Centro-sul da cidade de ValkariaDeheon – Reinado
Era uma bela manhã.
Poucas nuvens passeando ao sabor do vento pelo céu, Azgher em todo o seu esplendor, iluminando a vida e os sonhos dos Valkarianos. Rúbia beijou apaixonadamente seu marido, sabendo em seu íntimo que levaria meses, talvez anos, antes de tê-lo outra vez em seus braços. Igan era um paladino, mas antes disso era um meio-sangue. Nem humano, nem elfo. Um estranho nas duas culturas, um pária de ambas as sociedades, um eterno andarilho, caminhando entre todos sem pertencer a ninguém. Nem mesmo a ela.
Igan já tinha quase 90 anos de vida, muito mais que ela ou seu filho chegariam mesmo com todos os milagres e bênçãos possíveis, e ainda parecia um jovem homem. Mais que um jovem, um garoto. E mesmo assim, ela se apaixonou por ele.
Por toda tristeza, por toda vivência, por toda sabedoria, por toda dor acumulada ao longo da sua vida. Por sua incrível capacidade de sobrepujar toda intempérie, por seu enorme coração, capaz de abraçar o mundo inteiro no espaço de um batimento, por sua selvageria, sua inconstância, sua ânsia por mudanças. Um coração humano num corpo élfico.
Mutante e permanente. Caótico e reto. Alegre e melancólico. Divino e mortal.
Dicotômico.
Quando ele atravessou soleira da porta, deixando-os, os olhos de Rúbia encheram-se de lágrimas e ela chorou. Chorou como da primeira vez em que foi tocada por Khalmyr, chorou como quando soube estar grávida dele, chorou como fez em todos os momentos cruciais da sua vida. Chorou por seu homem, pelo rei do seu coração, pelo seu maior cúmplice, pelo seu melhor amigo, pelo seu mais ardente amante.
“Khalmyr, proteja-o. Traga-o de volta pra mim vivo, por favor.”