quarta-feira, 10 de março de 2010

Aurora Carmesim #1 - Travessia, parte 6


Norte de Namalkah, Reinado

"Cledoveo"

A figura titânica ocupava quase todo o seu campo de visão. O restante era tomado de estantes repletas de livros e um solitário tabuleiro de xadrez. A voz da criatura soava serena, quase uma recepção, mas tão carregada de autoridade que seria capaz de fazer um rei dobrar-se a sua vontade. Ante tão poderosa presença, o que poderia um humano fazer?

- Sim, mestre - respondeu o recém-chegado enquanto ajoelhava-se.

- Excelente trabalho, meu servo. Contundente a ponto de não ser questionado e misterioso o suficente para instigar o encontro. Não esperava menos de você. - bradou a imensa figura a sua frente.

- Obrigado meu lorde. Sempre a seu dispor.

Com um gesto mínimo o grande dragão fez aparecer um amuleto, pouco menor que uma maçã, aos pés de Cledoveo.

- Podes ver o que repousa a seus pés, Cledoveo?

Abrindo os olhos ele pôde ver. Um amuleto bem trabalhado, entrecortado por diversas serpentes dispostas num emaranhado em torno de um castelo. Elas confundiam-se umas com as outras, dando a impressão que um rio caudaloso abrira um espelho d'água para mostrar a paisagem.

- Mais uma tarefa e será seu. Chame seus servos a minha presença.
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Forte Éritro, Deheon

Era um grande aposento.

Quadrado, dez passos de lado, mobiliado com uma cama de docel alto e bem trabalhado, uma mesa com duas braças de diâmetro acompanhada de duas cadeiras acolchoadas em veludo vermelho, um manequim para suporte de armadura, uma escrivaninha grande de madeira escura, com uma cadeira confortável, um baú aberto, adornado em metal, com uma réplica sobre um criado-mudo ao lado da cama, onde jazia também uma tina de prata cheia d'água.
Um tapete circular cru ocupava todo o centro do aposento e uma porta de vidro dava passagem para a pequena varanda externa. Simples e bonito, aconchegante e distraidamente luxuoso.

- Esse será seu aposento por hora, jovem Magnus. - disse Thomas, parado à porta. - Já usou algum desses baús? - perguntou, inclinando a cabeça em direção ao baú adornado.

- Não. O que é? - perguntou Magnus já vários passos quarto adentro.

- Um dos baús secretos de Viktor. Basicamente você coloca suas coisas dentro dele e o fecha, conservando aquela miniatura ali. Ele some no momento em que você fechar a miniatura, só reaparecendo na sua frente quando você reabrí-la.

- Como é que é? E pra onde vão minhas coisas? Tá maluco?

- Elas ficam dentro do baú oras, a salvo, num plano fora do alcance de qualquer um. Quando você reabre o bauzinho, ele retorna com suas coisas e você pode voltar a escondê-lo à vontade. Só não perca a miniatura senão você perde tudo. E acredite, Viktor não fica nada satisfeito com isso...

- Entendo. Não obrigado. Prefiro minhas coisas onde posso ver se não se importa.

- Apenas uma comodidade meu jovem, sem obrigações. Aquele pequeno sino sobre a cama chama um criado assim que você ressoá-lo. Onde for, quando for, pro que precisar, dentro dos limites do forte. Fique à vontade e descanse, teremos com você amanhã após o desjejum.

- Obrigado, até mais então.

Fechando a porta do quarto, um sorriso invade a face de Thomas. "Jovens, assustam-se com tudo...".

Atravessou apressado os corredores em direção à sala de mapas, a urgência queimando seus calcanhares. Diversos cursos de ação invadiam sua mente a cada passo. A curiosidade só fazia crescer, alimentada pelas conjecturas.
Iriam eles investigar? Se sim, quando? Seria um embuste? Uma oferta de aliança?
Estava doido pra descobrir...
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- Iremos pois agora, maldição! - vociferou Darin espalhando cerveja anã no agitar de sua caneca.

- Concordo convosco empolgado amigo porém, seria prudente agir tão cegamente? As coisas estão deveras conturbadas em Arton e um movimento equivocado pode incutir em mais problemas - tentou Viktor em vão acalmar o balançar de caneca de Darin.

- Eu acredito ser melhor investigar Viktor. Lena está ausente dos céus pelas próximas três noites e todos sabemos o poder que essa ausência pode ter - interveio Halfdan.

De fato eles sabiam. Eles e toda Arton. O maior dos goblinóides, o general responsável pela derrocada élfica e pela tomada de Khalifor, a dita encarnação de Ragnar, Thwor Ironfist, nascera numa noite dessas, segundo as histórias. Se algo assim poderia ser feito, o que não poderia?

- Eu voto por irmos. Se algo der errado, tomaremos as providências - concluiu Thomas.

- Você sempre vota pra irmos seu curioso de meia tigela. Quantas vezes isso já nos fodeu?

- Eu também gostaria de investigar. - disse Thaedras - Se algo ou alguém pôde me ludibriar daquela maneira, seu dito "mestre" deve ser ainda mais poderoso. E além do mais, se for um embuste, acabaremos logo com a ameaça antes que ela se consolide.

- Então que seja, iremos pois ao encontro agora mesmo. Preparem-se, partiremos com o sol a pino.
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"Ojesed edno son-evel" sussurrou Viktor, de mãos dadas com seus amigos.

Estavam muito diferentes das figuras despreocupadas de mais cedo.
Darin era um bloco maciço de metal e couro, com um machado enorme pendurado à suas costas. Halfdan estava mais altivo do nunca, numa armadura completa prata e dourada adornada por mantos clericais bordados com diversas balanças. Thaedras vestia uma armadura de aparência frágil, inteiramente composta de folhas de salgueiro trançadas, por sobre um camisão de cota de malha prateado. Duas espadas às costas, arco dobrado numa coxa e aljava pendendo da outra. A fúria élfica encarnada. Thomas vestia uma armadura completa prateada, com a pena e o pergaminho gravado em alto-relevo no peito. A viseira erguida deixava seu rosto excitado aparente. Espada longa à cintura, outra bastarda nas costas e escudo por cima da mesma, brilhando com o brasão de Tannah-Toh. Viktor trajava um manto cinzento sobre um colete grafite adornado de chamas douradas. Calça, botas e luvas completavam sua vestimenta e um aro de ouro adornava sua fronte. Trazia uma mochila muito surrada em suas costas e só.

ZiUf!!
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A paisagem seria agradável, colinas pontuadas por pinheiros altivos, um grande rio muito azul entrecortando pastos muito verdejantes, o espectro amarelado no horizonte, denunciando o deserto além, algumas nuvens alvas brincando pelo céu anil, fosse pelas dezenas de figuras ameaçadoras postadas ao redor da entrada da caverna.

Homens e mulheres, anões, halflings, elfos e algumas outras figuras confusas contornavam todo o platô em que eles chegaram, formando um "bolsão", uma linha contentora, deixando apenas a entrada da caverna como via livre. E lá, de pé, o homem que entregara a pedra a Thaedras.

- Olá senhores, eu me chamo Cledoveo. Acompanhem-me.

E assim foi feito.
Seguiram o estranho Cledoveo através da boca da caverna, em direção as entranhas da escuridão.

Um comentário:

Capuccino disse...

Caraca, o encontro com o dragão azul! XD

To ancioso pra chegar naquela porradaria que tivemos nas cavernas =)

Como sempre, ótimo post! Parabéns!