segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Diário de Aldred C. Maedoc III - Parte 5

Aztag 18, Dantal, 1410 CE.
Eu sabia que magias de cura, os tais milagres divinos dos deuses, afloravam uma sensação de conforto e prazer. Ferimentos fechando, dores sumindo, provocavam sentimentos muito agradáveis. Porém, quando o clérigo de Wynna, Nathaniel, trouxe-me de volta à consciência, a sensação não foi tão agradável.
O ombro estava dolorido, a cabeça ardia e a perna direita incomodava muito. O rosto daquele homem de uns quarenta anos foi a primeira coisa que vi ao acordar. Estava sentindo o chão balançar um pouco e, pelo barulho de tudo, estávamos em uma carroça ainda. Ao lado de Nathaniel (eu ainda não sabia seu nome, entretanto), encontrava-se Elinia, mais bela do que nunca. Aflito, eu segurei o seu braço.
- O que aconteceu?

Sisuda como só ela pode ser, Elinia me explicou que estávamos fugindo de um caçador de recompensas, um pistoleiro com uma arma de fogo enorme. Um mosquete, então. Aparentemente, ninguém ali sabia o que tipo de arma era. Eu sim, pois como morador de Valkaria, pouca coisa passaria despercebida de um cosmopolita como eu. Armas de fogo são, em sua essência, coisas perigosas e explosivas, capazes de grandes estragos. Existem as pistolas, armas de fogo menores, com menor alcance, e os mosquetes, com canos de metal mais longos, com alcances incríveis e maior capacidade de dano. Se o nosso mercenário está com um mosquete e afugentou tantas pessoas, significa que ele era muito perito na arma.
O velho homem se apresentou e, pelo símbolo religioso que carregava, pude saber que ele era um raríssimo clérigo de Wynna, a deusa da magia. Raríssimo porque geralmente os devotos dessa deusa eram magos estudiosos ou feiticeiros. Poucos se dividiam em estudar magia divina e arcana ao mesmo tempo. Aliás, estudar magia arcana era o pré-requisito mínimo para que a deusa da magia concedesse milagres divinos. Uma confusão só. Por isso, os conjuradores arcanos preferiam se dedicar à magia arcana e prestar algumas homenagens à deusa da magia, mas sem se aprofundar em um estudo divino.
Ouvi uma voz na frente da carroça. Uma voz familiar. Era Blasco perguntando qualquer coisa.
- O que esse halfling está fazendo aqui? – Eu perguntei, afoito.
- Ele está conosco desde que fugimos de Thenallaran, Aldred. Ele é um aliado. – Respondeu Elinia.
- Ele é um trambiqueiro! Um enganador falsário. Comparsa de Yurden. – Eu comecei a falar alto, ignorando que era ele quem dirigia a carroça. – Por conta dele que eu fui preso e nós estamos sendo caçados.
- Sim, é minha culpa também, mas fui enganado por Yurden tanto quanto você. – Blasco disse com seus olhos de halfling amigáveis. Malditos olhos amigáveis. O lefou interviu, falando qualquer coisa. Nisso, eu percebi que todos estavam lá. O lefou, Blasco, Dorks (que se afastou quando eu comecei a falar alto), Elinia e Patrick. Pelo menos, o maldito Yurden não estava lá. E havia dois novos “companheiros”, dois sujeitos que eu tinha mais ou menos percebido ao entrarem no grupo quando eu estava quase inconsciente. Um deles era Nathaniel e o outro era um rapaz jovem, um camponês chamado Vitor.
- Você e Blasco tem um cartaz com seus retratos falados. Uma recompensa de cinquenta tibares de ouro para quem captura-los com vida. Blasco e Yurden estão sendo caçados por conspiração contra o senhor Trodillick e você por assassinato. – disse o jovem Vitor.
Cinquenta tibares de ouro? Ora, isso é irrisório, uma mixaria. Depois descobri que eu e Blasco precisávamos estar vivos pela recompensa, mas o resto do bando (sim, eles se referiam a Aldred e seu bando) podia estar morto. Cansei de brigar naquele momento e deixei Blasco em paz. Mas não confiei nele. Pulei da carroça e continuei o caminho a pé. Dorks me ofereceu uma espada curta que ele tinha. Aliás, ele tinha muitos pedaços de armas preso ao corpo. Criatura de hábitos estranhos...
Porém, o lefou tinha que intervir.
- Não dê a arma para ele. Depois do que aconteceu em Thenallaran, temo pela vida de quem quer que encontremos no caminho.
- Por que você está se metendo? Cuide de sua vida. Dorks, me entregue a arma.
O troglodita ficou confuso e irritado. Ele não tinha paciência e parecia se incomodar muito com o modo que o grupo se comunicava: através da fala.
- Não entregue. Ele não é confiável.
Foi a gota d’água.
- Cara, você é miliciano, por acaso?
- Não.
- Então, não precisa ter medo de mim. – Uma bravata, uma fanfarronice. Senti-me revigorado.
Dorks entregou a espada curta para Elinia. E ela me entregou, concordando que eu deveria ficar armado e intercedendo ao meu favor, dizendo que acreditava na minha índole incompatível de um assassino cruel.
O assunto ia sumir, mas o lefou tinha que falar.
- Blasco e Yurden são acusados de conspiração, mas não temos certeza de que isso procede. A única coisa que eu sei de fato é que você matou mesmo aquele miliciano, pois eu vi com os meus próprios olhos.
Uma provocação. O que diabos aquele homem cheio de carapaça queria com aquilo? Só fazia os ânimos das pessoas diminuir, além de me colocar contra todos.
- Sim, eu o matei e isso é verídico. Mas estava lutando por minha vida.
- Não. Você avançou sobre o miliciano e desferiu um golpe mortal com aquela sua espada. E ainda teve requintes de crueldade ao dizer-lhe que “não era pessoal”.
Maldita frase de efeito. Eu disse isso mesmo, como o caro leitor pode lembrar. Mas eu não pretendia matá-lo. Tive que falar alto uma resposta para o lefou. Entretanto, esperava que todos ouvissem, pois era uma espécie de retratação para o grupo também.
- Não queria matá-lo. No calor da luta, os milicianos eram nossos inimigos e eu o ataquei com intenção apenas de feri-lo. Acontece que não medi minha força tão bem, acabei subestimando minha própria perícia com a katana. Quando falei que não era pessoal, estava dizendo que não tinha nada contra o miliciano. Sei que ele tinha família, amigos. Foi um erro e espero não fazê-lo novamente.
- Eu também espero. – Retrucou o lefou. Eu fiquei muito incomodado com ele. Parecia ser um maldito paladino, amante da verdade e da justiça. Um chato completo. Subiu-me o sangue e tudo o que eu disse para me retratar acabou por água abaixo na minha arrogante fala seguinte:
- Não devo explicações a ninguém, muito menos a você, lefou. Você não é meu pai, não é nada pra mim. – Disse e caminhei ignorando-o com arrogância. Não antes de ameaçá-lo com a espada, de forma obviamente inofensiva, apenas para pregar um susto. Um susto que não aconteceu. Sim, às vezes, eu posso ser muito infantil.
Brigas internas em grupos de aventureiros era esperado. Afinal, entende-se que um grupo seja heterogêneo, com pessoas com visões de mundo diferentes, mas com objetivos parecidos. Por isso, uma briga ou outra acerca de um assunto qualquer era bastante comum. Porém, na formação de um grupo, os problemas não seriam tão visíveis, as diferenças não seriam tão marcantes logo no início. Mas no meu caso, este meu primeiro grupo de aventureiros se demonstrou bastante confuso e conflituoso. Não éramos efetivamente um grupo. Trodillick escreveu certo nos cartazes: “Aldred e seu bando”. Nós éramos um bando de desconhecidos que fugiam de um tirano. Não havia heroísmo, apenas sobrevivência nua e crua. Para se ter uma ideia, Dorks era o mais útil membro do grupo. Ele e Nathaniel, capaz de curar com seus milagres. E com aquela espada curta, eu era o mais fraco, praticamente um fardo ambulante.
Pelo menos tínhamos um objetivo em comum. Chegar ao tal lago mágico ao sul de Sckharshantallas. Uma vez lá, teremos a pista do desaparecimento da família de Patrick. Ou pelo menos é o que o pobre pondsmaniano acreditava. Por ele, eu seguia naquele grupo. Mas ao final dessa missão, eu pensava em rumar para o Rio dos Deuses e pegar uma embarcação qualquer, um navio para que eu pudesse trabalhar para pagar minha viagem até a civilização, o coração do Reinado. Talvez chegar à Deheon, chegar à Valkaria. Ainda não havia decidido isso.
Com esses pensamentos em mente que chegamos ao final do dia, com Dorks achando um buraco no chão rachado e árido daquela maldita terra quente.
A nossa carroça estava sendo puxada por um trobo, um animal bem peculiar, comum em grandes fazendas. Um animal perfeito para tração. Como estávamos em um buraco no chão em que nem a carroça nem o trobo poderia entrar e não queríamos deixá-los à vista por conta da perseguição pelo qual éramos vítimas, decidimos nos livrar de ambos.
- Tudo bem por você, Elinia? – perguntei. Afinal, druidas de Allihanna tem um apreço maior por animais.
- Vamos libertar o trobo da carroça.
O plano era simples. Eu e Elinia afastávamos do nosso “acampamento” e largávamos a carroça e o trobo por lá. O trobo, livre de ter que puxar a carroça, seria um animal solto para fazer o que quiser. Ou o que seus instintos mandassem. Porém, ao voltarmos para junto dos outros, o trobo também voltou. Aparentemente, Elinia não foi muito bem sucedida em se fazer entender. Ela havia acariciado o animal e feito sons guturais tranquilos. Queria dizer para o trobo que ele estava livre e poderia seguir seu caminho. Mas o animal era muito fiel e leal aos seus donos e, por isso, voltou nos seguindo.
- Parece que ele gostou de mim. – Disse Elinia.
- Não é muito difícil gostar de você, né? – Eu respondi, como que no automático. Minha relação com ela melhorou um pouco depois de ter acordado de meus graves ferimentos, de modo que me senti mais confortável em falar essa indireta. Ela sorriu um pouco corada. Foi a primeira vez que quebrei um pouco sua barreira anti-homens.
Antes que pudéssemos fazer alguma coisa, ouvimos um bater de asas, um deslocamento de ar muito forte. A escuridão da noite nos impediu de ver direito. O trobo fora agarrado por algo que pairou sobre nossas cabeças num ataque rasante.
- Pelo menos, ele se tornou alimento. Uma cria de Allihanna não passará fome esta noite. – Disse a druida.
Assim, o dia ia terminar. Todos dormiam em uma espécie de fila, dentro do buraco. O lefou era o primeiro do turno. Ele parecia um pouco sonolento.
- Qual o seu nome? – Eu comecei, antes de dormir. Estava de bom humor, ainda mais depois de ter arrancado um sorriso e um rubor do rosto de Elinia.
- Drake. – Isso, sabia que era algo assim. Continuei falando, para tentar arrumar minha relação com ele. Se iriamos continuar juntos, era melhor que sem problemas internos.
- Escuta, nós começamos com o pé errado. Sinto que devemos resolver nossas diferenças. Sei que você acha que sou um assassino louco, ou um descuidado. Mas não é bem assim.
Ele balançou a cabeça em sinal de positivo. Não parecia interessado em conversar. Então, dei de ombros pensando ter feito minha parte. Pelo menos, plantei a semente. Esperava que ele conjecturasse sozinho acerca da minha pessoa. Entretanto, eu imaginava que somente com meus próximos atos poderia conquistar a confiança de Drake.

Lanag 19, Dantal, 1410 CE.
Este foi o dia mais quente da história. Tudo bem, eu não acho que seja verdade, mas estávamos no inverno e eu tenho certeza que o calor poderia matar qualquer pessoa normal que viajasse no meio daquele árido descampado.
Seguimos a viagem ao amanhecer. Notei que Elinia estava um pouco pálida e abatida. Claro, depois de perguntar, ela disse que estava bem. Ela poderia ser orgulhosa ao não aceitar ajuda, mas também poderia não querer incomodar ninguém demonstrando alguma fragilidade.
Por ser mulher, todos esperavam que fosse mais frágil mesmo. Desse modo, acho que somente Dorks não pensava assim. O troglodita ouvia apenas a ela, tentava se comunicar apenas com ela e ficava irritado e incomodado quando não a via por perto. Entretanto, eu notei que era um erro considerá-la mais fraca. Nunca a tinha visto lutar de verdade, mas seus dons e sua intimidade com sua deusa eram espantosos. Mais de uma vez ela conjurou aquelas incríveis armadura e bordão de madeira bastante resistente.
Nesse dia, entretanto, o calor estava além dos limites imagináveis. Era seco, mas suávamos bastante. Era difícil respirar. O céu estava limpo e o sol caminhava livremente sobre nossas cabeças, acompanhando nossos passos sobre aquele chão duro e rachado. Lábios secos eram a marca de todos. Goles de água tinham que ser racionados, pois não sabíamos se duraria até a noite. Aquele calor era mais forte que os verões ensolarados de Valkaria. E estávamos no inverno!
Ao meio dia, as coisas complicaram fortemente. Não sentíamos muita fome, era difícil pensar em comer sentindo-se tão mal pelo calor. Apenas a sede era uma constante. Falar era desagradável. Então, o halfling passou mal. Blasco cambaleou e ameaçou cair. Elinia também não suportou. Acho que Vitor ou Nathaniel, não tenho certeza, não estavam bem. Eu, Dorks, Patrick e Drake estávamos confiantes e inabaláveis, ainda que muito cansados.
O que me chamou atenção foi a resistência incrível de Patrick. Ele era um rapaz jovem demais, franzino demais, branco e ruivo. Esperava que o sol pudesse tostá-lo como uma carne mal passada, mas não foi isso que vi. Ele estava corado, é verdade, mas seguia firme e forte. Acho que subestimei o garoto. Além de seus talentos mágicos com encantamento, ele parecia ser feito de um material mais resistente que os demais. O troglodita Dorks estava bem. Parecia um calango adaptado a esse clima hostil. Ele ficou preocupado com Elinia também. Drake tinha a cara fechada, não dava para entender se ele sofria com algo, ou se ele era mesmo mal encarado. Considerando que ele é um lefou, acatei a segunda opção. O garoto Vitor estava bem também, demonstrando uma grande resistência para uma pessoa normal. Perguntei o que ele sabia fazer e ele me disse que era um lutador, mas não usava armas ou armaduras.
- Você é como um artista marcial?
- Não, sou como um lutador de rua.
Eu ri um pouco.
- Que eu sabia, dá pra socar e chutar mesmo sem ser artista marcial. – Disse Patrick, eventualmente.
- Sim, mas fazer isso bem é outra história. Em Valkaria eu conheci monges, artistas marciais que tinham um grande treinamento com o corpo e espírito. – Eu respondi e me lembrei de alguns dias que visitava o bairro Nitamu-ra.
Eu mesmo estava sofrendo muito, mas segurei meu instinto de reclamar. Quando era mais novo, eu reclamava muito ao menor sinal de insatisfação. Era como ter algo a falar, um comentário que precisava dizer, mesmo sendo redundante e desnecessário. Mas eu mudei um pouco com a idade. Não estava passando mal por conta do calor, ainda que suasse como um porco. Retirei minha camisa e enrolei na cabeça, para evitar danos à minha cabeça. Eu ganhei uma cor interessante, fiquei um pouco mais moreno.
Mais tarde fiquei sabendo que Blasco, Elinia e Drake foram mordidos por leões dias atrás. Eu me recordei de rugidos quando estava no estado de semiconsciência. Leões eram felinos muito grandes, poderosos e ferozes. Os ferimentos que os três sofreram não foram tratados com qualidade, pois Nathaniel não havia nos encontrado ainda. E Elinia não sabia tratar de ferimentos. Como druida, eu esperava que ela soubesse disso, mas aparentemente, ela é mais uma guerreira da natureza do que uma curandeira. Aliás, “curandeiro” é o nome que ela dá ao Nathaniel.
Pós meio dia, o sol começou ser menos agressivo. Podíamos respirar com mais facilidade. Porém, Blasco desmaiou e Elinia disse que era incapaz de continuar andando. Eu começava a aceitar mais o Blasco, pois ele tinha lutado contra os leões para proteger o grupo, inclusive a mim, que estava desacordado. Mas a Elinia concentrava minhas atenções naquele momento. Drake se ofereceu para carregar Elinia, mas ao falar, ele demonstrou estar também combalido.
- Você está cansado, Drake. Eu estou em melhor condição. Elinia, pode subir nas minhas costas. – Eu sorri para ela, dando o meu melhor. Era uma espécie de teste para ver se ela melhorou sua visão para comigo.
Ela hesitou, mas aceitou. Suspeitei que seu rosto tivesse corado um pouco. Ou talvez estivesse apenas queimada pelo sol. Abaixei e ela subiu nas minhas costas. Senti seus seios sobre minhas costas e corei um pouco também. Era um grande avanço. Se eu fizesse tudo certinho, poderia conseguir torna-la mais íntima. Mas aí, aconteceu o Dorks. Ah, o troglodita.
Ele se aproximou e fez um gesto apontando para Elinia e depois para ele mesmo. Ela me disse que preferia subir nas costas de Dorks. Então, foi aí que meus planos se desmoronaram. Era entendível, o troglodita era como um companheiro animal para Elinia, muito mais que Lyka (ô grafia complicada). Ela se sentia mais a vontade com ele. Mas eu gosto de pensar que se o troglodita não fizesse nada, ela teria gostado de estar nas minhas costas.
Depois disso, fiquei tentando me convencer de que Elinia não era tão bonita assim. Ela tinha dezesseis anos, uma criança, praticamente. Quando eu tinha a idade dela, era um rapaz muito afobado, louco e mimado. Namorava a elfa Julyana, é verdade, e amadureci muito com ela, mas ainda era um garoto. O possível envolvimento com Elinia não teria futuro. Pensando assim, consegui me enganar por um tempo.
Chegamos a uma região ainda de terra dura, mas tropeçamos numa estrada de pedra que parecia invisível. Era noite e estávamos muito cansados. Elinia disse que estávamos no caminho certo. Bastava cruzar a estrada e não segui-la, que em até quatro dias chegaríamos ao lago mágico. Dorks e ela quem lideravam o grupo. Na verdade, Dorks era o essencial. Ele caçava e poupava algumas provisões. Eu e Blasco (acho) não tínhamos rações de viagem, então comíamos dos outros. Eu ameacei me sentir mal por não ter minha própria comida, mas Dorks nos salvou com suas eventuais caças.
- Blasco não aguentará mais um dia como esse. Aliás, eu mesmo não aguentarei. – Disse Nathaniel, esbaforido.
- Eu vejo algo no horizonte. – Disse Drake.
Era uma construção vertical, podia ser um posto militar. E eu me lembrei dos milicianos que me levaram na carroça-prisão, falando que encontraríamos vários postos militares pelo caminho. Um por dia, aparentemente.
Nathaniel, Drake e Vitor decidiram ir até aquela construção, que se demonstrou ser uma torre de vigia. Enquanto isso, eu troquei umas palavras com Elinia, mais um desabafo. Aproveitei que Dorks não entendia, e que Blasco estava desacordado. Patrick não estava perto para ouvir, tratando do halfling.
- Eles não confiam muito em mim. São pessoas muito complicadas, difíceis, diferentes de mim. Sou o único citadino daqui, aparentemente.
- Você é uma pessoa difícil. – Ela disse. Foi como um soco no estômago. Voltaríamos à situação de indiferença de antes?
- Eu sou diferente, mas eles não parecem aceitar isso. Além do mais, julgam mais do que lhes é devido. De qualquer forma, tive muito azar desde que cheguei a esse maldito reino.
Ela me olhou, depois disso. Pude adivinhar o que diria em seguida.
- Eles o entenderão melhor quando você mostrar o seu melhor.
Era mais ou menos isso, eu acho. Eu tinha que provar minhas capacidades, tinha que provar que era mais que um fardo no grupo. Engoli seco, porque sabia que estava em desvantagem como combatente, sem minha arma a qual eu era muito proficiente, especialista, por assim dizer. Teria que me virar com uma reles espada curta.
Drake e Vitor retornaram um tempo depois, nós nos encontramos no caminho. Havia um elfo com eles. Os dois companheiros de grupo haviam dito que Nathaniel ainda estava lá e que poderíamos descansar do lado de fora da torre. Eu já estava acostumado a dormir no chão duro, então, não faria diferença. Havia apenas um miliciano, ou soldado de vigia no lugar.
- Temo pela vida do soldado. Melhor você se controlar. Não faça besteiras. – Disse Drake para mim. Eu me irritei muito, mas preferi engolir aquilo. Eu merecia e comecei a aceitar isso.
- Relaxa. Basta ele não me atacar. – Eu não podia deixar de ser atrevido. Nathaniel suspirou também irritado comigo, eu acho. Aquele grupo estava cansado e sem paciência, então minha índole não ajudava muito.
Dorks pegou Blasco no colo e avançou, depois de gritar muito. Aparentemente, por conta dos gestos com suas mãos, ele estava irritado pelo fato da gente falar demais. E brigar e discutir demais. E Blasco estava desacordado, precisando de cuidados, coisas que estavam além da simples cura mágica. Ele avançou sozinho pela frente. Eu andei, demonstrando indiferença, mas na verdade, queria que ele sobrevivesse.
Ao chegarmos, vimos um archote aceso na torre. O soldado parecia irritado.
- Ele parece não ter gostado da gente. – E dei um sorriso de canto de boca. Totalmente desnecessário. O elfo, que eu não sabia o nome, acabou suspirando, desconfortavelmente. Pronto, o cara mal me conhecia e também já não gostava de mim. Eu fiz pose de durão e fingi não me importar.
Blasco e Nathaniel ficaram no segundo andar da torre, com um local para descansar. Lá, o clérigo de Wynna poderia cuidar a noite toda do pequeno companheiro. Embaixo, havia um cavalo numa espécie de estábulo. À primeira vista, eu percebi que quando o dia raiasse, as sombras seriam minúsculas. O sol ainda seria uma ameaça. Mas também havia um fosso, onde poderíamos encher nossos cantis. Era um verdadeiro alívio.
Falei pela milionésima vez para eu ficar acordado no primeiro turno de vigia. Patrick concordou, pela milionésima vez e dormiu. Porém, Dorks e Drake ignoravam essa ideia pela milionésima vez e faziam turnos entre si. Dei de ombros e decidi conversar para conhecer melhor o elfo.
- Eu sou Harell. Reconheci vocês pelos retratos nos cartazes de procurados lá em Thenallaran. Aparentemente, este soldado deste posto de vigia não vai à cidade há quatro dias, o que significa que ele não sabe do ocorrido por lá.
- Impressionante, por isso ele nos aceitou de bom grado. Bem, mais ou menos, ele não parecia muito feliz. – Eu disse.
- Sim, Nathaniel e Drake não falaram toda a verdade para ele. Disse que eram mais pessoas, mas não falaram que seriam oito ao total. E nem que havia um troglodita e um doente.
- Pois é. – Limitei-me a falar só isso, mas a verdade era que eu me sentia um pouco vingado. Se o soldado tivesse decido pela violência e alguém tivesse morrido, a culpa recairia sobre a péssima decisão de Drake e Nathaniel. Bom, Vitor também não disse a verdade, mas ele era um rapaz muito gentil, não tinha nada contra ele.
- Aldred, você está bem ferrado. – O elfo Harell disse subitamente.
- Eu sei. Minha cabeça está a prêmio. A minha e a de meu bando. – Eu mostrei um riso qualquer, enquanto bebia um gole da água do cantil de Elinia.
- Desculpe-me por ter agido daquela forma impaciente agora a pouco. – Harell parecia confuso a meu ver. Aparentemente, aquela pequena rusga significava muito para ele. Ou talvez eu estivesse acostumado a ser mal tratado e por isso não dei tanta importância para o fato.
- Relaxa. Acontece. Estamos todos de cabeça quente. – Eu disse.
E assim, o dia mais infernal do ano finalmente acabou.

Tirag 20, Dantal, 1410 CE.
O dia chegou num piscar de olhos. O sol derramou seu calor incandescente e nós somos atingidos como um tapa no rosto. Acordei com a testa e as axilas suando. Tirei minha camisa rapidamente e pus na cabeça. Faltavam ainda algumas horas para o meio-dia, mas o calor já estava insuportável. Graças aos deuses, o dia parecia menos quente que ontem.
A noite era fria, de modo que o choque da mudança de temperatura fazia meu nariz encher-se de coriza. Dormia com minha camisa vermelha com listras horizontais pretas, mas durante o dia a colocava sobre a cabeça pra proteger meu rosto, fazer uma mínima sombra. Sentia meu corpo dolorido por dormir em condições precárias e as queimaduras do longo do dia cobravam seu preço agora. Os ombros estavam bem vermelhos e muito sensíveis ao toque. Meu rosto, entretanto, estava apenas mais moreno.
Notei que fui um dos primeiros a acordar, mas decidi caçar uma comida. Peguei uma fruta cítrica qualquer, típica das rações de viagem e me satisfiz pela manhã. Bebi também dois ou três goles de água, já me sentindo o pior dos seres por não ter meus próprios recursos de sobrevivência. Ainda bem que o grupo era formado por pessoas razoavelmente boas, ainda que impacientes. Patrick era o mais ingênuo de todos, mas parecia ter o melhor coração. Se bem que Vitor chegou para competir com ele o posto de pessoa mais gentil do bando.
Nathaniel desceu as escadas da torre e estava com um aspecto horrível. Aparentemente, passou a noite em claro tratando de Blasco. E não fora em vão, o halfling estava acordado e melhor. Eu acenei discretamente, ainda não querendo uma aproximação. Sempre que o via, me lembrava da prisão e o culpava instantaneamente por ter perdido minha katana e minha dignidade.
Aos poucos, todos foram acordando e começaram a comer o desjejum.
- Como havíamos conversado ontem, vamos passar o dia aqui na torre. O soldado não nos fará mal e nem nós falaremos com ele. Vamos descansar um dia inteiro para recobrar as nossas forças. Eu preciso muito descansar para recuperar minha conexão com Wynna. – Disse Nathaniel, já se sentando frente ao muro da torre que produzia uma pequena, mas eficiente sombra.
Eu não me lembro de ter conversado sobre ficar o dia inteiro aqui, mas decidi não implicar com isso. Dei de ombros e disse que concordaria.
- Acho que devemos viajar pela noite. É mais seguro, por conta do calor. Minhas bênçãos de Allihanna não são suficientes para proteger a todos das mazelas de Azgher. – Azgher é o deus do sol, vigilante e implacável nessa região.
- Viajar de noite é pedir para atrair encrenca. Existem animais ferozes por aí. Sem falar que facilitaria o trabalho do mercenário que está em nosso encalço. – Disse Nathaniel.
- Eu voto por ficarmos aqui por agora e partir de noite. – Eu falei, olhando para Elinia. É, meu caro leitor, eu relutava, mas não conseguia me livrar dessa menina.
Outras pessoas deram suas opiniões e ficou decidido, a contra gosto de alguns, que partiríamos de noite. Logo mais, perceberíamos que essa discussão não teve sentido, pois o destino traçou nosso caminho.
O sol do meio-dia foi arrasador. Graças ao milagre de proteção de Allihanna, alguns dos mais frágeis dentre nós conseguiu suportar àquelas horas de intensidade. Eu consegui me manter forte, apensar de suar. Eu olhava pra Dorks com inveja. Ele nem parecia se incomodar com o calor. O entardecer veio, sem brisa para aliviar nossos corpos. Mas o sol começava a sumir no horizonte e isso era sinal de comemoração.
Eu pensei em encher o cantil do pessoal, mas ouvimos um estampido. Uma explosão súbita. Eu reconhecia aquele tiro, mas Dorks parecia ser íntimo dele. Era um tiro de mosquete. O troglodita logo se agitou. Todos começaram a se movimentar, levantando-se do chão, procurando abrigo. Logo, outros tiros. Vi as costas de Vitor abrir um buraco considerável e o sangue brotar em profusão. Estranhamente o rapaz não se moveu. Parecia ignorar aquela dor. Achei fenomenal tamanha resistência.
Outros tiros foram dados, outras pessoas foram feridas. Eu corri e me protegi um pouco atrás do fosso. Então, vi que Drake estava tentando agarrar Blasco.
- Solte-me, ele quer somente a mim. Basta me entregar e vocês estarão livres. – Disse o halfling. Aquilo fez meu coração bater mais forte. Blasco queria se sacrificar por nós? Pensando bem, o pistoleiro queria a mim também. Os principais caçados era eu, Blasco e Yurden (maldito seja).
Aparentemente, o halfling caolho queria mesmo ajudar a todos com isso. E Drake tentava convencê-lo do contrário. Foi nesse momento que eu percebi, finalmente, que o lefou era um paladino de Thyatis, o deus da ressurreição e da profecia. Isso explicava o seu desprendimento em se jogar aos cães para salvar a todos. Ele poderia morrer, mas ele possuía o dom da imortalidade. Thyatis o traria de volta à vida dias depois. E agora, ele estava protegendo o grupo novamente. Mesmo Blasco, um dos causadores dos conflitos.
Naqueles poucos segundos que pude pensar, vi que eu estava agindo muito errado com todos. Eles eram todos boas pessoas e eu um garoto arrogante e mimado. Não percebia que eles tinham toda a razão por não gostarem de mim. Não pelos meus atos errôneos no passado, como ter matado o miliciano, mas por agir como um completo babaca.
Agarrei Blasco e o puxei. Eu tinha que salvá-lo.
- Blasco, pare com isso. Ele não vai parar de atirar se tu se entregar. Ele quer a nós, mas não necessariamente vivos. Venha! – Depois de ter conseguido agarrá-lo, pensei que puxá-lo fosse fácil.
Mas o pequeno era muito forte. Anormalmente forte e habilidoso. Desvencilhou-se facilmente de mim. Patrick agiu rapidamente, escondido com praticamente todo mundo atrás da torre. Com sua magia de sono, Blasco apagou inconsciente.
Corremos para trás da torre e ouvimos outros tiros. Senti um ventinho próximo à minha orelha. Ele não estava se poupando, não queria nos levar vivos mesmo. Todos nós estávamos amontoados, exceto por Dorks, que surgiu pingando sangue.
Havia a porta da torre. Nathaniel berrou para irmos para lá, arrombar a porta para subir. Drake, com seu escudo e martelo, avançou e ficou vulnerável ao alcance da arma. O maldito bancava o herói novamente. Deu uma martelada sem muito sucesso na porta. Recebeu um tiro forte que o fez gemer.
Dorks, então, teve a melhor ideia de todos. Na verdade, o troglodita incapaz de se comunicar, vindo de uma tribo que conseguiu ressignificar o conceito de primitivo, era quem tomava as melhores decisões. Como eu havia dito, caro leitor, não éramos um grupo de aventureiros em uma missão. Éramos um bando em busca de sobrevivência. E ninguém melhor que Dorks para achar, pragmaticamente, saídas para a sobrevivência. Nosso líder de campo era um pouco mais que um animal.
Ele simplesmente correu na direção oposta.
Uma genial ideia. Não estávamos aptos para enfrentar o pistoleiro com seu terrível mosquete. E eu não encontrava coragem para tentar enfrentá-lo, com uma reles espada curta. Corri atrás dele em seguida.
- Venham, não há como vencer! Subir na torre será suicídio! – Gritei.
Elinia correu com Lyka e Blasco no colo. Acabou que ela ficou com o pequenino. Quando ela nos alcançou, Dorks pegou o halfling caolho. Em seguida, Patrick veio atrás de nós.
Por isso, todo mundo desistiu e correu. Depois eu fiquei sabendo que o soldado que vigiava a torre, fora morto por um tiro que aparentemente não era direcionado a ninguém do grupo. Foi um tiro mais alto. E isso me fez refletir um pouco comigo mesmo.
Esse mercenário acaba de matar um soldado de Sckharshantallas. Teoricamente, ele está trabalhando para Trodillick, então, por que matar um soldado que deveria ser, supostamente, seu aliado? Estranho isso, muito estranho. Talvez o mercenário fosse um homem totalmente desprovido de escrúpulos. Ou talvez ele não esteja trabalhando para Trodillick. Mas então, pra quem ele trabalha? Quem é ele?
Essa reflexão acabou assim que paramos de correr, vários minutos depois. Eu arqueei as costas, incapaz de dar mais um pique. Outros também pararam, cansados. Decidimos parar ali, no meio da noite.
- Eu fico na primeira guarda. – Eu disse. Elinia fez um gesto e Dorks deitou-se para dormir. Drake deu de ombros e virou-se para dormir também. Considerei aquilo uma pequena vitória pessoal. Pedi para Dorks por uma lança, pois queria melhorar meu alcance. Ele pegou uma, a contra gosto e mostrou-me como se ataca com ela, com a ponta de ferro. Eu ri disso e debochei virando o cabo, mostrando que atacaria com o lado contrário da ponta. Ele suspirou irritado e foi dormir. O meu turno de vigia foi muito tranquilo, então, Harell acordou sozinho.
- Elfos dormem apenas quatro horas. É uma boa vantagem quando não se é conjurador arcano. – Ele disse.
- Parece mesmo. Você não conhece nada relacionado a ervas, florestas, animais? – Eu disse, um pouco antes de deitar.
- Não.
- E nem é chegado a espadas ou coisa assim, né? Teu negócio é o arco.
- Sim, pode-se dizer que sim. E também a furtividade, a noite é minha amiga. E também sei mexer em mecanismos interessantes, intrincados.
Eu pensei na hora: um ladino, tal como Sandro Galtran, o maior ladrão do mundo. Ou Ironmaidenael, o ladino épico dos Libertadores de Valkaria. Nós não conhecíamos o elfo Harell, mas ele havia dito que se juntaria a nós porque queria chegar ao lago mágico também. Ele procurava um qareen feiticeiro que disseram ter sido visto por lá.
Ora, esse lago realmente havia algo de especial, com tanta gente querendo ir pra lá. Descobri que Sckhar, o rei dos dragões vermelhos, odeia aquele lugar, pois já tentou destruí-lo várias vezes, mas nunca com sucesso. Aparentemente, Allihanna protegia o lugar.
- Chama-se Lago Allinthonarid. E dizem ser capaz de curar todo o mal de uma pessoa.
Suspirei. Então, esse mito parecia mesmo ser verdade. Não tinha como ser mais apenas uma lenda, com tanta gente se envolvendo. Decidi dormir.
E só dormi por alguns minutos. Dorks me acordou (acordou a todos) com um berro, enquanto seus olhos eram injetados de fúria bárbara e primitiva. Ergui-me com a lança de Dorks e me preparei.
- Que diabos?
Patrick nos trouxe luz mágica e pudemos apenas ver a silhueta de uma criatura grande, mais ou menos cinco metros. Parecia possuir asas e uma cauda. Tremi, e senti meu coração palpitar fortemente. Seria um dragão?
Dorks avançou na linha de frente e preparou sua lança para arremessá-la. Vi aquilo e engoli seco. “Vou ajudá-lo”, pensei. Fiquei ao seu lado e imitei sua postura. Da penumbra surgiu o monstro em nossa direção. Ele meio que planava, preparando um ataque rasante. Lembrei-me de como o trobo fora morto, dois dias atrás.
A criatura era reptiliana, com uma longa cauda, duas pernas como de um dragão e asas que me recordavam as de um morcegão. Tinha uma cabeça enorme, com dentes longos e afiadíssimos, projetando-se para fora de sua enorme mandíbula. Parecia um dragão e acho que meus companheiros pensavam que fosse um. Mas eu sabia que aquilo não era um dragão.
Dorks atacou, com um grande incremento de distância. A lança dele, entretanto, apenas riscou a grande armadura de escamas do monstro. Eu não era muito bom, na verdade, muito ruim em atacar à distância. Então, esperei o monstro se aproximar mais. Então, ataquei, jogando a lança. Meu ataque foi bem pior que o de Dorks. Eu nem acertei o alvo.
O monstro abriu e fechou sua bocarra em volta do meu tronco, agarrando-me com violência. Senti seus dentes cravando em minha carne e comecei a enxergar tudo embaçado. Era difícil manter a consciência ali. Eu tremi de medo, pensando que iria morrer. De novo, eu estava numa situação arriscadíssima.
A partir daí, vi que Drake, Blasco e Dorks atacavam com tudo que tinham. Vi que Harell atirava com flechas também. Elinia e Vitor não se envolviam diretamente no monstro. Depois vi que Vitor começou a desferir socos e chutes, ineficazes. Nathaniel se limitou a conjurar milagres de cura e apoio para os aliados. Patrick estava distante, com a fonte de luz sobre si e atirando projéteis mágicos, brilhantes. Suspeito que fossem mísseis mágicos, uma magia de iniciantes, mas bem ofensiva e com pouquíssimas chances de errar o alvo.
Então, eu apaguei pela perda de sangue.
Eu acho que deveria ter morrido, mas os deuses parecem também não gostar muito de mim e me mantiveram no mundo dos vivos.
Abri os olhos depois da cura de Nathaniel. O agradeci novamente e me limitei a sentar. Estava com o espírito totalmente esmagado. A vida de aventuras não parecia ser tão triste e terrível quando ouvia as histórias de meus pais. Ou eles eram feitos de um material muito melhor que o meu, ou eu era azarado de estar enfrentando desafios muito elevados para um jovem aventureiro iniciante.

Por fim, decidi dormir e ignorei a selvageria que Dorks fazia, desmembrava o monstro e cortava sua barriga.

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