Morag 15, Dantal,
1410 CE.
Nesse mesmo dia, descobrimos
que estávamos em Thenarallan. O sol quente daquela manhã me fazia lembrar o
intenso verão do começo do ano, lá em Valkaria. Infelizmente, estávamos no
inverno e aquela terra não parecia conhecer o seu significado.
Sckharshantallas é o reino mais
ao norte dentro do Reinado. São meses de viagem, partindo de Valkaria. Por um
passe de mágica, aqui estava eu, no fim do mundo civilizado. Literalmente. Para
oeste após o Rio dos Deuses, começava a Grande Savana, imenso lugar cheio de...
nada. Animais, selvageria, etc. Para leste, montanhas rochosas imensas, as
lendárias Montanhas Sanguinárias, reduto de todo tipo de monstro que se possa
imaginar. Se não bastasse a terra árida e cheia de vulcões, o povo daqui era um
pouco hostil e orgulhoso de seu rei, Sckhar. Ah sim, ele é um dragão. O rei dos
dragões vermelhos.
Na verdade isso é um fato
curioso. Sckhar é um dos tiranos mais conhecidos do Reinado. Controla seu reino
sem dar liberdade ao seu povo. Mesmo assim, eles o adoram. Ele os tem em sua
mão como sua propriedade para fazer o que bem quiser. E não são raras as mortes
por mero mau humor.
Dizem que é o reino mais antigo
que se tem notícias, fundado há mais de 900 anos, antes de sequer sonhar com a
colonização do povo exilado de Lamnor. A circunstância de como um rei dos
dragões vermelhos aceitaria se associar a um conglomerado de reinos humanos é um
mistério. Pelo menos, para mim.
De qualquer maneira, a cidade
onde estávamos tinha uma réplica de Sckhar, bem grande. Dizem ser seu tamanho
natural. Deve ser um pouco menos da metade do tamanho da estátua de Valkaria. É
engraçado perceber como déspotas podem ser inseguros. Quanto maior a estátua,
menor sua confiança. Porém Sckhar não parece sofrer disso. É dito que a estátua
mostra seu verdadeiro “eu” para seu povo, porque ele mesmo não pode assumir
essa verdadeira forma. Dizem que sua aura aterradora é capaz de matar qualquer
um.
Bem, a primeira coisa que eu,
Elinia e Dorks fomos fazer ao passar pelos arcos dos portões foi procurar uma
taverna. A despeito do manto sujo de mendigo que Dorks usava, era possível
perceber que ele era um lagarto humanoide. Tudo bem, estávamos também com a
loba Layca (sim, eu confundi seu nome anteriormente, chamando-a de Luna). Isso
fazia de nós um grupo bem diferente e exótico. No começo, as pessoas nos
olhavam com estranheza, mas não durou muito tempo. Eles pareciam mais ligados a
seus afazeres comerciais pelas ruas.
Thenallaran era uma cidade até
que grande, nada se comparado a Valkaria, óbvio. Suas construções, próximas às baixas
muralhas eram pequenas, mas mais verticais. O chão era de terra batido e a
luminosidade presente tinha lá seus tons vermelhos. Parecia uma cidade
comercial, de tantos transeuntes vendedores. O povo tinha um padrão étnico,
eram morenos de cabelos e olhos negros. Havia também vários panos entre algumas
construções, formando pequenas tendas pelas ruas. Acho que para aliviar do sol
punitivo. Ou para ser enfeitado. Sei lá. Sei que tive que tirar meu sobretudo
preto que estava pesado de suor. Minha camisa de manga cumprida vermelha com
listras pretas também estava pingando. Meus cabelos estavam já colados à minha
testa. Apesar do clima seco, a onda de calor me fazia suar como um porco.
Elinia vestia roupas muito leves, demonstrando suas curvas atraentes e Dorks
vestia uma tanga, bárbaro maldito. Ambos pareciam felizes com o calor. Mas
incomodados com a civilização. Onde foi que me meti?
Encontramos um estabelecimento com
sua plaquinha de madeira com um desenho de uma caneca pintado rudemente. O
lugar era numa região periférica, onde eu os levei. Sim, eu imaginei que na
periferia as coisas podiam ser mais baratas. Afinal, eu não tinha nenhum tibar
no bolso. Eu podia apostar, entretanto, que Dorks possuía alguma coisa, naquele
saco de moedas que tilintavam de vez em quando.
Pedimos um ensopado de porco e
cerveja. Quando a velha taverneira trouxe para nós, percebi que estava mesmo
virando um aventureiro. Passando por provações, dificuldades da vida,
enfrentando desafios terríveis. Mas bem que eu preferia enfrentar um rei dos
dragões vermelhos do que passar por aquilo. O ensopado era água com um óleo
vagabundo e com uma metade de batata podre. O pé de porco tinha alguns pelos e
dispensa comentários. A cerveja era um mijo, água suja. Um terror. Dorks comeu
e bebeu minha parte. Elinia também não estava muito a fim de comer. Garota
esperta, tinha algum senso de humanidade nela ainda.
Ali, o troglodita aprendeu que
no mundo civilizado a gente dá moedas em troca de comida. Ele não entende ainda
nada sobre valores (e é provável que nunca entenda, pobre diabo), mas deu
algumas moedas de ouro pela comida. Ora, OURO. Tive que contê-lo. Fi-lo dar uma
moeda de ouro só e fiquei com o troco. Comecei a lucrar com isso. O que? Está
me julgando? O dinheiro não faz diferença pra ele. E eu posso administrar
melhor, afinal, sou o civilizado do trio.
Quando decidimos sair da espelunca,
demos de frente com três outras pessoas, obviamente estrangeiros. Um deles, o
mais alto, vestia roupas nobres, cores chamativas, com um cavanhaque bem
aparado e cabelos muito bem cuidados. Ele parecia ser o líder deles, confiante
e disposto. Outro deles era um jovem rapaz pálido, cheio de sardas pelas
bochechas. Tinha os cabelos de fogo e olhos claros. Vestia-se como um camponês.
À primeira vista, interpretei como um pajem. E o outro eu tomei por uma criança,
até perceber que era um halfling. Caolho. Com duas espadas. Sim, ele não
parecia inofensivo. Cheguei a pensar que pudesse ser um guarda-costas. O
tapa-olho sugeria experiência em batalhas mortais.
Eu pensei em ignorá-los e
seguir adiante, pois meu desejo de sair daquela periferia era enorme. Elinia e
Dorks pareciam também desinteressados naquele trio. Mas fomos interpelados pelo
homem nobre e de cavanhaque.
Ele buscava aventureiros. Tomou-nos
como tal por portarmos armas e não nos vestirmos ou parecermos como nativos. Um
bom palpite. Mostrava a sagacidade do cara. Antes de nos apresentarmos,
decidimos ir a uma estalagem para conversar. Nesse momento, ouvimos um apito.
- É o toque de recolher.
Disse o ruivo. Perguntei se
aquela cidade estava em guerra, pois me lembrei de Valkaria, durante o ataque
dos minotauros. Todo final da noite os milicianos apitavam e dirigiam a
população para suas casas, pois mais um confronto iria iniciar-se na parte
leste da cidade. Era essa a hora que meus pais saíam de casa para se juntar ao
Protetorado do Reino. Mesmo estando aposentados, eles ainda podiam ajudar. Meu
pai era um exímio cavaleiro com suas duas machadinhas e minha mãe, uma maga de
grande poder. O toque de recolher, pra mim, era sinal de guerra.
Acontece que estávamos no reino
de um tirano. Óbvio que as regras eram as mais ditatoriais possíveis. O “dono”
da cidade era um filho direto do dragão rei. Portanto, um meio-dragão. Isso me
fez lembrar que eu tinha potencial para despertar poderes de meio-dragão
também. Será que era o mesmo esquema? Acho que não, o cara nasceu assim. Ele
devia ser imensamente poderoso. Eu sou do tipo que peitaria tiranos. Mas não
agora. Sou um aventureiro muito novato.
Ouvimos o segundo apito, e
conseguimos a uma estalagem mais arrumadinha. Mas ainda assim, uma espelunca.
Eu repetia a mim mesmo, como um mantra: “é uma experiência, é uma experiência,
tenho que vivenciar de tudo”. Pedimos um ensopado e pernil com seis copos de
cerveja, ainda que Elinia tivesse demonstrado não beber.
O homem de cavanhaque sequer
conseguiu se apresentar quando tipos vestindo roupas arrumadas, com alguma
espécie de armadura e armas adentrou o lugar. O chamou por Yurden. O ruivo
pareceu confuso. O homem que chamou Yurden disse que ele era um dos maiores
magos do mundo, um dos criadores de Vectora. E que o prefeito da cidade, o tal
meio-dragão chamado Trodillick, queria vê-lo. Elinia arregalou os olhos nesse
momento e olhou para todas as direções, nervosamente.
A jovem druida havia me dito
que tinha fugido de Vectora e que Dorks a ajudou nisso. Porém, ela não quis me
contar porque estava fugindo de lá. Aliás, como diabos uma druida foi parar na
Cidade-Mercante?
O halfling também fora chamado.
Seu nome era Blasco. Os dois começaram a trocar algumas palavras e logo estavam
conversando com os homens um pouco longe da nossa mesa. Eu pude me apresentar
de fato para o garoto ruivo. Ele parecia ter a mesma idade que Elinia. Seu nome
era Patrick, um rapaz nativo de Pondsmânia. Eu sempre ache que aquele reino era
fictício, fruto da imaginação e histórias das sprites que conheci em Valkaria
há uns tempos. Porém, o rapaz parecia dizer a verdade. Ele contou que estava
procurando ajuda de aventureiros para levá-lo até um lago em Sckharshantallas.
Um lago que, segundo ele, tinha poderes mágicos e podia curar. Perguntei se ele
tinha alguma doença ou alguém que ele conhecia estava passando por
dificuldades.
- Não, minha família foi
raptada e levada por fadas para lá. É uma dica que recebi dos brownies.
Eu mostrei um sorriso no limiar
do deboche. Fadas raptoras? Lago mágico em Sckharshantallas? Brownies? Fadas
não são conhecidas por fazerem esse tipo de coisa. O reino do dragão era árido
e quente até os ossos, duvidaria que existisse um lado, ainda mais mágico nesse
lugar. E brownie, pra mim, é uma espécie de bolo feito por halflings.
Patrick também disse que Yurden
se apresentou a ele para ajudá-lo com o nome de Radagast. E o fato dos homens
que adentraram a estalagem terem dito que Yurden ajudou a criar Vectora me
irritou um pouco. Era uma óbvia mentira. Eu estudei magia por vários anos da
minha vida, ainda que não tivesse aprendido a manejar as energias místicas. Eu
estudei a vida e obra de muitos magos, os mais famosos, pelo menos. Talude e
Vectorius são os magos vivos mais importantes e poderosos de Arton. Não há
nenhum Yurden. Vectorius, além do mais, ergueu sozinho a sua cidade voadora,
Vectora.
Eles foram levados pelos homens
e Blasco disse para nos encontramos no dia seguinte na estalagem. Assim que
eles saíram, eu disse para Elinia que ele não tinha nada a ver com Vectora. Ela
pareceu ficar menos afoita. Ela pareceu tentar acreditar em minhas palavras,
mesmo depois de ter me dito que não confia em mim. Contei a Patrick e a todos
que Yurden e Blasco poderiam ser mentirosos, trambiqueiros. Que outros motivos
teriam para mentir sobre si? Resolvemos aguardar a volta deles pela manhã. E
mesmo assim, se não voltassem, eu me comprometi a ajudar Patrick. Elinia
pareceu ter dito o mesmo, não escutei bem. Mas não importa.
Ficamos algum tempo bebendo e
trocando palavras. Entediei-me rapidamente. Patrick era um jovem simplório
demais, sem muita perspicácia, sem muitas histórias. A diferença das histórias
que ele contava sobre seres mágicos e fantásticos para as histórias de criança
que eu ouvia, era que ele acreditava nelas mesmo adulto.
Dorks continuava seu misto de
agitação e calmaria. Parecia um louco. Mas bebia cerveja como ninguém. Elinia
ficava calma o tempo todo. E quieta. Irritantemente quieta. Eu já tinha me
oferecido para ajudá-la em seu problema em Vectora. Mas ela não me deu bola.
Desisti de tentar convencê-la com palavras. Esse tipo selvagem prefere
acreditar em ações. Mas naquele momento eu estava sem ânimo para provar nada.
Fui embora pro meu quarto. Elinia e Dorks decidiram dormir no estábulo, graças
à Layca, que não podia dormir em quartos. Fiquei com o quarto só pra mim. Senti
que eles ficaram aliviados por isso, pois não gostavam muito da minha presença.
Confesso que fiquei um pouco
chateado, mas esqueci de todos esses problemas quando entrei na banheira. O
banheiro era comunal, mas como era muito tarde, ninguém iria ali tomar banho.
Eu estava suado e havia dias que não tomava banho. Fiquei uma boa hora lá
relaxando. Depois, fui pro meu quarto dormir.
Mal sabia eu que muitas coisas
loucas aconteciam enquanto eu descansava.
Sonhei que estava em Valkaria,
deitado na minha cama de penas de ganso. Sabia que era um sonho, pois a cama de
palha seca não me deixava enganar. Sonhei com algumas moças com as quais
mantive um relacionamento por algum tempo. Nenhuma delas duradouro. Lembrei-me
de Lucy, que estudava literatura na Universidade Imperial. Ela vestia um bonito
vestido verde com flores enfeitando seus cabelos. Não sei por que me lembrei
dela. Ao final do sonho, ela me disse que não confiava em mim. Acordei com
batidas na porta.
Era madrugada, pois o sol não
havia nascido. Como eu estava numa estalagem desconhecida no fim do mundo,
peguei minha katana e saquei da bainha. Caminhei lentamente e coloquei a orelha
na porta. Era Elinia. Eu abri a porta displicente, ignorando que estava apenas
de ceroulas.
- Ouvi vozes. Acho que Yurden e
Blasco estão com problemas. Uma mulher passou pelo estábulo e deu a entender
que o chefe da cidade, Trodillick, estava perseguindo duas pessoas.
Era um bom palpite. O
suficiente para fazermos alguma coisa. Fiquei curioso, de qualquer maneira e
isso me despertou de fato. Fui acordar Patrick e disse o que estava
acontecendo.
- Como sabem que é Radagast e
Blasco?
- Não sabemos. É um palpite. E
faz todo sentido. Parece que o chefe da cidade descobriu a verdade sobre os
trambiqueiros Yurden e Blasco. – Eu disse, já com minhas roupas sujas e
fedorentas. Ah, o que eu não daria para lavá-las?
Fomos para o estábulo onde
Dorks se encontrava aguardando, camaleônico, quase que invisível no meio daquela
palha, feno e cavalos. Elinia conversou com eles (!) e libertou apenas um.
Disse que os outros dois cavalos estavam felizes com seus donos (!!!!). Coisa
de druida... eu mesmo queria fazer uma média com a druida e soltei os dois
cavalos restantes, mas eles voltaram pro estábulo. Bruxaria desgraçada...
Saímos da estalagem na calada
da noite e vimos postes de lamparinas apagadas numa rua. Havia apitos por todos
os lados. Eram os milicianos em sua perseguição. Normalmente, a gente tende a
trabalhar junto da lei, não é? Afinal, heróis aventureiros lutam pelo bem comum
das pessoas. Mas no caso de um reino distante demais, com tiranos controlando a
cidade, o que fazer? A milícia é um tipo de vilão, é claro.
Decidimos seguir as ruelas
escuras, sem iluminação, pois imaginávamos que Yurden/Radagast e Blasco fossem
espertos em tentar cobrir seu rastro. Corremos como nunca, atravessando ruas,
ruelas, por baixo de marquises e panos. Estávamos arriscando nosso pescoço. Era
óbvio que nossa estadia em Thenarallan estava acabada.
Dobramos uma esquina e vimos
quatro milicianos e quatro cachorros. A rua era um pouco mais larga.
Aproximamos lentamente dessa vez e eu vi Patrick mostrar o que realmente era.
Um feiticeiro. Falou palavras desconexas e gesticulou suavemente. Uma nuvem
descolorida afetou os milicianos e os cachorros. Entretanto somente os cães
foram postos para dormir.
Eu avancei, aproveitando-me da
penumbra e me escondi numa esquina. Minha katana estava em mãos. Meu coração
estava palpitando. Apesar dessa não ser minha primeira luta real, era a
primeira enquanto aventureiro. Engoli seco e lambi meus lábios rachados com
ansiedade.
Vi Dorks correndo como um
louco, com olhos amarelos brilhando na escuridão. Ele passou por mim como um
raio. Botei a cara para ver o que ia acontecer. Ele deu um golpe muito forte,
rangeu aço contra aço e eu pude ouvir um grito de desespero. Um miliciano caía
morto. Ou desacordado.
Elinia e Layca se aproximaram
em seguida, mas sem fazer nada. Patrick se aproximou mais um pouco e colou em
mim. Pude ver o medo nos olhos do garoto. Podia ser a primeira situação de
violência da vida dele.
O combate geralmente é muito
rápido, dura quase sempre menos que um minuto. Porém, durante a tensão, quem
participa de uma luta dessas acaba tendo que lidar com muitos complicadores,
muitos detalhes, de modo que a impressão que fica é de um tempo mais dilatado.
Eu mesmo não me recordo dos detalhes. Sei que vi um homem aparecendo do outro
lado da rua. Não era Yurden nem Blasco.
Ele estava de ceroulas, com um
escudo de metal numa mão e um martelo enorme na outra. Seu corpo era comum,
forte e atlético, mas possuía várias carapaças vermelhas, principalmente nas
juntas. Obviamente um lefou. Uma situação deveras estranha. Ele atacou um
miliciano, botando-o para dormir.
Pude ver a cara de Yurden logo
depois. Ele parecia escondido, observando o que acontecia. Presumi que o lefou
era amigo dele. Talvez uma ameaça posterior. Mas naquele momento, a milícia era
o inimigo mais óbvio.
Avancei com rapidez em meio ao
turbilhão de machadadas que Dorks desferia e alcancei um miliciano que parecia
intacto, sem ferimentos. Nesse momento, tudo que eu queria era lhe ferir o
suficiente para deixar de lutar. Ele vestia uma armadura de couro resistente,
com rebites de metal e tinha uma maça nas mãos. Uma arma perigosa. Talvez pela
inexperiência, ou por nervosismo. Não medi minha força.
Cheguei até a distância da
lâmina e falei com serenidade, pragmático:
- Não é nada pessoal.
Meu golpe foi limpo e perfeito.
A katana é uma espada perfeita, com lâmina bem afiada e curva, ajudando na hora
de percorrer o arco do corte. Acertei perto da jugular e cortei macio até a
altura do peito. Arregalei os olhos com a quantidade de sangue que brotou. Eu o
havia matado. Não era o que eu queria, mas empurrei o remorso para o lado com
ajuda da adrenalina do combate. Com tudo finalizado, um dos milicianos fugiu. O
lefou foi atrás dele e o derrubou com duas marteladas. Entretanto, pareceram
que não foram dadas com intuito de matar. A cara do lefou não era das mais
amigáveis, principalmente depois de ter me visto matar um miliciano.
Antes que pudéssemos conversar,
ouvimos apitos e latidos. Eram mais milicianos e mais cachorros. Começamos a
correr e dobramos uma esquina, ao final dessa rua larga, sobre os corpos de
milicianos (alguns mortos, alguns vivos). Vimos Blasco com um enorme saco nas
costas. Acredito que seja seu equipamento. E de Yurden/Radagast. O lefou também
correu conosco, parecia conhecer mesmo os trambiqueiros.
Corremos e corremos. Foi uma
longa corrida, atravessando mais ruelas e ruas mais altas. No fim, podíamos
ouvir os apitos cada vez mais perto. Chegamos a uma muralha com um enorme
portal de entrada, mas fechado. Havia dois milicianos, ou guardas em guaritas. Respirei
fundo, puxando o ar, sentido meu pulmão queimar de cansaço.
A noite ainda não havia acabado
ainda.
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