar o conceito de primitivo, era quem tomava as
melhores decisões. Como eu havia dito, caro leitor, não éramos um grupo de
aventureiros em uma missão. Éramos um bando em busca de sobrevivência. E
ninguém melhor que Dorks para achar, pragmaticamente, saídas para a
sobrevivência. Nosso líder de campo era um pouco mais que um animal.
Ele simplesmente correu na
direção oposta.
Uma genial ideia. Não estávamos
aptos para enfrentar o pistoleiro com seu terrível mosquete. E eu não
encontrava coragem para tentar enfrentá-lo, com uma reles espada curta. Corri
atrás dele em seguida.
- Venham, não há como vencer!
Subir na torre será suicídio! – Gritei.
Elinia correu com Lyka e Blasco
no colo. Acabou que ela ficou com o pequenino. Quando ela nos alcançou, Dorks
pegou o halfling caolho. Em seguida, Patrick veio atrás de nós.
Por isso, todo mundo desistiu e
correu. Depois eu fiquei sabendo que o soldado que vigiava a torre, fora morto
por um tiro que aparentemente não era direcionado a ninguém do grupo. Foi um
tiro mais alto. E isso me fez refletir um pouco comigo mesmo.
Esse mercenário acaba de matar
um soldado de Sckharshantallas. Teoricamente, ele está trabalhando para
Trodillick, então, por que matar um soldado que deveria ser, supostamente, seu
aliado? Estranho isso, muito estranho. Talvez o mercenário fosse um homem
totalmente desprovido de escrúpulos. Ou talvez ele não esteja trabalhando para
Trodillick. Mas então, pra quem ele trabalha? Quem é ele?
Essa reflexão acabou assim que
paramos de correr, vários minutos depois. Eu arqueei as costas, incapaz de dar
mais um pique. Outros também pararam, cansados. Decidimos parar ali, no meio da
noite.
- Eu fico na primeira guarda. –
Eu disse. Elinia fez um gesto e Dorks deitou-se para dormir. Drake deu de
ombros e virou-se para dormir também. Considerei aquilo uma pequena vitória
pessoal. Pedi para Dorks por uma lança, pois queria melhorar meu alcance. Ele
pegou uma, a contra gosto e mostrou-me como se ataca com ela, com a ponta de
ferro. Eu ri disso e debochei virando o cabo, mostrando que atacaria com o lado
contrário da ponta. Ele suspirou irritado e foi dormir. O meu turno de vigia
foi muito tranquilo, então, Harell acordou sozinho.
- Elfos dormem apenas quatro
horas. É uma boa vantagem quando não se é conjurador arcano. – Ele disse.
- Parece mesmo. Você não
conhece nada relacionado a ervas, florestas, animais? – Eu disse, um pouco
antes de deitar.
- Não.
- E nem é chegado a espadas ou
coisa assim, né? Teu negócio é o arco.
- Sim, pode-se dizer que sim. E
também a furtividade, a noite é minha amiga. E também sei mexer em mecanismos
interessantes, intrincados.
Eu pensei na hora: um ladino,
tal como Sandro Galtran, o maior ladrão do mundo. Ou Ironmaidenael, o ladino
épico dos Libertadores de Valkaria. Nós não conhecíamos o elfo Harell, mas ele
havia dito que se juntaria a nós porque queria chegar ao lago mágico também.
Ele procurava um qareen feiticeiro que disseram ter sido visto por lá.
Ora, esse lago realmente havia
algo de especial, com tanta gente querendo ir pra lá. Descobri que Sckhar, o
rei dos dragões vermelhos, odeia aquele lugar, pois já tentou destruí-lo várias
vezes, mas nunca com sucesso. Aparentemente, Allihanna protegia o lugar.
- Chama-se Lago Allinthonarid.
E dizem ser capaz de curar todo o mal de uma pessoa.
Suspirei. Então, esse mito
parecia mesmo ser verdade. Não tinha como ser mais apenas uma lenda, com tanta
gente se envolvendo. Decidi dormir.
E só dormi por alguns minutos.
Dorks me acordou (acordou a todos) com um berro, enquanto seus olhos eram
injetados de fúria bárbara e primitiva. Ergui-me com a lança de Dorks e me
preparei.
- Que diabos?
Patrick nos trouxe luz mágica e
pudemos apenas ver a silhueta de uma criatura grande, mais ou menos cinco
metros. Parecia possuir asas e uma cauda. Tremi, e senti meu coração palpitar
fortemente. Seria um dragão?
Dorks avançou na linha de
frente e preparou sua lança para arremessá-la. Vi aquilo e engoli seco. “Vou
ajudá-lo”, pensei. Fiquei ao seu lado e imitei sua postura. Da penumbra surgiu
o monstro em nossa direção. Ele meio que planava, preparando um ataque rasante.
Lembrei-me de como o trobo fora morto, dois dias atrás.
A criatura era reptiliana, com
uma longa cauda, duas pernas como de um dragão e asas que me recordavam as de
um morcegão. Tinha uma cabeça enorme, com dentes longos e afiadíssimos,
projetando-se para fora de sua enorme mandíbula. Parecia um dragão e acho que
meus companheiros pensavam que fosse um. Mas eu sabia que aquilo não era um
dragão.
Dorks atacou, com um grande
incremento de distância. A lança dele, entretanto, apenas riscou a grande
armadura de escamas do monstro. Eu não era muito bom, na verdade, muito ruim em
atacar à distância. Então, esperei o monstro se aproximar mais. Então, ataquei,
jogando a lança. Meu ataque foi bem pior que o de Dorks. Eu nem acertei o alvo.
O monstro abriu e fechou sua
bocarra em volta do meu tronco, agarrando-me com violência. Senti seus dentes
cravando em minha carne e comecei a enxergar tudo embaçado. Era difícil manter
a consciência ali. Eu tremi de medo, pensando que iria morrer. De novo, eu
estava numa situação arriscadíssima.
A partir daí, vi que Drake,
Blasco e Dorks atacavam com tudo que tinham. Vi que Harell atirava com flechas
também. Elinia e Vitor não se envolviam diretamente no monstro. Depois vi que
Vitor começou a desferir socos e chutes, ineficazes. Nathaniel se limitou a
conjurar milagres de cura e apoio para os aliados. Patrick estava distante, com
a fonte de luz sobre si e atirando projéteis mágicos, brilhantes. Suspeito que
fossem mísseis mágicos, uma magia de iniciantes, mas bem ofensiva e com
pouquíssimas chances de errar o alvo.
Então, eu apaguei pela perda de
sangue.
Eu acho que deveria ter
morrido, mas os deuses parecem também não gostar muito de mim e me mantiveram
no mundo dos vivos.
Abri os olhos depois da cura de
Nathaniel. O agradeci novamente e me limitei a sentar. Estava com o espírito
totalmente esmagado. A vida de aventuras não parecia ser tão triste e terrível
quando ouvia as histórias de meus pais. Ou eles eram feitos de um material
muito melhor que o meu, ou eu era azarado de estar enfrentando desafios muito
elevados para um jovem aventureiro iniciante.
Por fim, decidi dormir e
ignorei a selvageria que Dorks fazia, desmembrava o monstro e cortava sua
barriga.
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