segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Alex Walker

Era difícil imaginar como um bebê conseguira chegar às margens do Rio da Fortitude, próximo à Bek’Ground. John Walker, ex-aventureiro aposentado, agora vivia de comercializar antigos objetos que encontrou em seus tempos de rastejador de masmorras. Visitava um amigo em Bek’Ground e, em sua viagem de volta, ouviu o choro do bebê às margens do grande afluente do Rio dos Deuses em Deheon.

Murmurando para si que aquilo era um presente dos deuses, ele admirou a criança por alguns instantes. O cesto de vime muito gasto e carcomido. O bebê, entretanto, parecia uma figura deslocada ao lado de tanta sujeira e desgaste, que sugeriam uma grande viagem pelo rio. Tinha os cabelos começando a surgir, da cor castanha escura. Era branco e rechonchudo, com bochechas rosadas. Parecia especialmente saudável. John ajoelhou e olhou muito emocionado para o céu.
John Walker foi um grande guerreiro com sua enorme espada, conhecido por sua grande agilidade mesmo carregando grande peso. Quando considerou que estava rico o suficiente, decidiu parar de se aventurar. Com sua riqueza, aproximou-se de uma jovem dama da sociedade de Valkaria, a maior metrópole do mundo, e se casou com ela. No ano seguinte, ela já estava grávida. Porém, talvez por conta das inúmeras mortes que causou em sua juventude – algumas até de pessoas não especialmente malignas, apenas mal orientadas – John sentiu que seria castigado. Sua mulher e filho não nascido acabaram morrendo no dia do parto. Naquele dia, o ex-aventureiro amaldiçoou os deuses com fúria. Sua vida caiu em desgraça e ele acabou consumindo toda sua riqueza guardada na esbórnia e sarjetas diversas. Até que com o aconselhamento de um padre de Valkaria, recompôs sua vida. Tornou-se mercador utilizando as últimas moedas de ouro que sobreviveram ao derrame de sua vida.
Viajar para Bek’Ground fazia parte de seu calendário anual. Amigo do prefeito Mayor, John sempre negociava joias que havia saqueado numa tumba de um antigo mago em Sambúrdia. Eram muitas joias e, por isso, ele podia ir à Bek’Ground por vários anos ainda. A vida de John encaixou ao mundo novamente, mas ele sentia um vazio enorme. Sentia muita falta de sua esposa. Foi quando naquele fatídico dia, encontrou o bebê solitário em um cesto de vime. Seria um presente dos deuses? Um sinal de que estava trilhando um caminho correto? A viagem para Valkaria foi cheia de incertezas e sonhos. Seu coração se aqueceu com a perspectiva de ter um filho, alguém que receberia seu sobrenome. Assim nascia Alexander Walker.
Durante os anos seguintes, John viajou pouco para fora de Valkaria e focou seu comércio na cidade. Tudo para poder ficar mais próximo de seu filho. Alex era um rapaz agitado e um tanto arrogante, desde muito pequeno. Sua rebeldia fazia com que ele desobedecesse tudo que John mandava. Aos poucos, os sonhos de John sobre ter um filho começaram a desmoronar. Ele não entendia o por que. O tratava com carinho, afeto, lhe dava tudo do bom e do melhor. Mas a criança não se interessava e o tratava mal. E também era um problema na escola, liderando outros garotos, desafiando os mais velhos para brigas. John percebeu que antes dos dez anos, Alex era portador de uma força incomum e temeu o futuro com um adulto poderoso e cruel. Recorreu ao seu velho amigo clérigo de Valkaria que salvou sua vida anos atrás.
Enquanto Alex se interessava em demonstrar sua superioridade às demais pessoas, sejam crianças ou adultas, John recebeu uma solução. Levar o garoto para o clérigo para ter sua alma analisada. Alex foi levado para o templo de Valkaria a muito contragosto. Só aceitou ir quando soube que veria alguém de autoridade, um clérigo experiente. Então, após a análise, John teve seus medos tornados em realidade. Alex vinha de uma tribo de bárbaros das Montanhas Sanguinárias que era cruel e violenta. Mas havia algo a mais nessa história que o clérigo não conseguiu obter resposta: qual a explicação de sua enorme força?
Porém, Alex mudou radicalmente seu comportamento a partir daquele dia. Ao saírem do templo, pediu ao seu pai para brincar numa praça. John o levou para lá, já temendo futuras confusões com outras crianças, mas se surpreendeu. Viu Alex socializar com outras crianças sem nenhuma violência ou soberba. Algo naquele templo havia mudado sua personalidade quase completamente. Ele era amável e começou a obedecer aos mais velhos. Os problemas na escola acabaram. Porém, algo se manteve: sua enorme força. Foi assim que, com onze anos, pediu ao seu pai para aprender a lutar.
Meio relutante no começo, John temia que seu filho voltasse a ser malcriado novamente, mas o comportamento de Alex o convenceu do contrário. Assim, ele começou a praticar com armas e armaduras de todos os tipos. Sua enorme força combinada com as técnicas de luta que aprendia fez resultado em poucos meses. Aparentemente, Alex tinha grande talento para lutar. Uma característica que não mudou depois da visita ao templo de Valkaria. Isso deixou de preocupar John quando viu seu filho anunciar que queria ser aventureiro, conhecer o mundo, fazer sua riqueza e fama. Sem perceber, o maior sonho de John começou a se tornar realidade.
Foi esse o último pensamento de John, antes de falecer dormindo pela idade.
Alex chorou e ficou de luto por uma semana. Depois pegou a primeira armadura e espada que fora de John e saiu de casa jurando voltar somente depois de conseguir se tornar no maior herói do mundo.

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