segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Diário de Aldred C. Maedoc III - Parte 7

Aztag 25, Dantal, 1410 CE.

Este é o mesmo dia. Os eventos descritos nas páginas anteriores referem-se à madrugada do dia 24 para o dia 25. Minha confusão sobre os dias da semana é perfeitamente compreensível, dada à dificuldade de se preocupar com algo tão supérfluo como datas durante uma jornada pela sobrevivência em um lugar hostil e selvagem. Mesmo aos arredores do famoso Lago Allinthonarid, onde pensei estar em segurança, a intimidadora paisagem árida de Sckharshantallas se transfigurou em outras formas. O perigo, antes escancarado, agora estava discreto. Realmente, nenhum lugar pode ser considerado seguro. Nenhum lugar desconhecido, é claro.
A primeira coisa que me recordo de sentir, logo após dormir, é um toque no meu ombro. Uma mão pesada, rude. Mesmo se eu não soubesse quem era, teria adivinhado. Drake me acordou. Abrir os olhos foi difícil, custava crer que já havia chegado a minha hora no turno de vigia. E eu mesmo achava um pouco desnecessário, tendo em vista meu equívoco ainda não ter sido revelado. Acreditava estar em um lugar pacífico, uma ilha de tranquilidade no Reino do Dragão. Senti um frio inadvertido, inapropriado. Havia alguma densidade no ar. A luminosidade, a neblina que me impedia de ver um palmo a frente do meu nariz não me surpreendeu. Afinal, estava acordando e era natural eu estar com os sentidos aturdidos.

Porém, quando eu tentei pronunciar algumas palavras, percebi que algo estava errado. Eu não ouvi minha voz. Na primeira vez, tive a impressão de ter sido ouvido, afinal, eu sabia o que estava falando. Mas ao repetir-me e, consequentemente, sem ouvir a mim mesmo, constatei a possibilidade de perigo.
Procurei por Drake e não o encontrei. Sentindo sua presença, por assim dizer, pude imaginar sua posição e imaginei o que eu me lembrava do nosso esconderijo. Através dessa imagem, virei e procurei andar para a saída. Com a espada curta em mãos, tentei caminhar, tateando o invisível, cego por uma neblina branca, úmida e fria. Pisei em um, chutei outro. O lugar onde estávamos, um buraco onde raízes enormes de uma antiga e gigantesca árvore estavam presas, não era muito grande e éramos sete pessoas e um cachorro. Seríamos mais, mas Dorks, Elinia e a loba Lyca ainda não havia retornado. Dessa forma, era impossível não chutar ou tropeçar em alguém. Encontrei o começo da subida do buraco e tentei andar. Não foi difícil, mas eu senti que a qualquer momento o nosso agressor saltaria do nada e me atacaria.
Até aquele momento, eu tinha em mente que estávamos sendo alvos de uma magia para nos deixar surdos e cegos. Era um modo para cada um de nós sermos atingidos e mortos individualmente. Divididos, perdidos, éramos alvos deveras fácil. Mas eu tinha minha espada curta em mãos. Minha morte não seria em vão, pensava. Uma bobagem sem tamanho, pois se me quisessem morto, eu já estaria.
Cheguei à superfície e logo esbarrei em uma árvore. Respirei fundo sem ouvir o barulho do meu nariz. Abanei a mão com força e consegui abrir um pequeno espaço de visibilidade, coisa bem pequena mesmo. Era inútil. Com medo de me perder dos demais e acabar morto sem que ninguém soubesse, eu decidi voltar. Não andei muito e parei no meio do declive. Sentei de costas para nosso esconderijo, tentando, em vão, olhar para cima. A neblina não tinha fim.
O medo estava voltando a mim. Depois de um dia de moleza, descontração e refresco com o lago mágico, estava novamente com a vida ameaçada. Estava cansado desse sentimento. Aquele constante medo de morrer estava contaminando minha alma aos poucos. Eu já me vestia como um homem desprendido de civilização, meu rosto estava barbado como nunca esteve e meus cabelos cacheados estavam esparramados, cheios de nós e embaraço sobre minha cabeça. Meu olhar havia mudado. Refletindo minha imagem no Lago Allinthonarid, pude notar isso. Eu constantemente arregalava meus olhos castanhos. Era um aspecto de loucura, talvez. Naquela época eu achava que estava beirando a loucura.
Ponderei alguns minutos sobre o que fazer, sobre reagir com violência ao primeiro sinal de movimentação vindo fora de nosso esconderijo. Eu saltaria com a espada curta para estocar à média altura, para evitar errar algum adversário muito pequeno. Porém, se fosse um ogro ou um homem vegetal como no dia anterior, eu acertaria seu joelho ou canela. Bem, eu esperava que, sentado, pudesse ter alguma vantagem, ganhar alguma cobertura, dar alguma dificuldade a mais ao meu inimigo.
Eu via inimigos em todos os lados. Mas a verdade era que só havia neblina e respiração muda. Logo, senti uma canelada nas costas. Levantei-me no mesmo instante, girando o calcanhar rapidamente e agarrando o punho da espada curta com mais força. Eu estava pronto para desferir um golpe forte, usando toda minha força. Por um milésimo de segundo, eu parei, pois o contato que senti veio da direção do nosso esconderijo. Então, era provável que eu estivesse na iminência de machucar algum colega de sobrevivência.
Súbito, vejo um rosto surgir na neblina, muito próximo ao meu. Fiquei um pouco desconfortável, mas era o único modo de enxergar alguém. Fiquei feliz de ser Harel, o elfo arqueiro. Ele gesticulou com os dedos próximos ao próprio rosto, querendo me dizer alguma coisa. Mostrou-me uma corda, acho que ele estava amarrado. Logo, matei a charada. O grupo todo havia acordado e agora estava amarrando uns aos outros para ninguém se perder. Provavelmente Nathaniel estava ponderando sobre o fenômeno ou sobre a possibilidade da névoa ser um ataque de um inimigo. Eu não conseguia ponderar muito bem, pois estava com medo e a ausência de roupas me fazia sentir um frio desconfortável. A combinação me fez bater o queixo mais do que eu gostaria e minhas mãos e pernas ficaram trêmulas.
Logo, coloquei a mão no ombro de Harel e fui guiado por ele até lá embaixo. Eu queria ver se podia falar com Nathaniel ou mesmo Patrick, os dois conjuradores de magia. Queria me certificar de que Victor estava com seus punhos preparados, que Blasco estava com suas espadas em mãos e Drake com seu escudo e martelo. Com exceção do lefou, os outros eu duvidava que estivessem em alerta. Porém, não pude perceber muito bem todo mundo. Vi Patrick bem próximo de mim se afastando. Depois vi Victor e ele me puxou. Acho que todos estavam pensando em voltar para o esconderijo no buraco das raízes e ficar por lá. Eu balancei a cabeça negativamente e praguejei alto, aproveitando que ninguém me ouviria ou veria.
Eles estavam loucos, na minha cabeça. Iriam descansar? Acho que Nathaniel e Patrick realmente precisavam ficar imóveis, descansando, para recuperar suas capacidades de conjuração mágica. Sem elas, a exemplo de mim sem minha katana, éramos inúteis. Mas o resto de nós devia sair dali, procurar um ponto onde a névoa acabasse, ou procurar nosso inimigo. Ora, algo tinha que ser feito! Menos ficar sentado esperando o ataque.
Vi que Victor sentou-se. Ao meu lado estava Blasco, ele estava de pé com suas espadas em mãos. Bom halfling. Ele tinha um olho a menos que todos e vislumbrava mais que todos os outros. Eu fiquei de pé por um longo tempo, com a espada nas mãos. Súbito, uma luz branca tratou de tornar impossível os meus olhos ficarem abertos. Provavelmente alguém teve a brilhante ideia de conjurar uma magia de luz. Não estava escuro, estava claro, este era o problema. Mais uma fonte de luz tornaria nossa visibilidade, que já era ridícula, tornar-se nula. Victor me apontou um virote de besta brilhante que eu mal pude ver sem virar o rosto. Gesticulei e ele parece ter entendido, pois deu algum fim àquela má ideia. Acredito que ele tenha enfiado a ponta luminosa no chão.
Depois dessa, sentei. Mas não abaixei minha guarda. Minha mão direita estava quase dolorida de tão forte que eu segurava o cabo da espada, mantendo-me em alerta, acordado e preocupado. Minha expressão deveria ser bem devastadora naquele momento. Olhos arregalados buscando alguma visibilidade, respiração cada vez mais forte, sentado de cócoras, pronto para um salto.
O tempo passou vagarosamente. Fiquei imaginando as histórias que meu pai contava sobre como não importava o grau de civilização de um humano. Dispa-o de sua cidade, de sua cultura, de suas referências e terá um animal selvagem, pronto para lutar por sua vida, incapaz de reconhecer amigos.
Quando pude vislumbrar meus joelhos, notei que a neblina estava desaparecendo aos poucos. A luminosidade branca, provavelmente vinda da luz da lua, estava dando espaço a um tom mais amarelado. Não me preocupei em marcar o tempo, as horas e nem conseguiria fazê-lo, por isso, fiquei abismado com o pensamento de que podia estar amanhecendo naquele momento.
Podia ouvir o som da minha respiração ao longe, cada vez mais perto. Olhei para os lados e vi Blasco e Victor. À minha frente, percebi Harel. Estavam todos acordados, mas em algum ponto relaxados. Somente eu estava atento. Somente eu estava nervoso. Somente eu estava ansioso. Somente eu havia gasto energias inutilmente.
Não havia nada. Quando o sol ganhava o céu, espalhando sua luz pelo mundo, a neblina desapareceu. Vi Nathaniel e Patrick entre bocejos, despreocupados. Perguntei ao clérigo e mago de Wynna sobre suas teorias.
- Acredito que a neblina seja fruto de uma defesa natural do Lago Allinthonarid frente à nossa presença. Aqui somos invasores. Nada de bom trazemos. Pelo contrário, viemos aqui usurpar os recursos naturais, nos aproveitar da cura do lago e não trazemos nada em troca. Não posso confirmar isso com exatidão, mas é o que penso.
Fiquei muito frustrado com aquela resposta. Mas fazia todo o sentido. Passei uma madrugada terrível, cansativa, à flor da pele. Tudo por que uma deusa de várias cabeças e nenhuma capaz de pensar, não gostava da nossa presença. Ora, não fizemos nada. O lago não foi “gasto”. No máximo nos aproveitamos dos peixes e de alguma caça da floresta, mas só. Nada que desequilibrasse a magnífica e perfeita harmonia da natureza. Allihanna, sua maluca. E que Elinia nunca leia isso.
- Temos que pensar no que fazer depois de sair daqui. – Disse Patrick.
- Temos que esperar Elinia e Dorks. – Eu disse, coçando meu emaranhado de cabelos desgrenhados.
- Sim, depois disso. Temos que pensar no que fazer. – Ele continuou.
- Esperamos que Elinia tenha alguma pista relativa a seus pais. – Disse Nathaniel.
Ficamos os três em silêncio por um tempo. Realmente, não tínhamos motivações suficientes para ficarmos juntos, para buscar os pais de Patrick, desaparecidos. A única coisa que contava era a nossa fuga. Fugíamos de um pistoleiro, ou mosqueteiro, uma vez que ele usava um mosquete dos infernos.
Estiquei os braços, as pernas e relaxei. Andei para fora do esconderijo e contemplei a beleza suprema do lago, da floresta e do céu aberto. Allihanna podia não raciocinar logicamente, mas criava visões muito belas, dignas de um quadro valioso pintado por alguém famoso. Vi que Drake se afastou de nós e banhou-se no Lago Allinthonarid. Olhei para Patrick erguendo a sobrancelha.
- Ele se reencontrou com seu deus.
- Voltou a ser um paladino?
- Não, ele ainda precisa cumprir a penitência. Mas pelo menos, agora, ele saiu de seu estado de apatia e buscará redenção.
Isso era novo pra mim. Não sabia que Drake havia desistido até esse ponto. Dei de ombros e fiquei contente pela possibilidade do guerreiro santo estar do nosso lado novamente. Minha experiência até aquele momento sobre aventuras me dizia que precisaríamos ainda muitas vezes de segundas chances infinitas de Thyatis.
Enquanto o lefou ex-paladino se banhava e se curava, Blasco veio até mim.
- Vamos treinar?
Era muito interessante e entusiasmante ver a empolgação do halfling caolho. Ele estava empenhado mesmo em lutar melhor com aquelas duas espadas e em fazer acrobacias, piruetas. Até aquele momento, o pequeno guerreiro lutava como eu, de forma um pouco sofrível. Mas estava melhorando. Eu mesmo não me sentia em posição de ensinar nada, mas uma prática não faria mal. Peguei a espada curta e a lança e tentei manuseá-las ao mesmo tempo.
Em vão, é claro. Usei as duas armas separadamente. Com a espada curta, eu movia com acuidade, usando de forma mais criativa os meus pés e as pernas para movimentar. O braço esquerdo, inútil, ficava segurando a cintura. Logo aprendi a usá-lo para auxiliar no meu equilíbrio corporal a fim de tentar movimentos mais ousados. Os golpes não eram muito fortes, mas possuíam uma precisão satisfatória. Mais de uma vez me peguei lamentando por não estar com minha katana. Com aquela postura, eu seria muito mais devastador. Depois, troquei para a lança e perdi movimentação e agilidade. Mas minhas estocadas eram mais poderosas. Se eu não cuidasse, poderia matar Blasco com um ataque. Entretanto, não possuía muita acurácia para acertar o alvo. Victor logo se juntou a nós na prática e logo estávamos os três trocando golpes.
Era interessante pensar que éramos os três combatentes mais próximos. Até pouco tempo eu via Blasco como a causa de todos os meus problemas, junto do maldito Yurden e Victor era um desconhecido, há poucos dias conosco. Hoje, ambos são os mais próximos de amigos que eu poderia considerar naquele bando. Gradativamente, com os dias, eu me afastei de Elinia (nem preciso comentar sobre como era improvável alguma comunicação com Dorks). Patrick sempre foi mais distante e conversava mais com alguém que possuía afinidade com ele, o Nathaniel. Drake também procurava conversar e se aconselhar apenas com o clérigo e mago de Wynna. Não tiro a razão deles, afinal, Nathaniel era o mais velho entre nós, um homem maduro de mais de trinta anos. Ele era nosso sábio e nosso guia espiritual, por assim dizer.
Entre um golpe e outro, vi Dorks retornando. Abri um sorriso muito largo e gritei por Elinia, que ainda não havia visto. O troglodita soltou algum resmungo por me ouvir gritando e foi direto para o lago, beber água. A pequena e muito jovem druida se aproximou de nós três, um pouco suados pelos treinos.
- E aí? Como foi?
- Eu os encontrei. – Ela disse, seco, com cara de poucos amigos. Parecia frustrada. Antes que ela continuasse, eu a interrompi.
- Ei, venham todos, Elinia chegou com novidades.
- Eu encontrei um círculo druídico. Mas nenhuma pista sobre os pais de...
Drake apareceu do nada, ofegante e de olhos alertas.
- Eu vi um brilho metálico vindo daquela direção.
Elinia olhou para ele, alterando sua expressão de desanimo.
- Foi-me dito que a floresta estava sendo invadida por muita gente.
Meu coração gelou. Era óbvio. Era o maldito pistoleiro. Ele havia nos encontrado e iria nos matar. Minhas pernas tremeram como se eu fosse uma criança novamente, com treze anos, frente à medusa.
- É a nossa chance derradeira de vencê-lo! – Disse Patrick.
O jovem ruivo de Pondsmânia devia estar louco. Onde ele arrumou essa confiança?
- E como faremos isso? – Eu perguntei agitado, quase sufocado.
- Você não vê? Podemos vencer. Aqui existem muitas árvores, ele não pode sair atirando como antes. Ele terá de se aproximar. Aí, como somos nove, poderemos dar cabo dele.
Aquelas palavras entravam no meu ouvido, mas não eram processadas. Só parecia loucura. Eu ensaiei fugir dali, pegar o caminho oposto e correr como nunca. Afinal, era isso que sempre havíamos feito quando éramos atacados pelo pistoleiro. Mas vi que Blasco agarrou mais forte suas espadas. Dorks pegou sua machadinha, ainda com sua bocarra pingando água. Elinia convocou sua armadura de madeira, juntamente com seu bordão. Drake preparava-se com sua armadura, escudo e martelo. Todos estavam decididos, todos possuíam esperanças.
Menos eu.
Eu sempre quis ser um herói aventureiro. Heróis lutam contra o mal e o derrotam para proteger as pessoas. Até aquele momento, enfrentávamos um caçador de recompensas, pois éramos criminosos no território de Sckharshantallas. Fugíamos por nossas vidas. Não era nada heroico. Porém, essa era uma oportunidade de dar o troco, de revidar finalmente. Afinal, apesar de criminosos, lutávamos para sobreviver a um governo tirano, a leis tiranas. O caçador de recompensas era um peão. Para começar a nossa jornada de heroísmo, tínhamos que derrotá-lo primeiro.
Engoli seco e juntei toda coragem que me restava.
- Vamos lá.
Todo mundo correu para perto de uma árvore para se posicionar. Eu subi em uma árvore e fiquei escondido entre galhos e folhagens espessas. Pude ver Elinia e Dorks próximos do outro lado. Patrick e Nathaniel ficaram no esconderijo, preparados. Eles podiam lançar magias de longe. Harel, o arqueiro, posicionou-se próximo a uma árvore, já com uma flecha pronta. Drake começava a se mover, lento, mas preparado, protegido e ameaçador. Blasco estava próximo a mim, mais atrás. Victor estava no meio, perto do esconderijo.
Respirei fundo e começamos a ouvir folhagens se mexendo em uma direção. Todos se viraram para lá. A primeira coisa que vi foi um mosquete atravessando folhas, empunhada por braços cobertos por um sobretudo. Vi o pistoleiro com seu chapéu preto e sua expressão metódica de quem encarava aquela caçada como um trabalho burocrático. Senti um frio na espinha ao vê-lo. Maldito, jamais saberei seu nome.
Vi as folhagens se moverem em diversos pontos. Vários soldados surgiram. Eram mais preparados, com espadas longas, escudos e cotas de malha. Não eram meros milicianos. Não precisávamos dos símbolos de Thenarallan para reconhecer a origem daqueles soldados. Engoli seco novamente e agarrei a lança com mais afinco para controlar a tremedeira.
Logo, um estampido. Alguém foi atingido, eu acho. Mas não vi quem. Só vi Elinia avançando, sozinha, até o pistoleiro. Ela passou no meio dos soldados que o rodeavam e engajou com nosso caçador de recompensas favorito. Ela havia se suicidado.
Dorks correu em seguida, com extrema velocidade, como um relâmpago. Seu rugido fora assustador, chamou atenção de todos. O combate ficou engajado lá, Elinia e Dorks contra o pistoleiro. Os soldados começaram a se mover em frente, alguns cercando nossos dois colegas. Gritei de ódio quando vi Elinia levar um tiro e desabar. Provavelmente morta.
A possibilidade disso ter acontecido me fez perder todo o senso de autopreservação. Pulei da árvore com a lança em punho sobre minha cabeça e desci com força, com voracidade, cheio de vontade e quase cravei o peito do soldado que estava próximo da minha árvore. Por pouco não o levei para a cova mais cedo. Ele sangrou bastante e gritou de dor, afastando-se. A partir disso, eu lutei como um desesperado.
Quase ignorei o surgimento de gavinhas, cipós e raízes ao meu lado. Como Elinia estava fora de ação, atribuí aquela magia à Nathaniel. Blasco surgiu atrás de mim e passamos, juntos, lutando contra três, depois quatro soldados. Harel estava no meio do campo de batalha, ora atirando em soldados próximos ao pistoleiro, ora atirando no próprio, ora atirando nos soldados próximos a mim e a Blasco. Victor e Drake correram até o pistoleiro. Era uma investida total do grupo frente ao nosso maior inimigo, nosso nêmeses.
Enquanto isso, eu, Blasco e Harel ficávamos para trás para deter os soldados que poderiam ameaçar Patrick e Nathaniel, os conjuradores e, teoricamente, os mais frágeis de nós. Enquanto lutávamos com afinco, Patrick disparava seus mísseis mágicos, brilhantes e infalíveis. O pistoleiro era um adversário temível, desviava de todos os golpes de Victor, desfez a tentativa de Drake de quebrar seu mosquete e jamais era atingido por Dorks. Mas os mísseis mágicos sempre o acertavam. Esse é o sabor especial da magia. A magia nunca falha.
Aos poucos, minando suas resistências, Patrick continuou a usar todo seu poder mágico. Uma vez, ele tentou fazer soldados dormirem, para diminuir seu número, mas apenas um caiu. Ele decidiu, acertadamente, continuar atingindo nosso nêmeses. Nathaniel se aproximou para dar a mim e a Blasco o poder do ácido. Nossas armas agora soltavam uma fumaça tóxica, corrosiva, para ferir mais nossos inimigos. Eu não pude usar muito bem, pois lutava com mais desespero que com acurácia.
Eu estava sangrando, cortes em lugares muito macios de minha carne faziam o sangue brotar em profusão. Eu rangia os dentes, eu não era mais um homem civilizado. Sckharshantallas me despiu.
Vi que Drake caiu desacordado. A julgar pelo tiro, havia uma grande chance dele estar vivo. Logo em seguida, Victor não suportou. Mas ele demorou muito para cair. Levou meia dúzia de tiros antes de, enfim, desacordar. Harel também foi dormir mais cedo com um único tiro. Porém, os mísseis mágicos deram conta.
Magia sempre vence.
O nosso nêmeses caiu, morto ou desacordado, não sei, não me importei. Mas a luta não acabara ali. Continuei lutando ao lado de Blasco e acabei cedendo aos ferimentos. Minha consciência se perdeu. Mas pelo menos, senti que não fui tão inútil como nas outras vezes. Percebi uma evolução nas minhas habilidades de combate e que havia encontrado um ponto, um jeito certo para continuar me desenvolvendo. Menos firula, mais eficiência. Menos extroversão, mais simplicidade.

O combate, para mim, estava terminado. Soube depois que Patrick e Blasco berraram e intimidaram o resto dos soldados a irem embora. O grupo havia vencido o temível pistoleiro, havia alguma moral ali para ser explorada. Os soldados concordaram em ir embora, mas levando os seus feridos embora. O grupo também conseguiu o feito de controlar a fúria de Dorks. Pelo visto, o combate havia acabado assim.

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